Filhos, melhor não tê-los…

 
No imaginário popular, costuma-se associar a nobreza, a alguma linhagem de ‘sangue azul’. No livro de Sérgio Alberto Feldman,Amantes e Bastardos: As relações conjugais ou extraconjugais na alta nobreza portuguesa no final do século XIV e início do século XV”, fica-se a preceber o quão híbrido pode ser o sangue da nobreza portuguesa, no período tardio da Idade Média.


O casamento era uma aliança política, forjada de acordo com interesses estratégicos do reino, fosse para selar acordos de paz ou agregar terras. Enquanto isso, as relações extraconjugais eram o refúgio para o prazer.


“O verdadeiro amor ocorria fora do casamento e os filhos naturais eram às vezes mais amados pelos seus pais, pois eram o fruto de relações espontâneas e de fundo afetivo e não de meros casamentos cuja motivação era dinástica”, escreve Feldman.


No entanto em todas as sociedades houve sempre filhos legítimos e ilegítimos. Como todos sabemos os filhos legítimos são todos aqueles que nascem dentro do casamento de seus pais. Filiação ilegítima (sendo um termo em alguns países mais evoluídos hoje em desuso) porém designa a prole nascida fora dos laços do matrimónio.


Outros termos utilizados para definir tal relação entre pais e filhos, é bastardia, filiação adulterina ou filiação natural, sendo este último termo do ponto de vista humano, o mais aceitável de todos.


No Brasil, por exemplo, o termo foi posto deliberadamente em desuso na formulação do código civil, em vigor desde 11 de janeiro de 2003, pois é considerado discriminatório. Além disso, a legislação não prevê diferença nos direitos de filhos concebidos dentro ou fora do casamento. Em Portugal esta discriminação foi também abolida pelo artigo 36º, n.º 4 da Constituição da República Portuguesa de 1976, que proíbe a discriminação em relação aos filhos nascidos fora do casamento. Esta proibição originou uma alteração nas leis e consequentemente à consagração do tratamento igual para os filhos, deixando aos olhos da lei de existir filhos “ilegítimos”.


Os direitos e o estatuto legal dos bastardos foi variando em diversas culturas e em diversas épocas e em especial em diversas classes sociais ao longo dos tempos, parecendo ser nas classes mais baixas (por ignorância ou desumanidade), que o estatuto de filho ilegítimo teve sempre maior conotação negativa.


Nas classes mais altas, estes geralmente não tinham direito à herança dos pais ou das mães, mas frequentemente recebiam doações ou honras dos pais ou irmãos legítimos, ou os testamentos dos pais podiam determinar uma herança específica.


Em Portugal porém, desde o início da nossa nacionalidade, a classe dominante nasceu da “ilegitimidade”, uma vez que D. Teresa de Leão era filha ilegítima de D. Afonso VI de Leão e Castela com Ximena Moniz, uma nobre castelhana. Assim o Condado Portucalense foi herdado por uma filha ilegítima e o nosso primeiro rei D. Afonso Henriques, era neto ilegítimo do mesmo soberano castelhano-leonês.


Segundo Isabel de Lencastre, in Bastardos Reais, Os filhos ilegítimos dos Reis de Portugal, dos 32 reis portugueses, seis não tiveram filhos e, dos restantes 26, apenas D. Manuel I, o Venturoso, que se casou três vezes, e D. José, "muitas vezes enganado pela sua mulher", não tiveram filhos fora da alcova nupcial.


Daí que desde sempre as acusações de bastardia serviam sobretudo para retirar rivais do caminho das sucessões ou heranças dos pais. Entre outros casos, Isabel de Castela usou esta arma para afastar Joana de Castela do trono castelhano e Filipe I de Portugal (Filipe II de Espanha), argumentou a ilegitimidade de D. António, Prior do Crato, filho do casamento secreto do Infante D. Luís com a linda e rica cristã-nova, Violante Gomes e neto do rei D. Manuel I, para subir ao trono de Portugal.


Todavia, apesar de não terem regalias oficiais, os bastardos reais tinham deferência e proeminência face a titulares administrativos, militares ou eclesiásticos e desempenharam "posições de relevo na corte e no país", e alguns ascenderam mesmo ao trono, como D. João I (filho bastardo de D. Pedro I e de D. Teresa Lourenço, uma aristrocrata galega), décimo rei de Portugal que fundou a Dinastia de Avis.


A Casa de Bragança, a que pertence a última dinastia reinante em Portugal, tem ascendência na Casa de Avis, e, portanto também, na Casa fundadora da nação portuguesa - a Casa de Borgonha. D. João I é por isso mesmo um antepassado de D. Duarte Pio de Bragança, atual pretendente ao trono de Portugal e detentor atual do título de duque de Bragança, reivindicando direitos dinásticos sobre os títulos de Príncipe Real de Portugal e Rei de Portugal. Sendo, portanto, o chefe da Casa de Bragança e, por inerência, o chefe da Casa Real Portuguesa.


Porém os filhos bastardos do povo eram (e são ainda hoje) muitas vezes renegados, sedo-lhes negada por vezes a ascensão cultural, como foi no caso do maior génio da história da humanidade, Leonardo da Vinci, filho ilegítimo de um notário, Piero da Vinci, e de uma camponesa, Caterina, em Vinci, a quem foi negada uma educação formal e o estudo do latim.


Ironia do destino é que um grande número de “nomes sonantes” portugueses (ler o livro de Isabel de Lencastre, Bastardos Reais) que têm a pretensão de estar ligados à Casa Real Portuguesa, dizendo dela descender por laços de bastardia, descendam por sua vez de famílias, também elas com filhos naturais, a quem foi negada a todo o custo a sua legitimação.
 
Fonte: http://familia.sapo.pt/ http://cienciahoje.uol.com.br/ http://www.vidaslusofonas.pt/ http://www.infopedia.pt/ http://pt.wikipedia.org/ Isabel de Lencastre, Bastardos Reis, Os filhos ilegítimos dos Reis de Portugal, 1ª Edição, Oficina do Livro, 2012; Sérgio Alberto Feldman, Amantes e Bastardos, As relações conjugais ou extraconjugais na alta nobreza portuguesa no final do século XIV e início do século XV, 2ª Edição, Editora Edufes, 2008.

"Vivo como penso sem pensar como vivo."



“Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora da minha própria vida.”

Clarice Lispector, in 'Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres'

 
“A verdade é aquilo que todo o homem precisa para viver e que ele não pode obter nem adquirir de ninguém. Todo o homem deve extraí-la sempre nova do seu próprio íntimo, caso contrário ele arruína-se. Viver sem verdade é impossível. A verdade é talvez a própria vida.”

Franz Kafka, in 'Conversas com Kafka'

 
“Quando se escreve é não somente para ser compreendido, mas também para não o ser. Um livro não fica diminuído pelo facto de um indivíduo qualquer o achar obscuro: esta obscuridade entrava talvez nas intenções do autor, não queria ser compreendido por qualquer bicho careta. Qualquer espírito um pouco distinto, qualquer gosto um pouco elevado escolhe os seus auditores; ao escolhê-los fecha a porta aos outros. As regras delicadas de um estilo nascem todas daí; são feitas para afastar, para manter a distância, para condenar o «acesso» de uma obra; para impedir alguns de compreender, e para abrir o ouvido aos outros, os tímpanos que nos são parentes.”

Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência”

Fonte: O título desta postagem, "Vivo como penso sem pensar como vivo." é de José Adelino Fonte Maltez, in Diário de Notícias / 20080419

Guimarães - 2º Dia - Visita ao interior do Castelo de Guimarães - Parte III


Chegados ao Castelo, visita-se primeiro as suas imediações, e é ali que se encontra embutido numa enorme pedra encostada às muralhas do Castelo, um alto relevo com o busto, realizado em metal, do Conquistador (D. Afonso Henriques).

Caminha-se depois para a entrada. Encostada à torre norte encontra-se a espessa entrada para o interior das muralhas, que segundo reza a história foi aberta pelo conde D. Henrique e que constituía uma das entradas de Guimarães, que protegia a cidade no seu tempo.

 
A torre virada a poente, à direita da porta de entrada, é conhecida pela Torre da Forca, pois ali se faziam as execuções, existindo ainda dois pilares de suporte do mecanismo de execução.

No interior surge a nona torre, a enorme Torre de Menagem, de 27 metros de altura, independente, de três pisos de habitação sobre um que servia de celeiro. Os vários pisos comunicam por uma escadaria de madeira encostada à parede norte. No seu interior não tem qualquer janela, somente seteiras (frestas estreitas abertas nas paredes, para dar claridade ao interior), e comunica com o adarve por uma ponte de madeira fixa, mas levadiça nos tempos áureos.

 
No piso térreo da Torre de Menagem, encontramos a bilheteira e loja, com as várias publicações relativas ao Castelo, e no segundo piso, observa-se uma exposição com os protagonistas históricos, que em tempos da sua origem o habitaram. Já no último piso, uma estreita e ingreme escadaria, leva-nos ao terraço com ameias, de onde se têm vistas magníficas, vislumbrando-se toda a cidade moderna e seus arredores.

Também no espaço interior do Castelo observam-se as ruínas de 2 torres, outrora levantadas a noroeste e a nordeste, que conservam ainda hoje vestígios de uma antiga residência de dois pisos, considerada por diversos autores como a alcáçova de D. Henrique e de D. Teresa, pais de D. Afonso Henriques. Os andares eram baixos e de reduzidas dimensões, com as paredes fixas na muralha. Desta antiga habitação, restam as várias janelas retangulares abertas no muro norte, uma grande chaminé de pedra e vestígios de uma outra, bem como os alicerces das paredes que fechavam o edifício na parte confinante com o recinto castelar.

 
Agradável é também o passeio que se dá à volta das suas muralhas, de onde se observa bem de perto o enquadramento paisagístico da Colina Sagrada, numa posição privilegiada, que acompanha todo o espaço em volta do Castelo.

À saída encaminhamo-nos para o Palácio Ducal, e no caminho de descida da Colina Sagrada, sobre a qual está implantado o Castelo, encontra-se a Capela de São Miguel do Castelo, uma pequena construção do séc. XII em estilo românico, onde segundo a lenda, terá sido batizado D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal. O interior desta capela é ladeado com sepulturas que se atribuem a guerreiros também ligados à fundação da nacionalidade.

 
Fonte: http://www.monumentos.pt/ http://www.oquevisitarem.com/ http://lazer.publico.pt/monumentos/

Guimarães - 2º Dia - Castelo de Guimarães - Parte II

Pela rua Dona Mafalda depressa se chega ao Castelo de Guimarães. Desde sempre presente nos livros de história de todos os portugueses, é obviamente de reconhecimento natural e familiar, mas perante a sua presença física, sente-se que ele exerce sobre nós uma enorme força que nos impele à reverência e ao deslumbramento.


 
Fortemente marcado pelos episódios históricos que deram origem a Portugal, o Castelo de Guimarães terá assistido também ao nascimento do primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques.
Segundo reza a história, a primeira estrutura militar construída em “Vimaranes”, (Guimarães) data provavelmente do séc. X, mandada edificar por, Mumadona Dias (viúva do conde de Tui, Ermegildo Gonçalves), que herdara do seu marido o governo das terras de Portucale. Esta estrutura defensiva tinha como finalidade a recolha da população em caso de ataque e a defesa do Mosteiro que, Mumadona, ali mandou edificar.

Este mosteiro viria a ser alvo de muitas doações de Mumadona Dias, nomeadamente terras, gado, rendas, objetos de culto e livros religiosos e também o próprio castelo, que na época não devia ser mais do que uma estrutura simples.
Estas terras foram doadas, por volta do ano de 1100, pelo rei Afonso VI de Leão e Castela, a D. Henrique da Borgonha, pelos serviços prestados na luta contra os árabes, dando-lhe também a sua filha natural e mais nova em casamento (D. Teresa de Leão, sua filha ilegítima com D. Ximena Moniz, uma nobre castelhana), formando assim o Condado Portucalense.
 
O Conde D. Henrique e sua esposa instalam-se então em “Vimaranes”, supondo-se que terão erguido um novo castelo, com uma Torre de Menagem e melhorado as estruturas defensivas à sua volta. A exígua moradia, cujos restos ainda se localizam no lado norte, terá sido, dada a sua reduzida dimensão, o lar condal dos pais do Conquistador.
Segundo consta foi ali que terá nascido D. Afonso Henriques, que mais tarde nele resistiu, já na sua luta pela independência, ao ataque das forças do rei Afonso VII, de Leão, em 1127, e no campo de S. Mamede, nas imediações da fortaleza, derrotou, no ano seguinte, as forças de D. Teresa, sua mãe.


É claro que a sua história não parou por aqui, mas o seu forte simbolismo reside e remonta sem sombra de dúvida, ao seu fundamental papel no início da nossa nacionalidade.
 
Assim, o Castelo de Guimarães, como muitos outros, conheceu no decurso dos séculos XVI a XIX, o influxo dos tempos e o desrespeito dos homens, até que o restauro levado a cabo há já algum tempo, logrou restituir às suas muralhas e torres, onde ainda se repercute o eco de épicas lutas, toda a sua grandiosidade e digno simbolismo, restituindo-lhe toda a sua severa e majestosa beleza.
 

Em volta deste belíssimo Castelo existe toda uma áurea de prestígio e honra, emoção e orgulho. A tudo isto há a acrescentar a beleza da paisagem à sua volta e a que se vislumbra do cimo da sua Torre de Menagem, não esquecendo a própria obra de arte feita de pedra, que é o próprio Castelo.


Fonte: Wikipédia.org / http://www.guiadacidade.pt/ http://castelosdeportugal.no.sapo.pt/ http://lazer.publico.pt/

 
 

Guimarães - 1º e 2º Dia - Campo da Feira e Igreja de S. Dâmaso - Parte I



A partida para Guimarães, a nossa histórica “Cidade Berço” foi realizada a meio da tarde. À chegada ao cair da noite e depois de uma volta de reconhecimento pela cidade, fomos logo a caminho do parque de estacionamento, muito usado por autocaravanas, designado por Campo da Feira e que nos serviu durante a nossa estadia na cidade, para a pernoita.

O parque de estacionamento, muito bem situado, embora em terra batida, é muito sossegado e fresco e proporcionou-nos uma belíssima estadia, a olhar durante a noite o iluminado Castelo de Guimarães, que se observa no topo oeste do parque. No topo este, encontra-se a peculiar Igreja de S. Dâmaso, e é rodeado pelas ruas de Dona Teresa (mãe de D. Afonso Henriques) e Dona Mafalda (esposa do nosso primeiro rei e por isso mesmo, primeira rainha de Portugal). Na rua de Dona Teresa observa-se um belo edifício brasonado e na rua Dona Mafalda, situada num nível superior ao parque, observam-se várias casas típicas de traça medieval, de dois pisos com planta retangular, varandas balaustradas e mísulas entalhadas, que são de enorme beleza, além de algumas casas solarengas, encontradas pouco antes de se chegar ao Castelo.

 
No dia seguinte fomos visitar Guimarães. Evocar ou visitar Guimarães é regressar às origens de Portugal, àquela que foi a capital do Condado Portucalense. É uma cidade que nunca renegou o seu passado, bem pelo contrário, fez questão de preservar o seu património de modo exemplar e por isso mesmo é sempre com orgulho que qualquer português a deve visitar.
 

À saída da autocaravana fomos logo visitar a Igreja de S. Dâmaso, não fosse fechar antes do nosso regresso. Por fora é de arquitetura lisa e modesta, com uma só torre sineira. Mas por dentro é belíssima e surpreendente. Possui altares laterais, na capela-mor um notável retábulo em talha dourada, obra do entalhador vimaranense Pedro Coelho e o teto é de caixotões. A nave é igualmente decorada com retábulos em estilo português de finais do séc. XVII e princípios do séc. XVIII.

 
Mas o que surpreende admiravelmente é a excelente combinação da talha dourada com os azulejos historiados que decoram o seu interior. Executados durante a primeira metade do séc. XVIII, contam-nos episódios da vida do Papa S. Dâmaso. A construção da Igreja de S. Dâmaso, principiou na primeira metade do séc. XVII e terminou apenas no século seguinte.

 
Da igreja seguimos em direção à Colina Sagrada onde esta situado o Castelo, caminhando pela estreita rua de Dona Mafalda, com um só passeio e piso em paralelepípedos. Nesta rua vêem-se nichos com altares sagrados, onde não faltam velas nem flores. À sexta-feira é invadida pelas bancas da feira semanal, mas para quem lá passa noutro dia qualquer, fica fascinado com a tranquilidade que o lugar oferece dada a proximidade com os monumentos emblemáticos da nossa nacionalidade.

 
Fonte: http://viajante-abreu.com/ http://www.guimaraesturismo.com/

Dá-me música para ver se eu gosto!...


"Critica o tolo, e ele te odiará, critica o sábio, e ele te amará."
 
Bíblia Sagrada

A Amizade e o Amor Segundo uma Lógica de Bazar

Desconfia-se do que é dado e pesa-se o que se recebe. A amizade e o amor parecem gerir-se, por vezes, segundo uma lógica de bazar. Já nem é considerado má-educação perguntar quanto é que uma prenda custou. Se esse preço é excessivo chega-se a dizer que não se pode aceitar. Recusar uma dádiva é como chamar interesseiro ao dador. É desconfiar que existe uma segunda intenção. De qualquer forma, só quem tem medo (ou corre o risco) de se vender pode pensar que alguém está a tentar comprá-lo. Quem dá de bom coração merece ser aceite de bom coração. A essência sentimental da dádiva é ultrajada pela frieza da avaliação.

A mania da equitatividade contamina os espíritos justos. É o caso das pessoas que, não desconfiando de uma dádiva, recusam-se a aceitar uma prenda que, pelo seu valor, não sejam capazes de retribuir. Esta atitude, apesar de ser nobre, acaba por ser igualmente destrutiva, pois supõe que existe, ou poderá vir a existir, uma expectativa de retribuição da parte de quem dá. Mas quem dá não dá para ser pago. Dá para ser recebido. Não dá como quem faz um depósito ou investimento. O valor de uma prenda não está na prenda - está na maneira como é prendada.
Hoje em dia, com a filosofia energumenóide e pseudojusta que impera, condensada no ditado ‹‹There is no such thing as a free lunch» é praticamente impossível oferecer um almoço a alguém. Todos os gestos de amor e de amizade são reduzidos ao valor de troca, a uma mera transação em que é tudo avaliado, registado, saldado, pago a meias e de um modo geral discutido e destruído até estar esvaziado de significado.

 Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

Primavera 2012 – Entre Douro e Minho

Nas férias da Pascoa resolvemos mais uma vez, passar uns dias no norte do país. A zona norte de Portugal é de montanhas e declives acentuados, coberta por vegetação frondosa, rios e parques naturais e por isso mesmo uma zona muito verde e fresca, que convida a passeios primaveris.

Com o granito das suas montanhas foram erguidas a maioria das casas, das aldeias, vilas e cidades, bem como os muitos monumentos, de fé e de história, da região. De fé, nas singelas ermidas românicas e templos barrocos; de história, os castelos – como o de Guimarães que foi berço do fundador (D. Afonso I) - ou mesmo os inúmeros solares e casas brasonadas, onde se recebem os visitantes na mais aristocrática hospitalidade.


Queríamos ir a Guimarães, o berço de Portugal, situada no Vale do Ave, que este ano se inaugurou Capital Europeia da Cultura; ao Satuário da Penha, onde o silêncio se ouve, as pedras falam e as fontes murmuram; à Citânia de Briteiros, um sítio arqueológico da Idade do Ferro, situado no alto do Monte de São Romão; a Amarante onde queríamos descansar nas margens do rio Tâmega; percorrer mais uma vez o Vale do Douro, onde corre o cenográfico rio com o mesmo nome, cujo vale vinhateiro é Património Mundial; à vila do Pinhão, situada na margem direita do rio Douro, onde se localizam as muitas quintas que produzem o vinho do Porto, para comprar vinho generoso branco do produtor; a S. João da Pesqueira, uma vila perdida nas serranias, considerada o Coração do Douro Vinhateiro, também um local de muita produção do vinho do Porto, e situada também na região demarcada do Douro, criada pelo Marquês de Pombal que viveu na Pesqueira quando era novo; e Torre de Moncorvo, uma pacata e linda vila situada já no sul do Nordeste Transmontano, perto da fronteira com Espanha, na confluência dos rios Sabor e Douro, onde se faz a famosa confeitaria manual das “amêndoas cobertas”, um dos ex-libris da região.

1º Dia – Casa; Guimarães;

2º Dia – Guimarães;

3º Dia – Guimarães; Satuário da Penha; Citânia de Briteiros; Amarante;

4º Dia – Amarante;

5º Dia – Amarante; Vale do Douro; Pinhão; Régua; S. João da Pesqueira;

6º Dia – S. João da Pesqueira; Torre de Moncorvo; Casa.

Fonte: Wikipédia.org / http://www.guiadacidade.pt/ http://www.visitportugal.com/

Porto - 7º Dia - Percurso Descoberta da Natureza - Parte III




Subindo para terrenos mais altos, deixamos o Vale do rio Febros. O percurso leva-nos até à instalação das raposas, animais preferencialmente carnívoros que apesar de abundantes no nosso território podem ser dificilmente observadas devido aos seus hábitos mais noturnos. Trata-se de um animal com elevada capacidade de adaptação podendo viver numa grande variedade de habitats, inclusivamente nos centros urbanos.


Depois segue-se o cercado das cabras-bravas que são de uma espécie semelhante à cabra do Gerês, provenientes de França. Em Portugal, a cabra-brava existiu até 1892, quando o último exemplar existente em estado selvagem foi abatido na serra do Gerês. No entanto parece que esta espécie voltou a ser vista nesta serra, tendo-se restabelecido uma população no lado espanhol. A domesticação das cabras ter-se-á iniciado no Irão, há mais de 9 mil anos e o seu antecessor terá sido a cabra-selvagem.


Em seguida observam-se os javalis, os antecessores do porco doméstico. A área de distribuição desta espécie encontra-se em expansão na Península Ibérica devido à alteração dos usos do solo bem como pela diminuição das populações dos seus predadores. Por outro lado, a atividade cinegética pode estar a ter um efeito limitante neste crescimento populacional. Nesta instalação podem observar-se três exemplares de javali: duas fêmeas e um macho, que se distingue com facilidade devido ao maior porte.
Em seguida observa-se a instalação para os corços. Os corços são os membros mais pequenos da família dos cervídeos europeus. Trata-se de um herbívoro cuja conformação corporal está adaptada ao salto. Em Portugal estão descritas duas áreas populacionais: a norte do Douro (populações selvagens) e a sul do Douro (populações reintroduzidas com fins cinegéticos). Os corços do Parque são de cativeiro, originários de França. Mesmo assim, são animais tímidos, pelo que, não havendo silêncio, será difícil vê-los.


Faz-se depois a chegada à Quinta do Bogas. À volta da Quinta do Bogas estão os burros, cavalos e vacas. Destas últimas, destaca-se a raça autóctone de bovinos Marinhoa, cujo solar se situa no distrito de Aveiro. Podem também ver-se burros e cavalos, ambos da família dos equídeos.
O burro doméstico teve origem em espécies selvagens dos desertos de África. Companheiro do homem há milhares de anos, tem capacidades de trabalho notáveis. Hoje, é uma espécie em rápida diminuição devido à mecanização da agricultura.


Os cavalos domésticos tiveram a sua origem numa população primitiva. Atualmente, em Portugal existe um cavalo que conserva ainda características primitivas. Estamos a falar do cavalo do Sorraia. O cavalo do Sorraia de origem portuguesa, é uma raça única no Mundo, redescoberta em 1920 por Ruy d'Andrade e cujos indícios remetem para a zona de confluência entre as ribeiras de Sor e da Raia (daí o seu nome), a Charneca de Coruche, onde haveria uma extensa população, popular entre criadores de gado e muito usado nos trabalhos do campo.


Bem perto dos cavalos também ali encontramos o bisonte-europeu, que originalmente viveu em toda a Europa tendo-se extinguido no estado selvagem em 1921 na floresta Bialowiesa, na Polónia. Salvou a espécie o facto de nessa altura haver 56 bisontes em parques e jardins zoológicos, o que permitiu a sua reprodução e o repovoamento em alguns dos seus habitats europeus. Ao contrário de Espanha, em Portugal, ainda não se encontraram provas que garantam a presença do bisonte-europeu no passado.


Desce-se depois para uma várzea e num altinho antes de chegarmos à receção do Parque Biológico de Gaia encontramos a Quinta do Chasco. A Quinta do Chasco, nome referido desde o séc. XV, e cujo último residente (1990) ainda era conhecido por esse nome. Foi a propriedade mais rica e importante desta zona.


Nas suas instalações podem encontrar-se mamíferos noturnos irrecuperáveis como é o caso das ginetas e fuinhas, bem como diurnos de que é exemplo o saca-rabos. É possível também observar algumas aves de rapina noturnas como as corujas, bufos e mochos, sendo que alguns destes, em estado selvagem, podem nidificar em ruínas.

No final da visita a partida para a viagem de volta a casa, que concluio estas breves férias de Natal.

Fonte: http://www.parquebiologico.pt/ http://www.infopedia.pt/Wikipédia.or

Porto - 7º Dia - Percurso Descoberta da Natureza - Parte II




Deixando a zona das instalações e colónias de aves e roedores, sobe-se em direção ao Biorama. O Biorama é composto por um complexo de exposições que reconstituem vários biomas – ou grandes comunidades ecológicas do nosso planeta - tais como a savana, as dunas, a floresta tropical e o ambiente no período mesozoico. Estas exposições fazem com que se fique a entender melhor a biodiversidade do nosso planeta e a fazer a distinção entre os vários biomas, por observação dos seus ambientes específicos com as espécies animais e vegetais que os preferem.

Descendo por um caminho alcatroado chega-se à colónia dos milhafres. Embora parecidos, há duas espécies de milhafres: o milhano e o milhafre-preto. O primeiro pode ser observado com mais frequência em planaltos da Beira interior. É residente e nidifica em árvores. Distingue-se do milhafre-preto e das outras aves de rapina diurnas pela cauda, grande e bifurcada. O segundo vive perto de cursos de água e zonas húmidas e é particularmente abundante nas bacias hidrográficas dos rios Tejo e Mondego. É migrador e visita Portugal durante o Verão, nidificando também em árvores.


É perto dos milhafres que durante algum tempo ficamos abrigados da chuva intensa e há espera que esta passasse. Quando a chuvada parou seguimos descendo sempre até à Quinta de Santo Tusso, um lugar calmo e muito bonito onde podemos observar vários animais domésticos, sendo de destacar as raças autóctones de galinha preta, galinha pedrês, o pombo mariola e o porco bísaro, que ali vi pela primeira vez.

Na Quinta de Santo Tusso também podemos observar os típicos campos de cultivo e hortas à volta do casario da quinta. No tempo certo, recebem as sementeiras, como a do milho, e o espigueiro e a eira são palco da desfolhada das espigas, uma atividade outonal que ali é aberta ao público.

Na realidade a Quinta de Santo Tusso, ou do Casalinho, é uma das mais antigas propriedades agrícolas desta região, que o Parque Biológico continua a manter em exploração, desde que foi adquirida.

Caminhando a partir da Quinta de Santo Tusso, até à Ponte sobre o rio, chegamos ao Moinho do Belmiro, na margem do rio Febros, que foi outrora um dos grandes produtores de moagem noutros tempos. A moagem de cereais era uma atividade muito importante no rio Febros, mas nos dias de hoje, poucos moinhos restam em funcionamento, "vítimas" da concorrência das moagens industriais. Este moinho de água foi recuperado em 1991 para mostrar como viviam os antigos moleiros e lavradores.

Fonte: http://www.parquebiologico.pt/ http://www.infopedia.pt/