Lute e seja Feliz!



É necessário combater quem deixa o país a saque. É urgente fazer a rutura com este caminho! Estas foram as frases com que acordei hoje, lidas na capa da revista da FENPROF, ainda dentro do plástico, em cima da minha mesa-de-cabeceira.
Lendo as notícias da manhã, na internet sobre o dia de ontem, quase todas referem as manifestações contra a austeridade em Portugal e Espanha.
Nas páginas do iInformação (www.ionline.pt), uma das responsáveis pelas manifestações de sábado, dia 13 de outubro, diz-nos que, “No seguimento das manifestações de 15 de setembro, a cultura resolveu também manifestar-se num projeto multicultural que irá reunir a cultura nas suas várias vertentes, desde a representação, música e artes plásticas”. “Com este protesto, os artistas pretendem “dar a cara através da arte”, uma vez que a cultura é importante para a identidade de um país.
No Público com título Manifestações anti-troika em mais de 30 cidades em Portugal”, refere que o protesto teve origem num apelo, divulgado a 27 de Agosto, por um grupo de perto de 30 pessoas de várias áreas de intervenção e quadrantes políticos, contra as políticas da troika, que acusam de promover “o desemprego, a precariedade e a desigualdade como modo de vida”.
Diário de Noticias refere que os “Manifestantes que permaneceram até ao final do protesto convocado para sábado para a Praça de Espanha, em Lisboa, asseguram que, embora nunca tenham estado "a dormir", "acordaram" para "dizer não à 'troika'". Recorda ainda o emotivo momento simbólico em que o poema cantado "Acordai", de Fernando Lopes Graça, foi interpretado por um coro em seis línguas, dizendo “A canção foi entoada em grego (enquanto uma bandeira da Grécia esvoaçava entre a assistência), espanhol, italiano, alemão, inglês e francês, e posteriormente cantada em português.
Refere ainda a participação do grupo Deolinda, que apelou para estarmos "presentes, ativos e vigilantes" e para as pessoas "deixarem de inventar desculpas", falando-nos de uma manifestante, que depois de ter estado presente na manifestação convocada pela central sindical CGTP em frente à Assembleia da República, também para a tarde de 13 de outubro, decidiu ir até à Praça de Espanha porque "é tempo de as pessoas se manifestarem de forma visível".
No Expresso o título é sugestivo: "Um país sem cultura deixa de ter valores" e podem ler-se mais adiante, muitas frases ditas por cidadãos anónimos que aqui devo registar, uma vez que mostram o descontentamento geral, sobre as arbitrariedades das politicas que já há muito tempo vêm sendo implementadas neste país:
"A forma como estão a ser taxados os impostos às pessoas sem critérios, o trabalho precário, a desvalorização das pessoas, trocando-as por números".
"Um país sem cultura é um país escravo" e, como tal, a manifestação em Lisboa - e todas as que se realizaram no país - são atos de democracia contra o "genocídio social" do atual Governo”.
"Não é normal os artistas juntarem-se assim, sem cachês", e, além disso, os portugueses "estão a ganhar consciência de uma forma cívica e fora dos partidos e dos sindicatos", o que é muito importante”.
“Em luta pelo futuro "que está comprometido", outro cidadão afirmou à Lusa. "Somos diferentes dos gregos, dos espanhóis. Enquanto os gregos partem, nós manifestamo-nos com outra voz, a cultura dá voz ao povo e consegue-se ir mais longe", defendeu.”
Faço votos que estas bonitas manifestações e todas estas frases proferidas, não sejam sol de pouca dura, e que desta feita o povo português vá conquistando aos poucos e na realidade, os valores de quem mais ordena.
 
Não se deve perder a esperança. Deve-se agora relembrar mais do que nunca os valores de Abril e lutar por um Mundo melhor. Ideologias à parte, devemos desejar a felicidade, a liberdade, a justiça, a solidariedade (...). Não se deve perder a esperança porque muito pode e deve ser feito.
Lute e seja feliz!
 

O Machismo Português visto pelo lado de dentro...


O Machismo Português e as Traições Amorosas

Na gíria portuguesa, os palitos são a versão económica, e mais moderna, dos cornos. Os cornos, à semelhança do que aconteceu com os automóveis e os computadores, tornaram-se demasiado volumosos e pesados para as exigências do homem de hoje. Daí a crescente popularidade dos mais portáteis e menos onerosos palitos. Contudo, visto que se vive presentemente um período de transição, em que os novos palitos ainda se veem lado a lado com os tradicionais cornos, continuam a existir algumas sobreposições. Uma delas, herdada do antigamente, deve-se ao facto dos palitos não se saldarem numa diminuição proporcional de sofrimento. Ou seja, não dão uma mera dor de palito — dão à mesma, incontrovertivelmente, dor de corno. Não é mais carinhoso, por isso, pôr os «palitos» a alguém — continua a ser exatamente o mesmo que pôr os outros.

Tudo isto vem a propósito da forma atípica, entre os povos latinos, que assume o machismo português. Não se trata do machismo triunfalmente dominador, género «Aqui quem manda sou eu!», do brutamontes que não dá satisfações à mulher. Não — o machismo português, imortalizado pelo fado «Não venhas tarde», é um machismo apologético, todo «desculpa lá ó Mafalda», que alcança os seus objetivos de uma maneira mais eficaz. É, de facto, o machismo que, não só dá satisfações, como vive delas.

O machismo português é o machismo, não da força masculina, mas da fraqueza. Não consiste no homem armar-se em agressor, mas em vítima. O logro é este: o homem apresenta-se sempre à mulher como vítima da natureza «de homem», dele. Ser homem, para o machista português, é ser essencialmente fraco. É um não-ser-capaz de resistir às tentações; um envergonhado «já sabes como é, filha» que serve para legitimar todos os privilégios de que goza (aos quais chama «deslizes»). À mulher não se admitem estes abusos — os copos, as entradas às tantas da manhã, os romances — porque o homem português considera a mulher um ser superior. Como é superior — mais forte, mais séria, mais responsável, mais ajuizada — não tem, muito simplesmente, direito a nada.

O homem trata-a como se trata um deus. Julga que ela sabe tudo e, mesmo quando ele lhe mente, sabe que ela não se convence. Pensa também que ele pode tudo e é daqui que vem o medo enorme que lhe tem. E, tal como se faz com um deus, ele peca e pede perdão, mas sem perdoar em troca — porque um deus, por definição, não pode pecar. Se acaso uma mulher não corresponde a este comportamento divino, é logo considerada uma desgraçada, uma meretriz, uma sem-vergonha. Em suma: no fundo, uma criatura tão baixa e desprezível como um homem.

Logo, é a inferioridade do homem — infinitamente confessada, declarada e propagandeada — que lhe impõe o direito de pecar e ser perdoado, e a superioridade da mulher que lhe confere a obrigação de perdoar. O homem, no machismo português, é pouco mais que uma pilha imponente e irresistível de vulnerabilidades. As outras mulheres atraem-no sempre contra vontade, e ele, coitado, não se consegue defender e vai-se instantaneamente abaixo. Como cantava o Carlos Ramos «Tu sabes bem que eu vou para outra mulher, que eu só faço o que ela quer...». A mulher, cheia de uma compreensão indistinguível da santidade, vê-o da janela, coração a sofrer de amor e de piedade, e apenas lhe pede («com carinho») que não venha tarde, «sabendo que ele vem sempre mais tarde». É este o machismo estritamente português, a meio-caminho entre o «Desculpem qualquer coisinha» e o «Era uma vez um rapaz». Nunca diz, à castelhana, «Quero e posso!»; nem disfarça, à italiana, dizendo «Posso mas não quero». Não. Diz, muito à portuguesa «Não quero, mas o que é que tu queres?, é o que posso...». O homem português nunca tem culpa. Arrepende-se sempre, mas não tem culpa porque não consegue deixar de fazer (por muito que não tente) as coisas que lhe apetece imenso fazer. A mulher, em contrapartida, tem quase sempre culpa. Tem, por exemplo, a culpa de atrair o homem, não porque o queira atrair (o querer ou não é irrelevante), mas, simplesmente, porque é mulher, e ele é homem, e não há absolutamente nada a fazer…

O machismo português não é afirmativo e orgulhoso frente à mulher. É um machismo conjuntivo — «Eu bem gostaria de ser fiel, mas...», ou «Eu bem gostaria de passar mais tempo em casa, mas...», ou ainda «Eu bem gostaria de não ser como sou, mas...». É esse «mas» que torna o machismo português diferente — não é tanto de macho como de «mas», não é tanto um autêntico machismo como um masismo. Ele não é senhor do seu destino, como ela é do dela (e do dele). As coisas acontecem-lhe, ele bem tentou; foi uma coisa que lhe deu, ele nem sequer deu por ela, e, pronto, «o que é que tu queres, filha?», aconteceu...

A relação entre o homem português e a mulher é vista (pelo homem), como a relação que tem cada um com a sua consciência. E, ao passo que cada um pode andar na boa-vai-ela (e depois penitenciar-se), o mesmo não se imagina (nem consente!) à consciência. E, o mais engraçado de tudo, é que a mulher que «sabe tudo», até isto sabe. Ou seja: sabe perfeitamente que esta do «Tu sabes bem...» é pouco mais que uma excelente treta que os homens propagam para poderem pensar que se divertem mais do que as mulheres. O que torna a mulher portuguesa ainda mais superior. Claro.

Tudo isto para regressar, sem dor, à questão dos palitos. A tese central, criação única do machismo português, é esta: É muito fácil pôr os palitos a um homem (basta a mulher olhar para outro), mas é quase impossível pôr os palitos a uma mulher (porque nunca se consegue enganar a consciência). Um homem pode ser, por dá-cá-aquela-palha, um «corno manso», o que é muito pior que ser um corno selvagem ou só semicivilizado. Mas não existe, na língua, correspondência para o sexo feminino. Os palitos são uma coisa terrível que as mulheres podem pôr aos homens mesmo sem chegar a pô-los; mas que os homens nunca podem pôr às mulheres, por muito que lhos ponham. Nesta vantajosa lógica, bastante mais complexa e respeitosa do que aquela que anima outros machismos menos atlânticos, se encontra a alegria e a tristeza do autêntico macho português — aquele que vem sempre mais tarde, mas cada vez mais cabisbaixo.

Miguel Esteves Cardoso, in 'A Causa das Coisas'

 

O Estatuto do nosso Desejo

“Sociedade Fissurada” é o termo por vezes usado para expressar a experiência de uma sociedade mediada por sensações. Sensação é tanto a percepção corporal em seu sentido mais banal, quanto um produto construído para fazer sucesso. Seja o espetáculo dos meios de comunicação, sejam as drogas ou o capital a qualquer custo, vivemos uma época em que o maior valor é o da excitação. Emoções fortes tornam-se mercadorias. E as mercadorias, como drogas, só valem se promoverem afetos. Trocamos a ética pela estética enquanto ao mesmo tempo nos tornamos socialmente frios, incapazes de reconhecimento do outro. Se estamos todos viciados em emoções, podemos falar de um colapso do desejo?

Será que vivemos mesmo numa sociedade fissurada? Escutando Márcia Tuburi, filósofa e investigadora brasileira, ficamos a saber como funciona afinal a sociedade dos nossos dias.

Fonte:
http://www.youtube.com/ http:/ http://domtotal.com.br/

Guimarães - 2º Dia - Visita ao Paço dos Duques - Parte VII



Saindo do primeiro quarto visitado, encontramos quer à sua entrada, quer à saída, uma Antecâmara. A Antecâmara é uma sala que antecede o primeiro quarto encontrado. Este compartimento tem as paredes revestidas por duas tapeçarias de Jan Raes II, evocando episódios da vida do Cônsul romano Públio Décio Mus, também segundo cartões desenhados por Paul Rubens. Noutra parede um pano de Veneza, do séc. XVI, bordado a ouro e prata com motivos religiosos. Num dos ângulos, observa-se um oratório de talha dourada, com uma escultura em alabastro do séc. XV, representando Nossa Senhora dos Anjos. Peças de mobiliário português, um tapete persa, dois grandes pratos e um aquário de porcelana da China constituem os restantes elementos expostos na sala. O pormenor mais interessante deste quarto é o seu teto, uma vez que se encontra pintado com motivos vegetalistas, cenas de caça e heráldica.

A Antecâmara dá acesso ao enorme Salão Nobre, onde se entra em seguida. Este salão, o maior de todos os compartimentos do Paço dos Duques, era destinado às festas e receções e apresenta-se recheado com mobiliário português e flamengo do séc. XVII. Na parede voltada ao claustro podemos ver a quarta réplica das Tapeçarias de Pastrana, “A Entrada das forças portuguesas em Tânger” (1471), que se entrega sem resistência após a queda de Arzila. Aos lados, dois grandes anjos candelários em madeira entalhada do séc. XVIII. Sobre o arcaz, à entrada do salão, um atril de ferro trabalhado, do séc. XVI. No chão veem-se três grandes tapetes persas.


Ao Salão Nobre segue-se a Sala de S. Miguel. Nesta sala um espelho ricamente entalhado ornamenta o espaço entre as janelas da sala. No centro a chaminé está ornada por um conjunto entalhado com duas figuras de anjos sustentando uma coroa. Decoram também a sala, dois contadores espanhóis do séc. XVI e do XVII e uma cómoda do séc. XVIII.
Algumas outras peças de mobiliário, uma terrina chinesa, dois jarrões, uma poncheira de porcelana oriental e uma imagem de S. Miguel, em calcário, do séc. XVI decoram a sala. Por fim, nas paredes, as últimas tapeçarias, encontrando-se uma delas, ladeada por dois anjos candelários.

A Sala de S. Miguel serve de Antecâmara ao Quarto de D. Catarina de Bragança, e é nele que se entra em seguida. Ali se encontra um retrato em tela da Rainha de Inglaterra, D. Catarina de Bragança (1638-1705), filha de El-Rei D. João IV de Portugal, e mulher de Carlos II de Inglaterra, cuja autoria se atribui aos discípulos de Lely. Na mesma parede, observa-se um “Cordeiro Pascal”, em tela, atribuído a Josefa d’Óbidos. Sobre a cómoda um livro-baldaquino forrado a veludo vermelho, com as armas dos Monges de Cister e emblemas eucarísticos em aplicações de prata, do séc. XVIII. Uma cama portuguesa do séc. XVII, dois tapetes persas, uma tapeçaria francesa e alguns outros objetos de adorno completam o arranjo do quarto.

No final da visita descemos até ao rés-do-chão e encaminhámo-nos para o bar, que se encontra situado numa sala sombreada, recolhida e silenciosa. Ali encontramo-nos com uma imperiosa vontade de ficar durante muito tempo, ouvindo o silêncio e olhando o exterior, sentados em banco de pedra como em tempos medievos, encostados a uma janela com traça da mesma época e saboreando um interminável chocolate quente.


Fonte: http://pduques.imc-ip.pt/ http://www.guimaraesturismo.com/ http://www.portugal-live.net/ http://pduques.imc-ip.pt/ Panfleto desdobrável (IMC), Guia de Visita ao Palácio Ducal de Guimarães.

Guimarães - 2º Dia - Visita ao Paço dos Duques - Parte VI


Deixa-se a Sala dos Contadores e vira-se para a direita, já na zona este do Paço e encontramos uma Sala de Jantar Intima. Trata-se da sala privada de refeições, decorada com um tapete persa e mobiliário português do séc. XVII. A parede do fundo é revestida por uma tapeçaria que representa “Os Arúspices” e faz parte do conjunto de cinco tapeçarias flamengas do séc. XVII existentes no Paço, as quais evocam episódios da vida do cônsul romano Públio Décio Mus, segundo cartões de Rubens, assinadas por Jan Raes II. Em cima do mobiliário veem-se um aquário e um prato de porcelana chinesa, gomis e outros elementos decorativos de estanho, cobre e faiança.
Passa-se em seguida a uma varanda virada ao Pátio Interior do Palácio e é ali que encontramos a porta de entrada para a Capela, situada a um nível superior, à qual se acede através de ingreme escadaria.

O pórtico da Capela do Paço dos Duques encontra-se encimado pelo brasão do 1º Duque da Casa de Bragança. De estilo gótico, apresenta uma nota curiosa dada pelos oito fustes de mármore, que se destacam de toda a construção granítica do Paço Ducal. Estes, elementos da estrutura do palácio de Çala-ben-Çala, Senhor de Ceuta, foram, segundo a tradição, trazidos por D. Afonso aquando da conquista daquela Praça em 1415.
Já no seu interior, na parede de fundo da Capela, veem-se quatro retábulos de madeira do séc. XVII. No chão, sob os painéis, um banco e uma arca em talha gótica, do séc. XVI. Os vitrais figurativos são uma obra recente do pintor vimaranense António Lino (1914-1996). Nas paredes laterais da Capela, veem-se reproduções de telas italianas: uma de Rafael, ”A Transfiguração” e outra de Domenichino, “A Última Comunhão de S. Jerónimo”.

Sai-se da Capela e caminha-se para a ala sul do Palácio, sendo a sala seguinte a Sala do Cipião. Nesta sala destacam-se de imediato as quatro tapeçarias flamengas do séc. XVII, assinadas por Andreas Van Den Dries, que decoram as paredes. Estas belas tapeçarias representam cenas alusivas às segundas Guerras Púnicas: “Encontro de Cipião e Aníbal”, “Desembarque das Hostes de Cipião em Utica”, “Entrada Triunfal de Cipião em Cartago” e “Cipião Libertando uma Princesa Cartaginesa”. Decoram também a sala, móveis portugueses dos séculos XVII e XVIII, dois grandes jarrões, um prato e uma poncheira de porcelana chinesa e diversos objetos de adorno em faiança, vidro e latão. O tapete é um exemplar persa do princípio do séc. XVII.
Já na ala sul do Palácio encontramos o primeiro quarto de dormir. Aqui pode ver-se uma cama portuguesa do séc. XVII com aplicações de latão, coberta por uma colcha indiana de séc. XVIII, ricamente bordada a ouro e matiz. Do restante mobiliário destaca-se um armário entalhado e por cima deste, uma tapeçaria de Aubusson representando um “Casamento Principesco”, do séc. XVII. No chão, um tapete persa e sobre a arca, uma “Piedade” em barro policromado. Neste compartimento destaca-se o teto, pois encontra-se pintado com motivos vegetalistas.

Fonte: http://pduques.imc-ip.pt/ Panfleto desdobrável (IMC), Guia de Visita ao Palácio Ducal de Guimarães.

Guimarães - 2º Dia - Visita ao Paço Ducal - Parte V



Sobe-se ao 1º piso e inicia-se a visita ao Palácio. A primeira sala visitada é um grande salão denominado Salão dos Passos Perdidos. Trata-se de uma enorme sala de espera, cujo nome é alusivo ao longo tempo de espera daqueles que pretendiam ser recebidos pelo Duque.

O Salão dos Passos Perdidos está decorado com mobiliário português e indo-português dos séculos XVII e XVIII, tendo em lugar de destaque dois jarrões de porcelana da Companhia das Índias, com o brasão dos Melo e Sampaio, três potes e duas floreiras de porcelana chinesa.
 
No chão veem-se três tapetes persas e duas grandes tapeçarias revestem a parede do lado do claustro, que são reproduções das tapeçarias encontradas em Pastrana (Espanha), feitas sobre motivos provavelmente pintados por Nuno Gonçalves, pintor português do séc. XV, alusivos às campanhas de El-Rei D. Afonso V em África. A primeira representa “O Desembarque” das tropas portuguesas em Arzila e a segunda “O Cerco” que levou à conquista daquela praça em 1471. Num dos ângulos, um atril de ferro do séc. XVII, com um livro de cantochão do séc. XVIII e uma escultura representando Santa Bárbara, em calcário policromado, do séc. XVI. Estas cópias de tapeçarias são peças (únicas) e foram adquiridas pelo Estado Português em 1957, sendo executadas em Espanha pela Real Fábrica de Tapices de Madrid.

No final da Sala dos Passos Perdidos passa-se uma porta e dirigimo-nos para a esquerda, onde encontramos a Sala de Armas. Nesta sala encontram-se expostas algumas das armas que foram reunidas pelo segundo Visconde de Pindela (1852-1922), e mais tarde adquiridas pelo Estado. Trata-se de uma coleção dos séculos XV a XIX e compreende vários exemplares de armas brancas e de fogo, elementos de armaduras dos séculos XV a XIX e dois telizes, sendo um brasonado com as armas do colecionador. Completam o recheio da sala, peças de mobiliário português, com outros elementos de adorno e ainda o Estandarte do Regimento de Milícias de Guimarães nº 15, que ali esteve aquartelado naquele Paço no início séc. XIX.

À Sala de Armas passa-se a uma pequena Sala de Passagem. Esta sala está decorada com mobiliário português do séc. XVII, um tapete persa, uma base de talha renascença sobre a qual se apoia um grande pote de cobre. No nicho central do armário da parede do fundo, uma escultura em calcário policromado representando a “Virgem com o Menino” do séc. XVI. Nos lados da escultura, nos balaústres, observam-se várias peças de faiança portuguesa. Ali ainda podem ver-se castiçais de latão, um prato de Nuremberg e um vaso de Talavera de la Reina que completam a decoração. Nas paredes, uma tapeçaria de Aubusson do séc. XVIII e dois Tapetes de Oração do séc. XVII.
A Sala de Passagem antecede o Salão de Banquetes, no centro do qual se observa um conjunto de mesas de cavalete que são reproduções de mesas do séc. XV e sobre estas, louças em estanho. Este salão está decorado com armários, mesas e arcas do séc. XVII. Sobre estes móveis há faianças, porcelanas e grés de fabrico português e oriental, dos séculos XVII a XVIII. Numa das paredes, vê-se a terceira reprodução das Tapeçarias de Pastrana, “O Assalto a Arzila”, que ocorreu em 1471.
 
 
Ao Salão dos Banquetes segue-se a Sala dos Contadores. Nesta sala as paredes desta estão decoradas com duas tapeçarias de Bruxelas do séc. XVII que representam cenas de caça. O mobiliário é constituído por elementos dos séculos XVII e XVIII, dos quais se destacam cinco contadores, encontrando-se sobre estes, faianças da mesma época. Dois aquários de porcelana chinesa e uma poncheira em porcelana chinesa alusiva à Ordem da Jarreteira completam a decoração da sala.

Em homenagem às proezas marítimas dos portugueses, o teto da Sala de Banquetes reproduz o casco virado de uma caravela.


Fonte: http://pduques.imc-ip.pt/ http://www.guimaraesturismo.com/ http://www.portugal-live.net/ http://pduques.imc-ip.pt/ Panfleto desdobrável (IMC), Guia de Visita ao Palácio Ducal de Guimarães.

Guimarães - 2º Dia - Visita ao Paço Ducal - Parte IV


Deixa-se o Castelo de Guimarães, desce-se toda a Colina Sagrada e chega-se à entrada do Paço dos Duques. Naquele dia não havia visitas guiadas, pelo que após a compra dos ingressos a visita foi iniciada com base no desdobrável comprado por um euro na loja do museu.
O Paço dos Duques de Bragança de Guimarães é uma majestosa casa senhorial fortificada do séc. XV, que exibe invulgares influências arquitetónicas do Norte da Europa. Foi mandada construir por D. Afonso I de Bragança (filho ilegítimo do rei D. João I e de D. Inês Pires Esteves, uma aristocrata galega), 1º Duque da Casa de Bragança (nomeação feita pelo seu meio-irmão D. Pedro, à altura regente, sendo este o momento da fundação da Casa de Bragança) e 8º Conde de Barcelos (por herança de seu sogro, D. Nuno Álvares Pereira, pai de sua primeira esposa e filha única do condestável, herdeira da casa mais opulenta do reino), por altura do seu segundo casamento com D. Constança de Noronha (filha de D. Afonso, Conde de Gijón e Noronha e D. Isabel, Senhora de Viseu).  


Foi um Paço essencialmente habitado durante o séc. XV, mas nas centúrias seguintes conheceu um progressivo abandono e uma quase consequente ruína, motivada por fatores políticos e económicos, que se foram agravando até ao séc. XX.
O edifício que hoje se visita, corresponde a uma reconstrução quase integral levada a cabo durante o Estado Novo para uso dos governantes de então, e mandado rechear com o espólio de outros museus e palácios nacionais, como as famosas tapeçarias de Pastrana, inspiradas na tomada de Ceuta (Monumento Nacional).
 


Hoje está entregue Instituto dos Museus e da Conservação (IMC), sendo um Museu de visita imperdível. No entanto no 2º piso, a fachada principal ainda possui uma ala destinada à Presidência da República, e uma vasta área vocacionada para diversas iniciativas culturais (no rés do chão).
O Palácio tem vastas dimensões e possui características arquitetónicas de casa fortificada, com coberturas de fortes vertentes e inúmeras chaminés cilíndricas que denotam a influência da arquitetura senhorial da Europa Setentrional e trata-se de um exemplar único na Península Ibérica.


É um edifício de excecionais dimensões com quatro corpos que cercam um pátio interior de planta retangular. É neste pátio que se inicia a visita, caminhando-se em direção a uma das salas térreas do Paço dos Duques de Bragança, onde se observa-se uma exposição permanente de José de Guimarães. Ali é possível admirar um conjunto de obras que o pintor e escultor vimaranense doou à sua cidade natal.

A visita ao Palácio  é iniciada de seguida, numa atmosfera e conceção decorativa que tenta reconstituir “como teria sido a vida no interior do Paço no fim da Idade Média”. Cada sala possui denominação diferente, e sempre que possível foram mantidas as primitivas funcionalidades dos espaços.
 
Fonte: http://pduques.imc-ip.pt/ http://www.guimaraesturismo.com/ http://www.portugal-live.net/

Filhos, melhor não tê-los…

 
No imaginário popular, costuma-se associar a nobreza, a alguma linhagem de ‘sangue azul’. No livro de Sérgio Alberto Feldman,Amantes e Bastardos: As relações conjugais ou extraconjugais na alta nobreza portuguesa no final do século XIV e início do século XV”, fica-se a preceber o quão híbrido pode ser o sangue da nobreza portuguesa, no período tardio da Idade Média.


O casamento era uma aliança política, forjada de acordo com interesses estratégicos do reino, fosse para selar acordos de paz ou agregar terras. Enquanto isso, as relações extraconjugais eram o refúgio para o prazer.


“O verdadeiro amor ocorria fora do casamento e os filhos naturais eram às vezes mais amados pelos seus pais, pois eram o fruto de relações espontâneas e de fundo afetivo e não de meros casamentos cuja motivação era dinástica”, escreve Feldman.


No entanto em todas as sociedades houve sempre filhos legítimos e ilegítimos. Como todos sabemos os filhos legítimos são todos aqueles que nascem dentro do casamento de seus pais. Filiação ilegítima (sendo um termo em alguns países mais evoluídos hoje em desuso) porém designa a prole nascida fora dos laços do matrimónio.


Outros termos utilizados para definir tal relação entre pais e filhos, é bastardia, filiação adulterina ou filiação natural, sendo este último termo do ponto de vista humano, o mais aceitável de todos.


No Brasil, por exemplo, o termo foi posto deliberadamente em desuso na formulação do código civil, em vigor desde 11 de janeiro de 2003, pois é considerado discriminatório. Além disso, a legislação não prevê diferença nos direitos de filhos concebidos dentro ou fora do casamento. Em Portugal esta discriminação foi também abolida pelo artigo 36º, n.º 4 da Constituição da República Portuguesa de 1976, que proíbe a discriminação em relação aos filhos nascidos fora do casamento. Esta proibição originou uma alteração nas leis e consequentemente à consagração do tratamento igual para os filhos, deixando aos olhos da lei de existir filhos “ilegítimos”.


Os direitos e o estatuto legal dos bastardos foi variando em diversas culturas e em diversas épocas e em especial em diversas classes sociais ao longo dos tempos, parecendo ser nas classes mais baixas (por ignorância ou desumanidade), que o estatuto de filho ilegítimo teve sempre maior conotação negativa.


Nas classes mais altas, estes geralmente não tinham direito à herança dos pais ou das mães, mas frequentemente recebiam doações ou honras dos pais ou irmãos legítimos, ou os testamentos dos pais podiam determinar uma herança específica.


Em Portugal porém, desde o início da nossa nacionalidade, a classe dominante nasceu da “ilegitimidade”, uma vez que D. Teresa de Leão era filha ilegítima de D. Afonso VI de Leão e Castela com Ximena Moniz, uma nobre castelhana. Assim o Condado Portucalense foi herdado por uma filha ilegítima e o nosso primeiro rei D. Afonso Henriques, era neto ilegítimo do mesmo soberano castelhano-leonês.


Segundo Isabel de Lencastre, in Bastardos Reais, Os filhos ilegítimos dos Reis de Portugal, dos 32 reis portugueses, seis não tiveram filhos e, dos restantes 26, apenas D. Manuel I, o Venturoso, que se casou três vezes, e D. José, "muitas vezes enganado pela sua mulher", não tiveram filhos fora da alcova nupcial.


Daí que desde sempre as acusações de bastardia serviam sobretudo para retirar rivais do caminho das sucessões ou heranças dos pais. Entre outros casos, Isabel de Castela usou esta arma para afastar Joana de Castela do trono castelhano e Filipe I de Portugal (Filipe II de Espanha), argumentou a ilegitimidade de D. António, Prior do Crato, filho do casamento secreto do Infante D. Luís com a linda e rica cristã-nova, Violante Gomes e neto do rei D. Manuel I, para subir ao trono de Portugal.


Todavia, apesar de não terem regalias oficiais, os bastardos reais tinham deferência e proeminência face a titulares administrativos, militares ou eclesiásticos e desempenharam "posições de relevo na corte e no país", e alguns ascenderam mesmo ao trono, como D. João I (filho bastardo de D. Pedro I e de D. Teresa Lourenço, uma aristrocrata galega), décimo rei de Portugal que fundou a Dinastia de Avis.


A Casa de Bragança, a que pertence a última dinastia reinante em Portugal, tem ascendência na Casa de Avis, e, portanto também, na Casa fundadora da nação portuguesa - a Casa de Borgonha. D. João I é por isso mesmo um antepassado de D. Duarte Pio de Bragança, atual pretendente ao trono de Portugal e detentor atual do título de duque de Bragança, reivindicando direitos dinásticos sobre os títulos de Príncipe Real de Portugal e Rei de Portugal. Sendo, portanto, o chefe da Casa de Bragança e, por inerência, o chefe da Casa Real Portuguesa.


Porém os filhos bastardos do povo eram (e são ainda hoje) muitas vezes renegados, sedo-lhes negada por vezes a ascensão cultural, como foi no caso do maior génio da história da humanidade, Leonardo da Vinci, filho ilegítimo de um notário, Piero da Vinci, e de uma camponesa, Caterina, em Vinci, a quem foi negada uma educação formal e o estudo do latim.


Ironia do destino é que um grande número de “nomes sonantes” portugueses (ler o livro de Isabel de Lencastre, Bastardos Reais) que têm a pretensão de estar ligados à Casa Real Portuguesa, dizendo dela descender por laços de bastardia, descendam por sua vez de famílias, também elas com filhos naturais, a quem foi negada a todo o custo a sua legitimação.
 
Fonte: http://familia.sapo.pt/ http://cienciahoje.uol.com.br/ http://www.vidaslusofonas.pt/ http://www.infopedia.pt/ http://pt.wikipedia.org/ Isabel de Lencastre, Bastardos Reis, Os filhos ilegítimos dos Reis de Portugal, 1ª Edição, Oficina do Livro, 2012; Sérgio Alberto Feldman, Amantes e Bastardos, As relações conjugais ou extraconjugais na alta nobreza portuguesa no final do século XIV e início do século XV, 2ª Edição, Editora Edufes, 2008.

"Vivo como penso sem pensar como vivo."



“Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora da minha própria vida.”

Clarice Lispector, in 'Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres'

 
“A verdade é aquilo que todo o homem precisa para viver e que ele não pode obter nem adquirir de ninguém. Todo o homem deve extraí-la sempre nova do seu próprio íntimo, caso contrário ele arruína-se. Viver sem verdade é impossível. A verdade é talvez a própria vida.”

Franz Kafka, in 'Conversas com Kafka'

 
“Quando se escreve é não somente para ser compreendido, mas também para não o ser. Um livro não fica diminuído pelo facto de um indivíduo qualquer o achar obscuro: esta obscuridade entrava talvez nas intenções do autor, não queria ser compreendido por qualquer bicho careta. Qualquer espírito um pouco distinto, qualquer gosto um pouco elevado escolhe os seus auditores; ao escolhê-los fecha a porta aos outros. As regras delicadas de um estilo nascem todas daí; são feitas para afastar, para manter a distância, para condenar o «acesso» de uma obra; para impedir alguns de compreender, e para abrir o ouvido aos outros, os tímpanos que nos são parentes.”

Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência”

Fonte: O título desta postagem, "Vivo como penso sem pensar como vivo." é de José Adelino Fonte Maltez, in Diário de Notícias / 20080419

Guimarães - 2º Dia - Visita ao interior do Castelo de Guimarães - Parte III


Chegados ao Castelo, visita-se primeiro as suas imediações, e é ali que se encontra embutido numa enorme pedra encostada às muralhas do Castelo, um alto relevo com o busto, realizado em metal, do Conquistador (D. Afonso Henriques).

Caminha-se depois para a entrada. Encostada à torre norte encontra-se a espessa entrada para o interior das muralhas, que segundo reza a história foi aberta pelo conde D. Henrique e que constituía uma das entradas de Guimarães, que protegia a cidade no seu tempo.

 
A torre virada a poente, à direita da porta de entrada, é conhecida pela Torre da Forca, pois ali se faziam as execuções, existindo ainda dois pilares de suporte do mecanismo de execução.

No interior surge a nona torre, a enorme Torre de Menagem, de 27 metros de altura, independente, de três pisos de habitação sobre um que servia de celeiro. Os vários pisos comunicam por uma escadaria de madeira encostada à parede norte. No seu interior não tem qualquer janela, somente seteiras (frestas estreitas abertas nas paredes, para dar claridade ao interior), e comunica com o adarve por uma ponte de madeira fixa, mas levadiça nos tempos áureos.

 
No piso térreo da Torre de Menagem, encontramos a bilheteira e loja, com as várias publicações relativas ao Castelo, e no segundo piso, observa-se uma exposição com os protagonistas históricos, que em tempos da sua origem o habitaram. Já no último piso, uma estreita e ingreme escadaria, leva-nos ao terraço com ameias, de onde se têm vistas magníficas, vislumbrando-se toda a cidade moderna e seus arredores.

Também no espaço interior do Castelo observam-se as ruínas de 2 torres, outrora levantadas a noroeste e a nordeste, que conservam ainda hoje vestígios de uma antiga residência de dois pisos, considerada por diversos autores como a alcáçova de D. Henrique e de D. Teresa, pais de D. Afonso Henriques. Os andares eram baixos e de reduzidas dimensões, com as paredes fixas na muralha. Desta antiga habitação, restam as várias janelas retangulares abertas no muro norte, uma grande chaminé de pedra e vestígios de uma outra, bem como os alicerces das paredes que fechavam o edifício na parte confinante com o recinto castelar.

 
Agradável é também o passeio que se dá à volta das suas muralhas, de onde se observa bem de perto o enquadramento paisagístico da Colina Sagrada, numa posição privilegiada, que acompanha todo o espaço em volta do Castelo.

À saída encaminhamo-nos para o Palácio Ducal, e no caminho de descida da Colina Sagrada, sobre a qual está implantado o Castelo, encontra-se a Capela de São Miguel do Castelo, uma pequena construção do séc. XII em estilo românico, onde segundo a lenda, terá sido batizado D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal. O interior desta capela é ladeado com sepulturas que se atribuem a guerreiros também ligados à fundação da nacionalidade.

 
Fonte: http://www.monumentos.pt/ http://www.oquevisitarem.com/ http://lazer.publico.pt/monumentos/