Na última etapa da nossa primeira viagem de Vaporetto pelo Grande Canal, com destino a San Marco e após a passagem pelo edifício onde está sediada a Collezione Peggy Guggennheim, observa-se do mesmo lado, um pouco à frente, o Palazzo Dario.
O Ca’ Dario é um palácio estreito, que chama facilmente a nossa atenção pela fachada assimétrica de mármore policromado brilhante e vistoso, com uma mistura invulgar de estilos arquitetónicos, que como os anteriores palácios próximos também fica localizado no Sistieri Dorsoduro e com vista para o Grande Canal. A fachada é ricamente decorada com pedra d'Istria, onde estão dispostos vários medalhões circulares nos seus três andares superiores.
O edifício é famoso pela alegada maldição que pesa sobre ele, que segundo a lenda se encontra assombrado e que todos os seus proprietários estariam destinados a ir à falência ou morrer de uma morte violenta. O número de proprietários ou membros de suas famílias, que morreram pouco depois de possuirem este edifício é chocante, pois o número de mortes ali ocorridas foram pelo menos dez.
O palácio foi construído sobre um antigo cemitério e a sua fachada principal encontra-se visivelmente inclinada devido à cedência das suas fundações. Um poeta italiano certa vez comparou a sua estrutura sumptuosa e inclinada, com "uma cortesã decrépita inclinada sob o peso de suas bugigangas".
A maioria do corpo do edifício foi construído num estilo peculiar, assemelhando-se ao gótico veneziano, embora a fachada principal virada para o Grande Canal, seja claramente renascentista. No rés-do-chão do prédio encontra-se a inscrição em latim, VRBIS DARIVS GENIUS GIOVANNI (Giovanni Darius protector da cidade).
As suas chaminés também se destacam por serem altas, pois embora sejam tipicamente venezianas, estão entre os poucos exemplares originais da sua época. A varanda neogótica só foi adicionada ao edifício no séc. XIX.
Foi construído para Giovanni Dario, original da Dalmácia, em 1487 e projetado por Pietro Lombardo. Em 1494, com a morte de Giovanni Dario, o palácio foi herdado por sua filha Marietta passando depois para Vincenzo Barbaro. Mais tarde foi reconstruído por Giuseppe Sardi para o almirante Antonio Barbaro, entre 1678 e 1681 e possui um dos melhores estilos do barroco veneziano, em algumas das fachadas.
O exterior tem mapas em relevo em mármore que representam os vários locais por onde Antonio Barbaro viajou a serviço de Venezia, como Candia, Zadar, Pádua, Roma, Corfu e Spalato. A família Barbaro permaneceu na posse do prédio até o que no início do séc. XIX, quando Alexandre, o Bárbaro (1764-1839), último membro do Conselho dos Dez da República de Venezia e conselheiro do Supremo Tribunal de Verona, vendeu o prédio a Arbit Abdoll, um mercador arménio de pedras preciosas.
Já no final do séc. XIX, o Palazzo Dario, foi adquirido pela Condessa de la Baume-Pluvinel, uma aristocrata e escritora francesa, que escrevia sob o pseudónimo de "Laurent Evrard" e que fez uma grande renovação do palácio. A condensa tinha por hábito e prazer cercar-se de escritores franceses e venezianos, entre os quais Henri de Régnier, cuja presença habitual no palácio, está imortalizada numa inscrição num muro do jardim do palácio, que diz: "Em Questa Casa antica dei Dario, Henri de Regnier, poeta di Francia, venezianamente Visse e scrisse-anni 1899-1901" (Nesta antiga casa de Dario, Henri de Regnier, poeta francês, viveu e escreveu em Venezia, nos anos 1899-1901).
O palácio é também um dos palácios de Venezia que foi retratado num dos quadros de Claude Monet, pintado em 1908, quando se encontrava a residir na cidade e que hoje se encontra na coleção permanente do Art Institute of Chicago.
Atrás do Palazzo Dario reside numa pequena praça, o Campo Barbaro Campiello, assim nomeado em honra de um dos membros da família Barbaro. A praça sombreada por frondosas árvores é ladeada pelo Palazzo Dario, que também e mais uma vez foi imortalizado nos escritos do crítico de arte Inglês John Ruskin, que descreveu o mármore incrustado no edifício com grande detalhe.
A estátua de António Barbaro encontra-se no centro da praça, ladeada por belas esculturas que representam a Honra, a Virtude, a Fama e a Sabedoria. No topo da fachada observa-se a árvore genealógica da família Barbaro, esculpida em relevo.
Em frente do Ca’ Dario, do outro lado do Grande Canal encontra-se o cais de Vaporitti de Santa Maria del Giglio. O Campo del Giglio ou Campo Santa Maria Zobenigo, é uma praceta a Oeste da Piazza San Marco onde se encontra a Chiesa di Santa Maria Zobenigo, que foi fundada no séc. IX pela família Zubanico, daí o seu nome, mas que é mais conhecida por Santa Maria del Giglio.
Esta igreja, cujo nome se traduz como Igreja de St. Maria do Lírio, referindo-se à flor classicamente usada nas pinturas e escritas relativas ao Anjo São Gabriel, o anjo da Anunciação.
O interior foi restaurado em 1660 e a fachada barroca foi adicionada em 1678-83 por Giuseppe Sardi sob as ordens de Antonio Barbaro, garantindo assim a sua imortalidade, uma vez que a igreja possui uma estátua sua em pedra, que se encontra colocada em cima do portal principal, com estátuas de alguns de seus antepassados por baixo. Na realidade a fachada principal da igreja foi construída para comemorar a história da glória naval e política da família Barbaro, na República de Venezia, pelo que não há um único símbolo religioso na frente da igreja.
A família Barbaro, embora originalmente de Roma veio para Venezia em 868, onde vários membros da família se distinguiram, tendo estado alguns deles no comando das tropas venezianas em várias batalhas travadas pela República de Venezia. Além de alguns diplomatas que também serviram Venezia nas complexas relações com as possessões ultramarinas da República, houve um dos seus membros que foi canonizado pela igreja católica.
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O Palazzo Cini, tem a parede lateral direita colada ao canal onde corre o rio di San Vio, com vista para o Campo di San Vio e é a sede da Fondazione Giorgio Cini. A segunda das duas pontes que ligam o palácio ao Campo di San Vio, leva a uma entrada lateral do complexo. É um edifício do séc. XVI e um maravilhoso museu de arte moderna e contemporânea, que fica situado entre as Galerias dell’ Academia e o edifício onde onde se encontra a maravilhosa Collezione Peggy Guggenheim.

“Veneza, a Cidade dos Anjos Caídos” de John Berendt, é um livro fascinante cujo enredo se passa em Venezia, que é iniciado com um incêndio que destrói um dos principais símbolos da cidade de Venezia, o teatro lírico La Fenice, onde se estrearam cinco óperas de Verdi. Para escrever este livro, Berendt viveu em Venezia durante períodos de dois a três meses ao longo de nove anos, entrevistando habitantes e pesquisando locais e factos verídicos, baseando a sua escrita na própria história de Venezia. Tudo o que está descrito no livro é real: nomes, pessoas, lugares e factos. Segundo o autor "É um livro de não-ficção, mas escrito do ponto de vista de um romancista, que embora usando técnicas literárias que um romancista utilizaria, como o descrever um tipo de olhar, a reacção das pessoas no quarto... Então, deve lê-se o livro como se fosse um romance, mas é tudo verdade".
Este foi também o local escolhido pelo romancista Henry James, em 1888, para ali escrever o seu livro “Papéis de Aspern”. Segundo reza a história tinha ali um quarto com uma secretária, residindo e permanecendo no palácio por longos períodos de tempo, enquanto trabalhava no seu romance.
Nascida em Nova-York e filha do multimilionário Benjamin Guggenheim, um judeu suíço natural do cantão alemão que morreu no naufrágio do Titanic, em 1912, e sobrinha de Solomon R. Guggenheim, fundador da Foundation Solomon R. Guggenheim, Peggy Guggenheim, é ainda hoje uma figura mítica na cidade de Venezia.
Após a sua morte, legou a propriedade, bem como todas as suas obras de arte, à Foundation Salomão Guggenheim de Nova-York. A colecção com obras que vão desde o cubismo e surrealismo ao expressionismo abstrato, é uma coleção que com o passar dos anos, se tornou uma das atrações culturais mais respeitadas e visitadas de Venezia. No entanto, antes de morrer Peggy Guggenheim determinou que todas as suas obras de arte deveriam permanecer em Venezia, para que fossem vistas pelo público da cidade e seus turistas. Hoje podem ali ser admiradas obras de artistas famosos, como Chagall, Picasso, Kandinsky, Ernst, Pollock, Dali e Duchamp, entre outros.
À direita observa-se primeiro a ligação do estreito canal do rio Malpaga, que passa por baixo de quatro pontes de uma só arcada, com estreitos passeios que por vezes aparecem de um só dos lados do canal ao longo do seu percurso, antes de desaguar no Grande Canal.
Exatamente à frente desta ligação da margem direita, observa-se uma outra ligação na margem esquerda do canal do rio del Duca com o Grande Canal.
A zona de San Vidal está situada na margem esquerda do Grande Canal, do outro lado da Ponte dell’Accademia, que liga à margem esquerda onde se encontra o complexo das Galerias dell’Accademia, um enorme museu de arte especializada em arte pré-séc. XIX de Venezia, situado na margem sul do Grande Canal.
A Ponte dell’Accademia uma obra do arquiteto português Eduardo Souto Moura, atravessa o Grande Canal ligando o Campo della Carita, que ainda conserva o nome da antiga ponte de madeira, que fica situado à frente do edifício da Accademia e o Campo di San Vidal, do outro lado da ponte.
Hoje esta igreja deixou de ser uma igreja com funcionamento religioso, sendo usada muitas vezes como uma sala de concertos para “Interpreti Veneziani” (intérpretes de Venezia), em especial concertos de Vivaldi.
Giacomo Girolamo Casanova (Venezia, 2 de Abril de 1725 – Dux, Boémia, 4 de Junho de 1798) foi um escritor e aventureiro italiano, filho de uma atriz de 17 anos de idade, Farussi Zanetta que na época estava a começar uma carreira brilhante como atriz de teatro e do ator Gaetano Giuseppe Giacomo, seu marido.
Casanova teve uma vida apaixonante, tendo sido inicialmente orientado na sua educação para a vida eclesiástica. No entanto cedo interrompeu as duas carreiras profissionais para que estava destinado e que chegou a iniciar, a militar e a eclesiástica, para levar a partir daí uma vida bastante acidentada.
Em Venezia foi preso na madrugada de 26 de Julho de 1755, sob a acusação de levar uma vida dissoluta, de possuir livros proibidos e de fazer propaganda anti-religiosa. Esperavam-no cinco anos de cativeiro.
Na madrugada do dia 1 de Novembro de 1756, escapa com o seu colega por um buraco que conseguiu escavar no teto da cela e trepa para os telhados do Palazzo Ducale de onde não consegue descer. Esgotado pela procura de uma escada ou de cordas que lhe permitiriam sair dos telhados que percorre durante toda a noite, Casanova adormece por um par de horas nas águas-furtadas, uma espécie de forro interior dos telhados do Palazzo Ducale, mas os sinos da Basílica di San Marco acordam-no providencialmente e forçam-no a procurar novamente uma outra saída.
Cá fora, Casanova atravessa a Piazzeta numa corrida desesperada por baixo das arcadas ao longo do pórtico do Palazzo Ducale e no cais junto do Grande Canal, atira-se para dentro de uma gôndola, escondendo-se da curiosidade dos transeuntes sob uma antiga protecção que muitas destas embarcações possuíam outrora, uma cabina chamada "felze" que foi proibida mais tarde, devido aos encontros amorosos que aquele “esconderijo” facilitava.
Em 1772, é recebido novamente no palácio dos Grimani, uma família patrícia de Venezia com a qual pensa estar aparentado, mas por causa das dívidas de jogo envolve-se num confronto com um desses aristocratas de onde sai humilhado, com toda a gente a troçar da sua situação.Vinga-se ao escrever uma brochura intitulada "Nem Amor, Nem Mulheres ou o Limpador dos Estábulos", que todos reconhecem como um retrato do nobre Grimani.
Irrequieto e agitado por uma inquietação que nunca o abandonou em 73 anos de vida, este sedutor em movimento perpétuo passa grande parte da sua vida em viagens por Avignon, Marselha, Florença, Roma, Praga, San Petersburgo, Istambul e Viena.
No entanto deve referir-se que se Casanova não tivesse sido reconhecido na sua época como um erudito de relevo, talvez jamais se ouvisse falar do seu nome nos nossos dias, até porque as suas memórias não teriam sido escritas. Por outro lado não duvidemos que o relevo dado à sua aura de grande conquistador, deve-se muito provavelmente a uma forma simples de ocultar pelos seus contemporâneos, a sua relevante cultura e inteligência, pois na época isso era só apanágio de nobres, eclesiásticos ou filhos da alta burguesia.
Em 1785, já velho e cansado da vida errante que tinha levado até então, Casanova aceitou o convite do conde de Waldstein-Wartenberg, seu último protetor, para cuidar da biblioteca de seu castelo em Dux. Dedicou os últimos anos da sua vida à escrita de um romance, Isocameron, e especialmente, à redação das suas memórias, Historie de ma vie, a sua autobiografia que relata uma vida emocionante e que é uma das melhores crónicas dos costumes europeus do séc. XVIII. 
O palácio foi construído também na época bizantina, no entanto os vários proprietários foram fazendo modificações, de acordo com as suas próprias necessidades e gostos, transformando-o num edifício que reúne numa grande variedade de estilos arquitetónicos.
Sabe-se também que na Paróquia de São Samuel, devido à construção de dois teatros (o San Samuele e o San Angelo), que decorreu entre 1656 e 1676, ambos muito frequentados e bem-sucedidos, modificou naquela época o tecido urbano do bairro e este começou a ser habitado por muitos daqueles que gravitavam em torno do teatro, como atores, escritores e produtores, o que teve a sua influência sobre Palazzo Malipiero.
Neste palácio Casanova teve a oportunidade para conhecer muita gente importante e tecer uma série de relacionamentos com pessoas influentes e com um bom número de senhoras da sociedade veneziana. No entanto Casanova através destes relacionamentos conseguiu ficar muito íntimo de Teresa Imer, uma jovem aristocrata por quem o ancião Alvise Malipero II se tinha apaixonado. Parece que este relacionamento próximo, fez com que Casanova caísse em desgraça aos olhos de Malpiero, sendo o jovem Giacomo expulso do palácio. Apesar deste infortúnio, Casanova deixou-nos na sua “Historie de ma vie”, um retrato vívido de Alvise Malipiero II, e descrições significativas sobre os trajes usados na época de 700, numa óptima contribuição para a história do traje veneziano. (para saber mais sobre a vida apaixonante de Giacomo Casanova, vale a pena ver o filme de Federico Fellini, "Il Casanova").
O palácio simboliza a concretização da ascensão social da família Rezzonico. O pináculo do poder dos Rezzonico e a grandeza do palácio chegaram ao mesmo tempo, em 1758, dois anos após a sua conclusão. Nesse ano, Carlo Rezzonico, irmão de Giambattista, foi eleito Papa com o nome de Clemente XIII e Ludovico Rezzonico casou-se, em Venezia, com Faustina Savorgnan. Desta forma, duas das mais influentes famílias da cidade ficaram unidas pelos laços do matrimónio. No entanto, essa união, ao contrário do que era habitual na época, também era um casamento por amor, o que seria celebrado nos frescos do palácio, que permanecem actualmente entre os melhores preservados de Venezia. O feliz casal desfrutou duma vida alegre e despreocupada no seu belo palácio, na cúpula da sociedade veneziana. Mais tarde, Ludovico tornou-se procurador da Basílica de São Marcos. Em 1810, a família havia-se extinguido por falta de descendentes, deixando apenas o seu estupendo palácio para preservar o nome Rezzonico.
O cais de San Samuele, situado do lado esquerdo do Grande Canal é o local de paragem dos vaporetti que se encontra junto do Campo com o mesmo nome, onde se encontra a pequena Chiesa di San Samuele, já no Sestieri di San Marco. A igreja original foi construída no séc. XI, em torno do ano 1000 pela família Boldù. No início do séc. XII foi destruída pelo fogo duas vezes e reparada após os incêndios de 1105 e 1170 lentamente pela família Soranzo, durante os dois séculos seguintes. O edifício actual data de uma reconstrução de 1685, e na fachada principal por cima da estátua da Virgem na porta principal, pode ver-se uma lápide com a data de reconstrução.
É uma igreja dedicada à figura bíblica de São Samuel, porque segundo a tradição no seu interior estão as relíquias deste Santo. No seu interior, no altar destaca-se um crucifixo do séc. XIV atribuído a Paolo Veneziano. A completar o complexo destaca-se o seu campanário, um dos mais antigos de Venezia, que data do período bizantino veneziano (séc. XII).
Casanova, era filho de uma atriz de 17 anos de idade e provavelmente do nobre Michele Grimani, proprietário do Teatro de San Samuele, onde sua mãe passou a actuar. Casanova teve uma vida apaixonante, tendo a sua educação sido inicialmente orientada para a vida eclesiástica. Tocou na orquestra do Teatro San Samuele (agora uma escola) e os seus pais casaram na Chiesa di San Samuele, em 17 de Fevereiro 1724, sendo também ele ali batizado. Em 1740, com a idade de 15 anos, deu também ali os seus primeiros dois sermões. O primeiro foi um grande sucesso e o seu bolso ficou cheio de dinheiro do ofertório, misturando-se com algumas cartas de amor, pois era na realidade um Dom Juan convicto. Mas da segunda vez o seu sermão foi um desastre, pois tinha comido e bebido demais, esquecendo-se de o preparar corretamente, e ao invés de fazer “Brutta Figura”, ele fingiu desmaiar, o que marcou o fim da sua carreira eclesiástica.
A República de Venezia tendo o seu poder económico fundado a partir do comércio marítimo durante séculos, fez com que habitualmente muitos nobres venezianos tenham usado frequentemente para expressar o seu status e suas ambições, na zona mais prestigiada de Venezia, o Grande Canal, para ali construírem as suas casas de luxo, a zona mais visível da cidade.
François Pinault foi um grande amante da arte moderna, e um dos maiores colecionadores de arte contemporânea do mundo, que decidiu compartilhar a sua paixão com o maior número possível de pessoas, colocando ali uma parte da sua enorme coleção.