Gerês - Final da Viagem ao Gerês - 3º Dia - Parte IV




Chegados à Barragem da Caniçada, passamos a ponte e seguimos pela N304, a caminho de Braga.

A estrada que vai sempre subindo segue quase paralela ao braço este da Albufeira da Caniçada e mais à frente, torna-se sinuosa à medida que vai vencendo a encosta. Cheia de arvoredo vai convidando a olhar a paisagem que se vislumbra do lado direito, a partir de meia encosta.

O sol brilha como oferta de despedida e acompanha-nos sempre neste início de viagem de regresso a casa.

Um pouco mais a cima, e antes de se encontrar o cruzamento com a estrada alta que nos levará a Braga, encontramos do lado esquerdo o caminho de entrada para os domínios da Pousada de São Bento, uma das Pousadas de Portugal que oferece uma das melhores panorâmicas sobre a Albufeira da Caniçada.

Não resistimos ao chamamento e subimos pelo caminho acima até estacionarmos a autocaravana no parque da Pousada. Com uma localização única no coração do Parque Nacional Peneda-Gerês, esta Pousada tem vista para o rio Cávado e para a Barragem da Caniçada, bem como para o tranquilo e extenso lago formado pela sua albufeira.

Caminha-se em direção à entrada da Pousada e desta para o terraço do bar/restaurante, de onde se desfruta de uma das mais belas vistas sobre o Gerês.

A Pousada de São Bento situa-se num autêntico miradouro debruçado sobre a Albufeira da Caniçada, em plena bacia hidrográfica do rio Cávado. Ao fundo avista-se o fim do território Português e o começo do território Espanhol.

A paisagem é de tal maneira bela que não apetece mais sair dali. Tomando uma meia de leite quente com torradas, ali ficamos largo tempo no tranquilo conforto da Pousada, a olhar a paisagem, num dos mais belos enquadramentos paisagísticos e de referência de Portugal. 

Aquela pousada e outras que hoje por ali existem, não são mais do que a confirmação dos desejos de Tude de Sousa*, homem de ideias largas e muito à frente no seu tempo, que no ano de 1927 escreveu, “É preciso que o turismo alpestre se crie e se desenvolva, é preciso escalar a montanha e fixar por lá temporadas de dias de pleno ar, de plena luz, de plena natureza. E nenhuma serra convida tanto como o Gerez, onde os homens e as árvores, as pedras e as águas, a sua fauna e a sua constituição própria, nascidas, criadas e irmanadas num admirável conjunto, oferecem ao forasteiro, atrativos sem rival.”

No entanto naquele dia, só ali se encontravam hospedados alguns casais alemães, sendo estas casas nos dias que correm e muito devido aos preços praticados, cada vez de menor usufruto português.

Parte-se depois a caminho de casa. Faz-se só uma paragem, para a compra de uma caixa de cereja, que abundam à venda na beira da estrada, por aquelas bandas na Primavera.

Depois a passagem por Braga e pelo Porto já ao anoitecer, antecedem a estirada final, pois como escreveu um dia José Saramago, “O fim duma viagem é apenas o início de outra”…


Fonte: http://www.booking.com/ http://www.pousadas.pt/ http://www.cm-terrasdebouro.pt/

·        Tude Martins de Sousa foi um famoso Regente Agrícola, jornalista e escritor português, que desde 1904 a 1914 foi "Regente Florestal" da Serra do Gerês e autor de muitas obras sobre o Gerês.

Analisando o Ódio...

A palavra ódio tem origem no latimodiu”, que é a paixão que impele a causar ou desejar mal a alguém.
 
O ódio é pois um sentimento absolutamente negativo, podendo ser definido por raiva intensa. Traduz-se na forma de antipatia, aversão, desgosto, rancor, inimizade ou repulsa, contra uma pessoa (ou algo) mesmo que esta, nada lhes tenha feito, assim como o desejo de evitar, limitar ou destruir o seu objetivo.

O ódio pode também basear-se no medo do objetivo, seja justificado ou não. É descrito com frequência como o contrário do amor, ou da amizade. No entanto para outros, como Elie Wiesel*, o oposto do amor é a indiferença.

O ódio não é necessariamente irracional, e para alguns é razoável odiar pessoas ou organizações que ameassem ou façam sofrer alguém.

Neste Café Filosófico, o historiador, filosofo e professor universitário Leandro Karnal fala-nos do Ódio no Brasil. Mas como o ódio é um sentimento à escala mundial, também nos faz uma análise do ódio como sentimento integrante do ser humano, tratando do tema não só do ponto de vista histórico mas também filosófico.

Esta é mais uma excelente palestra a não perder, apresentada pela televisão brasileira CPFL Cultura.
 



Fonte: http://pt.wikipedia.org/

*Ler mais em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Elie_Wiesel

A Falta de Cultura Ética da Nossa Civilização

 

Creio que o exagero da atitude puramente intelectual, orientando, muitas vezes, a nossa educação, em ordem exclusiva ao real e à prática, contribuiu para pôr em perigo os valores éticos. Não penso propriamente nos perigos que o progresso técnico trouxe diretamente aos homens, mas antes no excesso e confusão de considerações humanas recíprocas, assentes num pensamento essencialmente orientado pelos interesses práticos que vem embotando as relações humanas.

O aperfeiçoamento moral e estético é um objetivo a que a arte, mais do que a ciência, deve dedicar os seus esforços. É certo que a compreensão do próximo é de grande importância. Essa compreensão, porém, só pode ser fecunda quando acompanhada do sentimento de que é preciso saber compartilhar a alegria e a dor. Cultivar estes importantes motores de ação é o que compete à religião, depois de libertada da superstição. Nesse sentido, a religião toma um papel importante na educação, papel este que só em casos raros e pouco sistematicamente se tem tomado em consideração.


O terrível problema magno da situação política mundial é devido em grande parte àquela falta da nossa civilização. Sem «cultura ética», não há salvação para os homens.
 
Albert Einstein, in 'Como Vejo o Mundo'

Gerês - Da Cascata do rio Arado até Rio Caldo - 4º Dia - Parte III



 
Retemperadas as forças faz-se o caminho de volta à autocaravana pelo vale onde nasce e começa a correr o rio Arado. Com muita pena se deixa a meio caminho a Cascata do Arado e desce-se em direção à ponte para se fazer a partida para a penúltima etapa do percurso planejado para aquele último dia, desta feita já a caminho de casa.
Segue-se então pelo caminho inverso em terra batida até ao entroncamento, que nos levou até Ermida.
Ermida é uma aldeia serrana de vocação pastoril e muito típica, situada num vale alto e fértil, a leste de Caldas do Gerês e rodeada de terras de cultivo. Oferece lindas vistas sobre o vale do Cávado e merece bem uma visita.
Parámos para observar a comunidade. Vimos casas de pedra com uma traça bem típica rodeadas de paisagem despoluída, que fez brotar em nós um sentimento de bem-estar... Como deve ser bom habitar num lugar como aquele!…
Depois começa-se a descer a serra até ao vale do rio Cávado, e pelo vale se segue até à aldeia de Fafião. Fafião é a aldeia vizinha de Ermida e por isso também situada na zona leste do Parque Nacional da Peneda-Gerês, na margem direita do rio Cávado e é das comunidades do PNPG que melhor tem conseguido preservar a genuinidade do seu património e das tradições culturais.
Uma vez em Fafião, seguimos o caminho por entre ruas estreitas, com casas baixas em granito e cheias de ar puro e tranquilidade e saímos da povoação como entrámos: sem dar nas vistas, com muita paz.
Segue-se depois por um antigo caminho irregular de pastores, mas de grande beleza (pouco recomendável a automóveis convencionais) até onde está situada uma armadilha ancestral, o “fojo do lobo”, uma obra-prima do engenho popular, usada por certo em tempos em que os lobos abundavam, fazendo perigar a vida de rebanhos e animais de capoeira.
Percorremos um serpenteado de estrada por entre muros e campos de uma verdura forte e intensa, observando os lodos e as vides, com os seus ramos cheios de jovens rebentos verdes claros, que rebentaram no início da Primavera.
É em plena serra que se encontra a armadilha ancestral do Fojo do Lobo. A antiga armadilha é feita em pedra e consiste num poço profundo ao qual conduzem duas altas paredes de granito que, começando muito afastadas, vão estreitando progressivamente até quase se juntarem no final. Os pobres lobos eram acossados por meio de uma batida até à entrada da armadilha, a partir da qual não tinham outro remédio senão seguirem em frente, até ao buraco onde acabavam por cair. Este foi talvez o início da extinção dos lobos na Serra do Gerês.
Lobos e Fojo representam marcas do nosso Património. Natural para os primeiros; Cultural e/ou Etnográfico para o segundo. Mas ambos têm um denominador comum, o homem, enquanto predador dos outros ou presa de si próprio...
Desce-se depois a serra por estrada sinuosa a caminho de Rio Caldo. Lá em baixo um dos braços da Albufeira da Caniçada que pertencente à bacia hidrográfica do rio Cávado, espera por nós em terras mais baixas.
Pelo caminho ainda se para, para se fazer um lanche na autocaravana, na berma da estrada e junto de uma fonte com o seu nome escrito numa tabuleta com a marca do Parque da Peneda-Gerês. É a Fonte da Soalheira e como ela existem dezenas de outras fontes de águas límpidas e frescas ao ar livre, onde se podem provar as águas ricas da Serra do Gerês.

Depois do lanche continua-se viagem. Acaba de se descer sempre acompanhados por belas paisagens, onde as águas azuis da albufeira sobressaem, envoltas por encostas escarpadas da serra.
 
A estrada vai descendo sempre até se encontrar o vale e depressa se chega às pontes brancas da Albufeira da Caniçada, que nos dão acesso ao Rio Caldo.

Fonte: http://www.lifecooler.com/ ; http://www.aaeum.pt/ ; http://www.serradogeres.com/ ; http://www.serra-do-geres.com/ ; http://www.igogo.pt/

Espaçonave Terra

 
Cada um de nós é simplesmente um mero tripulante de uma grande espaçonave que todos os anos percorre mais de novecentos e vinte milhões de quilómetros pelo espaço. Estamos a falar, é claro, da Espaçonave Terra, que se move em torno do Sol enquanto este nos leva, junto com todos os demais integrantes da grande família solar, num longo passeio pela galáxia.


Mas a Terra é também um planeta muito especial, pois é o único planeta que ofereceu condições à existência de vida. A atmosfera e o seu campo magnético ajudam para que não aconteçam catástrofes, como a entrada de meteoritos e a alta radioatividade do sol e das estrelas.


A Terra é por isso um bem único, que não tem qualquer termo de comparação e por isso um bem a preservar para as gerações futuras. A nossa intervenção no planeta Terra decidirá o seu futuro e o futuro de todas as formas de vida.


Infelizmente os “comandantes” desta grande nave estão mais interessados com o momento e só preocupados com o lucro fácil, não se importando com as consequências. Talvez quando alguém quizer tomar realmente as devidas providências, seja tarde demais…


No entanto todos os tripulantes da Espaçonava Terra, têm o direito a um ambiente saudável e igualmente o dever ético, moral e politico de preservá-lo para as presentes e futuras gerações. É preciso então que se consolide esse princípio como ato de cidadania, condição essencial para construirmos uma sociedade sustentável. Enquanto isso, devemos cada um de nós fazer a nossa parte, protegendo o ambiente ou reinvidicando por melhores condições para o planeta.


Espaçonave Terra é 8º episódio de uma série de 12 documentários relativos ao tema geral “O Universo”, que aqui vem sendo dado a conhecer às sextas-feiras.


Boa visualização...

 


Fonte: http://www.youtube.com/  ; http://www.zenite.nu/ ; https://sites.google.com/ ; http://luanagsantos.wordpress.com/


Gerês - Da Pedra Bela à Cascata do rio Arado - 4º Dia - Parte II




Antes de se deixar o Miradouro da Pedra Bela, olha-se durante largo tempo as belas vistas, a partir daquela que é uma perfeita janela aberta sobre o Parque Nacional da Peneda Gerês, observando atentamente a magnífica beleza daquele espaço imenso, formado pela Albufeira da Caniçada, os rios que molham a serra, e claro a própria serra ondulante e com densa vegetação, que formam no seu todo uma das paisagens mais belas do Portugal.

Parte-se depois a caminho de Ermida, para mais uma etapa de encantar. Falar do Gerês é falar de natureza, é ver por entre o granito cinzento das montanhas o verde da densa vegetação. As águas cristalinas que correm ora por fontes, ora por cascatas, ora por rios, ora por ribeiros, envolvidas por toda essa imensa biodiversidade e ar puro, e que nos proporcionam uma calma e um prazer enorme a todos aqueles que o visitam.

No caminho e mais uma vez, somos acompanhados pelo verde intenso da folhagem de uma enorme variedade de espécies arbóreas, arbustivas e rasteiras. Estamos na presença da Mata de Albergaria que é um dos mais importantes bosques do Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG), constituída predominantemente por um carvalhal secular, mas que inclui também muitas espécies características da flora geresiana, além das mais variadas coníferas próprias de zonas altas e frias.
 
A Mata de Alberegaria fica situada entre as Caldas do Gerês e a Portela do Homem a oeste, estendendo-se para norte em direção a Ermida e Fafião, e para sul, onde termina em Campo do Gerês. É uma reserva botânica que alberga um importante carvalhal em estado natural, que além do seu valor ecológico, possui importante valor histórico, pois é visível em toda a sua extensão, o resto da Geira Romana, com os seus marcos miliários.

Possui um ecossistema quase intacto, uma vez que a baixa presença humana nesta mata não rompeu o seu frágil equilíbrio, cuja riqueza e variedade contribuíram para a sua classificação pelo Conselho da Europa, como uma das Reservas Biogenéticas do Continente Europeu.

Quando se chegou ao cruzamento situado à entrada de "Ermida", com as indicações "Pedra Bela" à direita e "Cascata do Arado" à esquerda, virou-se nesta última direção e é ali que e acaba o luxo do alcatrão.

Seguimos então por uma estrada estreita em terra batida e em muito mau estado. Quando o caminho começa a descer deixámos a autocaravana e a pé continuámos o caminho, até à ponte que faz a ligação entre as duas margens do rio Arado.

O segundo objetivo do percurso que se tinha idealizado para aquele dia, a observação da linda “Cascata do Arado”, estava próximo de ser realizado!... O entusiasmo aumentava à medida que se caminhava, atingindo-se um sentimento de verdadeira espectativa…

Junto da ponte observa-se o rio Arado que corre entre calhaus rolados, no sentido sul–norte. Ali o rio é ainda muito jovem, acabado de nascer lá em cima, no início da cascata, nos contrafortes da elevação abrupta, situada na margem direita do vale, para onde corre o rio Arado.

A Serra do Gerês é entalhada por uma rede de drenagem organizada em torno de cinco cursos de água principais, todos afluentes do Rio Cávado. O rio Arado é um desses troços.

Passa-se a ponte e toma-se o caminho do lado esquerdo, que sobe encostado à encosta do morro escarpado, que limita a margem esquerda do rio. O caminho com lanços de escadas, está em mau estado, mas nota-se que não foi sempre assim, fazendo adivinhar que já teve melhores dias.

No caminho e a meia encosta, pára-se para se beber água fresquinha da serra, numa fonte à direita do caminho e logo à  esquerda encontramos o miradouro de onde se observa bem a Cascata do Arado, que cai de uma altitude de cerca de 750 metros.

A Cascata do Arado faz parte de um belo conjunto de cascatas formadas por numerosos ribeiros que pontificam no Parque Natural da Peneda-Gerês. A Cascata do Arado diferencia-se de muitas outras pela precipitação das águas em consecutivos degraus, onde se formam conchas que armazenam água muito límpida.

Seguindo o caminho com espírito aventureiro, sobe-se o monte até ao alto e chega-se a um pequeno planalto onde existe uma grande rocha de granito. Descansa-se... E ao fundo um pequeno riacho que tem a sua foz no Arado. Lá em baixo, bem pequenina, a ponte sobre o rio espera por nós à descida.


Fonte: http://www.oquevisitarem.com/ ; http://www.cm-terrasdebouro.pt/ ; http://www.lifecooler.com/ ; http://www.igogo.pt/ ; http://www.serra-do-geres.com/

 

Gerês - De Caldas do Gerês à Pedra Bela - 4º Dia - Parte I




No último dia do final de semana no Gerês e antes de partirmos a caminho de casa, tínhamos planeado um último percurso pela Serra do Gerês. Este último percurso é no seu todo um misto constante de beleza e aventura.

Partimos então do Parque de Campismo do Vidoeiro, deixando para trás o ativo e fresco rio Gerês, a caminho das Caldas do Gerês, e logo à frente à esquerda, encontrámos o cruzamento que nos levaria por estrada estreita, ingreme e sinuosa, até ao alto da serra.

Pelo caminho que se faz devagar, mas com andamento suficiente para vencer a inclinação, subimos a encosta sul da montanha sobranceira ao desfiladeiro das termas. Pelo caminho a floresta abraça a estreita estrada alcatroada, e aqui e ali os riachos brotam impetuosos em cascatas que descem a caminho do vale.

A meio caminho pára-se para provar a água límpida que sai por uma bica, na Fonte do Curral do Gaio. Novamente a caminho do alto da serra, segue-se por estrada que por vezes afunila, fazendo temer a passagem por outros veículos que circulem em sentido contrário, uma vez que por vezes não possui qualquer resguardo, nem escaparates.

Chegados ao cume da montanha, são 830 metros que se atingem e a vegetação luxuriante que nos acompanhou durante todo o caminho não se aligeira, pois a arborização contínua densa, mas a estrada alarga, fazendo com que se respire de alívio e com um prazer redobrado porque ali se nota um ar mais puro, embora mais rarefeito. Ali dominam as coníferas das mais variedas espécies.

Seguimos então para a direita, quando uma tabuleta nos indica a direção do Miradouro da Pedra Bela. Paramos a autocaravana e seguimos a pé por um caminho em terra batida, em direção ao antigo miradouro. Encontra-se em primeiro lugar uma bonita construção em granito, com uma torre de vigia e que corresponde à antiga casa do guarda-florestal, hoje em estado de abandono, e à sua volta vê-se um grande aglomerado de penedos graníticos. Subimos por eles acima e ali empoleirados observamos as magníficas vistas em direção oeste, que impressionam. Como uma verdadeira vista aérea, observa-se primeiro a densa floresta de pinheiros e coníferas com exemplares de grande porte, misturados com outras espécies arbóreas como o carvalho, o azereiro e o medronheiro, entre outras… Lá em baixo o casario, que se estende pelas vertentes mais baixas do vale estreito, percorrido pelo rio Gerês.
 
Depois caminha-se em sentido contrário, mais alguns metros por estrada alcatroada, que nos separam do miradouro novo da Pedra Bela. Os visitantes são em maior número, pois dali se desfruta de um panorama de beleza arrebatadora. É um dos mais belos miradouros de Portugal, que fica situado a uma altitude de 834 m, onde a vista tudo abarca…

É ali que encontramos uma lápide em bronze, com o poema "Pátria" de Miguel Torga, que segundo alguns conhecedores da sua vida e obra, afirmam que foi escrito ali, na Pedra Bela.
 
A Pedra Bela desde sempre encantou quem por ali passa, dizendo os antigos que foi a mão divina que aqui a colocou, como que uma peça num presépio, perfeita e imponente. Este é um dos locais mais famosos do Gerês, e uma vez avistando a paisagem, percebe-se instintivamente o porquê. Montanhas, a Albufeira da Caniçada, os rios que serpenteiam a serra, a confluência do rio Cávado com o rio Caldo, a vegetação própria daquela serra, ou a estonteante Portela do Homem!…
 
Sobe-se um pouco mais, por uma escadaria em pedra que nos leva até ao miradouro com corrimões de ferro galvanizado. Como águias que pairam nas alturas, observamos lá em baixo as Caldas do Gerês com o seu casario confinado pelo desfiladeiro das termas. Para Este estende-se a Albufeira da Caniçada formando o grande lago que se espraia até à Barragem do Rio Caldo.  Ao longe, mas bem distintas as elegantes e brancas pontes do rio Caldo mostram que a partir dali é a serra que se impõe. À volta das águas da albufeira, os altos picos da Serra do Gerês emolduram a paisagem, fazendo realçar a beleza magnificente do conjunto.

É especialmente ali que  se impõe recordar mais uma vez Miguel Torga, um filho daquelas terras. "Gosto de rever certas paisagens, ainda mais do que reler certos livros. São belas como eles e nunca envelhecem. O tempo não degrada a linguagem que as exprime. Pelo contrário. Enriquece-a, até, num esforço de perfeição constante que, embora involuntário, parece intencional. (...) E eu olho, olho, e não me canso de admirar uma placidez assim permanentemente movimentada (...)." (Gerês, 3 de agosto de 1959, Diário VIII).
 
Fonte: http://fragasepragas.blogspot.com/ http://www.serra-do-geres.com/ http://www.guiadacidade.pt/ http://www.igogo.pt/ http://www.serra-do-geres.com/
 

Temor, Tremor ou Amor?

Depois da série de documentários, subordinados ao tema “O Poder da Arte” da BBC, que terminou na última segunda-feira, irei aqui trazer mais alguns belíssimos episódios do Café Filosófico, exibidos no Brasil pela TV Cultura.

Há no homem uma fratura profunda: somos um poço que contempla o céu. Não sabemos quem somos, nem porque aqui estamos. Esta pergunta sempre nos guiou em direção aos deuses. A história das religiões nos ensina como amor e medo andam lado a lado, como força e destruição são irmãs, como fé e sofrimento se completam quando se trata de deuses. Diante de um universo cada vez mais vazio, um palco de pedras, o que o homem contemporâneo poderia encontrar na religião que o ajude a compreender porque ele tem tanto medo? Por que Deus nos proíbe de sermos covardes?

O episódio aqui apresentado é uma palestra realizada pelo historiador e filosofo Leandro Karnal, que aqui faz uma análise sobre a ideia do medo nas religiões.

Leandro Karnal é graduado em História e Filosofia, doutorado em História pela USP, pós doutorado na UNAM do México e no CNRS de Paris. Além disso, é professor e coordenador da pós graduação da Unicamp e autor de diversos livros, entre outros "História dos Estados Unidos" e "Teatro da Fé", e coautor do recente "Religiões que o mundo esqueceu" e "História da Cidadania".

A não perder…


Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=Bk4DkKaL6L8&playnext=1&list=PLSNFU0COWUJQA_HZ8DDFQ_GSBUDPFXJS7

O Estado da Nação


Numa altura em que o país se prepara para o regresso ao quotidiano, vale a pena auscultar o pulsar da Nação. As espectativas, os comportamentos e os medos dos portugueses.
 
Com o Orçamento de 2013 à porta e a perspetiva de mais austeridade, será que há um rumo estratégico para o país? O serviço pú...blico de televisão, RTP 1, entrevistou José Gil.
José Gil é um filósofo, ensaísta, investigador e professor universitário que foi galardoado com o Prémio Vergílio Ferreira 2012 instituído pela Universidade de Évora, devido à relevância do seu pensamento, e ao seu "contributo singular para uma reflexão profunda sobre a identidade do Portugal contemporâneo".
Proponho então que se visualizem duas entrevistas. A primeira foi realizada pela jornalista Fátima Campos Ferreira, na Edição Especial de 04 Set 2012 - RTP Play - RTP (http://www.rtp.pt/play/p760/e91756/edicao-especial).

1ª Entrevista (Clique p.f. em cima do seguinte link):


(Ainda poderá além desta, visualizar mais duas entrevistas a duas personalidades de referência da vida pública nacional, aos professores António Sampaio da Nóvoa e Diogo Freitas do Amaral. Conceitos e opiniões diferentes que podem contribuir para uma melhor compreensão do que está a acontecer a Portugal, à Europa e ao Mundo, e que poderão ser visualizados em: Edição Especial de 03 Set 2012 - RTP Play - RTP ; Edição Especial de 05 Set 2012 - RTP Play - RTP)
A 2ª Entrevista foi a última entrevista dada por José Gil, à RTP – Antena 1 realizada ontem (2013-01-05 13:00:00) e conduzida pela jornalista Rosário Lira. Nela é feita uma análise sobre O país em 2013. O futuro, o empobrecimento, a política de austeridade. Os portugueses e a crise que vai aumentar e desmascarar toda uma sociedade. Reflexões de um dos maiores pensadores portugueses de sempre.

2ª Entrevista (Clique p.f. em cima do link seguinte):



Romantismo do Desespero



Como legado de meu pai, herdei uma coleção de velhas revistas “BROTÉRIA”, de edições dos anos 50, que venho lendo aos poucos ao deitar. Um dos últimos artigos lidos foi um estudo/reflexão da sociedade daquela época, cujo tema é "Romantismo do desespero", (BROTÉRIA - REVISTA CONTEMPORÂNEA DE CULTURA, Vol. LXV, número 4, Outubro de 1957, pp. 291-308), do Pe. Agostinho Veloso e que para mim não é mais do que um texto profético que agora se confirma.
Procurei o texto na internet, mas não o encontrei, só aparecendo um registo da sua existência na página web da revista BROTÉRIA, que ainda hoje se edita, mas agora com a designação, BROTÉRIA – CRISTIANISMO E CULTURA.
Por ser o seu conteúdo de enorme atualidade, copiei a primeira parte. É uma excelente reflexão para oferecer, em tempos que a confirmam e que sempre se repetem, e ainda recordar a escrita e o pensar do Pe. Agostinho Veloso, um «Jornalista de garra e verbo camiliano»*.
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Romantismo do Desespero

“Mais ce n’est pas justement à un surcroît de rêve, entretenu par de célèbres esthètes de fausses prophéties, que l’on doit ce romantisme du désespoir?”

                                                                       Jean-Marie Creuzeau (1)

Na vida, como na sua expressão literária e artística, o mundo dá-nos a impressão de ter perdido a alma. Mas, porque a alma está lá, o mundo dá-nos também a impressão de se contorcer em vascas de desespero. E, como o desespero é mau conselheiro, não admira que o mundo se esteja a transformar também ou numa leoneira de ferras, ou numa estância de loucos.

A paixão lúdica, tão característica do nosso tempo, vem daí. Nasce deste terrível estado de espírito, a que chegou o homem sem Deus, e se pode comparar à inquietação da agulha magnética, depois de ter perdido o norte. A agulha nem sente nem pensa. Se sentisse e pensasse, para ela, o facto de ter perdido o norte, seria, ao mesmo tempo, o desespero e a loucura. Ora, o homem moderno vai perdendo o sentido do sobrenatural. E é também nessa medida que ele se vai precipitando no desespero e na loucura. Desespero, até ao suicídio; loucura até ao absurdo, tanto no pensar, como no viver.

Estou a escrever isto, e a pensar em Lucrécio, cujo ateísmo o lançou, precisamente, no suicídio e na loucura. E penso, também em Pascal, debruçado sobre o paradoxo humano, paradoxo feito de grandeza e de miséria – uma grandeza que fala de Deus, que para Si nos criou; e uma contradição só em Cristo e por Cristo se poderia resolver.

Como diz Pascal, “La connaissance de Dieu sans celle de sa misére fait-l’orgueil. La connaissance de sa misére sans celle de Dieu fait de dásespoir. La connaissance de Jésus-Crist falt le milieu, parce que nous y trouvons et Dieu et notre misére” (2). Mas quem é Jesus Cristo, para essas pobres vítimas do romantismo do desespero, tão frequentes no nosso tempo?

Conduziu-me a estas reflexões uma breve meditação sobre dois desastres recentes: o que matou James Dean e o que ia matando Françoise Sagan. Ambos eles exemplificam o romantismo do desespero, em que o nosso mundo se está a precipitar, e em escala cada vez mais alarmante. “Dentro do carro, - dizia Dean – sinto que sou uma estrela”. Era a loucura romântica a roçar pelas raias da megalomania. E o resultado foi esfacelar-se, ainda rapaz, com o carro que conduzia à velocidade de 150 quilómetros por hora! “Adoro conduzir com os pés nus”, - dizia Sagan, num acesso ultra-romântico de exibicionismo patológico. E foi assim que ela, quando conduzia à mesma velocidade do comparsa americano, por pouco não ia tendo a mesma sorte…

Sente-se, no mundo contemporâneo, uma fadiga geral, que vai do delírio da acção, até ao “dolce far niente”, como lei suprema da vida. O meio termo, que é o centro do equilíbrio criador, tornou-se cada vez mais difícil. A reflexão repousada e atenta supõe um ideal supremo da vida, um ideal a que todos os outros se devem subordinar. Ora esse ideal supremo é inconcebível, se o homem não passa de um epifenómeno da matéria, e se todas as suas acções se confinam, no tempo e no espaço, aos estremos limites da sua passagem pelo mundo.

Mas o espirito está lá, e, com ele, estão aspirações incoercíveis de infinito, que o homem pode iludir, mas não pode experimentar. Daí, antinomias insuperáveis, que solicitam o homem para fora das linhas clássicas da existência, e o projectam num mundo de sonho, em que se refunde, afinal, o romantismo do desespero, para onde os estetas de falsas profecias nos estão a conduzir.

Para o romantismo do desespero, nem contam as leis eternas de Deus, nem valem as leis de emergência dos homens. Daí, a rebelião e o azedume, numa atitude constante de desconfiança e de autodefesa, tão facilmente encontradiça, por exemplo, em todos os filmes, em que James Dean é protagonista. Estou a pensar em “Fúria de Viver”, “A leste do Paraíso” e “O Gigante”. São filmes sombrios, feitos à imagem semelhança do actor, que nem sequer precisou de representar, para aparecer em cena. Bastou-lhe ser ele, tal e qual o romantismo do desespero o fez.

Em “Fúria de Viver”, James Dean é um inadaptado incorrigível, na escola e em tudo, e, por isso, um falhado e um indesejável social. Em “A leste do Paraíso”, a inadaptação e o cinismo atingem o desespero dentro do próprio lar paterno. E em “O Gigante”, vemo-lo encarnar o egoísmo cínico do arrivista falhado, no que há de mais profundamente humano no coração do homem. Creio serem estes os únicos filmes em que James Dean colaborou, e em todos eles o protagonista se desentranha em gestos absurdos, ferozmente egoístas, e com total desprezo pela comunidade. O reflexo da auto-defesa, que corresponde a este criminoso desprezo para com a comunidade, conduz, pelo seu próprio peso, à constituição de pequenos estados no estado, ou sejam as sociedades artificiais, que têm o seu paradigma na mania clubista, quase sempre organizada à imagem e semelhança das lojas maçónicas e das células comunistas. Havia uma célula natural, que era o lar, prolongado na amizade de vizinhança e na afinidade das famílias do mesmo sangue. Mas tudo isto se perdeu, quando se perdeu, o sentido superior da vida. Na sua vez, surgem as comunidades artificiais, que são os clubes, organizados em seitas de todas obediências, menos a legítima e nobilitante obediência à autoridade constituída.

Foi assim que os estetas de falsas profecias levaram todos os descontentes a trocar a milícia pelo ergástulo, e a substituir a ordem clássica da paz, que é a tranquilidade na ordem, pelo romantismo do desespero, que é a desordem definitivamente instalada na vida de cada um.

Para justificar todo este artificialismo, que os três filmes de Dean traduziram e talvez pretendessem legitimar, há quem diga que a coisa se explica pelo desencanto da juventude, em face da actual sociedade burguesa. Dizem que a juventude tem necessidade de sonho e que precisa de encontrar, numa sociedade autêntica, o lugar que lhe pertence. É verdade. Em todo o caso, parece-me que não é este o caminho do triunfo. Se não me engano, onde os estetas de falsas profecias querem conduzir a juventude é a um mundo ainda mais aburguesado do que aquele de que se queixam, visto ser um mundo infra-humano e de irresponsabilidade total. Pelo menos, é esse o sentido bem marcado nos três filmes de James Dean. E é também esse o sentido transparente nos dois livros, até hoje dados à estampa, por Françoise Sagan…

Ora, o futuro de cada um e o lugar que a cada deve pertencer na vida, não são coisas que venham burguesmente já feitas pelos outros, sejam os pais ou o Estado. Seria essa a pior forma de parasitismo burguês. O futuro, deve cada um conquistá-lo, à sua custa, no esforço constante de cada dia, a caminho de melhor e mais perfeita autorrealização. Só então, depois da auto-valorizarão, é que o homem se pode considerar com direitos, que o dever cumprido lhe conquistou. Tudo isto, que é elementar em ética social, está, porém, de todo em todo ausente, nos filmes de James Dean e nos livros de Sagan, que, por isso, alinham ao lado do pior e do mais parasitário burguesismo. Creio que tudo isto é claro como a luz do meio dia, para quem, em vez da palha das palavras, prefira, como eu, descer até ao conteúdo das ideias.

Sonho? Sim. É bom sonhar. Mas é preciso que o sonho se complete com o lastro da realidade. É preciso que o sonho não seja como moinho sem grão, ou como acção sem finalidade superior. É preciso que o acréscimo do sonho, alimentado por estetas de falsas profecias, não dispare no romantismo do desespero, preguiçoso ou anárquico, em que a juventude se está a precipitar. (3)

O sonho tem o seu lugar. Mas não basta. Requer-se, também, a tomada de consciência do real, e a certeza de que a realidade se não limita ao delírio da velocidade, nem no tempo, nem no espaço. (…) E desta prespectiva, em vez da evasão, no sonho, ou na embriaguez, que tanto pode ser de whisky, como de exibicionismo, abrem-se outros caminhos, em que ao homem se oferecem todos os recursos e todas as dimensões de que precisa, para se poder realizar. Claro está que estou a referir-me aos recursos da graça, e às dimensões sobrenaturais, que só Cristo nos pode dar. (…)

Pe. Agostinho Veloso, in BROTÉRIA - REVISTA CONTEMPORÂNEA DE CULTURA, Vol. LXV, número 4, Outubro de 1957, pp. 291 a 295

(1)  Jean- Creuzeau Marie, James et Françoise, in “ Le Monde Nouveau”, Paris, 12-V-57, pág. 10.

(2)  Pascal, Les Pensées, n. 527.

(3)  Jean-Marie Creuzeau, James et Françoise, em “Le Monde Nouveau”, Paris, 12-V-57, pág. 10.