A visita a Mértola continuou naquele dia. Cá de baixo, a meia encosta, olha-se para o cimo do anfiteatro, de onde se destacam o Castelo que domina a vila e a Igreja Matriz, que tal como o restante casario a todo o momento nos atrai.
Sobem-se então as ruelas
estreitas e empedradas da vila, a caminho do Castelo. Lá em cima, caminha-se pela rua da Igreja até à Igreja
Matriz, alvo de grande interesse pela sua singularidade. É uma igreja toda
branquinha de cal, tal como as alvas casas alentejanas, mas há algo de estranho
nela, pois outrora foi uma antiga Mesquita
árabe que hoje ainda conserva muito da sua antiga arquitetura.
A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção ou de Entre-ambas-as-Águas, como também é
chamada, é o único exemplar de arquitetura religiosa islâmica
remanescente em Portugal. No entanto a igreja dos dias de hoje, apresenta ainda
vestígios de construções anteriores à ocupação árabe, nomeadamente do período
de domínio romano e até da
época visigótica.
Segundo reza a história foi erguida no contexto da invasão muçulmana da Península
Ibérica com a função de Mesquita,
no séc. XII, e
mais tarde no contexto da Reconquista Cristã da Península
Ibérica (séc.
XIII), foi transformada num templo cristão.
Do primitivo templo islâmico do séc. XII, são testemunho,
quatro portas de estilo árabe e o "mihrab"
(um pequeno espaço que é usado para a
oração e geralmente é precedido por um arco orientado em direção a Meca), bem como no
seu belo interior as abóbadas nervuradas, conservando ainda quatro arcos em
ferradura.
A Igreja tem quatro naves e 16 abóbodas, com capitéis em
estilo romano, gótico e árabe e o referido e antigo mihrab, o canto que
indica a direção de Meca. Em frente
do mihrab,
temos o altar-mor onde podemos ver abertos uma Bíblia e um Corão!
A atual configuração do templo data de uma campanha
construtiva realizada no séc.
XVI e hoje é sem dúvida nenhuma um documento precioso da
presença muçulmana no sul do país e um testemunho real da antiga Mertolah árabe.
Quando se saiu da Igreja, cá fora
soavam tambores e ouvia-se o som de cantigas árabes. O Souk situava-se logo mais abaixo e dali viam-se os panos que cobriam as ruas. Mais em cima em frente ao Castelo, uma
tenda com o chão forrado de tapetes deixava entrar quem quisesse ouvir
histórias das Mil e Uma Noites.
Convém aqui referir que os árabes estiveram em Portugal
durante mais de sete séculos, e são poucos entre nós, os que o querem recordar, uma vez que são associados a povos bárbaros.
Na escola, pouco se aprende sobre eles. Sabemos que nos deixaram a numeração,
as noras, as laranjas e os limões, e as palavras começadas por “al”!... Mas os
mouros deixaram-nos muito mais. Deixaram-nos a alma, os cantares, o gosto pelas
artes, a culinária, as lendas… E muito mais.
Diz tristemente José
Adalberto Coelho Alves, poeta, escritor, ensaísta,
arabista, conferencista e jurista português,
além de um grande historiador da presença árabe no nosso país: "E
quantos árabes ilustres ligados à nossa terra têm merecido a atenção da nossa
intelectualidade? - Apenas responderá um silêncio que magoa." (in
"O
meu coração é árabe. A poesia luso-árabe", Lisboa, Assírio & Alvim, 1987).
Caminha-se
depois em direção ao Castelo Romano-Árabe que possui uma cisterna
romano-mourisca e uma cisterna medieval. Ocupando o local de antigas construções romanas e de um
pequeno bairro fortificado de época islâmica, o Castelo domina todo o povoado e serve de referência ao fragor de
antigas batalhas, e à memória de outros feitos.
À entrada a estátua equestre de Ibn Qasi, um místico sufi, natural de Silves, governador de Mértola e Silves, que concertou um tratado de paz com D. Afonso Henriques e morreu assassinado naquela última cidade em 1151.
À entrada a estátua equestre de Ibn Qasi, um místico sufi, natural de Silves, governador de Mértola e Silves, que concertou um tratado de paz com D. Afonso Henriques e morreu assassinado naquela última cidade em 1151.
Fontes: http://pt.wikipedia.org/; http://cathedral.lnec.pt/portugues/mertola.html ; http://www.flickr.com/photos/vribeiro/8200542592/ ; http://museus.cm-mertola.pt/nucleos/castelo.html ; http://www.aaaio.pt/public/ioand259.htm;
http://www.rotas.xl.pt/1204/500.shtm
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