A família no fogo cruzado da educação contemporânea


Na educação de nossos filhos
Todo exagero é negativo.
Responda-lhe, não o instrua.
Proteja-o, não o cubra.
Ajude-o, não o substitua.
Abrigue-o, não o esconda.
Ame-o, não o idolatre.
Acompanhe-o, não o leve.
Mostre-lhe o perigo, não o atemorize.
Inclua-o, não o isole.
Alimente as suas esperanças, não as descarte.
Não exija que seja o melhor, peça-lhe para ser bom e dê o exemplo.
Não o mime em demasia, rodeie-o de amor.
Não o mande estudar, prepare-lhe um clima de estudo.
Não fabrique um castelo para ele, vivam todos com naturalidade.
Não lhe ensine a ser, seja você como quer que ele seja.
Não lhe dedique a vida, vivam todos.
Lembre-se de que o seu filho não o escuta, ele olha-o.
E, finalmente, quando a gaiola do canário se quebrar, não compre outra...
Ensine-o a viver sem portas.

Eugênia Puebla, Mensagem à família

(Eugênia Puebla é uma professora argentina, especialista em educação em valores humanos.)

 

A relação entre pais e filhos parece ter sofrido mudanças radicais nos últimos trinta anos. E para onde é que essas mudanças apontam?

As novas formas de organização familiar nos estratos urbanos médios (agora múltiplas, heterogéneas e voláteis) parecem não ter encontrado uma contrapartida factível no que se refere aos modos de se relacionar com os mais novos.

Assediada por um sem-número de palavras de ordem extravagantes, a família contemporânea encontrará, não raras vezes, uma espécie de colapso ético materializado, por um lado, num acúmulo de intenções impraticáveis e, por outro, na abdicação paulatina do gesto educativo cotidiano.

São essas as questões levantadas pelo polémico psicólogo Julio Groppa Aquino, que questiona a maneira como pais estão a lidar com os seus filhos. Este é um questionamento que produz tantas faíscas, quantas aquelas do fogo cruzado da educação.

Julio Groppa Aquino é docente livre da Faculdade de Educação da USP. Formado em psicologia, com mestrado e doutorado em psicologia escolar pela USP, é autor e colaborador de várias obras sobre algumas tensões que atravessam a educação contemporânea, entre elas o cotidiano escolar, as inflexões disciplinares, a relação família-escola etc. Foi também colunista das revistas "Nova Escola" e "Educação".
 

Fonte: http://www.cpflcultura.com.br/2010/04/23/a-familia-no-fogo-cruzado-da-educacao-contemporanea/ ; http://clinicataniahouck.com.br/blog/?p=8 ; http://vimeo.com/28023318

Aqui deixo também uma belíssima entrevista realizada à atriz Sofia Sá da Bandeira que espelha o pensar de uma mulher dos nossos tempos, mas que também mostra o testemunho de uma vida de notável sensibilidade e bom senso, que transmite uma educação que teve por parte da sua família, mas que também espelha os problemas da nossa sociedade atual, em tudo o que ela tem de positivo e negativo.

Ver e ouvir mais em:
  http://sic.sapo.pt/Programas/altadefinicao/videos/2013/06/24/sofia-sa-da-bandeira-em-alta-definicao

Adolescer em tempo de crise


 
Descrevemos como susto a idade adulta não dando, aos adolescentes e aos adultos em geral, a ideia de que é ao ser adulto que se tem a maior liberdade, a maior capacidade de decisão e quando se é verdadeiramente mais senhor do próprio destino e do seu percurso de vida.

A lavagem do carro

Imaginem que levam o vosso carro à máquina de lavagem automática. Dirigem-se a uma gasolineira, conduzindo-o, e seguem as instruções da pessoa que lá está. Ele vai dizendo: "mais à direita, mais à esquerda, assim… pode parar!". A partir daí, a máquina pegará no automóvel e, por mais que o leitor faça, não conseguirá mudar o rumo das coisas, designadamente do seu automóvel. O que for, será.

A grelha da máquina «agarrará» nas rodas do carro e levá-lo-á por aí, em direção a umas ameaçadoras escovas e a jactos de água, que despejarão detergente e espuma (o leitor deixará de ver o que se passa), depois mais água e, finalmente, uma outra máquina ameaçadora, que vem em direção ao seu vidro e – confesse, leitor! – pensará sempre que aquela barra que despeja jactos de ar quente não perceberá que tem um vidro, um carro e o leitor à frente e fará uma razia em linha recta, decapitando-o.

No final deste filme, o leitor ficará satisfeito com o trabalho, o seu carro está limpo e brilha, sobretudo se tiver pedido o programa mais caro mas mais completo, e segue então viagem, novamente com poder sobre o volante e sobre o rumo do seu destino.

A adolescência é assim. Tão fácil? Ou tão difícil?

O que é um adulto?

Ou, melhor, escrevendo o que dizemos nós adultos, aos adolescentes sobre o que é ser adulto. Pegue-se num telejornal, num jornal ou numa revista: tirando algumas excepções (bastantes, mas não as suficientes), os adultos são descritos como assassinos, pedófilos, corruptos, mentirosos, gente de objectivos rasteiros, gente que aparece porque está "in" e está "in" porque aparece o inefável jet set, grandes traficantes, maus políticos, exploradores e outros que tais. Ou, então, as vítimas desses mesmos adultos. Nós próprios ao falarmos de nós queixamo-nos permanentemente do trabalho, do cansaço, do IRS, do fisco, do Governo, da malandragem, da troika e dos ladrões e… de tudo. Ser adulto é, pois, uma questão simples. Ser adulto equivale, assim, a uma de duas coisas: ser malandro ou ser vítima de malandro.

O discurso sobre a adultícia ainda é pior, quando acrescentamos a Rádio Nostalgia: a criança que há em nós, a liberdade da infância, os bons velhos tempos em que éramos jovens e não tínhamos responsabilidades.

No entanto, a cereja no topo do bolo é quando dizemos – talvez com razão, mas com alguns efeitos secundários indesejáveis – que os erros do passado e detectados no presente vão ser pagos (e de que maneira!) pelas gerações seguintes. Não discuto se é verdade ou mentira que cada português, ao nascer, já está a dever balúrdios a toda a gente, seja aos mercados, seja à senhora Merkel. Que sei eu! Mas para quem está na adolescência, a ver-se, qual automóvel em máquina automática de lavar, engatilhado nas roldanas sem poder acelerar, travar, virar à esquerda ou à direita e quando lhe dizem que as escovas que vêm aí são terríveis, a dúvida é o que vai sair do outro lado. Um carro limpo e brilhante, ou uma amálgama de ferros torcidos e a pintura riscada de modo indelével?

Teremos, assim, de mudar o discurso sobre a adultícia, mais do que repetir os chavões do costume sobre a adolescência – período descrito por muitos pais como "terrível", cheio de problemas e um susto. O que descrevemos, sem dar por isso, talvez, como susto é a idade adulta, não dando aos adolescentes e aos adultos em geral a ideia de que é, ao ser adulto, que se tem a maior liberdade, a maior capacidade de decisão e quando se é verdadeiramente senhor do próprio destino e do  percurso de vida.

Ser adolescente em tempo de crise

O nosso país está em crise, o mundo está em crise. Que grande novidade… Não sabemos o que o futuro nos reserva, os tempos estão e serão difíceis. Que grande novidade… Os jovens nem sabem o que os espera! (e alguém sabe?).

Curiosamente, o facto de as sociedades terem vivido períodos enormes de crise, da palavra crise significar "crescimento e oportunidade", de esta crise se dar (no nosso país) em níveis de desenvolvimento nunca antes atingidos e de as gerações anteriores terem, elas mesmas, passado sempre "as passas do Algarve", parece ser obliterado, branqueado, esquecido. É como se o mundo, antes de nós, fosse uma maravilha e o futuro um buraco negro para onde, sem hipóteses de fuga, avançamos.

Quem viu o filme de Woody Allen, Meia Noite em Paris, recordar-se-á da vontade de muitas das personagens em regressar à geração anterior, com a ilusão de que o mundo era muito melhor do que é no tempo em que vivem. O próprio realizador comentou, numa entrevista, com o sarcasmo que lhe é conhecido: "prefiro viver num mundo cheio de problemas mas com antibióticos!". A ideia de que "antes é que era bom" é errada. "Antes" poderia ser bom para alguns, mas era muito mau para a larga maioria. O presente – então em Portugal, isto assume proporções quase gigantescas – é muito melhor do que o passado, pelo que é previsível (é certo!) que o futuro será melhor do que o presente. Só que, em termos históricos, o futuro não se escreve num dia ou num ano, e também não apenas numa dimensão económica, mas sim em décadas e em diversas perspectivas: a económica e financeira, com certeza, mas a social, ética, cultural, etc. As gerações dos nossos pais e avós passaram tempos terríveis: II Grande Guerra, Guerra Colonial, ditadura fascista… tanta coisa de que, felizmente por um lado, infelizmente pelo outro, os adolescentes não conhecem e os adultos já esqueceram. Quem tinha 18 anos no 25 de Abril terá agora 55…

Que solução?

É bom que o nosso discurso mude, deixando vitimizações de lado e a conversa fiada da infelicidade, da perseguição pelos outros e pelo Estado, e do quão coitadinhos somos. É importante, na minha opinião, que os nossos filhos saibam várias coisas e que isso seja acentuado:

1. Que ser adulto é ter uma fase da vida de enorme liberdade, e que essa liberdade será tanto maior quanto a pessoa decidir, desde cedo, ser senhor do seu percurso de vida e entender os graus de liberdade que tem relativamente a ele, através das escolhas correctas e da reflexão e ponderação sobre essas escolhas – quem pensar que está tudo predestinado ou que o que decidir hoje não tem impacte no amanhã estará, sim, a cavar um futuro perigoso. As teorias do carpe diem, ou do "viver cada dia como se fosse o último", por muito gentis e engraçadas que sejam, esquecem-se de um pequeno pormenor: é que tudo seria correcto se morrêssemos amanhã mas se não morrermos – o que será certamente o caso – o nosso futuro será mais difícil e pior se hoje não pusermos as pedras adequadas na calçada do nosso percurso de vida.

Ter a cabeça nas nuvens mas os pés bem assentes na terra parece-me uma solução engenhosa, criativa e eficaz…

2. Que as crianças e adolescentes têm uma vida como nunca tiveram em bens, liberdade, educação, opções de produtos e bens, conhecimento científico, acesso à informação e ao conhecimento, equipamentos, sociedade legislada e organizada, enfim, uma vida que as gerações anteriores ambicionariam ter e que construíram – não foi apenas a crise que lhes legaram, mas sobretudo uma sociedade de tolerância, democracia e liberdade.

Nunca, como hoje, se viveram tempos de tanto respeito pelos direitos humanos, de abundância e tanta qualidade de vida. Esta afirmação é fundamentada em factos, não é apenas opinativa.

3. Que o "quero tudo, já!" que reflecte o regresso à fase da omnipotência narcísica dos 15-18 meses de idade, e que muitas das crianças e adolescentes veem consagrado no seu dia-a-dia com pais que lhes dão tudo sem esforço e sem conquista, que consagram os seus desejos ao mínimo "piu", não esclarecendo que as expectativas não podem ser iguais à realidade e que é através do trabalho, da sabedoria, e da vida, no seu percurso, que se irão obter mais e mais coisas, tem de acabar porque não é exequível nem justo. O "quero tudo, já!" que se viu concretizado nos cartõezinhos mágicos que bancos e lojas davam às pessoas (como se fosse possível ter crédito ilimitado sem que alguém viesse depois pedir contas e juros, ou até mesmo como se fosse lógico, ético e moral contrair dívidas para gozo efémero e imediato sem que, no futuro, isso viesse a cair sobre quem as contraiu), tem de acabar com o "não!" que dizemos aos nossos filhos de ano e meio ou dois anos, quando nos pedem mundos e fundos.

O "não" é estruturante, desde que dito com afecto e firmeza, coerência e consistência. Seria aliciante não haver código da estrada, mas o caos no trânsito que se seguiria seria um preço demasiado caro a pagar, para lá da ineficácia e de não chegarmos a lado nenhum por termos tudo entupido à nossa frente. Com o percurso de vida é igual, embora as margens do rio não devam ser nem tão estreitas que o rio entra em torrente, nem tão largas que o rio alaga tudo e não progride.

4. Que a vida é difícil, em alguns períodos mais, noutros menos, que há épocas de vacas gordas e outras de vacas magras, mas que a sábia gestão de bens, expectativas, desejos e trabalho, numa óptica estratégica e táctica, pode conseguir airbags que evitam males maiores e permitem uma boa navegação ao longo da vida.

Sem estar com um discurso do "Ó tempo volta para trás", é bom relembrar a história dos pais, da família, da comunidade, do país… porque a memória é curta, e muito mais quando houve uma revolução paradigmática em termos de informação e comunicação.

5. Que ser adolescente em tempos de crise é normal, porque a crise é inerente a todas as fases da vida, incluindo a adolescência e talvez até mais pela velocidade de crescimento, desenvolvimento, autonomia, identidade, projectos, afectos e outras coisas que tal e que cada um poderá dar a volta à crise se mantiver a lucidez, tentar a excelência de si próprio, esforçar-se por conseguir ultrapassar-se e assumir o aperfeiçoamento como objectivo de vida.

Os filhos não são nem podem ser a segunda edição do nosso livro, mesmo que com algumas correcções e emendas, e uma nova capa. Os filhos são o livro deles, com algumas dicas da nossa parte mas escrito por eles. Adolescer em tempos de crise é quase um pleonasmo. Mas, em todas as fases da vida, vivemos em crise, entrecortada por períodos de acalmia, de reflexão e também de fruição do que se foi estruturando e organizando, mas se a seguir à tempestade vem a bonança, como diria La Palice, a seguir à bonança virá necessariamente uma tempestade.

Continuemos a apoiar os nossos filhos, no seu processo de crescimento, segundo os princípios e valores que são os nossos, mas com uma grande capacidade de ouvir, escutar, dialogar, negociar e respeitar. Reciprocamente.

E mostremos – para nosso bem, igualmente –, que ser adulto é bom. Que o carro que vai sair do outro lado da máquina de lavar, depois da ameaça daquelas enormes escovas azuis que avançam à velocidade quase da luz, com barulhos e tremores, depois da nuvem branca de espuma que não nos deixa ver nada e da outra grande máquina de ar quente que avança em direcção a nós, o carro sairá do outro lado limpo e brilhante a cheirar bem e com aspecto novo, mesmo que subsistam alguns riscos e "cicatrizes" de factos passados. Mas, claro, como em tudo na vida, este sucesso dependerá da qualidade e afinação da máquina, da competência do operador e da vontade e força de vontade do próprio.

Há escolhas, dificuldades, obstáculos e crises. Mas há nós próprios, e é isso que temos de dizer aos adolescentes, caso contrário afirmar-nos-emos enquanto adultos como fracassados e falhados, o que, convenhamos, não será bom, nem para a nossa imagem, nem para o modelo que devemos ser (e que somos) para eles.

 

Mário Cordeiro, in Jornal o Público de 20/06/2013

O autor é médico e professor de Pediatria.

A Primeira Republica, a Ditadura, o Capitalismo e a CEE


“Mudar o mundo e a vida só se consegue se o homem se for mudando a si próprio. E para se mudar a si próprio tem sobretudo que escutar a vida. Pacientemente e humildemente, ver o que a vida lhe está a querer-lhe dizer e a que ponto o está empurrando.”

Agostinho da Silva


Sempre atuais estas Conversas Vadias com o Professor Agostinho da Silva, podem ser aplicadas tal como ontem, aos momentos que vivemos hoje.
Eis algumas frases de Agostinho da Silva, nesta entrevista:
 
 
"O importante era fazer as coisas, ligar e estar a declamar sobre elas"

"Naquele fim de Primeira República, com toda aquela gente extraordinariamente inteligente (...) não conseguia chegar a nenhuma espécie de organização de Portugal"

"Era Portugal ter tido dois regimes de portugueses, um era o do Rei governando os municípios republicanos e deu a volta ao Cabo da Boa Esperança e o outro foi de aguentar o desastre de Oriente e que depois teve de construir o Brasil, que não é coisa fácil para uma nação tão pequena, com tão reduzido número de pessoas e teve outro regime que foi o de se ouvir pouco as Cortes Gerais deixá-las bem espaçadas e deixando o Rei governando.
"Quando Dom João embarcou para o Brasil, esse segundo regime português foi embora e Portugal durante duzentos anos não teve nenhum regime português"


"A Primeira República não era um regime português era uma coisa qualquer importada de Inglaterra ou de França. A primeira Ditadura era uma coisa inspirada de algo que vinha de fora, que agora vejo que útil ao país foi, no sentido de que Portugal realmente estava sendo criticado em toda a parte, estava a "portugalizer", como se dizia naquela altura, quando nosso amigo veio lá de Coimbra, professor de Finanças, que percebia daquilo, pôr as Finanças em ordem, ele conseguiu manter aquela ordem financeira, que de resto o Afonso Costa já tinha tentado"


"E como havia gente que protestava e sentia que não era um regime adequado a Portugal, o nosso amigo teve que montar todo aquele aparelho policial, cadeias e pides e toda essa tralha".

BB: "De que o Sr. Professor foi vítima!"

"Eu fui vítima e fui favorecido. sabe? Porque se não fosse a Ditadura tinha ficado com o Doutoramento, com uma vida bem sossegada em Portugal e depois aborrecido da vida, porque não tinha visto o mundo ao passo que aqueles acontecimentos me obrigaram a ir embora e foram uma abertura para a Vida"
 
"Temos que dar qualquer jeito para que Portugal deixe de coxear e realmente se reinstale. Eu acho que o problema que está hoje diante de Portugal é de se reinstalar, de se restaurar (...) de voltar aquilo que os portugueses acharam que era o seu próprio Portugal"

"No final de contas não tenho feito mais do que apresentar e repetir o que foi a obra e o pensamento de muitos portugueses do séc. XIII, de Camões, do Padre António Vieira, de Fernando Pessoa. Não sou nenhuma espécie de génio ou de visionário."

"Ideias que não podiam ser aplicadas no tempo em que eles viveram, mas podem ser agora. Não só para que Portugal se reinstale, para que volte a si próprio, depois de ter sofrido a tal invasão europeia. Mas até para ajudar a Europa quando se fala de adesão de Portugal à CEE eu vejo aquilo como um desembarque na costa da Europa, para a ajudar, para ver se tem algum jeito depois de toda a confusão em que anda."

"Para que a Europa conseguisse tanta da sua tecnologia teve que sacrificar muito da sua Humanidade."

"A Economia Capitalista é a única que pode inaugurar a paz que é a de não haver carência para o Mundo. É a única que pode desenvolver o mundo até às condições - pelo que sabemos da Arqueologia - em que não faltava nada aos Homens, em que estes percorriam o Mundo à vontade e tinham sempre que comer."




Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=BE6oHRtcxN0; http://www.youtube.com/watch?v=YMSnaP7oudw

A Suméria

A Suméria é a civilização mais antiga que se tem registro, e estima-se que os sumérios viveram a mais de 3.500 anos a.C..
No decorrer da história mesopotâmica, os sumérios foram a primeira civilização a ocupar os territórios entre os rios Tigre e Eufrates.
No quarto milénio antes de Cristo, as primeiras populações sumérias ter-se-iam deslocado do planalto do Irã até se fixarem na região da Caldeia, que compreende a Baixa e a Média Mesopotâmia.
Provavelmente, Quish foi a primeira cidade fundada e logo foi seguida pelo surgimento de cidades como Eridu, Nipur, Ur, Uruk e Lagash.
Os sumérios foram os pais da escrita (escrita cuneiforme) e posteriormente também foi a eles que foi creditado o título de pais da astronomia. Foram os inventores da roda, das carruagens e muito mais.

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=P7m8JBfJ2f8; http://www.historiadomundo.com.br/sumeria/

Mértola - Visita à Vila - 2º Dia - Parte IV



A visita a Mértola continuou naquele dia. Cá de baixo, a meia encosta, olha-se para o cimo do anfiteatro, de onde se destacam o Castelo que domina a vila e a Igreja Matriz, que tal como o restante casario a todo o momento nos atrai.

Sobem-se então as ruelas estreitas e empedradas da vila, a caminho do Castelo. Lá em cima, caminha-se pela rua da Igreja até à Igreja Matriz, alvo de grande interesse pela sua singularidade. É uma igreja toda branquinha de cal, tal como as alvas casas alentejanas, mas há algo de estranho nela, pois outrora foi uma antiga Mesquita árabe que hoje ainda conserva muito da sua antiga arquitetura.

A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção ou de Entre-ambas-as-Águas, como também é chamada, é o único exemplar de arquitetura religiosa islâmica remanescente em Portugal. No entanto a igreja dos dias de hoje, apresenta ainda vestígios de construções anteriores à ocupação árabe, nomeadamente do período de domínio romano e até da época visigótica.

Segundo reza a história foi erguida no contexto da invasão muçulmana da Península Ibérica com a função de Mesquita, no séc. XII, e mais tarde no contexto da Reconquista Cristã da Península Ibérica (séc. XIII), foi transformada num templo cristão.

Do primitivo templo islâmico do séc. XII, são testemunho, quatro portas de estilo árabe e o "mihrab" (um pequeno espaço que é usado para a oração e geralmente é precedido por um arco orientado em direção a Meca), bem como no seu belo interior as abóbadas nervuradas, conservando ainda quatro arcos em ferradura.  

A Igreja tem quatro naves e 16 abóbodas, com capitéis em estilo romano, gótico e árabe e o referido e antigo mihrab, o canto que indica a direção de Meca. Em frente do mihrab, temos o altar-mor onde podemos ver abertos uma Bíblia e um Corão!

A atual configuração do templo data de uma campanha construtiva realizada no séc. XVI e hoje é sem dúvida nenhuma um documento precioso da presença muçulmana no sul do país e um testemunho real da antiga Mertolah árabe.

Quando se saiu da Igreja, cá fora soavam tambores e ouvia-se o som de cantigas árabes. O Souk situava-se logo mais abaixo e dali viam-se os panos que cobriam as ruas. Mais em cima em frente ao Castelo, uma tenda com o chão forrado de tapetes deixava entrar quem quisesse ouvir histórias das Mil e Uma Noites.

Convém aqui referir que os árabes estiveram em Portugal durante mais de sete séculos, e são poucos entre nós, os que o querem recordar, uma vez que são associados a povos bárbaros. Na escola, pouco se aprende sobre eles. Sabemos que nos deixaram a numeração, as noras, as laranjas e os limões, e as palavras começadas por “al”!... Mas os mouros deixaram-nos muito mais. Deixaram-nos a alma, os cantares, o gosto pelas artes, a culinária, as lendas… E muito mais.

Diz tristemente José Adalberto Coelho Alves, poeta, escritor, ensaísta, arabista, conferencista e jurista português, além de um grande historiador da presença árabe no nosso país: "E quantos árabes ilustres ligados à nossa terra têm merecido a atenção da nossa intelectualidade? - Apenas responderá um silêncio que magoa." (in "O meu coração é árabe. A poesia luso-árabe", Lisboa, Assírio & Alvim, 1987).

Caminha-se depois em direção ao Castelo Romano-Árabe que possui uma cisterna romano-mourisca e uma cisterna medieval. Ocupando o local de antigas construções romanas e de um pequeno bairro fortificado de época islâmica, o Castelo domina todo o povoado e serve de referência ao fragor de antigas batalhas, e à memória de outros feitos.

À entrada a estátua equestre de Ibn Qasi, um místico sufi, natural de Silves, governador de Mértola e Silves, que concertou um tratado de paz com D. Afonso Henriques e morreu assassinado naquela última cidade em 1151.
 
Fontes: http://pt.wikipedia.org/; http://cathedral.lnec.pt/portugues/mertola.html ; http://www.flickr.com/photos/vribeiro/8200542592/ ; http://museus.cm-mertola.pt/nucleos/castelo.html ; http://www.aaaio.pt/public/ioand259.htm; http://www.rotas.xl.pt/1204/500.shtm

Mértola - Visita à Vila - 2º Dia - Parte III


 

A bela Mértola é uma terra de remota origem e esteve desde sempre ligada à via fluvial que lhe assegurava as comunicações na região em que se encontra.

Mértola tem várias almas que ali a todo o tempo ressuscitam. A Myrtilis Iulia romana, a Mirtolah árabe e a Mértola portuguesa, que debruçada sobre o rio Guadiana, foi outrora um importante entreposto comercial fenício, depois cartaginês, romano e árabe, devido à facilidade de navegação rio acima, a partir da sua foz. Aqui andaram portanto, muitos navegantes de terras longínquas que por aqui andaram fazendo trocas de produtos e trazendo notícias e influências de outros mundos.

Com a chegada dos romanos, a povoação foi batizada de Myrtilis Iulia e por lá passava uma importante via romana que a ligava Pax Julia (a antiga Beja) a Baesuris (Castro Marim), e que dali derivava para Balsa (Tavira) e Ossónoba (Faro), com várias ligações ao resto da Lusitânia.

Assim a sua situação num ponto-chave de antigas comunicações terrestres ou fluviais com o sul da Península e como baluarte de defesa dessas vias, conferiu-lhe uma enorme importância ao longo dos séculos.
O ano de 712 assinala o aparecimento dos árabes. É o começo de um longo período de prosperidade para a Mirtolah muçulmana, que chega a ser capital de um reino Taifa, tal como Silves e Faro. Resultado do desmembramento do califado de Córdova, as diversas taifas da península contribuíam para o desenvolvimento cultural e artístico dos respetivos territórios.

Em 1238, a vila foi reconquistada aos mouros por D. Sancho II que no ano seguinte a entregou à Ordem de Santiago, vindo esta a proceder à sua fortificação.

Depois do Souk bem visto e revisto, era tempo da visita à vila de Mértola. Mas foi neste final de visita ao Souk, quando distraidamente olhava as bugigangas dos mercadores, que me perdi da família. Ainda esperei em vão à saída do mercado árabe, e como pareciam ter-se evaporado, e por minha conta resolvi explorar a vila.

A vila de Mértola hoje no Alentejo profundo, e com as suas várias raízes históricas, tem muito que ver. A sua implantação na encosta de uma elevação leva-a a estender-se desde as águas da margem direita do Guadiana até ao alto da colina onde se ergue o Castelo.

Começando por baixo, junto da margem esquerda do Guadiana vê-se o antigo Caís acostável romano, provavelmente à época fortificado, que juntamente com as inúmeras moedas romanas cunhadas na antiga Myrtilis Iulia, encontradas um pouco por todo o lado na vila, são os testemunhos da sua antiga importância.

No início da subida em anfiteatro a caminho do castelo, um pouco abaixo do início das ruas ocupadas pelo Souk, observa-se a Torre do Relógio. É provável que a Torre do Relógio tenha sido erguida em finais do séc. XVI ou inícios do séc. XVII, no contexto da reorganização da zona urbana da Praça do Município. Esta edificação foi erguida na proximidade de um conjunto de construções representativas do poder político, administrativo, judicial e económico e reaproveitando um antigo torreão da muralha, passou a marcar o limite da Praça do Município e a assumir-se como um dos elementos emblemáticos de Mértola. Em 1896 o relógio primitivo foi substituído por outro mais recente que vai continuar a marca o tempo da Vila Velha até aos nossos dias.

Antes da porta islâmica da entrada para o Souk, vê-se do lado esquerdo em lugar mais alto que o nível da estrada, o pequeno mas harmonioso Mercado de Mértola. Lá dentro vendem os produtos da região: As laranjas, as tangerinas, os limões, os queijos, o mel, as ervas aromáticas frescas e secas para os chás e as flores…
 
 
Fontes: http://pt.wikipedia.org/; http://www.luardameianoite.pt/serpa/serpa14.html; http://www.rotas.xl.pt/1204/500.shtml

Mértola - Festival Islâmico (Visita ao Souk) - 2º Dia - Parte II




O sábado em Mértola acordou ensolarado. Era o dia destinado à visita, quer da antiga "Mirtolah” muçulmana recriada, quer da atual Vila-Museu de Mértola.

Da varanda/parque automóvel onde pernoitámos, bem perto do centro histórico, a calma reinava, embora por vezes fosse entrecortada pela chegada e saída de veículos. Lá em cima, no morro, a alva Capelinha de Nossa Senhora das Neves, refletia intensamente o sol, dando-nos os bons dias e as boas vindas, pelo que do lado de fora da autocaravana, ali ficamos largos momentos a contempla-la.

Depois deixámos o espaço de pernoita e caminhando lentamente fomos até à zona da vila onde ocorria o recriado Souk (mercado), ponto central do Festival Islâmico.

Caminhou-se então por uma Mértola invadida pela sua renovada herança mourisca, onde se misturavam mercadores e artesãos oriundos da bacia do mediterrâneo, numa celebração cultural única.

O Festival Islâmico de Mértola é sem dúvida nenhuma uma festa de cor, odores de incensos e ervas aromáticas, os couros e o seu intenso cheiro, trazidos por gentes que cruzam o Estreito de Gibraltar e invadem durante estes dias a pacata vila.

Estes “estrangeiros” que ali se sentem como em casa, ajudam a fazer a recriação, num regresso de Mértola a uma civilização que deixou o seu testemunho nas pedras e monumentos da vila, e nestes dias misturam as suas “djelabas” e o seu “hijad”, com as roupas ocidentais, a gastronomia e o artesanato, os sabores e os saberes.

Este encontro com a história de Mértola, que se refaz de dois em dois anos, resulta numa visita única e exclusiva onde se mostra o Alentejo que respeita os seus pergaminhos, que resiste aos tempos, e que ao mesmo tempo se renova.

Mas esta festa não se faz só no Souk que se instala no centro histórico. O Festival aposta também em projetos culturais como, seminários, exposições, concertos, teatro, dança e animação de rua.

É precisamente esta última que se faz sentir logo à entrada do Souk e por ele a dentro. E desde logo se vislumbram os cabedais, os perfumes, as djellabas, o incenso, o sândalo, o odor do delicioso chá de menta, que não pode deixar de se beber enquanto se visita o Souk, bem como as especiarias, os frutos secos e a mistura de vozes árabes e lusitanas que ali dão cor, aroma e melodia especial às ruas cobertas de tecidos e esteiras, num refúgio perfeito para a luz do sol.

Esta recriação é acolhida de bom grado pela vila, que está ansiosa de recordar o passado, que aliás está presente em muitos dos seus vestígios arquitetónicos. Mas nela há também pedaços de história mais recente, como a que ficou depois da reconquista cristã. Em Mértola, a cada passo surge história, e em cada rua há um vestígio do passado.

Do Souk que se vai descobrindo nas ruas que serpenteiam a encosta, observa-se lá em baixo o majestoso Guadiana. A vila que se encontra situada numa elevação na margem direita do rio Guadiana, imediatamente a montante da confuência da ribeira de Oeiras, tem um inegável interesse panorâmico.

Lá em baixo, o vale profundo por onde correm os rios Guadiana e Chança (seu afluente do lado esquerdo), é um loval aprazivel de recreio e pesca.

Ali, junto ao rio Guadiana, a natureza resulta em bonitas e envolventes paisagens prontas para serem descobertas, mas só alguns viajantes curiosos e audazes é que tentam descobrir essas verdadeiras belezas naturais.


Fontes: http://www.mertolaonline.com/   ; http://www.cistertour.pt/ http://escape.expresso.sapo.pt/ http://provaoral.blogspot.pt/

Novas subjetivações e o mal-estar na contemporaneidade


Com a globalização, vivemos com a sensação que perdemos o domínio de nós mesmos, vivemos numa sociedade de risco.

O propósito desta conferência é crcunscrever as novas formas de subjetivação na atualidade, indicando os impasses do discurso psicanalítico de se confrontar com um Mundo no qual o Estado perdeu o seu lugar de referência axial no espaço social, tendo como contrapartida a disseminação da economia neoliberal.

A questão da autoridade paterna foi também colocada na berlinda, de forma que o imaginário da barbárie se atualizou no espaço social. É nessa perspectiva que o Édipo como referencia ética foi colocada em questão.

Nela o psicanalista Joel Birman chama a atenção para três categorias fragilizadas:

1.    Corpo - estamos sempre aquém do que queremos. Há um cuidado corporal acentuado; a saúde ao contrário da alma transformou-se no nosso bem supremo e o Stress tornou-se uma palavra-chave nos dias de hoje.

2.    Ação - há um excesso de sexualidade, de violência e criminalidade. Como consequência surgem ações fracassadas - as compulsões às drogas, à comida, ao consumo.

3.    Sentimentos - referem-se a variações de humor, depressões e enfermidades como a síndrome do pânico.

Há ainda um empobrecimento no campo do pensamento e no campo da linguagem; surge a linguagem-ação. Como consequência dessa fragilização o sujeito prefere explodir pela ação - passagem ao ato - que o Psicanalista Dr. Jorge Forbes chama de sintomas da globalização, como os crimes inusitados.

Esta é uma excelente palestra do psicanalista Joel Birman no programa Invenção do Contemporâneo, promovida pela CPFL Cultura, sob a curadoria do psicanalista Jorge Forbes, e transmitido pela TV Cultura.

Joel Birman é Psicanalista, membro do Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos e do Espace Analytique, Professor Titular do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Professor Adjunto do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq).


A não perder!...



Fontes: https://www.youtube.com/watch?v=Qeb0Fs_N9eQ; http://www.cpflcultura.com.br/2009/12/01/integra-novas-subjetivacoes-e-o-mal-estar-na-contemporaneidade-joel-birman/

Greve aos Exames



A escola pública de qualidade é mais importante que a data de um exame

Quando alguém diz “Eu sou a favor das greves…” segue-se, em geral, uma adversativa que precede a explicação por que, desta vez, nesta data, neste sector e nestas circunstâncias, a greve é socialmente injusta, moralmente ilegítima, tacticamente errada ou políticamente contraproducente. As razões por que não se deve fazer greve desta vez variam em género, em grau e em combinatória, mas o resultado é sempre o mesmo: a greve é um direito inalienável dos trabalhadores consagrado na Constituição da República Portuguesa, mas, na opinião das pessoas que assim falam, deve ser usada apenas quando não possui absolutamente inconveniente nenhum para ninguém.

Ora a greve não pretende ser uma arma inócua. A greve é uma arma de último recurso, que se usa quando os trabalhadores consideram que está em causa a defesa de direitos importantes – seus ou da sociedade em geral – e quando já falharam as negociações. Se as negociações são o momento da racionalidade e da discussão, de pesar ganhos e perdas, de avaliar vantagens e inconvenientes de um lado e de outro, a greve é o momento da força. A greve não é um recurso retórico. A greve é uma arma que se usa numa situação de conflito e visa prejudicar o adversário, enfraquecer a sua posição e, acima de tudo, mostrar a força que o lado em greve possui, para regressar de novo à mesa das negociações e para conseguir chegar a um acordo que satisfaça as partes. A greve pretende sempre ser uma chamada à realidade do outro lado – que, frequentemente, pensa que pode dispensar os trabalhadores e impor unilateralmente as condições que lhe convêm. Há uma razão prática que limita o recurso à greve e que a torna, de facto, uma arma de uso excepcional: os trabalhadores que fazem greve perdem o salário correspondente, o que, principalmente em época de crise, não é algo que se aceite levianamente.

O argumento de que a greve dos professores vai prejudicar os alunos e, por isso, não deve ser feita, é tão pueril como dizer que as greves de transportes não devem ser feitas porque prejudicam os passageiros e as greves de recolha do lixo não devem ser feitas porque prejudicam os moradores. As greves prejudicam sempre alguém. É evidente que os grevistas têm de pesar os prejuízos que causam em relação às causas que defendem e aos benefícios que esperam. Não é aceitável que uma greve de trabalhadores da saúde se salde por uma única morte que seja. Mas considera-se que um certo grau de desconforto momentâneo da população é um preço aceitável a pagar pelo direito a defender os nossos direitos. E são “os nossos direitos” porque a greve não é algo que apenas os outros façam. A greve é uma ferramenta que todos temos na mão.

É evidente que podemos ter opiniões diferentes sobre a justeza de uma dada greve, mas são raros os que acham que os professores não têm, no caso vertente, razão suficiente de protesto, perante a tentativa de industrializar uma escola pública de baixo nível para os pobres e proletarizar os professores. O prejuízo dos alunos? Essa é a arma da greve. Nenhum professor deseja ou aceita que um aluno seja seriamente prejudicado pela greve – além do incómodo decorrente de, eventualmente, repetir o exame – mas essa é uma preocupação que, agora, o Governo deve assumir. Havendo greve, tem de ser dada possibilidade aos alunos de realizar exames noutras ocasiões, de forma a não os prejudicar. Vai ser uma grande confusão? Provavelmente. Mas essa é, mais uma vez, a arma da greve. Essa é a pressão da greve e, se não aceitarmos que uma greve possa dar origem a estas formas de pressão, isso significa que não aceitamos o direito à greve. Nem o dos outros, nem o nosso. Significa que, sejam quais forem as condições que nos imponham no nosso trabalho, achamos que não devemos ter o direito de parar de trabalhar.

É evidente que existem nas greves em geral, e também nesta, coisas irritantes. Além de alguma imaginação nos protestos, teria gostado de ver no centro das intervenções dos professores a defesa da escola pública, a defesa da qualidade do ensino e a defesa dos direitos dos jovens (incluindo daqueles que deviam ser alunos e não o são) em vez de quase exclusivamente os direitos dos professores – por muito que estes sejam de prezar. Não é apenas um erro retórico: é um erro político de consequências sérias. Seria importante aproveitar este momento para explicar de que forma todas as medidas deste Governo põem em causa a escola pública inclusiva e de qualidade que tem sido construída nas últimas décadas. Mas os sindicatos dos professores estão demasiado centrados numa defesa estreita dos direitos dos seus associados. É um erro político porque facilita à direita o uso da retórica dos “privilégios” e da “resistência à mudança”. É um erro político quando a greve e o “prejuízo dos alunos” tornam fácil a acusação de “egoísmo” àqueles que são o principal esteio da escola pública e os principais autores dos seus êxitos – que existem e seria bom lembrar nestes dias de greve.

José Vítor Malheiros, in Jornal o PÚBLICO de 11 de junho de 2013



Fonte: http://www.leituras.eu/?p=6537&utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+As-Minhas-Leituras+(As+Minhas+Leituras)

Ver também: Eixo do Mal » Eixo do Mal SIC Noticias Programa do Dia 15-06-2013 (http://www.videosbacanas.com/eixo-do-mal-sic-noticias-programa-do-dia-15-06-2013/)