Uma aura mágica envolve toda a sua vida e foi no seu tempo adjetivado de debochado, libertino, coleccionador de mulheres, escroque e conquistador empedernido, pois segundo reza a história percorria os bordéis de Londres todas as noites para ter relações com mais de 60 meretrizes, além de conseguir fugir das masmorras do Palazzo Ducal di Venezia, numa fuga rocambolesca pelos telhados do palácio, depois de estar prisioneiro na “Prigioni Nove” durante 16 meses. Em Venezia foi preso na madrugada de 26 de Julho de 1755, sob a acusação de levar uma vida dissoluta, de possuir livros proibidos e de fazer propaganda anti-religiosa. Esperavam-no cinco anos de cativeiro.
Na sua primeira cela minúscula, Casanova nem se conseguia erguer. Cedo adoece, mas mesmo assim planeia uma fuga e cava um túnel, descobrindo desesperado que os seus planos estão condenados ao fracasso, quando o mudam de cela em 25 de Agosto. No entanto rapidamente se recompõe e com um companheiro da prisão, o abade Balbi, planeia meticulosamente uma nova fuga. Na madrugada do dia 1 de Novembro de 1756, escapa com o seu colega por um buraco que conseguiu escavar no teto da cela e trepa para os telhados do Palazzo Ducale de onde não consegue descer. Esgotado pela procura de uma escada ou de cordas que lhe permitiriam sair dos telhados que percorre durante toda a noite, Casanova adormece por um par de horas nas águas-furtadas, uma espécie de forro interior dos telhados do Palazzo Ducale, mas os sinos da Basílica di San Marco acordam-no providencialmente e forçam-no a procurar novamente uma outra saída.
Acaba por penetrar novamente na Sala Quadrada do Palácio Ducal, servida pela Escada dos Gigantes, decorada pelo famoso arquiteto Sansovino no século XVI. Um guarda vê os dois fugitivos e, pensando serem magistrados da cidade de Venezia que ali tinham ficado até altas horas da madrugada a trabalhar nos processos judiciais, abre-lhes a porta e deixa-os sair pela Porta da Carta, a entrada principal, habitualmente usada para a entrada no Palácio dos Doges.Cá fora, Casanova atravessa a Piazzeta numa corrida desesperada por baixo das arcadas ao longo do pórtico do Palazzo Ducale e no cais junto do Grande Canal, atira-se para dentro de uma gôndola, escondendo-se da curiosidade dos transeuntes sob uma antiga protecção que muitas destas embarcações possuíam outrora, uma cabina chamada "felze" que foi proibida mais tarde, devido aos encontros amorosos que aquele “esconderijo” facilitava.
O aventureiro atravessa a fronteira e parte para Munique e só regressa a Venezia vinte anos mais tarde, no ano de 1785, vindo de Trieste, tendo como castigo para ser perdoado, a incumbência de escrever regularmente relatórios secretos para a Inquisição de Venezia, sobre as várias pessoas que ele frequenta nas suas longas noites de jogo e de dissolução. Cruel ironia do destino que ele aceita, existindo cerca de 50 relatórios seus, onde ele acusa nobres e banqueiros de adultério e deboche, além da posse de livros cabalísticos e proibidos e de conjura contra o Estado ou de vigarices e crimes, que não lhe repugnava cometer!...Em 1772, é recebido novamente no palácio dos Grimani, uma família patrícia de Venezia com a qual pensa estar aparentado, mas por causa das dívidas de jogo envolve-se num confronto com um desses aristocratas de onde sai humilhado, com toda a gente a troçar da sua situação.Vinga-se ao escrever uma brochura intitulada "Nem Amor, Nem Mulheres ou o Limpador dos Estábulos", que todos reconhecem como um retrato do nobre Grimani.
Os Inquisidores ameaçam-no e ele é novamente forçado a abandonar Venezia aonde nunca mais regressou. A sociedade aristocrática e absolutista do antigo regime da cidade de Venezia não permitia naquela época, as ousadias de vingança de um plebeu contra um nobre. Viaja novamente até Paris e, mergulhando nos salões eruditos e nas bibliotecas, transforma-se num Enciclopedista à maneira de Voltaire, Diderot, D' Alembert e do Barão d' Holbach.Irrequieto e agitado por uma inquietação que nunca o abandonou em 73 anos de vida, este sedutor em movimento perpétuo passa grande parte da sua vida em viagens por Avignon, Marselha, Florença, Roma, Praga, San Petersburgo, Istambul e Viena.
Viajou por toda a Europa e conheceu todas as personalidades relevantes da sua época. Casanova transformou-se num personagem, característico do Iluminismo do séc. XVIII, seguidor da filosofia epicurista (Epicuro de Samos, filosofo ateniense do séc. IV a.C.) e racionalista, sendo no entanto praticamente recordado somente pelas suas inumeráveis histórias galantes. Casanova embora sem grande figura física, era tão dotado na arte da conquista feminina, que o seu sobrenome é até hoje sinónimo de "conquistador".No entanto deve referir-se que se Casanova não tivesse sido reconhecido na sua época como um erudito de relevo, talvez jamais se ouvisse falar do seu nome nos nossos dias, até porque as suas memórias não teriam sido escritas. Por outro lado não duvidemos que o relevo dado à sua aura de grande conquistador, deve-se muito provavelmente a uma forma simples de ocultar pelos seus contemporâneos, a sua relevante cultura e inteligência, pois na época isso era só apanágio de nobres, eclesiásticos ou filhos da alta burguesia.
A destreza no manejo dos intrincados trajes femininos não era a única habilidade de Casanova. O desempenho com as armas foi outra de suas virtudes. Excelente atirador e esgrimista notável, seus duelos teriam ficado famosos em França e em toda a Europa. O mais conhecido deles aconteceu em 1766. O galante aventureiro já havia passado dos 40 anos e o seu adversário era nem mais nem menos que o conde Branicki, um militar e amigo do rei Estanislau Poniativski, da Polónia.Em 1785, já velho e cansado da vida errante que tinha levado até então, Casanova aceitou o convite do conde de Waldstein-Wartenberg, seu último protetor, para cuidar da biblioteca de seu castelo em Dux. Dedicou os últimos anos da sua vida à escrita de um romance, Isocameron, e especialmente, à redação das suas memórias, Historie de ma vie, a sua autobiografia que relata uma vida emocionante e que é uma das melhores crónicas dos costumes europeus do séc. XVIII.
Estes volumosos livros escritos em francês, que constituem um fascinante testemunho da sua época, tiveram a sua primeira publicação, em 1822-25, depois das quais se fizeram múltiplas edições retocadas. O original integral não foi publicado até 1960. Nos 28 volumes que compõem as suas memórias, Giacomo Casanova diz ter dormido com 122 mulheres ao longo da vida. Além de muitas amantes, que lhe deram um lendário currículo amoroso, teve diversas profissões: foi espião, violinista, ensaísta, tradutor (traduziu a Ilíada, de Homero, para o italiano), filosofo, escritor, adaptou algumas peças teatrais e foi um dos criadores da loteria francesa.
Morreu aos 73 anos, em 4 de Junho de 1798, depois de muita esbornia. Amargurado com as suas limitações sexuais causadas por uma infecção urinária, escolheu bem as últimas palavras: "Vivi como um filósofo, morri como um cristão".
Fonte: http://omundodeligialopes.blogspot.com / Wikipédia.org / http://75.125.242.10/view/7ommj
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