Greve aos Exames



A escola pública de qualidade é mais importante que a data de um exame

Quando alguém diz “Eu sou a favor das greves…” segue-se, em geral, uma adversativa que precede a explicação por que, desta vez, nesta data, neste sector e nestas circunstâncias, a greve é socialmente injusta, moralmente ilegítima, tacticamente errada ou políticamente contraproducente. As razões por que não se deve fazer greve desta vez variam em género, em grau e em combinatória, mas o resultado é sempre o mesmo: a greve é um direito inalienável dos trabalhadores consagrado na Constituição da República Portuguesa, mas, na opinião das pessoas que assim falam, deve ser usada apenas quando não possui absolutamente inconveniente nenhum para ninguém.

Ora a greve não pretende ser uma arma inócua. A greve é uma arma de último recurso, que se usa quando os trabalhadores consideram que está em causa a defesa de direitos importantes – seus ou da sociedade em geral – e quando já falharam as negociações. Se as negociações são o momento da racionalidade e da discussão, de pesar ganhos e perdas, de avaliar vantagens e inconvenientes de um lado e de outro, a greve é o momento da força. A greve não é um recurso retórico. A greve é uma arma que se usa numa situação de conflito e visa prejudicar o adversário, enfraquecer a sua posição e, acima de tudo, mostrar a força que o lado em greve possui, para regressar de novo à mesa das negociações e para conseguir chegar a um acordo que satisfaça as partes. A greve pretende sempre ser uma chamada à realidade do outro lado – que, frequentemente, pensa que pode dispensar os trabalhadores e impor unilateralmente as condições que lhe convêm. Há uma razão prática que limita o recurso à greve e que a torna, de facto, uma arma de uso excepcional: os trabalhadores que fazem greve perdem o salário correspondente, o que, principalmente em época de crise, não é algo que se aceite levianamente.

O argumento de que a greve dos professores vai prejudicar os alunos e, por isso, não deve ser feita, é tão pueril como dizer que as greves de transportes não devem ser feitas porque prejudicam os passageiros e as greves de recolha do lixo não devem ser feitas porque prejudicam os moradores. As greves prejudicam sempre alguém. É evidente que os grevistas têm de pesar os prejuízos que causam em relação às causas que defendem e aos benefícios que esperam. Não é aceitável que uma greve de trabalhadores da saúde se salde por uma única morte que seja. Mas considera-se que um certo grau de desconforto momentâneo da população é um preço aceitável a pagar pelo direito a defender os nossos direitos. E são “os nossos direitos” porque a greve não é algo que apenas os outros façam. A greve é uma ferramenta que todos temos na mão.

É evidente que podemos ter opiniões diferentes sobre a justeza de uma dada greve, mas são raros os que acham que os professores não têm, no caso vertente, razão suficiente de protesto, perante a tentativa de industrializar uma escola pública de baixo nível para os pobres e proletarizar os professores. O prejuízo dos alunos? Essa é a arma da greve. Nenhum professor deseja ou aceita que um aluno seja seriamente prejudicado pela greve – além do incómodo decorrente de, eventualmente, repetir o exame – mas essa é uma preocupação que, agora, o Governo deve assumir. Havendo greve, tem de ser dada possibilidade aos alunos de realizar exames noutras ocasiões, de forma a não os prejudicar. Vai ser uma grande confusão? Provavelmente. Mas essa é, mais uma vez, a arma da greve. Essa é a pressão da greve e, se não aceitarmos que uma greve possa dar origem a estas formas de pressão, isso significa que não aceitamos o direito à greve. Nem o dos outros, nem o nosso. Significa que, sejam quais forem as condições que nos imponham no nosso trabalho, achamos que não devemos ter o direito de parar de trabalhar.

É evidente que existem nas greves em geral, e também nesta, coisas irritantes. Além de alguma imaginação nos protestos, teria gostado de ver no centro das intervenções dos professores a defesa da escola pública, a defesa da qualidade do ensino e a defesa dos direitos dos jovens (incluindo daqueles que deviam ser alunos e não o são) em vez de quase exclusivamente os direitos dos professores – por muito que estes sejam de prezar. Não é apenas um erro retórico: é um erro político de consequências sérias. Seria importante aproveitar este momento para explicar de que forma todas as medidas deste Governo põem em causa a escola pública inclusiva e de qualidade que tem sido construída nas últimas décadas. Mas os sindicatos dos professores estão demasiado centrados numa defesa estreita dos direitos dos seus associados. É um erro político porque facilita à direita o uso da retórica dos “privilégios” e da “resistência à mudança”. É um erro político quando a greve e o “prejuízo dos alunos” tornam fácil a acusação de “egoísmo” àqueles que são o principal esteio da escola pública e os principais autores dos seus êxitos – que existem e seria bom lembrar nestes dias de greve.

José Vítor Malheiros, in Jornal o PÚBLICO de 11 de junho de 2013



Fonte: http://www.leituras.eu/?p=6537&utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+As-Minhas-Leituras+(As+Minhas+Leituras)

Ver também: Eixo do Mal » Eixo do Mal SIC Noticias Programa do Dia 15-06-2013 (http://www.videosbacanas.com/eixo-do-mal-sic-noticias-programa-do-dia-15-06-2013/)

Portugal, Europa, Japão, Universo e o Futuro…


“Uma das maiores posses que uma pessoa pode sofrer, é estar possuída por si própria. Possuída pela ideia que tem de si mesma, que pode ser errada. Por isso é bom experimentarmo-nos, quando nos julgamos muito hábeis ou muito inábeis, pois podemos estar enganados. Ao recebermos uma ordem e cumprindo-a, verificamos se eramos hábeis ou menos inábeis do que pensávamos."
Agostinho da Silva


Qual dos dois és tu, a intuição ou ego,
Aquele que te vê ou o que é cego,
O que está seco ou aquele que rego,
O que é distante ou que vive do apego.


Serão tudo, no caminho que vos delego,
Serás o rio, apesar de hoje seres um rego,
Quando fores tudo, o nada vos entrego,
És o vaso da semente, o seu aconchego.


Coloca a semente na terra, não esperes flor,
Vem a seu tempo, quando regada com amor,
Explode de beleza, o sorriso a nossa cor,
Sorri, confia em ti e cresce, pára de ser actor.


Até podes ser muito elogiado pelo director,
Dificilmente te libertas pois não és o narrador,
Na sociedade és notável, mas não és senhor,
Faz as tuas escolhas, sem olhar o retrovisor.

Bruno Dias
 
Esta entrevista de mais uma das "Conversas Vadias", junta dois grandes comunicadores, o Prof. Agostinho da Silva e o jornalista Joaquim Letria.


Estas são algumas das mais significativas perguntas e respostas desta entrevista:
JL: "Nós demos mundos ao mundo (...) demos matéria-prima ao mundo, demos força de trabalho à Europa e aqueles que transformam essa matéria-prima, ajudámos a construir a riqueza dessa Europa. O que é que acha que no futuro (...) vamos dar o quê ao mundo?"
AS: "Vamos dar ao mundo aquilo que de melhor temos. (...) ver o mundo tal qual ele é."
"Quando falo de Europa não me refiro só aquela que vai até aos Urais. Estou-me referindo também aos Estados Unidos que é aquela Europa que vai até ao Atlântico e também referindo à classe industrial japonesa que é uma Europa instalada no Japão, tendo aproveitado do Japão a capacidade japonesa de obedecer. Porque o ideal deles é ser o menos possível, que é a coisa perfeita para entrar numa companhia."

"No Japão havia essa esquizofrenia: metade do dia eram americanos trabalhando como americanos, a outra metade do dia era japoneses trabalhando menos do que ninguém.

JL: "Mas também são eles que mais preocupação têm com o lazer?"
AS: "Pois claro, porque eles sabem perfeitamente - porque são budistas - que a coisa vai nesse sentido. E foi por isso que não seu precisamente o ajustamento da pregação dos magníficos jesuítas portugueses que foram para lá e a gente japonesa. Os japoneses se converteriam todos ao mesmo tempo ao cristianismo se os jesuítas os deixassem ser ao mesmo tempo budista e xintu, tudo junto."

JL: "Nós estamos perante um grande parêntese da História. Temos um passado com referências seguras e certas e à frente um futuro que não sabemos o que é que vai ser. (...) Fala-se do Fim da História. O que vem aí?"
AS: "Quando digo que o Futuro será de tal maneira, estou apenas a dar a ideia de um Presente melhorado ao máximo que eu posso imaginar. Mas nada que seja assim o Futuro. Uma coisa que hoje se pode dar como filosofia do Universo é de que há não só aquilo que nós entendemos dele, mas outras muitas maneiras de o entender. É curiosíssimo que se nós juntarmos as duas palavras com que podemos designar um certo objeto das nossas atenções podemos chamar ou Universo ou Mundo. Num Universo, a palavra indica que todas as coisas estão ali juntas, é dos vários lados um movimento para o centro, para o Universo. E Mundo, que todos tomamos como substantivo é efetivamente um adjetivo. Mundo significa "limpo". Camões fala nas "mundas almas", as almas que podem ir para o Paraíso Eterno, as "almas limpas". Então o que é o Mundo diferente do Universo? O Mundo chamamos nós áquilo que entendemos do Universo. Como se considerássemos o outro exatamente o antónimo da palavra Mundo, isto é, Imundo."

"Talvez a certa altura surja no mundo alguma coisa de diferente e que se possa rir das ideias que nós tivemos do Futuro."
"Ver o Futuro, não como uma coisa que muita gente vê como impossível de realizar, mas como uma coisa possibilíssima de ultrapassar de tal maneira que nós nem a pudéssemos entender. Há maneiras variadíssimas de ver o mundo. Há coisas por exemplo na matemática que estão fora da nossa dimensão real.
 

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=KhEQp-KtAi0http://sitedepoesias.com/poesias/36379

 

Um Pálido Ponto Azul


A famosa fotografia tirada da missão Apollo 8, que mostra a Terra acima da Lua, forçou os humanos a olharem a Terra como apenas uma ínfima parte do Universo.

No espírito desta realização, Carl Sagan pediu para que na Voyager, fosse tirada uma fotografia da Terra de um ponto favorável, quando esta se encontrasse nos confins do Sistema Solar.

A imagem da Terra que retornou da Voyager, a 6.4 bilhões de quilómetros de distância, mostrava o nosso planeta como um "pálido ponto azul".



Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=tRjVDOgGJ8Y; http://www.youtube.com/watch?v=PojCw8natEU

Mértola - 1º e 2º Dia - Parte I



A partida a caminho de Mértola foi realizada a uma sexta-feira ao final da tarde e a chegada pelas 21:30 ainda encontrou a cidade bastante animada.

A vila à chegada iluminada e colocada num anfiteatro, trepando pela encosta de um morro acima e virada ao rio Guadiana, é uma visão já de si suficientemente marcante e arrebatadora para qualquer viandante que por ali passe.

No entanto, naquele dia ouvia-se propagado pelo vento, um belo som de música islâmica que lhe dava uma aura verdadeiramente mourisca, que se confirma de forma absoluta à aproximação, com o seu casario branco e ruas estreitas, quando se entra na cidade.

Como já era noite e a cidade se encontrava cheia de gente, fomos logo procurar lugar para a pernoita, seguindo para um parque junto ao rio e do antigo cais, que estava infelizmente ocupado por um palco de onde provinha a música islâmica que se ouvia à chegada.

Daquele lado observavam-se bem conservados, os restos da muralha da antiga "Mirtolah” muçulmana ocupada pelos mouros durante vários séculos, que com a música a condizer fazia o todo, para o imaginário concreto daquelas épocas passadas.

Depois de alguma procura optou-se por ficar dentro da cidade, encontrando-se com alguma sorte um lugar num pequeno parque de estacionamento, situado numa espécie de varanda com vista para o morro onde se encontra a pequena Capela de Nossa Senhora das Neves e junto do Quartel dos Bombeiros de Mértola.

Nestes dias decorriam as festividades relativas ao Festival Islâmico de Mértola, que nós queríamos testemunhar. A Mértola islâmica dos dias do Festival enche-se de uma mistura de sonoridades de cá e de lá, do outro lado do mediterrâneo, pois dali vêm não só muitos animadores, mas também muitos comerciantes que ali também vêm vender os seus produtos artesanais.

A música por estes dias impõe-se ouvindo-se acordes de alaúdes e o batuque das darbukas. As noites do festival são um claro convite à descoberta de novos sons: no cais, no castelo, na praça ou em vários recantos da vila, as noites são feitas de mais música, de música nova, cheia de ritmos ora fulgurantes ora mais intimistas, de artistas que ali vêm de todo o mundo árabe.

Pela música se enaltece, ali, uma comunidade recetiva à diferença, à descoberta, à experimentação, ao diálogo e ao salutar convívio entre todos os que para ali vêm e que interagem com os simpáticos e acolhedores habitantes de Mértola.

Fontes: http://www.festivalislamicodemertola.com/ http://www.radiopax.com/

Ao meu sogro, um amigo que partiu


 
"Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova quando
chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de
grandes chuvas e das recordações da infância.
Preciso de um amigo para não enlouquecer, para contar o que vi de belo e triste
durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças d´água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim. Preciso de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já tenho um amigo.
Preciso de um amigo para parar de chorar. Para não viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas.
Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que me chame de amigo, para que eu tenha a consciência de que ainda vivo"
Vinícius de Moraes


Fonte: http://pensador.uol.com.br/frase/NDAyNTkx/


O Ego e a Paz



Liberte-se do Eu – 3ª Palestra

A educação foi sempre uma das preocupações de Jiddu Krishnamurti. Fundou várias escolas em diferentes partes do mundo onde crianças, jovens e adultos pudessem aprender juntos a viver um quotidiano de compreensão da sua relação com o mundo e com os outros seres humanos, de descondicionamento e de florescimento interior.

Jiddu Krishnamurti durante grande parte da sua vida, rejeitou insistentemente o estatuto de guia espiritual que alguns lhe tentaram atribuir, mas continuou sempre a atrair grandes audiências por todo o mundo, recusando sempre qualquer autoridade, não aceitando discípulos e falando sempre de modo direto aos interlocutores. 

O cerne do seu ensinamento consiste na afirmação de que é necessária e urgente uma mudança fundamental da sociedade, que só pode acontecer através da transformação da consciência individual.

A necessidade do autoconhecimento e da compreensão das influências restritivas e separativas das religiões organizadas, dos nacionalismos e de outros condicionamentos, foram por ele constantemente realçadas.

As suas palestras e escritos não se ligam a nenhuma religião específica, nem pertencem ao Oriente ou ao Ocidente, mas sim ao Mundo na sua globalidade:

"Afirmo que a Verdade é uma terra sem caminho. O homem não pode atingi-la por intermédio de nenhuma organização, de nenhum credo () Tem de encontrá-la através do espelho do relacionamento, através da compreensão dos conteúdos da sua própria mente, através da observação. ()".

Durante a sua vida, viajou por todo o mundo para falar às pessoas, tendo falecido em 1986, com a idade de noventa anos. As suas palestras e diálogos, diários e outros escritos estão reunidos em mais de sessenta livros.




Fontes: http://www.youtube.com/watch?v=RPrPmIcNTGY; http://www.youtube.com/watch?v=VgiPuSLjsSg

Confronto, declínio ou colapso civilizacional


O tempo acaba sempre por levar os grandes projectos e organizações humanas, incluindo as civilizações, ao seu fim.

As civilizações são sistemas adaptativos complexos que funcionam em equilíbrio instável à beira do caos. Colónias de abelhas e formigas, ecossistemas, o cérebro, a Internet, o mercado de acções e os partidos políticos são também sistemas adaptativos complexos, caracterizados por uma rede dinâmica de interacções em que os comportamentos individuais e colectivos dos componentes se auto-organizam e adaptam às condições internas e externas.

As civilizações são também sistemas caóticos porque uma muito pequena perturbação pode, por vezes, conduzir a alterações profundas, praticamente impossíveis de prever. Partilham o “efeito borboleta”, definido pelo matemático e meteorologista Edward Lorenz quando formulou a pergunta: será que o bater de asas de uma borboleta no Brasil pode conduzir a um tornado no Texas?

O bater de asas constitui uma parte das condições iniciais da atmosfera que, por meio de uma cadeia de eventos, pode gerar fenómenos de larga escala. Um sistema é caótico se o seu comportamento for teoricamente previsível mas praticamente imprevisível para intervalos de tempo que não sejam muito curtos, devido a uma grande sensibilidade nas condições iniciais.

A história das civilizações, das suas origens, evoluções e interacções é o reflexo da imensa complexidade e capacidade de adaptação dos sistemas humanos e naturais. Recuemos até ao final da Idade Média para tentar interpretar o presente.

No início do século XV, a China sob a dinastia Ming tinha a civilização mais evoluída do mundo, capaz de assegurar relativamente maior bem-estar a uma parte significativa da sua população. A partir dessa época as posições relativas da Europa e da China inverteram-se, devido, essencialmente, ao desenvolvimento gerado pela competição, por vezes feroz, entre os Estados-nação europeus, à descoberta do método científico, à medicina moderna, à revolução industrial, à democracia representativa, ao direito de propriedade, à legislação laboral e à sociedade de consumo.

Passados cerca de 500 anos, nos finais do século XIX, os países ocidentais exibiam uma espectacular superioridade militar, económica, social e política, liderada pela Grã-Bretanha. As grandes nações asiáticas interrogavam-se sobre este enorme sucesso civilizacional e iniciavam um processo de descoberta, análise e cópia dos elementos culturais e institucionais que o determinavam.

O primeiro país a entrar por esta via foi o Japão. Durante o reinado do Imperador Meiji, de 1868 a 1912, o Japão copiou tudo, desde o vestuário à democracia e ao hábito ocidental de conquista e expansão territorial, que começou a praticar com a Primeira Guerra Sino-Japonesa de 1894-1895.
Seguiram-se os dois gigantes da Ásia, China e Índia, com ritmos e ênfases diferentes na transposição dos elementos-chave culturais, sociais, políticos e económicos do Ocidente. Na China, privilegiou-se a ciência e a tecnologia, a sociedade de consumo e a legislação laboral e rejeitou-se a democracia. Contudo, o sucesso económico foi extraordinário, sem equivalente na História. O PIB cresceu por um factor de 10 em 26 anos, enquanto a Grã-Bretanha levou 70 anos a crescer por um factor de 4 a partir de 1830.

A América Latina e a África evoluem no mesmo sentido. Caminhamos para uma civilização globalizante com modulações culturais, políticas e religiosas e diferenças de fase a nível regional e nacional. Será possível continuar a aplicar este modelo de civilização ocidental a todos os países do mundo até se atingirem os níveis de consumo e bem-estar médios dos actuais países da OCDE? Haverá recursos naturais suficientes para atingir este objectivo num contexto de uma população global que continua a crescer vigorosamente? Creio que não.

Entretanto, o historiador Samuel Huntingdon adverte-nos que a política global do século XXI será dominada pelo confronto de civilizações e que as suas linhas de fractura serão as frentes de batalha do futuro. Não restam dúvidas de que os EUA e a China se enredam numa rivalidade crescente que poderá gerar um conflito armado mas, actualmente, ambos integram a mesma civilização global.

As elites dos EUA vivem num permanente pesadelo de a supremacia económica mundial passar para a China, provavelmente já em 2020, e analisam até à exaustão tudo o que poderá fazer descarrilar a sua ascensão explosiva.

Simultaneamente, há no Ocidente sinais claros de declínio civilizacional. A crise financeira e económica de 2008-2009 nasceu no cerne do Ocidente, nos EUA, e deve-se, essencialmente, à desregulamentação dos mercados financeiros, alimentada por uma ganância ferina e implacável e à crescente escassez e consequente aumento de preços de alguns recursos naturais provocada pela gigantesca procura nos países com economias emergentes, em especial a China.

No que respeita ao primeiro factor, a situação actual caracteriza-se por uma grande incapacidade política para recuperar da crise, especialmente na União Europeia, que começa a dar sinais de desagregação. Curiosamente são os EUA e o Japão, com fortes políticas monetárias expansivas, que estão a ter algum sucesso na recuperação do crescimento económico, enquanto no continente onde nasceu a civilização ocidental, a UE, agora comandada pela Alemanha, segue uma política de austeridade que a está a levar para um declínio ainda maior.

No que respeita ao segundo factor, ele afecta todos os países do mundo e resulta da aplicação global da civilização que nasceu no Ocidente. Na China, há também uma forma de declínio civilizacional, mas de natureza diferente, porque resulta da progressiva e dramática poluição do ar, da água e dos solos provocada por um uso insustentável dos recursos naturais. Como exemplo, note-se que se estima em 1,2 milhões o número de pessoas que morreram prematuramente na China no ano de 2010 devido à poluição do ar.

Paul Ehrlich, o conhecido biólogo norte-americano, vai mais longe num artigo recente intitulado “Poder-se-á evitar o colapso da civilização global?” De acordo com Ehrlich, as razões do colapso seriam de natureza ambiental associadas principalmente às alterações climáticas, à crescente escassez de água e de outros recursos naturais, à perda de biodiversidade e a uma poluição galopante do ar, da água e dos solos em algumas regiões do mundo.

Há vários exemplos na História de colapsos, ou seja, de situações de grande perda da complexidade social, política e económica, acompanhada por uma dramática diminuição da população, em que a degradação ambiental desempenhou um papel importante, tais como a Suméria, os maias e a população isolada da Ilha da Páscoa. Há também exemplos de grande resiliência civilizacional, sendo os mais notáveis o Egipto e a China, que foram capazes de repetidamente recuperar e reflorescer. A diferença no futuro é que o colapso seria de natureza globalizante.

Estou convicto de que mergulhámos num declínio civilizacional global com características circunstanciais diversas no Ocidente e nos outros países. Creio ser possível, mas difícil, de o inverter mediante uma transição civilizacional, mas estamos muito longe do colapso. Penso sobretudo que estão a nascer novas gerações, cerca de 353 mil pessoas por dia, com a capacidade de adaptação, a consciência, a vontade e a inteligência que têm caracterizado o Homo sapiens. Temos de fazer florescer a nossa esperança.


Filipe Duarte Santos, in Jornal o Público de 31/05/2013

Filipe Duarte Santos é professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e autor de vários trabalhos sobre alterações climáticas em Portugal e no mundo.

Oceanos

Hoje dia 8 de junho é Dia Mundial dos Oceanos. A celebração dos Oceanos teve origem na Conferência da ONU sobre Ambiente e Desenvolvimento, que se realizou na cidade brasileira do Rio de Janeiro em 1992.

Vários países celebram a data, mostrando a importância dos oceanos no clima e como elemento essencial da biosfera.

A importância dos oceanos para a preservação das espécies e da biosfera são alguns dos factos destacados pelas Nações Unidas, que escolhe todos os anos um tema central para o debate de novas ideias e projetos de preservação e proteção dos oceanos.

Este documentário é uma delícia. Neste dia nada como vermos e ouvirmos a mensagem nele transmitida. Boa visualização e audição.




Fonte: http://www.calendarr.com/; https://www.youtube.com/watch?v=ezStRkLXxPM

Humildade


“Meus pais não eram cientistas. Eles não sabiam quase nada sobre Ciência. Mas ao motivarem-me simultaneamente para o ceticismo e para o saber, ensinaram-me os dois modos de pensamento coexistentes e essenciais para o método científico.”

Carl Sagan


Carl Sagan foi durante toda a sua vida um grande defensor do ceticismo e do uso do método científico, promovendo a busca por inteligência extraterrestre através do projeto SETI, instituindo o envio de mensagens a bordo de sondas espaciais, destinados a informar possíveis civilizações extraterrestres sobre a existência humana, na Terra e na Galáxia Via Láctea.

Mediante as suas observações da atmosfera de Vénus, foi um dos primeiros cientistas a estudar o efeito estufa em escala planetária. Também fundou a organização não-governamental Sociedade Planetária e foi pioneiro no ramo da ciência exobiologia.

Mas Sagan é também considerado um dos divulgadores científicos mais carismáticos e influentes da história, graças à sua capacidade de transmitir as ideias científicas e os aspetos culturais ao público não especializado.

Este vídeo é uma prova disso!...



Fontes: http://obiroska.blogspot.pt/2013/03/carl-sagan-video-humility-humildade.html; https://www.youtube.com/watch?v=HRlQ1_KRCCw

Fim de Semana de Primavera no Baixo Alentejo

 
O fim de semana de 17, 18 e 19 de maio levou-nos até ao Baixo Alentejo. O Alentejo é sempre uma boa escolha, mesmo quando não se tenha um interesse particular. No entanto desta feita foi um evento especial que nos levou até lá.

Queríamos ir ver como se faziam feiras na da antiga "Mirtolah muçulmana", que naquele final de semana iria tentar recriar-se mais uma vez em Mértola. Mas nela queríamos ainda encontrar arqueologia, história e natureza.
Queríamos ir até à vizinha e antiga Mina de São Domingos, um local sossegado e singular, com uma belíssima praia fluvial, e que outrora foi uma pobre povoação que cresceu à volta de uma importante mina de exploração de cobre.
E finalmente, também queríamos ir até a um lugar com vistas fantásticas, que se enquadram num cenário de sonho, em pleno Parque Natural do rio Guadiana, onde a natureza inspira qualquer caminheiro, pelas suas formas bem talhadas, pela forte corrente do rio, pelo ribombar de uma queda de água, no lugar do Pulo do Lobo.
Neste final de semana o itinerário para ir e voltar foi:

1º Dia – Casa; Mértola;

2º Dia – Mértola; Minas de São Domingos;

3º Dia – Minas de São Domingos; Pulo do Lobo; Casa.

Fontes: http://www.sal.pt/default.htm ; http://www.visitalentejo.pt/; http://www.avesdeportugal.info/sitminasaodoming.html