“Depois da liberdade desaparecer,
resta um país, mas já não há pátria.”
François Chateaubriand
No dia seguinte ao da chegada a Saint-Malo,
pegámos nas bicicletas e fomos até à cidade. Embora a distância seja grande, o
terreno é quase na sua totalidade plano, o que torna muito agradável a viagem
que se faz em jeito de passeio.
Mas esse prazer é redobrado, quando nos lembramos que estamos a pisar
terrenos que guardam memórias de gentes bravas, que souberam ao longo dos
séculos riscar o seu próprio destino.
Saint-Malo defendeu desde cedo a sua autonomia perante normandos,
franceses e bretões, recusando vassalagem a quem quer que fosse, uma vez que,
chegaram a proclamar a República de Saint-Malo no tempo de Henrique IV. As gentes audaciosas da
velha cidade, corsários, mercadores ou simples marinheiros, viraram-se desde
cedo para o mar, de onde tiraram sempre o seu provento.
Depois de pedalarmos rumo à cidadela e de nos embrulharmos durante algum
tempo na cidade moderna, passámos pela marginal que segue paralela à praia,
designada por Chaussée du Silon.
A Chaussée du Silon situa-se
em frente à Grande Plage du Silon, já bem perto das
muralhas da cidade corsária. Naquele dia a maré estava baixa e o areal
estendia-se mar adentro, de modo que se podia caminhar com facilidade até ao Fort Petit Bé, situado numa pequena
ilhota de maré (Ile Petit Bé), que
quando há maré baixa fica acessível por terra.
O Fort Petit Bé é uma fortaleza
construída no séc. XVII, que fazia parte de um cinturão
defensivo projetado por Vauban para
proteger a cidade de Saint-Malo de britânicos,
holandeses e navios pirata.
O percurso até ao forte, permite
descobrir bons ângulos fotográficos, que oferecem belas perspetivas do sistema
de muralhas de Saint-Malo. No
entanto a caminhada de ida e volta deverá ser apressada, pois a subida da maré
é muito rápida e segundo as indicações do guarda do forte, sobe num espaço de
tempo de cerca de 15 min, havendo com frequência, casos de incautos
surpreendidos pelo fenómeno.
Bem perto desta pequena ilha
existe uma outra, chamada Grande Bé, onde se encontra o túmulo de François Chateaubriand, um escritor,
ensaísta, diplomata e político francês que foi um dos nomes maiores da literatura romântica, que teve uma influência decisiva na Europa
pela sua obra memorável.
Uma vez visitado o Fort Petit
Bé, pegámos nas bicicletas e fomos até à cidadela, que nos mostra praticamente incólumes as altas e belas muralhas também projetadas por Vauban.
De fora do burgo medieval, há alguns pontos que oferecem notáveis
perspetivas da cidade e do horizonte para norte e para sul da cidadela.
Para norte, o horizonte alarga-se mar dentro, com o recorte da ilhota de Petit Bé e do Bastião de S. Filipe, à beira da foz do
rio Rance, avistando-se a estância
balnear de Dinard, do outro lado do
estuário, que foi o destino amado pela aristocracia inglesa no final do séc.
XIX e cenário de um dos últimos filmes de Eric
Rohmer.
Para sul, a muralha acompanha o Quai
de Dinan e a Rue de Orléans, que
nos leva ao interior da cidadela. Este trecho é especialmente interessante pela
possibilidade de observação mais próxima, das austeras fachadas dos palácios de
armadores que fizeram a história e a fortuna de Saint-Malo. A partir do Bastião
S. Luís, a paisagem é um mar de mastros e velas, dos inúmeros barcos de
recreio e outros, que ao sabor da ondulação oscilam na Marina de Saint-Malo.
Fonte: http://www.almadeviajante.com/
http://pt.wikipedia.org/
http://france-for-visitors.com
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