Guimarães - 2º Dia - Praça de Santiago e Largo da Oliveira - Parte IX



Do Largo das Laranjeiras onde estivemos sentados algum tempo, na esplanada do restaurante/bar Recantos, seguimos a pé pela rua João Lopes Faria até à Praça de Santiago, situada no coração de Guimarães.
A rua João Lopes Faria desce ligeiramente até ao centro da cidade, com passeios em lajes de pedra alisada pelos séculos e estrada estreita com piso de paralelepípedos. Possuindo nitidamente uma traça medieval, nela há maioritariamente casas de dois e três pisos, com graciosas varandas de ferro forjado, ou balcões e alpendres de granito, observando-se ainda algumas casas apalaçadas com brasão de armas nos portais. Por momentos imaginamo-nos num cenário medieval, onde a nobreza foi insinuando ricas moradias que dão uma atmosfera única a Guimarães.
Estas características arquitetónicas estendem-se às casas situadas no coração da cidade, nomeadamente na Praça de Santiago e no Largo da Oliveira em pleno centro histórico, onde a rua João Lopes Faria vai desembocar e onde chegamos de seguida.

A Praça de Santiago é um lugar mítico, onde outrora se reuniam as pessoas para a conversa no fim do dia, e onde se vendiam e trocavam produtos alimentares e que ainda hoje se mantém igual a si própria. Forma um conjunto com o vizinho Largo da Oliveira e é, um dos mais belos e agradáveis lugares do centro histórico de Guimarães (classificado como Património da Humanidade pela UNESCO).
A Praça de Santiago é uma praça bastante antiga, referida ao longo do tempo em vários documentos, que conserva ainda a sua inicial traça medieval. Foi nas suas imediações que se instalaram os francos que vieram para Portugal em companhia do Conde D. Henrique de Borgonha.
Segundo a tradição, uma imagem da Virgem Santa Maria foi trazida para Guimarães pelo apóstolo S. Tiago (o mesmo de Santiago de Compostela), e colocada num templo pagão que existia num antigo largo, passando a chamar-se desde aí Praça de Santiago. Aí estava situada uma pequena capela alpendrada do séc. XVII, dedicada a Santiago que foi demolida em finais do séc. XIX.
Da Praça de Santiago passa-se por baixo de uma casa medieval, a Domus Municipalis, com pórticos que formam uma passagem que ocupa todo o rés-do-chão do edifício, para o vizinho Largo da Oliveira.
É neste largo que se encontra o que resta do antigo Convento da Nossa Senhora da Oliveira, do qual resta somente a Igreja da Oliveira e o lindíssimo claustro inserido no Museu Alberto Sampaio. Em frente à igreja pode apreciar-se o Padrão do Salado, um alpendre gótico erguido em 1340, que relembra a vitória de D. Afonso IV sobre os mouros, na batalha com o mesmo nome.
Fazendo a ligação entre a Praça de Santiago e o Largo da Oliveira, destaca-se a Domus Municipalis, um imponente monumento que foi em tempos antigos o Paço do Concelho em finais do séc. XIV, realçando-se o alpendre sustentado em cinco arcos góticos, as cinco janelas de sacada e uma estátua na fachada do edifício que representa Guimarães.
A Igreja de Nossa Senhora da Oliveira foi mandada reedificar por D. João I, como forma de agradecimento pela vitória na Batalha de Aljubarrota. Está situada ao lado do Museu de Alberto Sampaio e rodeado de casas medievais recentemente restauradas. É um espaço onde o olhar se perde no escuro do granito, no colorido das varandas cheias de flores e na alegria das esplanadas.

Local de convívio por excelência de todos os vimaranenses, é em conjunto com Praça de Santiago, palco de manifestações culturais e muita animação de rua. A Feira do Entulho, com cinema ao ar livre, teatros de rua, concertos e muitos outros eventos, animam as noites de Primavera e Verão, neste local da cidade.

Fonte: http://www.cm-guimaraes.pt/ http://www.portugalio.com/ http://www.submundos.com/ http://www.igogo.pt/

Nunca se deve tomar ninguém como modelo


Para as nossas ações e omissões, não é preciso tomar ninguém como modelo, visto que as situações, as circunstâncias e as relações nunca são as mesmas e porque a diversidade dos caracteres também confere um colorido diverso a cada ação. Desse modo, “duo cum faciunt idem, non est idem” (quando duas pessoas fazem o mesmo, não é o mesmo). Após ponderação madura e raciocínio sério, temos de agir segundo o nosso carácter. Portanto, também em termos práticos, a originalidade é indispensável; caso contrário, o que se faz não combina com o que se é.
 

 Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'

Guimarães - 2º Dia - Convento de Santo António dos Capuchos e Largo das Laranjeiras - Parte VIII



Ainda o sol ia alto quando saímos do Paço Ducal a caminho da visita à cidade. Logo à saída do Paço pode admirar-se a estátua imponente de D. Afonso Henriques, a quem o povo noutros tempos chamava "Rei Preto", e que resultou de uma iniciativa cívica, lançada em 1882 a partir do Brasil pelo vimaranense João Alves Pereira Guimarães, então residente naquele país, numa carta que dirigiu à Câmara Municipal da cidade. (ver carta em: http://araduca.blogspot.pt/2009/02/estatua-de-d-afonso-henriques-1.html). Trata-se de um dos símbolos da cidade de Guimarães mas acima de tudo do nosso país, uma vez que representa o nosso primeiro rei, fundador da nossa nacionalidade.
A estátua é da autoria do escultor Soares dos Reis e foi inicialmente colocada no centro do Largo do Toural e inaugurada em 1874, numa cerimónia solene que contou com a presença do rei D. Luiz I. Em 1940 foi transladado para o atual local, aos pés da Colina Sagrada, bem perto do local que o viu nascer. Em bronze a estátua do primeiro monarca português eleva-se sobre um pedestal de granito. A figura de D. Afonso Henriques é representada de pé, em posição bélica, envergando a armadura de guerra das Cruzadas, o elmo na cabeça e, sobre a longa túnica de malha, um manto ondulante. As mãos seguram a espada e o escudo.

No cruzamento de estradas em frente do Paço Ducal observa-se do lado direito o Convento de Santo António dos Capuchos no interior de um gradeamento em ferro forjado, e é para lá que nos dirigimos. Situado em plena Colina Sagrada, o museu ocupa algum espaço do edifício construído como convento no séc. XVII, pertencente aos Frades Capuchos e era seu padroeiro Santo António. Mais tarde foi comprado pela Misericórdia de Guimarães em 1842, para aí instalar o seu Hospital.

No edifício do antigo Convento, expõe-se algum património móvel da Instituição, ao mesmo tempo que os visitantes são convidados a percorrer os corredores, pátios e claustro do imponente edifício, bem como visitar a Igreja do Convento e a sua magnífica sacristia do séc. XVIII.

Continua a descer-se a Colina Sagrada e encaminhamo-nos em seguida para o Largo da Condessa Mumadona Dias (aristocrata galega, do séc. X, aparentada com os reis de Leão e filha dos condes Diogo Fernandes e Onega Lucides e bisneta de Vímara Peres, antiga proprietária das terras de “Vimaranes” e que determinou a construção do primeiro castelo, no local do atual).
Dali segue-se para o Largo dos Laranjais onde se para, para um refresco, num pequeno bar/restaurante situado na esquina com a rua João Lopes Faria. Este amplo largo, um dos mais bonitos da cidade, embora um dos largos menos visitados e conhecidos de Guimarães. Foi outrora uma das principais entradas da cidade muralhada, à época chamado de Santa Luzia. Nele podemos encontrar o Solar dos Laranjais, um bonito edifício barroco do séc. XIV e a sua Torre Medieval, no qual funcionou a Escola Industrial Francisco de Holanda. No Solar de rés-do-chão e primeiro andar, possui portas de caráter manuelino na fachada e uma lápide datada do séc. XVII, localizada na torre.
Neste largo é também de destacar o monumento a Alberto Sampaio, ilustre vimaranense. Para quem visita o centro histórico pode parecer estranho um largo cheio de laranjeiras, mas a Câmara Municipal quis devolver um pouco a memória ao espaço que foi outrora um quintal. Para além do colorido da verde folhagem, dos frutos e das flores, estas belas árvores também exalam na primavera, o magnífico perfume característico, próprio da flor da laranjeira, que não deixa indiferente quem por ali passa.

Fonte: http://lenteoculta.fotosblogue.com/ http://hojeconhecemos.blogs.sapo.pt/ http://videos.sapo.pt/ https://maps.google.pt/ http://www.geocaching.com/

Lute e seja Feliz!



É necessário combater quem deixa o país a saque. É urgente fazer a rutura com este caminho! Estas foram as frases com que acordei hoje, lidas na capa da revista da FENPROF, ainda dentro do plástico, em cima da minha mesa-de-cabeceira.
Lendo as notícias da manhã, na internet sobre o dia de ontem, quase todas referem as manifestações contra a austeridade em Portugal e Espanha.
Nas páginas do iInformação (www.ionline.pt), uma das responsáveis pelas manifestações de sábado, dia 13 de outubro, diz-nos que, “No seguimento das manifestações de 15 de setembro, a cultura resolveu também manifestar-se num projeto multicultural que irá reunir a cultura nas suas várias vertentes, desde a representação, música e artes plásticas”. “Com este protesto, os artistas pretendem “dar a cara através da arte”, uma vez que a cultura é importante para a identidade de um país.
No Público com título Manifestações anti-troika em mais de 30 cidades em Portugal”, refere que o protesto teve origem num apelo, divulgado a 27 de Agosto, por um grupo de perto de 30 pessoas de várias áreas de intervenção e quadrantes políticos, contra as políticas da troika, que acusam de promover “o desemprego, a precariedade e a desigualdade como modo de vida”.
Diário de Noticias refere que os “Manifestantes que permaneceram até ao final do protesto convocado para sábado para a Praça de Espanha, em Lisboa, asseguram que, embora nunca tenham estado "a dormir", "acordaram" para "dizer não à 'troika'". Recorda ainda o emotivo momento simbólico em que o poema cantado "Acordai", de Fernando Lopes Graça, foi interpretado por um coro em seis línguas, dizendo “A canção foi entoada em grego (enquanto uma bandeira da Grécia esvoaçava entre a assistência), espanhol, italiano, alemão, inglês e francês, e posteriormente cantada em português.
Refere ainda a participação do grupo Deolinda, que apelou para estarmos "presentes, ativos e vigilantes" e para as pessoas "deixarem de inventar desculpas", falando-nos de uma manifestante, que depois de ter estado presente na manifestação convocada pela central sindical CGTP em frente à Assembleia da República, também para a tarde de 13 de outubro, decidiu ir até à Praça de Espanha porque "é tempo de as pessoas se manifestarem de forma visível".
No Expresso o título é sugestivo: "Um país sem cultura deixa de ter valores" e podem ler-se mais adiante, muitas frases ditas por cidadãos anónimos que aqui devo registar, uma vez que mostram o descontentamento geral, sobre as arbitrariedades das politicas que já há muito tempo vêm sendo implementadas neste país:
"A forma como estão a ser taxados os impostos às pessoas sem critérios, o trabalho precário, a desvalorização das pessoas, trocando-as por números".
"Um país sem cultura é um país escravo" e, como tal, a manifestação em Lisboa - e todas as que se realizaram no país - são atos de democracia contra o "genocídio social" do atual Governo”.
"Não é normal os artistas juntarem-se assim, sem cachês", e, além disso, os portugueses "estão a ganhar consciência de uma forma cívica e fora dos partidos e dos sindicatos", o que é muito importante”.
“Em luta pelo futuro "que está comprometido", outro cidadão afirmou à Lusa. "Somos diferentes dos gregos, dos espanhóis. Enquanto os gregos partem, nós manifestamo-nos com outra voz, a cultura dá voz ao povo e consegue-se ir mais longe", defendeu.”
Faço votos que estas bonitas manifestações e todas estas frases proferidas, não sejam sol de pouca dura, e que desta feita o povo português vá conquistando aos poucos e na realidade, os valores de quem mais ordena.
 
Não se deve perder a esperança. Deve-se agora relembrar mais do que nunca os valores de Abril e lutar por um Mundo melhor. Ideologias à parte, devemos desejar a felicidade, a liberdade, a justiça, a solidariedade (...). Não se deve perder a esperança porque muito pode e deve ser feito.
Lute e seja feliz!
 

O Machismo Português visto pelo lado de dentro...


O Machismo Português e as Traições Amorosas

Na gíria portuguesa, os palitos são a versão económica, e mais moderna, dos cornos. Os cornos, à semelhança do que aconteceu com os automóveis e os computadores, tornaram-se demasiado volumosos e pesados para as exigências do homem de hoje. Daí a crescente popularidade dos mais portáteis e menos onerosos palitos. Contudo, visto que se vive presentemente um período de transição, em que os novos palitos ainda se veem lado a lado com os tradicionais cornos, continuam a existir algumas sobreposições. Uma delas, herdada do antigamente, deve-se ao facto dos palitos não se saldarem numa diminuição proporcional de sofrimento. Ou seja, não dão uma mera dor de palito — dão à mesma, incontrovertivelmente, dor de corno. Não é mais carinhoso, por isso, pôr os «palitos» a alguém — continua a ser exatamente o mesmo que pôr os outros.

Tudo isto vem a propósito da forma atípica, entre os povos latinos, que assume o machismo português. Não se trata do machismo triunfalmente dominador, género «Aqui quem manda sou eu!», do brutamontes que não dá satisfações à mulher. Não — o machismo português, imortalizado pelo fado «Não venhas tarde», é um machismo apologético, todo «desculpa lá ó Mafalda», que alcança os seus objetivos de uma maneira mais eficaz. É, de facto, o machismo que, não só dá satisfações, como vive delas.

O machismo português é o machismo, não da força masculina, mas da fraqueza. Não consiste no homem armar-se em agressor, mas em vítima. O logro é este: o homem apresenta-se sempre à mulher como vítima da natureza «de homem», dele. Ser homem, para o machista português, é ser essencialmente fraco. É um não-ser-capaz de resistir às tentações; um envergonhado «já sabes como é, filha» que serve para legitimar todos os privilégios de que goza (aos quais chama «deslizes»). À mulher não se admitem estes abusos — os copos, as entradas às tantas da manhã, os romances — porque o homem português considera a mulher um ser superior. Como é superior — mais forte, mais séria, mais responsável, mais ajuizada — não tem, muito simplesmente, direito a nada.

O homem trata-a como se trata um deus. Julga que ela sabe tudo e, mesmo quando ele lhe mente, sabe que ela não se convence. Pensa também que ele pode tudo e é daqui que vem o medo enorme que lhe tem. E, tal como se faz com um deus, ele peca e pede perdão, mas sem perdoar em troca — porque um deus, por definição, não pode pecar. Se acaso uma mulher não corresponde a este comportamento divino, é logo considerada uma desgraçada, uma meretriz, uma sem-vergonha. Em suma: no fundo, uma criatura tão baixa e desprezível como um homem.

Logo, é a inferioridade do homem — infinitamente confessada, declarada e propagandeada — que lhe impõe o direito de pecar e ser perdoado, e a superioridade da mulher que lhe confere a obrigação de perdoar. O homem, no machismo português, é pouco mais que uma pilha imponente e irresistível de vulnerabilidades. As outras mulheres atraem-no sempre contra vontade, e ele, coitado, não se consegue defender e vai-se instantaneamente abaixo. Como cantava o Carlos Ramos «Tu sabes bem que eu vou para outra mulher, que eu só faço o que ela quer...». A mulher, cheia de uma compreensão indistinguível da santidade, vê-o da janela, coração a sofrer de amor e de piedade, e apenas lhe pede («com carinho») que não venha tarde, «sabendo que ele vem sempre mais tarde». É este o machismo estritamente português, a meio-caminho entre o «Desculpem qualquer coisinha» e o «Era uma vez um rapaz». Nunca diz, à castelhana, «Quero e posso!»; nem disfarça, à italiana, dizendo «Posso mas não quero». Não. Diz, muito à portuguesa «Não quero, mas o que é que tu queres?, é o que posso...». O homem português nunca tem culpa. Arrepende-se sempre, mas não tem culpa porque não consegue deixar de fazer (por muito que não tente) as coisas que lhe apetece imenso fazer. A mulher, em contrapartida, tem quase sempre culpa. Tem, por exemplo, a culpa de atrair o homem, não porque o queira atrair (o querer ou não é irrelevante), mas, simplesmente, porque é mulher, e ele é homem, e não há absolutamente nada a fazer…

O machismo português não é afirmativo e orgulhoso frente à mulher. É um machismo conjuntivo — «Eu bem gostaria de ser fiel, mas...», ou «Eu bem gostaria de passar mais tempo em casa, mas...», ou ainda «Eu bem gostaria de não ser como sou, mas...». É esse «mas» que torna o machismo português diferente — não é tanto de macho como de «mas», não é tanto um autêntico machismo como um masismo. Ele não é senhor do seu destino, como ela é do dela (e do dele). As coisas acontecem-lhe, ele bem tentou; foi uma coisa que lhe deu, ele nem sequer deu por ela, e, pronto, «o que é que tu queres, filha?», aconteceu...

A relação entre o homem português e a mulher é vista (pelo homem), como a relação que tem cada um com a sua consciência. E, ao passo que cada um pode andar na boa-vai-ela (e depois penitenciar-se), o mesmo não se imagina (nem consente!) à consciência. E, o mais engraçado de tudo, é que a mulher que «sabe tudo», até isto sabe. Ou seja: sabe perfeitamente que esta do «Tu sabes bem...» é pouco mais que uma excelente treta que os homens propagam para poderem pensar que se divertem mais do que as mulheres. O que torna a mulher portuguesa ainda mais superior. Claro.

Tudo isto para regressar, sem dor, à questão dos palitos. A tese central, criação única do machismo português, é esta: É muito fácil pôr os palitos a um homem (basta a mulher olhar para outro), mas é quase impossível pôr os palitos a uma mulher (porque nunca se consegue enganar a consciência). Um homem pode ser, por dá-cá-aquela-palha, um «corno manso», o que é muito pior que ser um corno selvagem ou só semicivilizado. Mas não existe, na língua, correspondência para o sexo feminino. Os palitos são uma coisa terrível que as mulheres podem pôr aos homens mesmo sem chegar a pô-los; mas que os homens nunca podem pôr às mulheres, por muito que lhos ponham. Nesta vantajosa lógica, bastante mais complexa e respeitosa do que aquela que anima outros machismos menos atlânticos, se encontra a alegria e a tristeza do autêntico macho português — aquele que vem sempre mais tarde, mas cada vez mais cabisbaixo.

Miguel Esteves Cardoso, in 'A Causa das Coisas'

 

O Estatuto do nosso Desejo

“Sociedade Fissurada” é o termo por vezes usado para expressar a experiência de uma sociedade mediada por sensações. Sensação é tanto a percepção corporal em seu sentido mais banal, quanto um produto construído para fazer sucesso. Seja o espetáculo dos meios de comunicação, sejam as drogas ou o capital a qualquer custo, vivemos uma época em que o maior valor é o da excitação. Emoções fortes tornam-se mercadorias. E as mercadorias, como drogas, só valem se promoverem afetos. Trocamos a ética pela estética enquanto ao mesmo tempo nos tornamos socialmente frios, incapazes de reconhecimento do outro. Se estamos todos viciados em emoções, podemos falar de um colapso do desejo?

Será que vivemos mesmo numa sociedade fissurada? Escutando Márcia Tuburi, filósofa e investigadora brasileira, ficamos a saber como funciona afinal a sociedade dos nossos dias.

Fonte:
http://www.youtube.com/ http:/ http://domtotal.com.br/

Guimarães - 2º Dia - Visita ao Paço dos Duques - Parte VII



Saindo do primeiro quarto visitado, encontramos quer à sua entrada, quer à saída, uma Antecâmara. A Antecâmara é uma sala que antecede o primeiro quarto encontrado. Este compartimento tem as paredes revestidas por duas tapeçarias de Jan Raes II, evocando episódios da vida do Cônsul romano Públio Décio Mus, também segundo cartões desenhados por Paul Rubens. Noutra parede um pano de Veneza, do séc. XVI, bordado a ouro e prata com motivos religiosos. Num dos ângulos, observa-se um oratório de talha dourada, com uma escultura em alabastro do séc. XV, representando Nossa Senhora dos Anjos. Peças de mobiliário português, um tapete persa, dois grandes pratos e um aquário de porcelana da China constituem os restantes elementos expostos na sala. O pormenor mais interessante deste quarto é o seu teto, uma vez que se encontra pintado com motivos vegetalistas, cenas de caça e heráldica.

A Antecâmara dá acesso ao enorme Salão Nobre, onde se entra em seguida. Este salão, o maior de todos os compartimentos do Paço dos Duques, era destinado às festas e receções e apresenta-se recheado com mobiliário português e flamengo do séc. XVII. Na parede voltada ao claustro podemos ver a quarta réplica das Tapeçarias de Pastrana, “A Entrada das forças portuguesas em Tânger” (1471), que se entrega sem resistência após a queda de Arzila. Aos lados, dois grandes anjos candelários em madeira entalhada do séc. XVIII. Sobre o arcaz, à entrada do salão, um atril de ferro trabalhado, do séc. XVI. No chão veem-se três grandes tapetes persas.


Ao Salão Nobre segue-se a Sala de S. Miguel. Nesta sala um espelho ricamente entalhado ornamenta o espaço entre as janelas da sala. No centro a chaminé está ornada por um conjunto entalhado com duas figuras de anjos sustentando uma coroa. Decoram também a sala, dois contadores espanhóis do séc. XVI e do XVII e uma cómoda do séc. XVIII.
Algumas outras peças de mobiliário, uma terrina chinesa, dois jarrões, uma poncheira de porcelana oriental e uma imagem de S. Miguel, em calcário, do séc. XVI decoram a sala. Por fim, nas paredes, as últimas tapeçarias, encontrando-se uma delas, ladeada por dois anjos candelários.

A Sala de S. Miguel serve de Antecâmara ao Quarto de D. Catarina de Bragança, e é nele que se entra em seguida. Ali se encontra um retrato em tela da Rainha de Inglaterra, D. Catarina de Bragança (1638-1705), filha de El-Rei D. João IV de Portugal, e mulher de Carlos II de Inglaterra, cuja autoria se atribui aos discípulos de Lely. Na mesma parede, observa-se um “Cordeiro Pascal”, em tela, atribuído a Josefa d’Óbidos. Sobre a cómoda um livro-baldaquino forrado a veludo vermelho, com as armas dos Monges de Cister e emblemas eucarísticos em aplicações de prata, do séc. XVIII. Uma cama portuguesa do séc. XVII, dois tapetes persas, uma tapeçaria francesa e alguns outros objetos de adorno completam o arranjo do quarto.

No final da visita descemos até ao rés-do-chão e encaminhámo-nos para o bar, que se encontra situado numa sala sombreada, recolhida e silenciosa. Ali encontramo-nos com uma imperiosa vontade de ficar durante muito tempo, ouvindo o silêncio e olhando o exterior, sentados em banco de pedra como em tempos medievos, encostados a uma janela com traça da mesma época e saboreando um interminável chocolate quente.


Fonte: http://pduques.imc-ip.pt/ http://www.guimaraesturismo.com/ http://www.portugal-live.net/ http://pduques.imc-ip.pt/ Panfleto desdobrável (IMC), Guia de Visita ao Palácio Ducal de Guimarães.

Guimarães - 2º Dia - Visita ao Paço dos Duques - Parte VI


Deixa-se a Sala dos Contadores e vira-se para a direita, já na zona este do Paço e encontramos uma Sala de Jantar Intima. Trata-se da sala privada de refeições, decorada com um tapete persa e mobiliário português do séc. XVII. A parede do fundo é revestida por uma tapeçaria que representa “Os Arúspices” e faz parte do conjunto de cinco tapeçarias flamengas do séc. XVII existentes no Paço, as quais evocam episódios da vida do cônsul romano Públio Décio Mus, segundo cartões de Rubens, assinadas por Jan Raes II. Em cima do mobiliário veem-se um aquário e um prato de porcelana chinesa, gomis e outros elementos decorativos de estanho, cobre e faiança.
Passa-se em seguida a uma varanda virada ao Pátio Interior do Palácio e é ali que encontramos a porta de entrada para a Capela, situada a um nível superior, à qual se acede através de ingreme escadaria.

O pórtico da Capela do Paço dos Duques encontra-se encimado pelo brasão do 1º Duque da Casa de Bragança. De estilo gótico, apresenta uma nota curiosa dada pelos oito fustes de mármore, que se destacam de toda a construção granítica do Paço Ducal. Estes, elementos da estrutura do palácio de Çala-ben-Çala, Senhor de Ceuta, foram, segundo a tradição, trazidos por D. Afonso aquando da conquista daquela Praça em 1415.
Já no seu interior, na parede de fundo da Capela, veem-se quatro retábulos de madeira do séc. XVII. No chão, sob os painéis, um banco e uma arca em talha gótica, do séc. XVI. Os vitrais figurativos são uma obra recente do pintor vimaranense António Lino (1914-1996). Nas paredes laterais da Capela, veem-se reproduções de telas italianas: uma de Rafael, ”A Transfiguração” e outra de Domenichino, “A Última Comunhão de S. Jerónimo”.

Sai-se da Capela e caminha-se para a ala sul do Palácio, sendo a sala seguinte a Sala do Cipião. Nesta sala destacam-se de imediato as quatro tapeçarias flamengas do séc. XVII, assinadas por Andreas Van Den Dries, que decoram as paredes. Estas belas tapeçarias representam cenas alusivas às segundas Guerras Púnicas: “Encontro de Cipião e Aníbal”, “Desembarque das Hostes de Cipião em Utica”, “Entrada Triunfal de Cipião em Cartago” e “Cipião Libertando uma Princesa Cartaginesa”. Decoram também a sala, móveis portugueses dos séculos XVII e XVIII, dois grandes jarrões, um prato e uma poncheira de porcelana chinesa e diversos objetos de adorno em faiança, vidro e latão. O tapete é um exemplar persa do princípio do séc. XVII.
Já na ala sul do Palácio encontramos o primeiro quarto de dormir. Aqui pode ver-se uma cama portuguesa do séc. XVII com aplicações de latão, coberta por uma colcha indiana de séc. XVIII, ricamente bordada a ouro e matiz. Do restante mobiliário destaca-se um armário entalhado e por cima deste, uma tapeçaria de Aubusson representando um “Casamento Principesco”, do séc. XVII. No chão, um tapete persa e sobre a arca, uma “Piedade” em barro policromado. Neste compartimento destaca-se o teto, pois encontra-se pintado com motivos vegetalistas.

Fonte: http://pduques.imc-ip.pt/ Panfleto desdobrável (IMC), Guia de Visita ao Palácio Ducal de Guimarães.

Guimarães - 2º Dia - Visita ao Paço Ducal - Parte V



Sobe-se ao 1º piso e inicia-se a visita ao Palácio. A primeira sala visitada é um grande salão denominado Salão dos Passos Perdidos. Trata-se de uma enorme sala de espera, cujo nome é alusivo ao longo tempo de espera daqueles que pretendiam ser recebidos pelo Duque.

O Salão dos Passos Perdidos está decorado com mobiliário português e indo-português dos séculos XVII e XVIII, tendo em lugar de destaque dois jarrões de porcelana da Companhia das Índias, com o brasão dos Melo e Sampaio, três potes e duas floreiras de porcelana chinesa.
 
No chão veem-se três tapetes persas e duas grandes tapeçarias revestem a parede do lado do claustro, que são reproduções das tapeçarias encontradas em Pastrana (Espanha), feitas sobre motivos provavelmente pintados por Nuno Gonçalves, pintor português do séc. XV, alusivos às campanhas de El-Rei D. Afonso V em África. A primeira representa “O Desembarque” das tropas portuguesas em Arzila e a segunda “O Cerco” que levou à conquista daquela praça em 1471. Num dos ângulos, um atril de ferro do séc. XVII, com um livro de cantochão do séc. XVIII e uma escultura representando Santa Bárbara, em calcário policromado, do séc. XVI. Estas cópias de tapeçarias são peças (únicas) e foram adquiridas pelo Estado Português em 1957, sendo executadas em Espanha pela Real Fábrica de Tapices de Madrid.

No final da Sala dos Passos Perdidos passa-se uma porta e dirigimo-nos para a esquerda, onde encontramos a Sala de Armas. Nesta sala encontram-se expostas algumas das armas que foram reunidas pelo segundo Visconde de Pindela (1852-1922), e mais tarde adquiridas pelo Estado. Trata-se de uma coleção dos séculos XV a XIX e compreende vários exemplares de armas brancas e de fogo, elementos de armaduras dos séculos XV a XIX e dois telizes, sendo um brasonado com as armas do colecionador. Completam o recheio da sala, peças de mobiliário português, com outros elementos de adorno e ainda o Estandarte do Regimento de Milícias de Guimarães nº 15, que ali esteve aquartelado naquele Paço no início séc. XIX.

À Sala de Armas passa-se a uma pequena Sala de Passagem. Esta sala está decorada com mobiliário português do séc. XVII, um tapete persa, uma base de talha renascença sobre a qual se apoia um grande pote de cobre. No nicho central do armário da parede do fundo, uma escultura em calcário policromado representando a “Virgem com o Menino” do séc. XVI. Nos lados da escultura, nos balaústres, observam-se várias peças de faiança portuguesa. Ali ainda podem ver-se castiçais de latão, um prato de Nuremberg e um vaso de Talavera de la Reina que completam a decoração. Nas paredes, uma tapeçaria de Aubusson do séc. XVIII e dois Tapetes de Oração do séc. XVII.
A Sala de Passagem antecede o Salão de Banquetes, no centro do qual se observa um conjunto de mesas de cavalete que são reproduções de mesas do séc. XV e sobre estas, louças em estanho. Este salão está decorado com armários, mesas e arcas do séc. XVII. Sobre estes móveis há faianças, porcelanas e grés de fabrico português e oriental, dos séculos XVII a XVIII. Numa das paredes, vê-se a terceira reprodução das Tapeçarias de Pastrana, “O Assalto a Arzila”, que ocorreu em 1471.
 
 
Ao Salão dos Banquetes segue-se a Sala dos Contadores. Nesta sala as paredes desta estão decoradas com duas tapeçarias de Bruxelas do séc. XVII que representam cenas de caça. O mobiliário é constituído por elementos dos séculos XVII e XVIII, dos quais se destacam cinco contadores, encontrando-se sobre estes, faianças da mesma época. Dois aquários de porcelana chinesa e uma poncheira em porcelana chinesa alusiva à Ordem da Jarreteira completam a decoração da sala.

Em homenagem às proezas marítimas dos portugueses, o teto da Sala de Banquetes reproduz o casco virado de uma caravela.


Fonte: http://pduques.imc-ip.pt/ http://www.guimaraesturismo.com/ http://www.portugal-live.net/ http://pduques.imc-ip.pt/ Panfleto desdobrável (IMC), Guia de Visita ao Palácio Ducal de Guimarães.

Guimarães - 2º Dia - Visita ao Paço Ducal - Parte IV


Deixa-se o Castelo de Guimarães, desce-se toda a Colina Sagrada e chega-se à entrada do Paço dos Duques. Naquele dia não havia visitas guiadas, pelo que após a compra dos ingressos a visita foi iniciada com base no desdobrável comprado por um euro na loja do museu.
O Paço dos Duques de Bragança de Guimarães é uma majestosa casa senhorial fortificada do séc. XV, que exibe invulgares influências arquitetónicas do Norte da Europa. Foi mandada construir por D. Afonso I de Bragança (filho ilegítimo do rei D. João I e de D. Inês Pires Esteves, uma aristocrata galega), 1º Duque da Casa de Bragança (nomeação feita pelo seu meio-irmão D. Pedro, à altura regente, sendo este o momento da fundação da Casa de Bragança) e 8º Conde de Barcelos (por herança de seu sogro, D. Nuno Álvares Pereira, pai de sua primeira esposa e filha única do condestável, herdeira da casa mais opulenta do reino), por altura do seu segundo casamento com D. Constança de Noronha (filha de D. Afonso, Conde de Gijón e Noronha e D. Isabel, Senhora de Viseu).  


Foi um Paço essencialmente habitado durante o séc. XV, mas nas centúrias seguintes conheceu um progressivo abandono e uma quase consequente ruína, motivada por fatores políticos e económicos, que se foram agravando até ao séc. XX.
O edifício que hoje se visita, corresponde a uma reconstrução quase integral levada a cabo durante o Estado Novo para uso dos governantes de então, e mandado rechear com o espólio de outros museus e palácios nacionais, como as famosas tapeçarias de Pastrana, inspiradas na tomada de Ceuta (Monumento Nacional).
 


Hoje está entregue Instituto dos Museus e da Conservação (IMC), sendo um Museu de visita imperdível. No entanto no 2º piso, a fachada principal ainda possui uma ala destinada à Presidência da República, e uma vasta área vocacionada para diversas iniciativas culturais (no rés do chão).
O Palácio tem vastas dimensões e possui características arquitetónicas de casa fortificada, com coberturas de fortes vertentes e inúmeras chaminés cilíndricas que denotam a influência da arquitetura senhorial da Europa Setentrional e trata-se de um exemplar único na Península Ibérica.


É um edifício de excecionais dimensões com quatro corpos que cercam um pátio interior de planta retangular. É neste pátio que se inicia a visita, caminhando-se em direção a uma das salas térreas do Paço dos Duques de Bragança, onde se observa-se uma exposição permanente de José de Guimarães. Ali é possível admirar um conjunto de obras que o pintor e escultor vimaranense doou à sua cidade natal.

A visita ao Palácio  é iniciada de seguida, numa atmosfera e conceção decorativa que tenta reconstituir “como teria sido a vida no interior do Paço no fim da Idade Média”. Cada sala possui denominação diferente, e sempre que possível foram mantidas as primitivas funcionalidades dos espaços.
 
Fonte: http://pduques.imc-ip.pt/ http://www.guimaraesturismo.com/ http://www.portugal-live.net/