“Subir a pulso na vida” era uma expressão
laudatória que se ouvia, aqui há uns anos atrás, a propósito de alguém que, de
origem humilde, partindo do nada ou de quase nada conseguia, por mérito próprio
ir subindo na vida, degrau a degrau, penosamente, mas corajosamente, até ao fim
de alguns, bastantes anos, atingir uma posição de destaque na sociedade: fosse
na ciência, fosse na arte, fosse nos negócios, fosse na política.
Essas pessoas eram raras (o exercício não era
fácil) e, por isso, também eram conhecidas e célebres.
Só que a expressão caiu em desuso porque de
repente, muitas pessoas começaram a subir rápida e facilmente na vida. Ontem
funcionários de balcão de qualquer banco de província, técnicos de câmara
remota, maus estudantes envolvidos em juventudes partidárias, hoje são
administradores de grandes empresas estatais, ministros, deputados.
Começa-se no ensino secundário em qualquer
juventude partidária e, na maior parte dos casos, aí se fica. Transita-se para
a Universidade e se for em agitação e propaganda (o curso pouco importa) pode
chegar-se a deputado e daí a ministro. Dos bancos da escola para o governo sem
passar por um daqueles empregos onde se tem que ganhar a vida e a aprender o
que ela é.
Em cinco ou seis anos passaram, por
prestidigitação política, do zero ao topo de escala. Sem esforço nem mérito
visível.
Sem truques políticos, mas por um processo
artificioso, hoje chega-se a juiz aos 24 e 25 anos, sem experiência de vida nem
amadurecimento de carácter. Não são maus os jovens juízes: são só inexperientes e,
principalmente, imaturos. O mesmo se diga da carreira docente.
Resumindo: hoje poucos são os que têm o mérito de
ter subido a “pulso” na vida. Mas muitos têm o demérito de terem subindo, muito
é certo, mas sem pulso. Não na vida, mas na carreira.
Os primeiros – raros – lá andam a labutar em atividades
diversas, todas privadas. Os segundos andam a (des) governar-nos, a julgar-nos,
a maçar-nos e a sugar-nos.
Precisamos, urgentemente, de voltar a ser
dirigidos, em todos os escalões da vida pública por quem nela tenha subido
"a pulso" isto é, por mérito, com esforço e competência. E com todo o trabalho honesto que isso implica.
Por M.
Moura-Pacheco, Professor Universitário aposentado, Diretor do Jornal “A Ordem”,
do Porto.