No presente momento estão cada
vez mais na moda as redes sociais, disso ninguém duvida. Os nossos jovens e até
muitos adultos estão encantados com elas e confessam já não conseguir viver sem
as mesmas, e quando nos perguntam pelo contacto a elas relativo e alguém lhes
responde que não tem, a resposta invariável é, epá isso é já ser antissocial!
Pois é, antissocial é também uma
palavra cada vez mais na moda. Mas quando se pesquisa sobre a mesma, invariavelmente
os estudos apontam sempre para uma perturbação da personalidade, que
infelizmente parece ser uma doença cada vez mais frequente nas sociedades na
nossa época.
O comportamento antissocial é caracterizado pelo desprezo ou
transgressão das normas da sociedade, frequentemente associado a um
comportamento ilegal. 1
Ter comportamentos antissociais em algum momento não indica
necessariamente um transtorno de personalidade antissocial (também conhecido
como psicopatia ou sociopatia). Indivíduos antissociais frequentemente ignoram
a possibilidade de estar afetando negativamente outras pessoas, por falta de empatia
com o sofrimento de outras. Exemplos de comportamentos antissociais incluem
desde crimes sérios como homicídio, piromania, furto, vandalismo e a infrações
mais leves como críticas cruéis, sadismo, desrespeito pela privacidade alheia ou até
dizer muitos palavrões. 1
Assim
sendo, na base do transtorno da conduta antissocial está a tendência permanente
para apresentar comportamentos que incomodam e perturbam os outros, além do
envolvimento em atividades perigosas e até mesmo ilegais. Essas pessoas não
aparentam sofrimento psíquico ou constrangimento com as suas próprias atitudes
e não se importam de ferir os sentimentos das outras pessoas ou desrespeitar os
seus direitos. 2
Portanto,
o seu comportamento apresenta maior impacto nos outros do que em si mesmos. Os
comportamentos antissociais tendem a persistir de forma indeterminada,
parecendo faltar a capacidade de aprender com as consequências negativas dos
próprios atos.
O
quadro clínico do transtorno da conduta é caracterizado por comportamento antissocial
persistente, com violação de normas sociais ou direitos individuais.
Nos
critérios diagnósticos para transtorno da conduta que incluem 15 possibilidades
de comportamento antissocial, temos como mais vulgares, (1) a atitude cada vez
mais comum de frequentemente perseguir, atormentar, ameaçar ou tentar intimidar
os outros e de (2) mentir e enganar para obter mais adeptos para as suas
causas, ou ganhos materiais ou favores ou mesmo fugir de obrigações e
responsabilidades.
Os
comportamentos antissociais de maior gravidade e a partir da infância ou
adolescência até à fase adulta são: 1) arrombou ou invadiu casa, prédio ou
carro; (2) foi cruel com os animais, ferindo-os fisicamente; (3) foi cruel com
as pessoas, ferindo-as fisicamente; (4) frequentemente inicia lutas corporais;
(5) já usou armas que podem causar ferimentos graves (pau, pedra, caco de
vidro, faca, revólver); (6) roubou ou assaltou, confrontando a vítima; (7)
submeteu alguém a atividade sexual forçada; (8) iniciou incêndio
deliberadamente com a intenção de provocar sérios danos; (9) destruiu
propriedade alheia deliberadamente (não pelo fogo); (10) furtou objetos de
valor; (11) frequentemente passa a noite fora, apesar da proibição dos pais
(início antes dos 13 anos); (12) fugiu de casa pelo menos duas vezes, passando
a noite fora, enquanto morava com os pais ou pais substitutos (ou fugiu de casa
uma vez, ausentando-se por um longo período); e (13) falta na escola sem
motivo, matando aulas frequentemente (início antes dos 15 anos).
Fatores
individuais, familiares e sociais estão implicados no desenvolvimento e na
persistência do comportamento antissocial, interagindo de forma complexa e
ainda pouco esclarecida. 3
Está
provado que as crianças e adolescentes com comportamento antissocial tendem a
permanecer antissociais na idade adulta, e adultos antissociais tendem a ter
filhos com comportamento antissocial (os pais servem de modelo aos filhos),
estabelecendo-se assim um ciclo de difícil interrupção.4
O termo antissocial também é
aplicado no senso comum a pessoas com aversão ao convívio social,
introvertidas, tímidas ou reservadas (e que não é sinónimo do termo
"antissocial" referente à psiquiatria), para estes o mais correto
nesses casos é o termo misantropia. Clinicamente, antissocial aplica-se a
atitudes contrárias e prejudiciais à sociedade e não a inibições ou
preferências pessoais.1
A misantropia costuma aparecer
desde logo durante a infância em crianças tímidas, introvertidas e caladas que
têm dificuldades em fazer amigos, nomeadamente na escola, preferindo muitas
vezes ficarem sozinhas. Com o passar dos anos, tendem a ser bastante
sarcásticos/irónicos nas observações que fazem (pode-se dizer que em parte a
grande timidez é disfarçada por estas duas características) - têm uma interpretação
muito própria de tudo aquilo que vêm e de tudo aquilo que lhes é dito pelas
outras pessoas, sendo bastante observadores e atentos ao que os rodeia embora,
muitas vezes, não o pareça. Um fato notável é que são muito inteligentes e
tendem a resolver desafios e enigmas com muita facilidade, já que vivem de um
raciocínio puramente lógico, embora não deixem perceber isso.5
2. Earls F.
Oppositional-defiant and conduct disorders. In: Rutter M, Taylor E, Hersov LA,
editors. Child and adolescent psychiatry: modern approaches. Oxford: Blackwell
Scientific Publications; 1994. p. 308-29.
3.
American Psychiatric Association (APA). Diagnostic and
statistical manual of mental disorders. 4th
ed. Washington (DC): APA; 1994.
4.
Farrington DP. The twelfth Jack Tizard memorial
lecture ¾ The development of offending and antisocial behaviour
from childhood: key findings from the Cambridge study in delinquent
development. J Child Psychol Psychiatry
1995;360(6):929-64.
5. http://pt.wikipedia.org/wiki/Misantropia
Ver mais em: