Mãe


 
 "Amamos as nossas mães quase sem o saber e só nos damos conta da profundidade das raízes desse amor no momento da derradeira separação."
Guy Maupassant
 


Apenas animais…


“Sem hipocrisia não há civilização, e isso é a prova de que somos desgraçados: precisamos da falta de caráter como cimento da vida coletiva.”
  Luiz Felipe Pondé


A Criação de Adão, de Michelangelo Buonarroti

“Coimbra, 16 de Outubro de 1945 – Uma cobra de água numa poça do choupal, a gozar o resto destes calores, e umas meninas histéricas aos gritinhos, cheias de saber que o bicho era tão inofensivo como uma folha.
Por fidelidade a um mandato profundo, o nosso instinto, diante de certos factos, ainda quer reagir. Mas logo a razão acode, e o uivo do plasma acaba num cacarejo convencional. Todos os tratados e todos os preceptores nos explicaram já quantas espécies de ofídios existem e o soro que neutraliza a mordedura de cada um. Herdamos um mundo já quase decifrado, e sabemos de cor as ervas que não devemos comer e as feras que nos não podem devorar. Vivemos numa paz de animais domésticos, vacinados, com os dentes caninos a trincar pastéis de nata, tendo aos pés, submissos, os antigos pesadelos da nossa ignorância. Passamos pela terra como espectros, indo aos jardins zoológicos e botânicos ver, pacata e sàbiamente, em jaulas e canteiros, o que já foi perigo e mistério. E, por mais que nos custe, não conseguimos captar a alma do brinquedo esventrado. O homem selvagem, que teve de escolher tudo, de separar o trigo do joio, de mondar dos seus reflexos o que era manso e o que era bravo, esse é que possuiu verdadeiramente a vida e o mundo. Diante duma natureza inteira e una, também ele tinha necessariamente de ser inteiro e uno. Sem amigos e sem vizinhos, sozinho contra as árvores e contra as sombras, ele era uma fortaleza em si, tendo na própria pele as ameias. Que totalidade a de um ser que não pode confiar senão em si! Socialmente, seremos assim (e somos, certamente) mais fáceis de conduzir, mais úteis, mais progressivos. Mas, individualmente, a que distância estamos de um homem das cavernas! Que tamanho o dele, a caçar bisões, e que pequenez a nossa, a ganhar taças em torneios de tiro aos pombos!
O nosso gritinho de horror diante de qualquer lesma dá bem a perdição a que chegámos. Civilizámo-nos, mas à custa da nossa mais profunda integridade, dispersando-nos nas coisas que fomos desvendando.
Na cobra de hoje ninguém viu sinceramente veneno ou morte. Vimos todos, sim, o manual que aprendemos no liceu. E o estremecimento das meninas histéricas, eco delido do uivo profundo de pavor e de incerteza dos nossos antepassados, foi dum ridículo tal que respingou outros aspectos e outros recantos da existência. Que espécie de sinceridade profunda, de lealdade incontroversa, haverá, por exemplo, em acreditar em Deus com a bomba atómica na mão?
É bem que o homem faça todas as experiências, inclusivamente consigo. Que liberte a energia das pedras e se liberte também a si de todas as clausuras. Mas os instintos? Poderá, na verdade, ele viver desfalcado dessa força que o fechava como um punho e lhe dava uma coesão igual à dos átomos antes de serem bombardeados? Pelo caminho que levamos, um dia virá em que tudo em nós será consciência, compreensão e sabedoria. Mas nessa mesma hora estaremos desempregados no mundo. Todos saberemos resolver a equação da vida na ardósia negra onde dantes eram as trevas da nossa virgindade criadora, mas talvez já não haja vida, então.” …
Miguel Torga, in "Diário (1945)", vol. IV, 1999, Publicações Dom Quixote, pág.250 e 251

Do princípio ao fim, a coragem de ser só…


"Tudo vence uma vontade obstinada, todos os obstáculos abate o homem que integrou na sua vida o fim a atingir e que está disposto a todos os sacrifícios para cumprir a missão que a si próprio se impôs."

Agostinho da Silva, in “Considerações”



“Uma arma de triunfo te dei, sobre todas as outras: a coragem de seres só; deixou de te afetar como argumento ou força esmagadora a alheia opinião, as ligeiras correntes e os redemoinhos do mar; rocha pequena, mas segura, sobre ti se hão-de erguer, para que vençam a noite, as luzes salvadoras; não te prendem os louvores dos que te querem aliado, nem as ameaças dos contrários; traçaste a tua rota e hás-de segui-la até ao fim, sem que te desviem as variadas pressões. Só e constante, mesmo em face do tempo; os anos que rolam, tu os consideras elemento de experiência; para os homens futuros episódios sem valor; se eles te abaterem, só terão abatido o que há de menos valioso; e contribuirão para que melhor se afirme o que puseste como lição da tua vida; a muitos absorve o atual; mas a ti, que tens como tua grande linha de cultura, e porventura tua alma, a posse das largas despectivas, a hora começando te vê firme e firme te abandona. Nenhuma estoica rigidez neste teu porte; antes a compassada lentidão, a facilidade maleável de bom ginasta; não é por amor da Humanidade que hás-de perder as mais fundas qualidades de homem. Em tal espelho me revejo, eu que tomei tua alma incerta e a guiei; e contemplo como doce oferenda, como a mais bela visão que me poderias conceder, a clara manhã que já de ti desponta e lentamente progredindo há-de acabar por embalar o universo nos seus braços de luz.”

Agostinho da Silva, in 'Considerações'







Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=rw5ghtXHgbg ; http://www.youtube.com/watch?v=Rkv-9HTyVvQ ; http://www.youtube.com/watch?v=zIEg0o2m-Wc http://www.citador.pt/

O Limiar da Eternidade

 
Neste episódio, Carl Sagan apresenta diferentes teorias acerca da origem e destino do Universo, desde lendas e crenças à astrofísica. Para tanto, Sagan apresenta noções básicas de Física, explicando a questão das 3 dimensões e a possível quarta dimensão (tentando exibir o que seria um Tesseract), bem como o efeito Doppler e sua repercussão para a teoria do universo em expansão, descoberto através das observações esmeradas de Milton L. Humason.
Qual é a origem do Universo? Qual é o seu destino? Continuará o Universo a expandir-se para sempre ou sofrerá um dia um colapso? Carl Sagan explora o tempo em que as estrelas e galáxias se começaram a formar, e mostra como neste século os seres humanos descobriram a expansão do Universo.
Fala-nos da Via Láctea e do movimento dos seus astros, referindo que o Sol tem mudado frequentemente de posição em relação aos braços em espiral da nossa galáxia.
Diz-nos que o estudo de todo o Universo e a chave da cosmologia, que se revelou um lugar-comum de toda a Natureza e uma experiência da vida diária. E dá-nos exemplos disso.
Fala-nos então do Efeito Doppler que é observado nas ondas quando emitidas ou refletidas por um objeto que está em movimento com relação ao observador, dizendo-nos que o Efeito Doppler para ondas de luz é a chave para o Cosmos e que a evidência para isso foi-nos dada por um antigo cocheiro com muito poucos estudos, filho de um banqueiro, e de como ele e seus ajudantes descobriram o big-bang.
Explica-nos em seguida as várias dimensões, para nos dizer por último que nós somos criaturas tridimensionais presas em três dimensões. Diz-nos também que podemos apenas imaginar uma quarta dimensão, sem contudo podermos vivenciá-la, para nos dizer no final, que o Universo poderá ser tanto finito, como sem fronteiras.
Fala-nos ainda da expansão do Universo, dizendo-nos que qualquer astrónomo em qualquer galáxia, veria as outras galáxias a afastarem da sua, e quanto mais longe estiver a galáxia, mais rapidamente ela parece mover-se, como se eles tivessem cometido uma terrível gafe social intergaláctica. Foi isso que foi descoberto pelos observadores do grande telescópio de Los Angeles, que chegaram à conclusão que o Universo, nem tem fronteiras, nem centro.
Fala-nos depois de buracos negros e da possibilidade de existiram tuneis cósmicos, especulando em seguida sobre eles, e sobre a possibilidade do Universo ser “aberto” ou “fechado”. São ainda explorados mundos de duas e quatro dimensões antes do Dr. Sagan desaparecer num buraco cósmico.
Mas como é que foi criado o Universo? Muitos acreditam que foi Deus ou deuses que criaram o Universo do nada. Mas se quisermos perseguir esta questão, com coragem, teremos que fazer a pergunta… E quem criou Deus? O melhor será talvez aceitarmos que estes tipos de perguntas são irrespondíveis. Ou se aceitarmos que Deus sempre existiu, o melhor será admitir que o Universo também sempre existiu.
A cosmologia coloca-nos frente a frente, com os mistérios mais profundos e com questões que eram tratadas apenas na religião e no mito. 
Carl Sagan leva-nos em seguida até à India, onde uma velha cerimónia comemora os ciclos da Natureza. Ao tratar do big-bang, faz uma regressão às explicações cosmológicas do hinduísmo, especialmente a "dança cósmica" do deus Shiva, numa escultura do Império Chola, com os símbolos da criação e da destruição, numa espécie de premonição das teorias modernas.
Tal como os modernos astrofísicos, a mitologia Hindu fala de um Universo velho de biliões de anos e da possibilidade de ciclos eternos de morte e renascimento.
No final, Carl Sagan conduz-nos então às planícies do Novo México, onde 27 radiotelescópios gigantes sondam as mais longínquas fronteiras do espaço, e onde os astrónomos conjeturam sobre qual o destino que aguarda o Cosmos: expansão eterna sem limites ou oscilação sem fim…

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=6KOZ-XOtFy0
Mais informações em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_Doppler
http://www.carlsagan.com/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cosmos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Sagan
http://www.documentarios.org/serie/de ...
http://www.aeroespacial.org.br/educac ...

Saumur - 19º Dia - Parte IV


Chegámos a Saumur ao anoitecer e fomos direitos ao seu famoso Château de conto de fadas, que se encontra rodeado de vinhedos.
Saumur fica situada na margem esquerda do rio Loire e aquela hora a vista da cidade do outro lado do Loire é absolutamente encantadora!... Foi com alguma impolgação que o visitámos, mas infelizmente só o podemos ver por fora, uma vez que o Castelo aquela hora já se encontrava fechado.
Lá de cima e ao cair da noite a pequena cidade de Saumur, tem mais encanto e deixa alguma pena deixá-la para continuar viagem. No entanto, a gostosa caminhada à volta do Castelo a olhar o crepúsculo a cair sobre a cidade e arredores, tendo como pano de fundo o rio Loire, o céu, e o horizonte que aos poucos se multiplicava num degradê, entre o vermelho, laranja, azul e amarelo, compensou todas as espectativas não realizadas. 
Como se sabe o Vale do Loire possui uma grande coleção de obras-primas da arquitetura da Renascença, que nos trazem à memória a lembrança de episódios épicos e românticos da história de França, sobressaindo e dando ainda maior beleza às paisagens bucólicas, entre o rio, lagos e florestas.
O Château de Saumur não é exceção, com a sua belíssima arquitetura, rodeado por altas muralhas e quatro elegantes torres, domina a cidade do alto de um platô, em situação mais elevada em relação ao resto da cidade.
O Château de Saumur conheceu as suas primeiras fortificações sob as ordens de Teobaldo I de Blois, Conde de Blois, no séc. X. Sofreu muitas remodelações ao longo do tempo, que não lhe trouxeram melhorias, mas sim alguma descaracterização, em especial no que se refere ao seu antigo esplendor.
Em 1026, tornou-se propriedade do Conde de Anjou, o célebre Fulco III de Anjou, o Negro, que o legou aos seus herdeiros Plantagenetas.
Filipe II, rei de França, anexou-o à Coroa. Depois de vários reis passarem pelo poder, quer da linhagem de Valois, quer da linhagem de Anjou, o rei João II transformou Saumur num ducado e entregou-o ao seu segundo filho, Luís.
O Duque Luís I estava ansioso por criar uma residência que fosse comparável aos luxuosos edifícios dos seus irmãos, o rei Carlos V e João, Duque de Berry, tanto na arte como na arquitetura. Para tal, escolheu Saumur e, a partir de 1367, construiu um edifício com quatro alas, reforçadas por torres, em torno dum pátio central, sobre uma fortaleza com 140 anos, tendo substituído as velhas torres redondas por torres octogonais.
A partida para a última etapa, com rumo ao Fluoroscópio, onde queríamos ir pernoitar, foi realizada logo de seguida por estrada alta, agora na margem esquerda do rio Loire, que durante algum tempo o acompanhou.

A noite estava escura e do caminho pouco se vislumbrou, terminando a etapa já bem tarde no parque de autocaravanas do parque temático de Poitiers, onde pernoitámos tranquilamente.

Fonte: http://pt.franceguide.com/ ; http://pt.wikipedia.org/ ; http://pt.wikipedia.org/wiki/Castelo_de_Saumur ; http://espacoerrante.blogspot.pt/

De Angers a Saumur - 19º Dia - Parte III





Após a visita à Cathédrale Saint-Maurice, caminha-se para o núcleo medieval da cidade de Angers, que se estende do lado sul da Catedral até às muralhas do Castelo.

Lá de cima e para norte, avista-se o antigo Quai Ligny, um antigo porto, hoje desativado e do outro lado do rio, na margem direita de La Maine, o porto fluvial de Angers.

O núcleo medieval está situado também na zona mais alta do Montée Saint Maurice e é um saltinho da Catedral até ao que resta da velha cidadela.  
Hoje nele, podem ver-se antigas casas em estilo enxaimel, uma técnica de construção que consiste em paredes montadas com hastes de madeira encaixadas entre si em posições horizontais, verticais ou inclinadas, cujos espaços são preenchidos geralmente por pedras ou tijolos. Estas belas casas e outras mais antigas, construídas em pedra podem ser encontradas num autêntico labirinto de ruas e becos que nos levam a uma permanente descoberta do passado da cidadela.

A parte mais alta deste pedaço de Angers gravita à volta da antiga L’Abbatiale Toussaint (Abadia dos Santos), do séc. XIII, construída pela Ordem de Santo Agostinho e restaurada em 1984. A igreja da antiga Abadia que esteve em ruínas durante muitos anos, está hoje com o teto coberto com um telhado em vidro de ousada arquitetura contemporânea e acolhe a obra de um escultor de Angers, Pierre-Jean David, do séc. XIX, mais conhecido por David d'Angers (1788-1856).

Nos edifícios da antiga Abadia ainda estão sediadas duas comunidades religiosas, de frades e freiras, designadas por: Frères Communauté Saint-Maurice e Communauté Filles Charité du Sacré Coeur.
Do outro lado do rio estende-se o bairro La Doutre, que também faz parte da zona antiga da cidade. O seu nome refere-se à sua posição geográfica, uma vez que este bairro está localizado na margem direita do rio Maine. No séc. XIX, era a morada de uma grande parte da burguesia da cidade.

Fecha-se a visita a Angers e parte-se a caminho Saumur, percorrendo a estrada sempre pela margem e com o rio Loire à vista, fazendo a programada incursão no mundo dos Trogloditas. A prodigalidade da Natureza no Vale do Loire permite facilmente compreender que nestas paragens, ser troglodita terá sido muito mais uma opção do que uma condição.

A estrada segue sempre paralela à corrente do rio Loire. Neste caminho aninhado entre as margens do Loire, a vegetação é de um verde estonteante e para-se várias vezes, não só porque a paisagem obriga a uma melhor contemplação, mas também porque as casas trogloditas nos apareciam inesperadamente no caminho, aguçando cada vez mais a nossa curiosidade.

Muitas destas cavernas, serviam como residência à pouco mais de 20 anos, mas hoje, em menos de uma geração, o retorno acontece, com novos membros, descendentes das mesmas famílias de trogloditas, que agora exploram turisticamente a peculiaridade destes lugares, como restaurantes e bares muito concorridos.

É num destes restaurantes que se encontram na estrada que paramos, para fazer um “lanche” ajantarado de escargots, antes de iniciarmos a etapa até Saumur, onde já se chega ao cair da noite.
 
 
Fonte: http://pt.wikipédia.org/ ; https.//maps.google.pt/ ; http://espacoerrante.blogsopt.pt/  

Angers - 19º Dia - Parte II





Angers é a capital histórica de Anjou e foi durante séculos um importante reduto no noroeste da França. É o berço da dinastia Plantageneta e foi durante o reinado de René de Anjou um dos maiores centros intelectuais da Europa.
Angers está situada a sul da confluência de três rios, o Mayenne, o Sarthe, e o Loir, todos vindos do norte, que se juntam para formar o rio Maine, que por sua vez flui para sul, desaguando no rio Loire.
A área metropolitana de Angers é um importante centro económico do oeste da França, e uma cidade particularmente ativa nos setores industrial, hortícola e turistico.
Angers é um belíssimo exemplo de convivência, entre um parque urbano moderno, desenvolvido a partir de um centro marcado pela monumentalidade histórica.
O antigo nome de Angers, Juliomagus, era composto por Julius”, por ser provavelmente dedicada a Júlio César, e “magos”, uma palavra celta que significa "mercado". As cidades dedicadas a imperadores romanos eram comuns quer na Gália Romana (bem como topónimos que mantinham elementos da língua gaulesa, lugar de onde provinham os povos que viviam em torno da cidade), quer nos territórios ocupados noutras regiões da Europa.
Depois da visita ao Château de Angers caminha-se em direção contrária ao caminho feito na vinda. Desceu-se sempre contornando as altas muralhas do château de Angers e já cá em baixo, junto às margens do rio Maine, caminha-se pelo Quai du Roi de Pologne, seguindo pela Promenade Jean Turq, um belo caminho ladeado confinado por pérgulas e rodeado de lindos jardins, situado na margem direita do rio Maine.
A caminhada é longa mas prazerosa levando-nos até ao Quai Ligny, um antigo caís de atraque. É ali que se para, olhando-se cá de baixo a bela e elegante Cathédrale Saint-Maurice d’Ángers. Subindo a comprida e linear escadaria até ao Montée Saint Maurice, depressa se chega à porta da Catedral.
A Cathédrale Saint-Maurice é como o nome indica, dedicada a Saint Maurice (São Maurício) que era o líder da lendária Legião Tebana no séc. III, e um dos santos mais amplamente venerados.
De acordo com a lenda que provem de 443-450 d.C. e contada por Euquério de Lyon, a legião encontrava-se na cidade de Tebas, no Egito, quando o Imperador Maximiano lhes ordenou que marchassem para a Gália para ajudar os romanos contra os rebeldes da Borgonha. A Legião Tebana era comandada durante a sua marcha por três bravos legionários, Maurício, Cândido e Exupério, hoje todos venerados como santos. Quando chegaram à cidade de Agaunum, hoje Saint-Maurice-en-Valais, na Suíça, a legião inteira resolveu recusar fazer sacrifícios pelo Imperador, não atacando os rebeldes, pelo que lhe foi aplicado o Decimatio ("dizimação"), que era uma das mais severas punições aplicadas no exército romano. Tratava-se de uma medida excecional, para casos de extrema covardia ou amotinamento. O decimatio foi aplicado, ou seja, a morte de um em cada dez de seus homens, sendo o processo repetido até não restar ninguém.
A Cathédrale Saint-Maurice possui uma bela arquitetura, que foi sendo realizada ao longo de muitos anos, sendo por isso numa mistura de estilos românico e gótico.
A frente oeste é impressionante por ser extremamente estreita e alta. Possui duas torres gémeas que datam do séc. XV e uma torre central que foi introduzida no séc. XVI. Na base da torre central estão as esculturas de Saint-Maurice e seus companheiros, com uma oração pela paz anteriormente.
O portal oeste possui um alto arco em ogiva, todo trabalhado na arquivolta interior com esculturas dos eleitos e as pessoas de muitas raças e línguas, tendo nas duas arquivoltas exteriores representados os 24 Anciãos do Apocalipse, todas esculturas do séc. XII.
No outro portal de meados do séc. XII, o tímpano mostra-nos um Cristo em Majestade, cercado pelos símbolos dos quatro evangelistas.
Lá dentro a sua grande nave românica, sem corredores laterais, abre-se para um cruzeiro de transição que nos leva ao coro gótico. O interior é iluminado com vitrais datados entre os séculos XII e XVI.
O altar-mor é barroco (1758), projetado por Henri Gervais. Seis colunas monolíticas apoiam o dossel. Diz a lenda que Gervais foi levado até ao altar-mor, enquanto agonizava, para que antes de morrer pudesse dar as últimas instruções sobre a sua conclusão.
Possui ainda um enorme púlpito de madeira datado de 1855, que foi projetado por um sacerdote chamado Choyer. As suas esculturas ilustram o tema da Palavra de Deus, com Moisés do seu lado esquerdo, e São João a receber a sua revelação à direita.
 
Fonte /Ler mais em: http://en.wikipedia.org/Saint_Maurice   http://en.wikipedia.org/wiki/Angers http://fr.wikipedia.org/ http://www.sacreddestinations.com/france/angershttp://www.espacoerrante.blogspot.pt/

Limites: a formação necessária do Superego


Hoje olhamos, falamos e discutimos muito sobre a violência e as consequências sociais e psicológicas dela decorrentes, mas, o que mais nos assusta e atinge é a indiferença com que o violento se comporta, como não se importasse nem com o seu ato e muito menos com as consequências dele; como se nada do que nos horrorizasse fizesse algum sentido; mas, assim também é com o menino que rouba ou com o jovem que atropela porque bebeu.

São as sequelas da ausência de lucidez, a Aufklãrung de Kant ou a ausência do Superego de Freud, que pode ser adquirido no colo de um cuidador.

Esta é mais uma excelente palestra do Café Filosófico, realizada por Ivan Capelatto, psicoterapeuta, psicólogo clínico e professor do curso de pós-graduação em pediatria da Faculdade de Medicina da PUC do Paraná. Ivan Capelatto é também autor da obra Diálogos sobre Afetividade - o nosso lugar de Cuidar (2001).

No entanto, embora Ivan Capellato aborde com pormenor o assunto, deve aqui ficar feita a diferenciação entre Id, Ego e Superego, para melhor entendimento daquilo que se escutar nesta ótima palestra.

O que é o Id? Id significa identidade. Mas Id também é uma das três estruturas do aparelho psíquico, juntamente com o Ego e o Superego. O Id é responsável pelos instintos, impulsos orgânicos, e os desejos inconscientes. O Id não tem contato com a realidade e pode satisfazer-se na fantasia, mesmo que não realize uma ação concreta referente aquele desejo.

Os psicopatas têm um Id dominante e um superego muito reduzido, o que lhes tolhe o remorso, sobressaindo a falta de consciência moral.

E o que é o Ego? O Ego é a segunda natureza existente na nossa psicologia. É a nossa parte mais grotesca, a nossa parte animal, que infelizmente se constitui em 97% da nossa psicologia. A essência constitui-se apenas em 3%, porém está adormecida, inconsciente... Então a conclusão disto tudo é que passamos a vida toda adormecidos, achando que vivemos em plena consciência.

Vivemos a vida do Ego, com as suas preocupações, preconceitos, rancores, invejas, maledicências, orgulhos, luxúria, vaidades, materialismos, enfim os nossos pecados capitais; ou vivemos de lembranças do passado ou de planos para o futuro, e esquecemos de viver o momento presente, o agora, isto é o exato instante.

Finalmente o que é o Superego? O Superego designa na teoria psicanalítica, uma das três instâncias dinâmicas do aparelho psíquico. É a parte moral da mente humana e representa os valores da sociedade.

O superego divide-se em dois subsistemas: o ego ideal, que dita o bem a ser procurado; e a consciência moral (al. Gewissen), que determina o mal a ser evitado. O Superego tem três objetivos: Inibir (através de punição ou sentimento de culpa) qualquer impulso contrário às regras e ideais por ele ditados (consciência moral); Forçar o ego a comportar-se de maneira moral (mesmo que irracional); Conduzir o indivíduo à perfeição - em gestos, pensamentos e palavras (ego ideal).

O Superego forma-se após o Ego, durante o esforço da criança de intrometer os valores recebidos dos pais e da sociedade, a fim de receber amor e afeição.

Segundo o livro de André Luiz (um autor espiritual, que escreve pela mão de Francisco Cândido Chavier), "Num Mundo Maior", o nosso cérebro é como um castelo de três andares. No primeiro andar, o sistema nervoso, é a sede de nossas atividades subconscientes, onde estão arquivadas todas as nossas experiências, desde os menores factos. No segundo andar, na região do córtex motor, zona intermediária entre os lobos frontais e os nervos, temos a parte do cérebro que sintetiza as energias necessárias para nossas conquistas atuais. É onde reside o consciente. O terceiro andar representa a parte mais nobre deste castelo. É onde fica o superconsciente, e onde estão escritas as leis divinas. As metas superiores estão aí, em forma de embrião à espera para desabrochar...


Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=Lf7SeEfy_s8

Fontes / Ler mais em: http://www.significados.com.br/id/ http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20060710112137AAm7Hnl http://pt.wikipedia.org/wiki/Superego http://espiritismo-br.blogspot.pt/2009/05/limites-formacao-necessaria-do-superego.html

Ninguém Tem Pena das Pessoas Felizes



…“Em Portugal, a felicidade é reprimida. Não se pode entrar feliz num lugar, resplandecente na cara soalheira que Deus Nosso Senhor nos deu, sem que algum marreco nos venha meter o queixo no sovaco e pergunte: «Então? O que é que aconteceu? Saiu-lhe a sorte grande ou quê?» Se uma mulher, de repente, pega na bainha da saia e se põe a atravessar a rua aos saltinhos, só porque é precisamente assim que lhe apetece atravessá-la, há uma corrida às cabines telefónicas a ver quem é o primeiro a ligar para o Júlio de Matos.

A felicidade, em Portugal, é considerada uma espécie de loucura. Porquê? Porque os portugueses quando vêem uma pessoa feliz, julgam que ela está a gozar com eles. Mais precisamente: com a miséria deles. Não lhes passa pela cabeça que se possa ser feliz sem ser à custa de alguém. Acham que as pessoas felizes são esponjas-com-pernas, daquelas de banho, cor-de-laranja, muito alegres, que andam pelas ruas a chupar a felicidade toda às outras pessoas.

Se houvesse um livro de Bernardim Ribeiro que começasse «Menina e moça voltei para casa dos meus pais e desde esse dia nunca mais chorei uma só lágrima», nunca teria arranjado editor. Portugal pode não ser um país triste, mas é decididamente um país infeliz. Em mais nenhuma língua «ser feliz», que deveria ser uma coisa natural, significa também «ter sorte», ser bem sucedido.

Ninguém tem pena das pessoas felizes. Os Portugueses adoram ter angústias, inseguranças, dúvidas existenciais dilacerantes, porque é isso que funciona na nossa sociedade. As pessoas com problemas são sempre mais interessantes. Nós, os tontos, não temos interesse nenhum porque somos felizes. Somos felizes, somos tontaços, não podemos ter graça nem salvação. Muitos felizardos (a própria palavra tem um soar repelente, rimador de «javardo» vêem-se obrigados a fingir a dor que deveras não sentem, só para poderem «brincar» com os outros meninos.

É assim. Chega um infeliz ao pé de nós e diz que não sabe se há-de ir beber uma cerveja ou matar-se. E pergunta, depois de ter feito o inventário das tristezas das últimas 24 horas: «E tu? Sempre bem disposto, não?». O que é que se pode responder? Apetece mentir e dizer que nos morreu uma avó, que nos atraiçoou uma namorada, que nos atropelaram a cadelinha ali na estrada de Sines.

E, no entanto, as pessoas felizes também sofrem muito. Sofrem, sobretudo, de «culpa». Se elas estão felizes, rodeadas de pessoas tristes, é lógico que pensem que há ali qualquer coisa que não bate certo. As infelizes acusam sempre os felizes de terem a culpa. É como a polícia que vai à procura de quem roubou as jóias e chega à taberna e prende o meliante com ar mais bem disposto.

Em Portugal, se alguém se mostra feliz é logo suspeito de tudo e mais alguma coisa. «Julgas que é por acaso que aquele marmanjo anda tão bem disposto?», diz o espertalhão para outro macambúzio. É normal andar muito em baixo, mas há gato se alguém andar nem que seja só um bocadinho «em cima». Pensam logo que é «em cima» de alguém.

Ser feliz no meio de muita gente infeliz é como ser muito rico no meio de um bairro-de-lata. Só sabe bem a quem for perverso.

Infelizmente, a felicidade não é contagiosa. A alegria, sim, e a boa disposição, talvez, mas a felicidade, jamais. Porque a felicidade não pode ser partilhada, não pode ser explicada, não tem propriamente razão. Não se pode rir em Portugal sem que pensem que se está a rir de alguém ou de qualquer coisa. Um sorriso que se sorria a uma pessoa desconhecida, só para desabafar, é imediatamente mal interpretado. Em Portugal, as pessoas felizes sofrem de ser confundidas com as pessoas contentes.

As pessoas contentes, satisfeitas, da palmadinha na barriga, que não querem nada da vida para além do que já têm, é que podem ser suspeitas. As pessoas felizes, coitadas, não. O mais das vezes são criaturas insatisfeitas. Só que não se importam muito com isso. A pessoa contente é aquela que sabe o que se passa e tem tudo o que quer. A pessoa feliz é aquela que, independente do que se tem, não só não sabe o que se passa como também não quer saber. As pessoas felizes não pensam nisso. Pensam tanto como as abelhas. Em vez de viver, zumbem.

As pessoas felizes precisam de se afirmar, de deixar de fingir que também estão permanentemente na fossa. Devia haver emblemas grandes a dizer «EU SOU FELIZ E ESTOU-ME NAS TINTAS» ou «EU SOU FELIZ E NÃO TENHO CULPA». É preciso acabar com subtil racismo dos Portugueses contra a raça dos felizes. As pessoas felizes são tão portuguesas como as outras. Também choram, também sofrem, também se angustiam. Só que menos. (Hi! hi! hi!...)

Está bem, pronto. A revolta começa aqui. As pessoas felizes não sofrem quase nada! Todos agora: Hi! hi! hi!...
Miguel Esteves Cardoso, A Felicidade, in 'Os Meus Problemas' (ASSÍRIO & ALVIM, 11ªedição, páginas 125-127)

Os Desafios da Arte no Mundo Contemporâneo


“Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei, exausto, e inclinei-me sobre o muro – havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fiorde e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza.”

Edvard Munch

                                           Skrik de Edvard Munch
Como é que a filosofia nos pode ajudar a enfrentar a crise contemporânea? O que é ser artista? O que é a arte dos dias de hoje?
 
Como é que a arte se expressa numa sociedade como a nossa, que se transforma tão rapidamente, com o avanço da tecnologia, com as descobertas científicas e que ao mesmo tempo, se questiona sobre os seus valores e o seu futuro? O mundo reinventa a arte ou a arte recria o mundo?

Quais são os desafios da arte no mundo contemporâneo? Como é que as artes plásticas, o teatro, a poesia convivem com a tecnologia, e os novos meios?
O lugar do teatro; Os destinos do livro; a computação gráfica; o (des)limite entre as artes; o direito autoral; as expectativas e ansiedades sobre o mundo contemporâneo são aqui debatidas neste episódio do Café Filosófico.
Para este debate, Viviane Mosé (poetisa, filósofa, psicóloga e psicanalista), convida o ator Henrique Diaz e o artista plástico Marcos Chaves, para conversarem em conjunto sobre os desafios da arte no mundo contemporâneo.


Mas também em Portugal este tema foi objeto de análise. Pode a crise contemporânea ser uma fonte de inspiração para quem é artista?

Neste vídeo da SIC Noticias, emitido no dia 27.01.2013, subordinado ao tema: “A Arte da Crise”, podemos ver o jornalista Pedro Mourinho, a conversar com um artista de Art Grafitti, um poeta popular, um escritor brasileiro radicado em Portugal e um cantor de intervenção, que nos mostram como a situação atual do país pode ser, afinal, um motivo para dar largas à criatividade.



Fontes: http://www.youtube.com/watch?v=plZhcbJLVRk ; http://www.youtube.com/watch?v=MY2OqtPi-eQ
http://raiz-de-pensamentos.blogspot.pt/2009/05/o-grito-de-edvard-munch.htm