Mértola - Visita à Vila - 2º Dia - Parte IV



A visita a Mértola continuou naquele dia. Cá de baixo, a meia encosta, olha-se para o cimo do anfiteatro, de onde se destacam o Castelo que domina a vila e a Igreja Matriz, que tal como o restante casario a todo o momento nos atrai.

Sobem-se então as ruelas estreitas e empedradas da vila, a caminho do Castelo. Lá em cima, caminha-se pela rua da Igreja até à Igreja Matriz, alvo de grande interesse pela sua singularidade. É uma igreja toda branquinha de cal, tal como as alvas casas alentejanas, mas há algo de estranho nela, pois outrora foi uma antiga Mesquita árabe que hoje ainda conserva muito da sua antiga arquitetura.

A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção ou de Entre-ambas-as-Águas, como também é chamada, é o único exemplar de arquitetura religiosa islâmica remanescente em Portugal. No entanto a igreja dos dias de hoje, apresenta ainda vestígios de construções anteriores à ocupação árabe, nomeadamente do período de domínio romano e até da época visigótica.

Segundo reza a história foi erguida no contexto da invasão muçulmana da Península Ibérica com a função de Mesquita, no séc. XII, e mais tarde no contexto da Reconquista Cristã da Península Ibérica (séc. XIII), foi transformada num templo cristão.

Do primitivo templo islâmico do séc. XII, são testemunho, quatro portas de estilo árabe e o "mihrab" (um pequeno espaço que é usado para a oração e geralmente é precedido por um arco orientado em direção a Meca), bem como no seu belo interior as abóbadas nervuradas, conservando ainda quatro arcos em ferradura.  

A Igreja tem quatro naves e 16 abóbodas, com capitéis em estilo romano, gótico e árabe e o referido e antigo mihrab, o canto que indica a direção de Meca. Em frente do mihrab, temos o altar-mor onde podemos ver abertos uma Bíblia e um Corão!

A atual configuração do templo data de uma campanha construtiva realizada no séc. XVI e hoje é sem dúvida nenhuma um documento precioso da presença muçulmana no sul do país e um testemunho real da antiga Mertolah árabe.

Quando se saiu da Igreja, cá fora soavam tambores e ouvia-se o som de cantigas árabes. O Souk situava-se logo mais abaixo e dali viam-se os panos que cobriam as ruas. Mais em cima em frente ao Castelo, uma tenda com o chão forrado de tapetes deixava entrar quem quisesse ouvir histórias das Mil e Uma Noites.

Convém aqui referir que os árabes estiveram em Portugal durante mais de sete séculos, e são poucos entre nós, os que o querem recordar, uma vez que são associados a povos bárbaros. Na escola, pouco se aprende sobre eles. Sabemos que nos deixaram a numeração, as noras, as laranjas e os limões, e as palavras começadas por “al”!... Mas os mouros deixaram-nos muito mais. Deixaram-nos a alma, os cantares, o gosto pelas artes, a culinária, as lendas… E muito mais.

Diz tristemente José Adalberto Coelho Alves, poeta, escritor, ensaísta, arabista, conferencista e jurista português, além de um grande historiador da presença árabe no nosso país: "E quantos árabes ilustres ligados à nossa terra têm merecido a atenção da nossa intelectualidade? - Apenas responderá um silêncio que magoa." (in "O meu coração é árabe. A poesia luso-árabe", Lisboa, Assírio & Alvim, 1987).

Caminha-se depois em direção ao Castelo Romano-Árabe que possui uma cisterna romano-mourisca e uma cisterna medieval. Ocupando o local de antigas construções romanas e de um pequeno bairro fortificado de época islâmica, o Castelo domina todo o povoado e serve de referência ao fragor de antigas batalhas, e à memória de outros feitos.

À entrada a estátua equestre de Ibn Qasi, um místico sufi, natural de Silves, governador de Mértola e Silves, que concertou um tratado de paz com D. Afonso Henriques e morreu assassinado naquela última cidade em 1151.
 
Fontes: http://pt.wikipedia.org/; http://cathedral.lnec.pt/portugues/mertola.html ; http://www.flickr.com/photos/vribeiro/8200542592/ ; http://museus.cm-mertola.pt/nucleos/castelo.html ; http://www.aaaio.pt/public/ioand259.htm; http://www.rotas.xl.pt/1204/500.shtm

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