A Sagrada Família

Quando no Verão de 1991 tivemos a oportunidade de pela primeira vez visitar Barcelona, e ao aproximarmo-nos da Sagrada Família, para a visitarmos, tive uma sensação de deslumbramento total. Ainda tinha só uma única fachada concluída mas já se adivinhava a sua grandiosidade. Esta Catedral da Sagrada Família, projectada por Gaudí, é o cartão postal de Barcelona, e por mais maduros que sejamos, é impossível deixar de associarmos a sua fachada posterior àqueles castelos de brincadeira feitos na areia da nossa infância.

O Templo Expiatori de la Sagrada Família, é a igreja menos convencional de toda a Europa, e sem dúvida o emblema de uma cidade que gosta de se ver como individualista. Repleta de simbolismos inspirados na Natureza e esforçando-se para conseguir a originalidade.

De todas as obras arquitectónicas que existem em Barcelona e na Catalunha, a Sagrada Família é, sem dúvida, a de valor simbólico mais importante. Ela é sinonimo da arquitectura barcelonesa modernista e é a obra mais conhecida de Gaudí, e que apesar de inacabada, é o exemplo mais representativo da genialidade do artista.

O templo nasceu da iniciativa privada de Josep Maria Bocadella, que presidia a Associação Espiritual dos Devotos de São José. As obras tiveram início em 1882 sob a direcção de Francesc de Paula Villar, quem pretendia dar à obra um estilo neogótico, comum naquele tempo. Mas as diferenças entre o arquitecto e município fizeram com que Villar renunciasse ao projecto. Seu substituto foi Antoni Gaudí, que daria a obra uma personalidade diferente daquela planejada inicialmente por Villar.

O projecto começou quando Gaudí tinha 31 anos de idade e foi o último de sua vida, no qual dedicou os seus últimos 40 anos de vida. Gaudí modificou tudo, improvisando à medida que avançava. Passou a ser o trabalho da sua vida e viveu no local, como um recluso, durante 14 anos.

Gaudí pretendia criar uma Catedral para o Século XX, através de uma síntese de todos os seus conhecimentos arquitectónicos, conjugados com um complexo sistema de simbolismos e uma explicação visual dos Mistérios da Fé.

A catedral irá ter três fachadas, a Natividade e a Paixão (já concluídas), e a da Ressurreição de Cristo (por concluir). Nestas fachadas podem encontrar-se, um anagrama de Maria e cenas referentes à Sagrada Família. As torres, parte principal do templo, passam os 100 metros de altura, e a 170 metros por cima delas, está o símbolo do Salvador.

Antes de morrer, Gaudí teve tempo de concretizar alguns ambientes internos da catedral. A obsessão do arquitecto por esse projecto era tanta, que até dormir dentro do templo, ele dormia. Há rumores de que a distracção por estar tão obstinado pelo término da obra, pode ter sido a causa do seu atropelamento por um eléctrico, causa da sua morte em 1926.

A obra mais emblemática de Gaudí, interrompida após sua morte por falta de verba, recomeçou após a Guerra Civil e até hoje continua, financiada por subscrição pública. Esta obra foi sempre e ainda é impressionante por três motivos principais: o primeiro, evidentemente, por sua grandiosidade monumental; o segundo, igualmente impactante, por sua inusitadíssima arquitectura; a terceira, por estar em permanente construção desde 1882, o que lhe confere uma particularidade curiosa e intrigante, pois não foram deixadas plantas do projecto total. Dizem que se não houver interrupção no cronograma de obras, segundo o ritmo actual e histórico, elas estariam concluídas daqui a 50 anos.

Este templo da Sagrada Família é uma espectacular igreja e o seu projecto é tão grandioso, que está previsto para ser concluído somente lá para o distante ano de 2082, quando completa cem anos de construção! A primeira impressão, ao nos deparar-mos com esta imensa construção da Sagrada Família, é de perplexidade.

É necessário parar e observar para entender seus detalhes e o seu conjunto. Suas 8 torres estão desenhadas com adornos como se fossem castelos de areia, e arredondadas nas pontas. Suas torres com 107 metros de altura dominam de qualquer ângulo que as olhemos. Numa delas pode-se subir até o topo, por um elevador, mas só até certo ponto, e depois por uma estreita escada em caracol.

Estas grandiosas torres com pináculos cobertos de formas abstractas de mosaicos venezianos, com formato em espiral atribuem ao Edifício um espectacular efeito de verticalidade. Na nave da Igreja, vêem-se imagens de Jesus, de Maria e dos Apóstolos, além de passagens bíblicas. A Igreja uma vez concluída, será a maior catedral da Europa. Ali na cripta da Catedral da Sagrada Família estão os restos mortais de Gaudí.

Este enorme edifício é como um gigantesco livro onde vem narrada a história de Jesus Cristo. O edifício deverá contar com três fachadas. A oriental evocará o nascimento de Jesus, por ser onde nasce o Sol. A fachada sul será onde se encontra a história da morte de Jesus na cruz por ser onde o Sol se encontra ao meio-dia, quando o Sol está no seu ponto mais alto. A fachada ocidental será consagrada à ressurreição de Jesus junto de Deus, Seu Pai.

Cada fachada terá quatro torres com alturas compreendidas entre os 90 e os 110 metros, no total são doze torres que representam os doze discípulos. No centro irá ser construida outra torre com o dobro da altura da parte da catedral já construída. Terá 170 metros e representará Jesus. Ao seu redor estarão outras cinco torres, cada uma representando Maria, Mateus, Lucas, Marcos e João.

No exterior do templo experimenta-se o maior impacto, quanto se observam as sua magnificas fachadas. A fachada posterior, que dá para uma praça com um lago é o melhor ponto para se observar a igreja. É nesta parte que fica a fachada denominada de "Natividade", que foi concluída apenas em 1930.

Na parte frontal, a fachada principal dá também para uma praça grande, de onde não se tem uma vista muito boa, porque a sua calçada é ocupada por barraquinhas de "suvenires". Esta fachada é completamente diferente da posterior, chama-se da "Paixão" e foi concluída em 1977, com uma arquitectura cubista.

A fachada da Paixão é a mais imponente, mas não é a mais bonita no meu entender, uma vez que descaracterizou o estilo de Gaudí do conjunto, pois o seu arquitecto resolveu dar um toque pessoal ao seu trabalho. Ainda que belíssima, é cubista e não modernista, portanto, não é puro Gaudí.

O interessante aqui é olhar longamente por todo esse lado da igreja procurando inúmeras alegorias e adereços, figuras e símbolos que formam um curioso conjunto. Do chão ao topo das torres podemos passar um bom tempo a nos surpreendermos com cada detalhe observado.

De aparência fantástica, a Sagrada Família seduz pela ousadia da forma e pelas soluções estruturais utilizadas. Gaudí não poupava esforços, ousava tanto no uso de técnicas quanto no uso de materiais, para dar asas à sua imaginação e realizar a sua visão um tanto eclesiástica de que "A Igreja foi fundada sobre uma pedra e em rocha se transformou".


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