O Pensamento no Mundo atual

 
Este mundo não presta, venha outro.
Já por tempo de mais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
E de lamber as mãos, se dependentes.

 
José Saramago, Demissão, in "Os Poemas Possíveis"


Qual o papel da filosofia no contexto atual? Que tipo de desafios a própria filosofia precisa enfrentar? Como interpretar o mundo contemporâneo tendo Nietzsche como referência? Vivemos a emergência de uma nova cultura, uma nova subjetividade?
Nesta excelente palestra do Café Filosófico, os filósofos Oswaldo Giacoia Jr. e Viviane Mosé falam-nos sobre os desafios do pensamento no mundo atual.
A não perder!

 


Fontes: https://www.youtube.com/watch?v=XGvAc42-K9Q&list=PLAD82553316B97A14
http://www.cpflcultura.com.br/2010/07/21/cafe-filosofico-cpfl-o-pensamento-oswaldo-giacoia-jr/ http://www.citador.pt/

Hino à Tolerância


Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...

Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo...

Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...

Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.

Antero de Quental, Evolução, in "Sonetos"

  
Jackson Pollock, Moon-Woman cuts the circle (1943)
Já será grande a tua obra se tiveres conseguido levar a tolerância ao espírito dos que vivem em volta; tolerância que não seja feita de indiferença, da cinzenta igualdade que o mundo apresenta aos olhos que não vêem e às mãos que não agem; tolerância que, afirmando o que pensa, ainda nas horas mais perigosas, se coíba de eliminar o adversário e tenha sempre presente a diferença das almas e dos hábitos; dar-lhe-ão, se quiserem, o tom da ironia, para si próprios, para os outros; mas não hão-de cair no cepticismo e no cómodo sorriso superior; quando chegar o proceder, saberão o gosto da energia e das firmes atitudes. Mais a hão-de ter como vencedores do que como vencidos; a tolerância em face do que esmaga não anda longe do temor; então, antes os quero violentos que cobardes.
Mas tu mesmo, Marcos, com que direito és tolerante? Acaso te julgas possuidor da verdade? Em que trono te sentaram para que assim olhes de cima o resto dos humanos e todo o mundo em redor? Por que tão cedo te separas de compreender e de amar? Tens a pena do rico para o pobre, dás-lhe a esmola de lhe não fazer mal; baixaste a suportar o que é divino como tu; e queres que te vejamos superior porque já te não deixas irritar por gestos ou palavras dos irmãos. Mais alto te pretendo e mais humilde; à tolerância que envergonha substitui o cálido interesse pedagógico, o gosto fraternal de aprender e de guiar; não levantes barreiras, mas abate-as; se consideras pior o caminho dos outros vai junto deles, aconselha-os e guia-os; não os deixes errar só porque os dominarias, se quisesses; transforma em forte, viva chama o que a pouco e pouco se dirige a não ser mais que um gelado desdém.

Agostinho da Silva, in 'Considerações'

Fonte: http://bethccruz.blogspot.pt/ http://www.citador.pt/

Solidão, Tolerância, Trabalho e... Poesia!


"Acho graça às homenagens
que me prestam,
excelente sinal de ilusões
que a eles restam;

sou tão humano quanto os outros,
com qualidades e defeitos
e mais as manhas que se escondem
em seus peitos;

[...]

de nós nada mais deixamos
que vãs memórias,
só Deus é grande, só Deus é santo
e o demais histórias"

 Agostinho da Silva, “Uns Poemas de Agostinho”, pp.17-18


"A solidão é uma ocasião extraordinária de diálogo consigo próprio."

"Se a pessoa não fez consigo tudo o que achava necessário para se esquecer de si mesmo, está errada."

"A pessoa deve encontrar-se a si própria e fazer todo o possível para que não haja uma discórdia consigo mesma."

"Tolerar é já marcar uma superioridade."

"Aceitar os outros como eles são é outra coisa. Aceitar vem da palavra capturar, aceitar é tomar para si e tolerar não, é dar licença, com desprezo que o Outro seja assim."

Alice Cruz: "O que é isso de trabalhar por solidariedade?"

"É quando uma pessoa faz algo que não gostaria de fazer e vai fazer."

"O Elogio da Preguiça de Fernando Pessoa é totalmente contraditório em si mesmo.

Provavelmente deu-lhe bastante trabalho a escrever..."

"Tenho tido a grande sorte de só fazer coisas. Tive sempre a grande sorte de só fazer as coisas que tenho gozado."

"A poesia não é coisa que dê grande importância. (...) quando tem que sair, sai e depois durante muito tempo, não sai mais nenhuma."

Agostinho da Silva, Frases da entrevista



Fonte: http://www.citador.pt/ http://arevistaentre.blogspot.pt/ http://www.youtube.com/watch?v=q63Ycb8ZRec

Enciclopédia Galáctica



Neste penúltimo episódio da série Cosmos, Carl Sagan dedica-o à possível vida extraterrestre, o grande fascínio de sua vida, dizendo-nos que os relatos de encontros com extraterrestres terão por certo mais a ver com religião e superstição, do que com ciência.
Examina os relatos persistentes de visitantes extraterrestres à Terra, que foram sendo registados desde 1947, e refuta alguns dos mais famosos casos de abdução, em especial o de Betty e Barney Hill, argumentando que não se encontram, entre todas as histórias de OVINS, alguma prova física convincente.
Decifrar vestígios de um "outro mundo" parece então ter um papel crucial para a investigação desses casos, e isso leva Carl Sagan a contar a história de Jean-François Champollion, que desde menino tinha uma especial facilidade para os vários idiomas e entendimentos vários, e que mais tarde se tornou um eminente linguista.
Diz-nos que Champollion estudou avidamente a expedição de Napoleão ao Egipto, onde cada ilustração era uma charada do passado para o presente, e entre elas estava a Pedra de Roseta e fotos do povo que vivia entre as ruinas dos antigos faraós. A partir desse momento o Egipto tornou-se a terra dos sonhos de Champollion e dedicou-se à descoberta e descodificação da escrita egípcia.
Mas foi apenas em 1928 que Champollion foi pela primeira vez ao Egipto. Então com os seus companheiros fretou barcos e navegou rio acima, dando início à sua expedição e redescoberta da antiga cultura egípcia.

Jean-François Champollion já tinha descodificado os hieróglifos do antigo Egipto, quando empreendeu a sua viagem exploratória ao Egipto, tendo-a descrito com minúcia, dando-nos a possibilidade através do tempo de podermos conhecer os seus magníficos pormenores. Mas essa viagem ao Egipto foi também para Champollion, uma expedição através do tempo e uma viagem através dos séculos, para um outro mundo anterior.

Carl Sagan numa recriação da decifração da Pedra da Rosetta, conduz-nos numa viagem ao Egipto, fazendo-nos viajar no tempo e assistir à chagada ao cair da noite de Champollion a Dendera, e à sua visita noturna ao complexo do Templo de Dendera, que contém o Templo de Hátor, um dos templos mais bem preservados de todo o Egipto. Foi ali que Jean François Champollion verificou que a sua descodificação das mensagens hieroglíficas deixadas por aquela antiga civilização estavam certas.
Ali em Dendera, Champollion teve a oportunidade pela primeira vez de observar a grandiosidade daquela antiga cultura, que com a sua sublime arquitetura e escrita hieroglífica, fizeram a união de graça e majestade do mais alto grau.
Leva-nos depois até Carnac, onde Champollion escreveu a seu irmão, dizendo que estava orgulhoso da sua decifração da Pedra de Roseta. A decifração rápida, habilitou-o a evitar os erros sistemáticos que surgem invariavelmente da reflexão prolongada. Do mesmo modo, também na busca e especulação desenfreada pela inteligência extraterrestre, por parte de muitos amadores nos dias de hoje, serviu para assustar muitos profissionais.
Mostra-nos então uma réplica da Pedra de Roseta, dizendo-nos que ela possui o mesmo texto escrito em três línguas, sendo a última delas o grego antigo. Champollion conhecia bem essa última escrita, uma vez que era um linguista soberbo. Nela conseguiu verificar que esta pedra tinha sido feita para comemorar a coroação e subida ao poder do faraó Ptolomeu V, na primavera do ano 196 a.C..
Carl Sagan explica-nos depois como Champollion, fez a comparação do grupo de hieróglifos que representam o nome de Ptolomeu, e de Cleópatra, para descodificar facilmente este tipo de antiga escrita.
No final, diz-nos que hoje, nós estamos também à espera de descodificarmos uma linguagem de uma civilização, não no tempo, mas no Espaço. Possivelmente os seres extraterrestres serão muito diferentes de nós biologicamente, culturalmente e linguisticamente, então como será possível entender as suas mensagens? Poderá haver uma “Pedra de Roseta” cósmica? Carl Sagan responde que deve haver a possibilidade de todos os seres se poderem comunicar entre si, com uma linguagem comum, numa língua chamada Ciência.
Diz-nos então que as leis da Natureza são as mesmas nos mais variados lugares, e as mesmas leis da mecânica quântica são as mesmas em toda a parte. Então seres de outro mundo qualquer, terão que lidar com leis idênticas da Natureza, mostrando-nos que no Cosmos, os padrões são os mesmos que na Terra. Por isso, talvez em breve, possa chegar uma mensagem do espaço ao nosso pequeno mundo, mas se quisermos entendê-la, teremos primeiro que entender a Ciência.
Fala-nos de um método, fácil, barato, óbvio e rápido de receber essas mensagens, dizendo-nos que esse método já existe, e que se chama radioastronomia. Mostra-nos o maior radiotelescópio do mundo, o Observatório de Arecibo, na Ilha de Porto Rico, que está apto a ser capaz de receber mensagens rádio enviadas por civilizações estranhas de qualquer ponto da Via Láctea. Será que algum ser extraterrestre está neste momento a olhar para nós ou para o nosso Sol, a fazer alguma especulação corajosa?
Diz-nos em seguida, que poderá no Cosmos haver muitas civilizações extraterrestres, e mesmo que muito distante, poderá uma qualquer civilização estar bem próxima de nós. No entanto, se houver poucas civilizações extraterrestres, a mais próxima, poderá estar bem longe de nós. Mas quantas civilizações serão capazes de ter também radioastronomia na Galáxia Via Láctea?
Explica-nos então a equação matemática que nos dá a possibilidade de o descobrirmos, dizendo-nos que alguns cientistas acham que o caminho dos trilobitas até aos radiotelescópios ou equivalentes, é como um tiro em todos os planetas dos sistemas planetários, e que apenas 10% dos planetas habitados terá a possibilidade de desenvolver uma civilização técnica.
Retomando o estudo da vida extraterrestre, Carl Sagan demonstra a importância dos radiotelescópios, em especial no caso da “Mensagem de Arecibo” e do programa SETI.
Na nave espacial da imaginação de Carl Sagan, leva-nos pelo cosmos, e permite-nos uma rápida viagem através de um "computador galáctico", leva-nos a pesquisar na “Enciclopédia Intergaláctica”, na possibilidade de fazermos o repositório de dados de um mínimo de planetas de outras estrelas… Se isto fosse possível, como seria bom!

Mais informações:

Collonges-la-Rouge - 21º Dia - Parte V



Após a visita a Turenne, seguimos para Collonges-le-Rouge, a oeste, a apenas 10 quilómetros de distância, e que seria a última aldeia histórica francesa a visitar naquele dia, antes da chegada ao lugar de pernoita.

Collonges-le-Rouge fica situada numa planície silenciosa, entre montanhas e florestas de um verde luxuriante, mostrando-nos logo à chegada uma arquitetura diferente de todas as outras aldeias da região de Limousin. Ela é na realidade uma extraordinária visão medieval: vermelho e rosa.

A aldeia composta pelo seu magnífico casario cor de ocre, faz jus ao seu nome (le-Rouge), e fica situada numa zona de nível inferior, em relação à estrada. É uma vila de visita obrigatória, desde sempre… como evidencia, aliás, a linha de caminho-de-ferro que lá conduz e termina.

Esta Village, de aspeto e cor tão invulgares, mantém até hoje, um carácter essencialmente aristocrático, uma vez que reúne num pequeno espaço, vários palacetes de épocas passadas, que conservam até hoje a sua dignidade e magnificência. Os telhados com lajes de ardósia sobre as casas dos séculos XV e XVI, sobressaem no meio do verde intenso que cerca a village.

No meio da aldeia chama a nossa atenção a torre sineira da Église de Saint Pierre. No seu belo portal principal, está representa a Ascensão de Cristo no registo superior, enquanto a Virgem, humilde e orante, se encontra cercada pelos onze apóstolos, ocupando o registo inferior. Este é um maravilhoso trabalho de artistas de Limousin, nas escolas de Toulouse e Auvergne, e foi realizando em pedra calcária de Nazaré, perto Turenne.

Com todas as construções feitas de blocos de arenito vermelho maciço, a aldeia oferece-se como um lugar recôndito para apaixonados pelo pôr-do-sol, e foi precisamente perto dessa hora que lá chegámos.

Os campos que a cercam, marcam a paisagem em volta de Collonges-la-Rouge, e neles combinam-se nogueiras, vinhas, zimbros, carvalhos e castanheiros, mas também se veem campos de milho.

Em 785, as terras de Collonges, um nome derivado de Colonia Latina, foram doadas pelo Conde de Limoges para financiar parcialmente a construção do Mosteiro Charroux em Poitou.

Depois dos monges construírem o mosteiro, este começou a atrair camponeses, artesãos e comerciantes, que ali perto se começaram a estabelecer, prosperando e desenvolvendo uma povoação em torno das muralhas.

Também ali se fazia o acolhimento dos peregrinos que se dirigiam para Santiago de Compostela, passando a caminho de Rocamadour, que ainda hoje é um santuário de grande importância e peregrinação.

O grande número de peregrinos era uma fonte duradoura de lucro, e em 1308, o Visconde de Turenne concedeu à vila o direito de alta, média e baixa competência, permitindo governar-se a si própria, o que deu origem ao nascimento na cidade de linhagens de promotores, advogados e notários.

Após as guerras religiosas francesas, a sua posse passou para o Visconde de Turenne, recebendo isenções fiscais valiosos, liberdades, franquias, privilégios, imunidades, bem como o direito exercício da justiça, ficando independente da Coroa da França. Foi a partir deste momento que ali se fixam muitos membros da nobreza e daí também a construção de um grande número de impressionantes castelos e mansões.

O séc. XIX foi marcado pelo aparecimento da filoxera, que dizimou os vinhedos da região, dando origem ao êxodo rural que fez com que a village perdesse 40% da sua população.

Fonte: http://www.les-plus-beaux-villages-de-france.org/ http://www.collonges-la-rouge.fr/ http://voyages.fond-ecran-image.com/ wikipédia.org

Dia Internacional da Latinidade

 
Como Latinidade (latim: Latinitas) entendemos o conjunto dos povos latinos e seu respetivo modo cultural e social de ser.

O dia 15 de maio foi escolhido o Dia Internacional da Latinidade no intuito de preservar as diferentes identidades nacionais e suas comunidades linguísticas e culturais.

Esse dia se determina
aos povos de língua latina.
Espanhol, Romeno, Francês,
Galês, Italiano, Português.*

Todas tem por fim,
origem do nosso Latim.
O Império Romano no cume,
impõe sua língua e costume.

Também sua religião,
vingou em nossa nação
pela força do uso.

Mas geralmente o Império,
atuando muito sério,
impôs-se pelo abuso.


Publicado no site: O Melhor da Web em 30/05/2009
Código do Texto: 28478


* e todos os seus descendentes na América Latina e noutras partes do Mundo.

Fontes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Latinidade; http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/

Turenne - 21º Dia - Parte IV



 
Deixámos Saint-Robert e rumámos para sudeste a caminho de Turenne, a 42 quilómetros de distância.

A bonita vila de Turenne, que data na sua grande parte dos séculos XIII, vê-se ao longe na estrada, descendo de uma encosta de colina voltada a sul, não muito alta, mas ingreme.

É sem dúvida nenhuma uma adorável visão, observada a partir dos campos de Limousin. No topo da colina as ruínas de um antigo Château, rodeado de casario branco com telhados de ardósia, que desce até à estrada, e à sua volta, o profundo verde da floresta.

Lá chegados, deixamos a autocaravana estacionada e caminhamos pela vila. Nas ruas veem-se encantadoras casas de pedra, que na sua grande maioria, datam dos séculos XV e XVII, com destaques individuais, tais como lindas varandas ou torres, que atraem desde logo o nosso interesse.

Turenne deve o nome a um visconde Henri de la Tour d'Auvergne cuja família teve ali durante séculos um pequeno estado soberano. Os primeiros senhores de Turenne surgiram no séc. IX. A cidade tornou-se um verdadeiro estado feudal depois das Cruzadas, sendo um dos grandes feudos da França, no século XIV.

Desde a Idade Média até o séc. XVIII, o visconde de Turenne tinha completa autonomia. O feudo de Turenne ocupava um território delimitado por três províncias e três bispados. Ocupando uma parte do Périgord Noir, o feudo era adjacente à Baixa Limousin e Quercy.

Do passado permanece na parte superior do aglomerado, os restos de três corpos e uma torre quadrada que protegia o castelo. Sobre zonas pavimentadas com pedra irregular, crescem casas construídas em torno de ruas ou pequenas praças, que se sucedem, com muitas e belas formas e feitios.

Depois sobe-se a ingreme encosta. A parte alta da encosta gravita à volta do antigo castelo. O Château arruinado é um lugar de ricos vestígios deixados pelos antigos governantes daquelas terras.

A vista do topo da colina é muito bonita. Olhando para baixo a partir do castelo, é a melhor maneira de apreciar os telhados de Turenne, bem como as torres de algumas casas e seus telhados cónicos.

Mas dali também se veem as florestas e os pastos que rodeiam Turenne, para além das colinas ondulantes de intenso verde. No topo, também se observam as torres de vigia de um pedaço de muralha, agora separadas por um jardim bem cuidado, que são tudo o que resta da sua antiga fortaleza, que ficava neste penhasco por trás da vila.

A encosta é melhor de descer do que de subir. Cá em baixo, a Église Collegiale de Notre-Dame é o monumento religioso mais importante de Turenne. Foi construída no séc. XVII e contém um belo retábulo decorativo.
 
Fonte: http://www.francethisway.com/places/turenne.php ; http://pt.wikipedia.org/wiki/ ; http://en.wikipedia.org/wiki/Turenne,_Corr%C3%A8ze

Saint-Robert - 21º Dia - Parte III



Deixamos a deliciosa e pacata Ségur le Château e seguimos para sul, em direção à aldeia histórica de Saint-Robert, a cerca de 29 quilómetros de distância, também situada na região de Limousin.

A aldeia de Saint-Robert é um pequeno vilarejo também localizado no maciço central francês, no departamento de Corrèze, e fica situada na encruzilhada de três belas regiões, Perigord, Quercy e Limousin.

Saint-Robert fica num planalto onde sobressaí a igreja do século XII, deambulatório para peregrinos de Santiago de Compostela e é, segundo os guias turísticos, uma das mais belas aldeias de França, com as suas casas antigas, estreitas ruas medievais e a Fountain St. Maurice, do séc. XV.

Nas ruas observam-se imponentes casas fortificadas de cantaria, que têm resistido ao passar do tempo, permanecendo intactas desde os tempos medievais, destacando-se ao longe, no meio de uma paisagem montanhosa, na fronteira entre as zonas de Corrèze e Dordogne.

A aldeia é organizada em torno de um Mosteiro beneditino construído pelos seguidores de Saint-Robert e foi palco de confrontos religiosos violentos. No antigo mosteiro destaca-se a Igreja românica do séc. XII, que abriga um Cristo de madeira do séc. XIII.

O Mosteiro e a sua Igreja são dedicados a Saint-Robert, que também deu o nome à aldeia. Saint-Robert é também conhecido na Igreja Católica por Roberto Belarmino, um dos doutores da Igreja, que com a idade de 18 anos, entrou na Companhia recém-formada de Jesus (jesuítas), sendo ordenado em 1569, dez anos depois.

Roberto Belarmino era oriundo de uma grande e rica família italiana da Toscana. Sua mãe Cinthia Cervini era irmã do Cardeal Marcello Cervini, que mais tarde foi o Papa Marcelo II.

Foi um dos mais distintos e competentes teólogos da Contrarreforma, que combinava uma imensa erudição, com uma profunda convicção de que a autoridade da Igreja Católica, tinha que ser sustentada por um rigor e uma disciplina muito maiores por parte do clero, caso se pretendesse ultrapassar o desafio da Reforma.

Distinguiu-se pela sua competência teológica a serviço da defesa da fé católica, escrevendo um Catecismo, Doctrina Christiana breve (1597), mais conhecido por Catecismo de Belarmino e a sua maior obra, Disputationes de controversiis fidei Adversus heréticas, um vasto trabalho em três volumes publicado entre 1581 e 1593, que procurou dar à autoridade doutrinal da Igreja, uma base legal sólida, e que terá sido, porventura, a mais importante e sustentada defesa da Igreja Católica no séc. XVI.

No entanto Roberto Belarmino foi também um inquisidor ativo, participando nos dois ensaios que manchavam a pior reputação da Igreja Católica Romana. Em 1616, por exemplo, segundo ordens do papa Paulo V, obrigou Galileu a renunciar à doutrina coperniciana de que “a Terra girava em torno do Sol.” 

Fonte: O Grande Livro dos Santos (tradução de The Book of Saints), Círculo de Leitores, 2012, página 237; http://fr.wikipedia.org/wiki/Robert_Bellarmino ; http://www.les-plus-beaux-villages-de-france.org/; http://www.france-voyage.com/; http://espacoerrante.blogspot.pt/; http://365rosaries.blogspot.pt/ http://www.map-france.com/

Nova Renascença ou o Fim da Picada?




"Explosão do silicone"
Colagem virtual de Fátima de Carvalho
 

 
No nosso presente e cada vez mais, as nossas relações são mediadas por ferramentas digitais: a política, a educação, as relações sociais e amorosas, os negócios...

O mundo vive cada vez mais online, trocando informação numa rede em tempo real. Somos a geração que testemunha e é cobaia de uma importante transição tecnológica: do analógico para o digital.

É um tempo de aceleração de velocidade e variedade na publicação das informações e do conhecimento compartilhado, onde cada um pode ser o autor de sua obra fictícia ou não.

Como confiar e conviver no caldo cultural gerado por tantas possibilidades e ruídos? Quais os nós dramáticos desta história? Estamos diante de uma nova renascença ou diante do fim da picada?

Neste episódio do Café Filosófico, Módulo: Mundo Virtual: Relações Humanas, Demasiado Humanas, Marcelo Tas, jornalista, ator e roteirista, trata o tema das relações humanas através da Internet.
Entre as suas obras destacam-se os vídeos do repórter ficcional Ernesto Varela; as séries "Rá-Tim-Bum" (TV Cultura) e a sua participação na criação do "Programa Legal" e "Telecurso" (TV Globo). Recentemente, Tas realizou o "Beco das Palavras", um jogo interativo no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.


Fontes: http://www.youtube.com/watch?v=ToA4OyQQtNo&NR=1&feature=endscreen http://fatimadecarvalhoartistaplastica.blogspot.pt

O Problema Essencial da Vida


"Sem a cultura e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro."

Albert Camus

Wifredo Lam (1902-1982), "A Selva"
Museu de Arte Moderna, Nova Iorque

O problema essencial da vida, que é o problema da realidade ou da verdade, não existe, nem pode existir em iguais termos para o homem de inteligência superior e para o homem vulgar. O homem de inteligência superior não tem, é certo, melhores elementos para descobrir a verdade do que o mais fechado dos idiotas. O que tem é melhores elementos para compreender porque é que ela se não pode descobrir. Mas a descrença, a que chegam todos os espíritos elevados, em que a razão predomina sobre o sentimento, sendo para eles tónica, é absolutamente desastrosa para os inferiores. Sem fé, sem crença, o homem vulgar reduz-se a um bicho; com fé, com crença, o homem superior baixa de posto. De aí o terrível paradoxo, que ataca todo o homem ao mesmo tempo superior intelectual e moralmente; que é inferior não sentir a descrença, e inferior pregar a descrença que sente. O inferior não é capaz de descrença, porque a crença é um estado orgânico dos instintivos. Por isso a descrença, caindo nesse solo impropício, ou se torna um fanatismo às avessas, ou um materialismo sem teoria, ou uma simples estupidez.

Assim a especulação filosófica (teórica) parte forçosamente dos dados elementares do conhecimento, que são o sujeito e o objeto, e a consequente relação entre eles, assim a especulação prática parte dos dados elementares da vida, que são o organismo e o meio e as consequentes relações entre eles. A especulação teórica abrange as partes todas da experiência; a especulação prática abrange apenas aqueles fatores da experiência (…)

(Como é que “Verdade”, a Realidade, em um caso, corresponde a Vida, em outro?)

 
A religião é uma metafísica vital, a ciência da utilidade.

 
1.    O homem é um animal irracional, exactamente como os outros. A única diferença é que os outros são animais irracionais simples, o homem é um animal irracional complexo. É esta a conclusão que nos leva a psicologia científica, no seu estado actual de desenvolvimento. O subconsciente, inconsciente, é que dirige e impera, no homem como no animal. A consciência, a razão, o raciocínio são meros espelhos. O homem tem apenas um espelho mais polido que os animais que lhe são inferiores.

 
2.    Sendo assim, toda a vida social procede de irracionalismos vários, sendo absolutamente impossível (excepto no cérebro dos loucos e dos idiotas) a ideia de uma sociedade racionalmente organizada, ou justiceiramente organizada, ou, até, bem organizada.

 
3.    A única coisa superior que o homem pode conseguir é um disfarce do instinto, ou seja o domínio do instinto por meio de instinto reputado superior. Esse instinto é o instinto estético. Toda a verdadeira política e toda a verdadeira vida social superior é uma simples questão de senso estético, ou de bom gosto.

 
4.    A humanidade, ou qualquer nação, divide-se em três classes sociais verdadeiras: os criadores de arte; os apreciadores de arte; e a plebe. As épocas maiores da humanidade são aquelas em que sobressaem os criadores de arte, mas não se sabe como se realizam essas épocas, porque ninguém sabe como se produzem homens de génio.

 
5.    Toda a vida e história da humanidade é uma coisa, no fundo, inteiramente fútil, não se percebe para que há, e só se percebe que tem que haver.

 
6.    A plebe só pode compreender a civilização material. Julgar que ter automóvel é ser feliz é o sinal distintivo do plebeu.

A metafísica, na sua essência, isto é, no que de ao mesmo tempo mais lato e mais simples comporta o seu conceito, assenta em uma distinção, possível só a conscientes desenvolvidos, entre o conhecimento e a vida, ou com precisão mais verbal, entre conhecer e viver. Só uma longa experiência humana, acumulada e transmitida, pôde criar um tipo de homem primeiro inactivo, por quaisquer circunstâncias que atenuassem o estado de guerra inevitavelmente primitivo (primordial) entre os humanos, e depois, por apuramento especializado desses inativos, o tipo já propriamente especulativo.

O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não.

Fernando Pessoa, in Obras em Prosa, Textos Filosóficos, Vol. VI, Círculo de Leitores, 1987. Páginas 107, 108.

Fonte: http://www.citador.pt/