Na Andaluzia profunda
"Emprenhar pelos ouvidos"...
“Uma pessoa que "emprenhe pelos ouvidos" é alguém que acredita piamente na primeira patranha que lhe contam, sem questionar a veracidade da mesma, nem tentar ouvir as outras versões de uma mesma história.
Assim sendo, alguns dos que “emprenham pelos ouvidos”, fazem-no porque o querem, direi melhor se acrescentar que fazem-no porque têm necessidade de acreditar. Em especial quando os “contos e ditos” são no sentido de retirarem o brilho e a cor à vida de alguém, sendo esse credito fácil e imediato, uma espécie de compensação para a sua vida limitada e descolorida.
Outros porém, fazem-no porque julgam os outros por si próprios, fazendo a história completa à sua maneira e querendo insistentemente que os outros se comportem como eles se comportariam, usando para isso manhas variadas e variadíssimas cenas tristes.
Toledo, a glória de Espanha
No dia seguinte o acordar foi turbulento! Junto de nós um jovem casal foi cercado por três carros de polícia e o seu carro foi vasculhado até à exaustão. Depois, como nada encontraram, abandonaram o lugar, mas só depois de terem obrigado o jovem casal a faze-lo primeiro.
Até sairmos do local, a polícia visitou o lugar mais algumas vezes, pelo que deduzimos, que este era muito concorrido por "amantes do alheio" durante o dia, que aproveitam a ausência dos turistas que ali deixam os seus carros para irem visitar a cidade.
Assim sendo resolvemos levar a AC para uma zona mais segura, ficando esta perto da porta Sul da muralha da cidade e situada num pequeno parque fora da cidade antiga, frente ao posto da polícia municipal. Descansados fomos então visitar a antiga Toledo, que já conhecíamos de outras paradas. Após esta visita o rumo seguido foi o de casa.
Cervantes descreveu Toledo como a "glória da Espanha". A parte antiga da cidade está situada no topo de uma colina, cercada em três lados por curvas do rio Tejo.
As suas muralhas abrigam uma riquíssima herança cultural, arquitectónica e artística que provém das culturas muçulmana, cristã e judaica, que ali conviveram em relativa harmonia e foram ao longo do tempo expressando um conjunto de influências medievais e renascentistas que perduram até hoje.
Dos numerosos monumentos da cidade, o mais conhecido é a Catedral de Toledo, (Igreja Primaz da Espanha), que se ergue no local onde existiu uma igreja visigótica e uma mesquita.
O exterior desta catedral, com sua grande torre e maciços contrafortes, é melhor apreciada fora da cidade ou nas proximidades, de preferência de um ponto alto como o Parador Nacional de Turismo. De perto, é difícil avaliar a dimensão da catedral, por se encontrar rodeada por uma amálgama de construções habitacionais, mas o seu interior compensa e a sua beleza é mais do que evidente.
E por falar em El Greco, esta também foi a cidade escolhida por este grande mestre da pintura universal, quando chegou de Creta, em 1577, e onde deixou muitas das suas obras, que até hoje conserva.
Esta antiga cidade ainda mantém o seu plano de estradas medievais. É uma cidade com imensas ruelas onde qualquer um se perde com facilidade, devido à torção das suas ruas, que caminham por terrenos irregulares, onde a mudança visual é constante. Nestas ruas estreitas e sinuosas o vento quente traz-nos sons próximos e por ele nos vamos orientando, na esperança de encontrarmos o que procuramos.
Toledo foi a capital da Hispânia visigótica, até à conquista moura da Península Ibérica no século VIII. Sob o Califado de Córdoba, Toledo conheceu uma era de prosperidade e após a decomposição do Califado de Córdoba em 1035, tornou-se capital do Califado de Toledo.
A 25 de Maio de 1085, Afonso VI de Castela ocupou Toledo e estabeleceu o controle directo sobre a cidade, sendo o primeiro passo concreto do reino de Leão e Castela na chamada Reconquista.
Após Filipe II de Espanha mudar a corte de Toledo para Madrid em 1561, a cidade entrou em lento declínio, do qual nunca se recuperou.
Fonte: biztravels-monuments.net / Wikipédia
Cuenca, o ninho das águias
Estivemos para pernoitar junto ao parque da cidade, a ver as casas suspensas, no entanto e depois de vermos vários movimentos suspeitos de carros locais, fomos até à zona nova da cidade.
Na manhã seguinte, fomos conhecer Cuenca, que é uma pequena cidade localizada num penhasco entre dois desfiladeiros, escavados pelos rios Júcar e Huécar.
O Museu de Arte Abstracta, encontra-se instalado numa das "Casas Suspensas", que se projectam arrojadas na beira do paredão calcário do desfiladeiro, é de visita obrigatória.
Quando os romanos conquistaram a região, Cuenca era um matagal. A cidade só foi construída pelos árabes, quando estes já controlavam Espanha.
A cidade velha faz desta uma cidade única, onde a força da tradição religiosa espanhola é aqui fortemente percebida, nos edifícios que abrigam os seminários, capelas e o convento das carmelitas descalças, que se encontram dentro da cidade antiga.A partir das "Casas Suspensas", descendo o caminho, é interessante atravessar a ponte de metal sobre o rio Huécar, que corre tranquilo 100 metros abaixo.
Salve-se quem poder...
Ferreira Gullar
Há alguns anos que um certo tipo de máfia portuguesa se mistura com o poder. Antes era facilmente identificável, agora, ocupam lugares públicos, nas empresas públicas, nos clubes de futebol ou ocupam cargos de chefia e são especialmente bem relacionados com o poder local ou nacional.
Têm pelo menos um bom tacho, num desses sectores. Dominam bem o polvo da corrupção, e quem os quiser enfrentar vê-se grego. Até agora, nem o Estado tem conseguido.
Os compadres como os de antigamente já não existem. Hoje não há lugar para o compadrio saudável, nem espaço para o comprazimento que só a amizade proporciona. O compadrio agora é outro e nos dias que correm é já uma palavra altamente suspeita, duvidosa, aconselhando a máximas precauções e redobrados cuidados.
Falar de compadrio hoje, destila logo uns fumos de corrupção, uma suspeita de cunha ou de favor ou mesmo de fácil conluio. Os compadres hoje, dando-se ares de “padrinhos”, não se coíbem a prestarem favores com a maior das facilidades, utilizando para isso uma teia ainda mais alargada, em que qualquer um serve, desde que os meios justifiquem os fins.
Aprendemos rapidamente que com a crise de justiça que se vive actualmente em Portugal, nem vale a pena recorrermos a ela, pelo que estamos sujeitos a arbitrariedades de toda a ordem.
Na própria cultura portuguesa, está instituído o favor e a reverência, cozinhado outrora por meia dúzia de senhores a quem os outros reverenciavam, mas que hoje todos cultivam e salve-se quem poder...
Curiosamente hoje qualquer um vive acima da ética, de tal forma que se sente a todo o momento a sua falta, na vizinhança, nas comunidades, na família, nos ambientes de trabalho, onde uma moral desprovida de ética, absurda, paradoxal, bizarra, foi criada e é cada vez mais nítida.
Para mim isto ficou muito claro, em muitíssimas experiências que há já algum tempo tenho vivido. Quem sabe um dia vou vislumbrar viver num mundo provido de moral e ética...
Museu de Arte de Montserrat
Montserrat perdeu a maior parte de seu património durante as guerras napoleónicas. No entanto, desde que o Mosteiro foi restaurado em 1844, o museu foi adquirindo uma valiosa colecção de obras artísticas.
Há também uma representação do impressionismo francês, incluindo obras de Monet, Sisley, Degas, Pissarro e exemplos de trabalhos gráficos de pintores famosos como Chagall, Braque, Le Corbusier, Rouault, Miró, Dalí, Tapies, etc.
Como se pode perceber, ali pode ver-se a influência dos impressionistas franceses sobre os seus homólogos espanhóis, comparar os estilos de diferentes pintores e decidir quem é o impressionista espanhol da nossa preferência, uma vez que este Museu está recheado de pintura desta época.
A peça mais antiga é um sarcófago egípcio do século XXII a.C. e a mais recente, uma escultura de Josep M. Subirachs de de 2001. Esta escultura é uma interpretação da Virgem de Montserrat, dedicada à iconografia de Santa Maria de Montserrat, presente numa sala onde se pode acompanhar a evolução que ocorreu relativamente à representação da Virgem de Montserrat ao longo do tempo.
Desde 2006, o Museu tem, com uma nova secção, cujo colecção de 160 pinturas bizantinas e eslavas, intitulada “luz alegre”, onde as obras brilham numa atmosfera de igreja oriental, onde a luz que entra na sala tem um papel decisivo.
As outras colecções são compostas por jóias, uma colecção de objectos litúrgicos dos séculos XV ao XX, pinturas do século XIII ao XVIII, incluindo obras de Berruguete, El Greco, Caravaggio, Luca Giordano, Tiepolo, etc.
Fonte: www.montserratvisita.com
A lenda de Nossa Senhora de Montserrat
O que se pode afirmar com certeza, é ter sido venerada na dita cidade já no século VI. Nessa época os mouros, atravessando o estreito de Gibraltar, invadiram a Espanha, e os cristãos, receando a profanação de suas imagens mais veneradas, esconderam-nas em baixo da terra ou em antros mais inacessíveis das montanhas, sendo a de Montserrat uma das que oferecia grandes recursos.
Assim a imagem foi levada para lá pelos piedosos fiéis de Barcelona e escondida numa de suas cavernas. Segundo a lenda, a imagem da Virgem de Montserrat foi encontrada mais tarde por alguns pastorinhos que no mês de Abril do ano de 880, apascentavam seus rebanhos à margem do rio Llobregat.
As crianças depois de verem uma luz que apareceu de repente sobre a montanha, dirigiram-se para lá e simultaneamente começaram a ouvir um coro de vozes angélicas que os deixou extasiados. Naquele local encontraram a imagem da Virgem Maria numa caverna.
Visita ao Mosteiro de Montserrat
Montserrat é um local sagrado para o povo catalão. Fica a uns 50 km de Barcelona numa região bastante montanhosa.
Desde o restaurante até ao mosteiro, ainda são 500 metros de pernada, passando por um viaduto/ponte de vistas magníficas, por onde se chega à povoação de Montserrat. Segue-se a subida por enormes escadarias até à porta da basílica.
Após um bom momento de recolhimento para pedir pela família, saímos para a visita à zona urbana de Montserrat e ao Museu de Arte do Mosteiro, para depois seguirmos viagem rumo a Cuenca.
A caminho do Mosteiro de Santa Maria de Montserrat
É nesta bonita povoação que param os comboios vindos de Barcelona, cheios de turistas que vêm visitar o Mosteiro e La Moreneta, a padroeira da Catalunha.
É ali também que se encontram as estações de funicular e teleférico, para se ascender ao cimo da montanha. Ainda se pode optar por subir a estrada, que se contorce nas vertentes desta imponente montanha.
Esta estrada para o mosteiro é deslumbrante, embora muito sinuosa e íngreme e por vezes muito estreita, em especial já numa zona de bastante altitude, fazendo com que a maioria das pessoas que visitam o mosteiro, por medo de a enfrentar, façam a viagem até lá acima de teleférico ou de funicular.
Para quem sofre de vertigens, como por exemplo, o nosso resistente e “heróico” condutor, a subida é um autêntico suplício, mas quando se chega lá acima, ninguém é capaz de dizer que não mereceu a pena a aventura, pois a paisagem é de uma beleza de tirar o fôlego.
O lugar de pernoita foi logo encontrado, num parque de estacionamento, junto aos primeiros restaurantes, antes da ponte, com uma vista soberba, de onde se vislumbrava toda a Catalunha.
Foi criado pelos frades beneditinos por volta do ano 1.000 d.C. Depois de diversas trocas de ordem religiosa ao longo do tempo, que foi administrando o local e de uma destruição quase completa pelas tropas de Napoleão, em 1811, o lugar foi recuperado em boa parte no século XX, por arquitectos catalães.
Até hoje é lugar de peregrinação de fiéis que procuram milagres através da adoração da Virgem de Montserrat, "La Moreneta".
O Santuário não se confina às principais dependências do mosteiro, mas a todo o conjunto, inclusive os vários caminhos a seguir, na parte acima de Montserrat, que nos levam a outros pequenos e antigos ermitérios, encravados nas rochas.
Conforme o ponto em que se está, vale sempre a pena andar mais um pouquinho além do que as placas permitem, para que se tenha uma visão ainda melhor do Mosteiro Montserrat, lá de cima.