Lindoso - 3º Dia - Parte V


Olhando as calmas águas da Albufeira do Alto Lindoso e as serranias em seu redor, percebemos rapidamente que não se deve abandonar de ânimo leve aquelas paragens de ampla e singular beleza, já que as serras portuguesas do Soajo e do Lindoso e a serra espanhola de Santa Eufémia constituem um magnífico e imponente cenário de enquadramento ao espelho de águas azuis da barragem.
Foi precisamente por isso que seguimos até a zonas mais altas para melhor vermos esse belo enquadramento. Da Barragem do Alto Lindoso à aldeia do Lindoso é um pulinho.
Sobranceira à barragem e a olhar de terras altas a albufeira que se estende a montante, a aldeia do Lindoso é um lugar pitoresco onde sobressaem os tons graníticos que tão bem se misturam com os tons da serra.
Situada a cerca de 25 quilómetros da vila de Ponte da Barca, esta aldeia promete sempre ao visitante um agradável passeio entre o verde da natureza e o azul do rio Lima.
Lindoso é um topónimo de origem italiana, possivelmente de uma família que se mudou para Portugal em 1245, em plena Idade Média. Lindoso deriva do latim 'Limitosum', aparecendo pela primeira vez nas inquirições de 1258.
Contudo há uma lenda que nos fala de uma visita ao Lindoso, do rei de Portugal, D. Dinis, que quando ali chegou o achou "tão alegre e primoroso, que logo lindoso o chamou", facto que o levou a fazer várias visitas ao Castelo de Lindoso, tendo-o mandado reconstruir em 1278.
No aglomerado da aldeia que tão bem se mistura na serrania, sobressai o Castelo de Lindoso, altaneiro em relação ao povoado que desce em anfiteatro a meia encosta, do qual se vislumbra uma sublime paisagem sobre a albufeira do Lindoso, e umas boas dezenas de espigueiros.
Os espigueiros são o seu ex-líbrisreveladores da importância do trabalho coletivo, muito próprio das comunidades de montanha daquela região.
O Pelourinho, o Cruzeiro do Largo do Destro e a Igreja Matriz são aquilo que mais chama a nossa atenção na pequena aldeia. Mas a aldeia ainda possui outra importante função, pois é uma Porta do Parque Nacional do Parque da Peneda-Gerês na zona do Lindoso.
O Castelo de Lindoso é um monumento com funções defensivas e que assumiu particular importância no período de conflitos militares com Castela, na defesa da fronteira portuguesa.
Desde sempre relacionado com a defesa da portela da Serra Amarela e Vale de Cabril, foi o Castelo do Lindoso fundado nos inícios do séc. XIII, pois já aparece referido nas Inquirições de 1258.
Nas Guerras da Restauração, séc. XVII, assumiu uma grande importância pela sua localização fronteiriça. Mais tarde, em 1662, foi ocupado pelos Espanhóis na sequência dessas guerras, sendo ampliado com uma muralha do tipo Vauban, em forma de estrela pentagonal. Dois anos depois o Castelo voltou a ser recuperado pelos portugueses, ficando a partir daí ocupado por guarnições militares ao longo do séc. XVIII, até que, em 1895, foi desativado. No seu interior, as muralhas, as casas do alcaide e da guarnição, a capela e o forno, entre outros, foram recentemente restaurados.
Numa posição dominante sobre a aldeia, proporciona paisagens panorâmicas soberbas para a Albufeira do Lindoso.
Desce-se a serra e toma-se o caminho de Ponte da Barca, seguindo pela estrada que segue o rio Lima, que corre à direita. No caminho, na proximidade de Entre Ambos-os-Rios, fizemos um pequeno desvio para uma visita à Barragem do Touvedo. Esta, fica a cerca de 20 quilómetros a jusante de Lindoso e a sua principal função é a produção de energia elétrica e também o controlo do caudal do rio que é aumentado pelo trabalho das turbinas da Barragem do Alto-Lindoso.
Chegados a Ponte da Barca aproveitamos para comprar vinho verde num supermercado da vila, e como já se fazia tarde encaminhamo-nos para o jantar, num restaurante onde se servisse boa comida regional.
A procura foi fácil, uma vez que praticamente em frente do supermercado, o Restaurante Alto da Prova chamou a nossa atenção em boa hora. Simples, rústico e espaçoso, fica situado num alto, a ver a vila e serve muito bem, onde se destaca o Bacalhau à Prova, uma delícia, a Posta Mirandesa e o Leitão Assado no Forno de Lenha.
 
 
Fontes:http://pt.wikipedia.org/wiki/Barragem_de_Touvedo;http://www.aldeiasdeportugal.pt/PT/aldeias.php?aldeiaid=10001 http://escape.expresso.sapo.pt/boa-vida/roteiros/natureza-no-alto-minho-passeio-aldeia-lindoso-16556381;

http://pt.wikipedia.org/wiki/Lindoso;
 

Educação é Tudo


"Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música
não começaria com partituras, notas e pautas.
Ouviríamos juntos, as melodias mais gostosas e lhe contaria
sobre os instrumentos que fazem a música.
Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria
que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.
Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas
para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes".

Rubem Alves




Hoje trago aqui uma entrevista com Rubem Alves, filósofo, educador, psicanalista, teólogo, poeta e escritor brasileiro, que é autor de livros e artigos abordando temas religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série de livros infantis.

A sua mensagem é direta e, por vezes, romântica, explorando a essência do homem e a alma do ser. É algo como um contraponto à visão atual de homo globalizatus que busca satisfazer desejos, muitas vezes além de suas reais necessidades.

"Ensinar" é descrito por Rubem Alves como um ato de alegria, um ofício que deve ser exercido com paixão e arte. É como a vida de um palhaço que entra no picadeiro todos os dias com a missão renovada de divertir.

Ensinar é fazer aquele momento único e especial. Ridendo dicere severum: rindo, dizendo coisas sérias. Mostrando que esta, na verdade é a forma mais eficaz e verdadeira de transmitir conhecimento. Agindo como um mago e não como um mágico. Não como alguém que ilude e sim como quem acredita e faz crer, que deve fazer acontecer.



"Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos
fragmentos de futuro em que a alegria é servida como
sacramento, para que as crianças aprendam que o
mundo pode ser diferente. Que a escola,
ela mesma, seja um fragmento do
futuro..."

Rubem Alves

Fonte: http://www.releituras.com/rubemalves_bio.asp; http://pt.wikipedia.org/wiki/Rubem_Alves

“Aquilo que nasce torto, tarde ou nunca se endireita”



A duração da crise, a intensidade da confusão e a dificuldade em compreender o processo de decisão do  Presidente, ajudaram decisivamente a criar a ideia de que as eleições estavam ao virar da esquina.

No final (?) de quatro semanas loucas, qualquer pessoa tem razões de sobra para duvidar da solução. Mas com um pouco de frieza percebe-se que o novo modelo do Governo, os nomes que o integram e o grau de compromisso que os dois partidos foram obrigados a assumir, transforma o Governo remodelado numa solução para dois anos. Se lá chega ou não, é outra questão, mas que tem esse horizonte, isso parece-me óbvio. Este dado não muda rigorosamente nada nas questões de fundo: a dramática austeridade, a irrealidade das metas orçamentais, as profundas diferenças entre PSD e CDS e as irremediáveis desconfianças de Passos sobre Portas e vice-versa.

Um Governo que nasceu torto nunca se endireita mesmo. E um Governo que transformou a austeridade e os cortes num modo de estar não ganha eleições. Mas pode fazer todo o mandato. PSD e CDS perceberam isso, nem que seja pelo mais básico instinto de sobrevivência. A oposição devia perceber isso. Como dizia o António Vitorino, por razões bem diferentes, "habituem-se".


Ricardo Costa, in Jornal Expresso de 25 de Julho de 2013

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Cécile Kyenge, ministra italiana da Imigração, tem sido alvo dos actos mais abjectos. Há dias, Roberto Calderoli, vice-presidente do Senado, chamou-lhe orangotango. Na passada sexta-feira, atiraram-lhe bananas. Estes actos definem, naturalmente, apenas e só quem os pratica. A barbárie vem à superfície, desta vez, por Cécile Kyenge ser negra. A ministra da Integração poderia ter respondido, por exemplo, citando Simone de Beauvoir: não podemos deixar que os nossos carrascos nos criem maus hábitos. Poderia e teria razão para isso. Todavia, Cécile Kyenge preferiu outro caminho. A citação seria um mero recurso retórico. Cécile meteu o discurso na realidade: com tantas pessoas a morrer de fome por causa da crise é triste desperdiçar comida assim. O sentido democrático e a maturidade cívica também são isto. O desapego de si, da sua posição formal como ministra e a sensibilidade que permite pensar em terceiros mesmo sob fogo cerrado. Acossada, não se defendeu a si própria, mas remeteu para o sofrimento de outros, ridicularizando assim, ainda mais, o gesto obsceno dos que a pretendiam ofender. Na resposta, Cécile foi simplesmente Cécile. Trata-se, obviamente, de uma chapada de luva negra que estalou na face dos energúmenos. Mas é, também, um exemplo para quem, a uns milhares de quilómetros de distância, ainda há umas poucas semanas, com altivez, desvio corporativo e insuflado sentido da própria honra, citou Beauvoir para chamar carrascos, de forma absolutamente desproporcionada, aos cidadãos que se manifestaram nas galerias da casa que se diz ser a da nossa democracia.

Rui Rocha, in http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/ em 27.07.13

“O essencial é invisível para os olhos.”


"As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu porém, terás estrelas como ninguém... Quero dizer: quando olhares o céu de noite, (porque habitarei uma delas e estarei rindo), então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo (basta olhar para o céu e estarei lá). Terás vontade de rir comigo. E abrirás, às vezes, a janela à toa, por gosto... e teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!"

Antoine de Saint-Exupéry, in “O Principezinho” 


Numa altura em que se sente um conjunto de fenómenos sociais, onde imperam o descaramento, o julgar os outros por si próprios, o não respeitar a personalidade alheia ou a diferença, o fechar de olhos ao não, porque o que interessa é o que “quero nem que seja à martelada”… E onde não resulta, nem uma persistente ética de sobrevivência como antídoto para a situação, é oportuno fazer aqui um apelo à leitura de um livro que deviria estar presente em qualquer época, para a concretização de uma boa formação pessoal e social.

Esse livro é “O Principezinho”. É um livro que todos nós devíamos ler e mesmo para aqueles que já o leram em alguma das fases da sua vida, é sempre um livro a reler.  

Ele mostra-nos o caminho para uma profunda mudança de valores, e mostra-nos como nos equivocamos na avaliação das coisas e das pessoas que nos rodeiam e como esses julgamentos nos levam à solidão. Nós entregamo-nos às nossas preocupações diárias, tornamo-nos adultos de forma definitiva e esquecemos a criança que fomos.

O Principezinho de Saint-Exupéry, é aparentemente um livro infantil mas que na verdade é, um livro dedicado à criança que todo o adulto foi um dia.

É uma espetacular e simples metáfora sobre a natureza humana em si. Incrivelmente cheia de sutilezas e subjetividade, a história faz o leitor pensar e descobrir-se consciente ou inconscientemente, sendo uma verdadeira lição de vida.

Na metáfora global da história, o Principezinho simboliza a esperança, o amor e a força inocente da infância que habita no nosso inconsciente; a rosa simboliza a taça da vida, a alma, o coração, o amor, enfim representa no fundo a perfeição; o deserto é nossa própria mente. O tempo que o Narrador passa com o Pequeno Príncipe é uma jornada para o autoconhecimento, e a água que o Narrador, angustiado, teme acabar, é a sua satisfação espiritual. A Raposa aparece inexplicavelmente, quase como uma epifania e simboliza a sabedoria. O seu diálogo com o Principezinho é um dos momentos imperdíveis do livro, explicando a importância do “cativar=criar laços” e falando-nos nas sutilezas que os olhos não veem. (Ler o diálogo entre o Principezinho e a Raposa em: http://www.cirac.org/Principe/Ch21-pt.htm)

Mas neste livro existem ainda muitas outras sutilezas e mensagens sobre a dualidade adulto x criança nos vários diálogos, que não se devem perder…

Para aqueles que quiserem assistir aqui à sua leitura, deverão prestar muita atenção, e então quando terminar a audição deste pequeníssimo e simples livro, julgo, não serão mais os mesmos.
Boa audição.



Também poderão lê-lo na integra em: http://www.cirac.org/Principe/Ch1-pt.htm

“Tu tornas-te eternamente responsável por aquilo que cativas.”

Antoine de Saint-Exupéry, in “O Principezinho”

Fontes: https://www.youtube.com/watch?v=HtUwu9tv9_o&list=PLF6195BED69261C72; http://animusmundus.wordpress.com/category/o-pequenoprincipe/; http://alquimistadaalma.blogs.sapo.pt/5379.HTML

Poderá também gostar de: A criança como espelho do funcionamento familiar

A Antiga Pérsia


A Antiga Pérsia, destemida, formidável e incansável, por séculos, recoberta de mistérios, foi um império sem paralelo em conquistas e riquezas.

"Criar um império do tamanho do Império Persa, o maior que o mundo já viu, obviamente requer perícia militar".

Do norte da África à Ásia, o Império Aqueménida foi uma civilização liderada por uma dinastia de governantes admiráveis, ambiciosos e todo poderosos. "Ciro, o Grande, é um dos poucos que mereceram este epíteto".

O Império Persa criou algumas das construções mais surpreendentes que o mundo já viu. Magníficos palácios erigidos em pleno deserto. Estradas, pontes e canais.

“Todos já ouviram falar no Canal de Suez. Mas quantos ouviram falar do Canal de Dário"?

Porém, nuvens negras escureciam o horizonte. Uma antiga rivalidade com a Grécia, resultaria num confronto épico que mudaria o curso da história e mudaria o mundo ocidental pelos milénios vindouros.


Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=hq-uPbpLsqs; http://www.documentarios.org/video/detalhar/1432/os_persas/

Serra do Soajo - Barragem do Alto Lindoso - 3º Dia - Parte IV



Deixámos o Soajo e seguimos pela estrada da serra do mesmo nome a caminho da Barragem do Alto Lindoso.
A belíssima Serra do Soajo é ali que mostra toda a sua beleza. As montanhas e os vales profundos rodeiam-nos até onde a vista alcança.
Não é por acaso que esta região atrai tantos de nós, e não é só pela sua rara e impressionante beleza paisagística, mas também pelo seu valor ecológico e etnográfico e pela variedade de fauna (corços, garranos, lobos, aves de rapina) e flora (pinheiros, teixos, castanheiros, carvalhos e várias plantas medicinais), que envolvem de intenso verde toda aquela região.
Aquele troço de estrada levar-nos-ia naquele dia por um périplo por muitas e simples aldeolas serranas de singular beleza, até à até a fronteira espanhola.
Parece ser ponto assente que a primeira fixação de populações nestes espaços fica cronologicamente situada na Idade Média, talvez acompanhando alguns povoamentos das zonas baixas de vale, periodicamente ocupando área contíguas aos primeiros castelos, de cotas superiores, sobretudo no Verão.
Como já referi nas descrições feitas sobre outras estadias por terras do Gerês, uma das características desta área geográfica, é o sistema de habitat de "brandas" e "inverneiras", que constitui o marco referencial de maior singularidade e interesse etnológico e patrimonial da região.
A “branda” é um espaço de uso mais sazonal, com uma ocupação secundária, conectada sobretudo com os usos agrícolas e pastoris de Verão, por oposição à “inverneira”, tradicionalmente de cariz mais permanente. Ocupam geralmente cotas de terreno acima dos 600 metros, substancialmente mais altas que as inverneiras a que estão associadas.
No concelho o número de brandas é significativo, mas nas áreas espaciais de Soajo e Sistelo as brandas recebem somente o gado e pastores, integrando por tal estruturas de abrigo bastantes desenvolvidas.
No caminho desde o Soajo à barragem e aldeia do Lindoso, as povoações mais significativas são Cunhas e Campo Grande, que se espraiam em pequenos oiteiros rodeados de terras de cultivo em socalcos, sobranceiras ao rio Lima, com vistas magnificas sobre as serranias e várzeas em redor.
Antes de se chegar à Barragem do Alto Lindoso, destaca-se à esquerda e ao longe a bela aldeia de Paradela, em terrenos mais altos, em relação ao vale profundo e escarpado onde corre o rio Lima.
Depois de uma curva na estrada avista-se a barragem e mais a cima, na margem esquerda do rio Lima, enquadrada pela Serra Amarela e pela Serra do Cabril, a altaneira aldeia de Lindoso.
A estrada leva-nos rapidamente até à barragem. Parou-se o jipe e fomos a pé observar a grande Barragem do Alto Lindoso.
O aproveitamento do Alto Lindoso, é atualmente o mais potente centro produtor hidroelétrico instalado em Portugal, e como já foi referido localiza-se no alto Lima, a escassas centenas de metros da fronteira com Espanha.
É uma enorme barragem de betão, do tipo abóboda de dupla curvatura, com 110 m de altura máxima e desenvolvimento no coroamento de 297 m, equipada com duas descargas de fundo.
A característica mais saliente do aproveitamento do Alto Lindoso é a potência dos seus dois grupos de geradores - 317 MW no veio da turbina de cada grupo - facto que os torna as mais potentes unidades de produção de energia elétrica instaladas em Portugal. Em média a produção é de 970 milhões de KWh, equivalentes ao consumo anual de 440 000 portugueses.
Fontes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Nacional_da_Peneda-Ger%C3%AAs http://www.aldeiasdeportugal.pt/PT/aldeias.php?aldeiaid=10002 ; http://alfarrabio.di.uminho.pt/lindoso/barragem.htm;

Soajo - 3º Dia - Parte III


Depois de se visitar a Eira do Penedo, fomos para trás, a caminho do centro da vila do Soajo.

O Soajo situa-se na área do Parque Nacional da Peneda Gerês, que representa a maior e mais rica zona protegida de Portugal, na margem direita do rio Lima, separado da Galiza pelo rio Laboreiro e rodeado pela Serra Amarela e pela Serra do Soajo, sobranceira ao rio Lima.

A vila do Soajo nascida na rude beleza da terra granítica que a envolve e numa serena grandeza que só o tempo dá, é uma das terras do nosso Portugal, que mais nos diz sobre as nossas origens, pois são muitas as construções e os achados que nos dão ali conta da presença milenar do homem.

A sua história já vem de longe. As referências mais antigas do Soajo são anteriores à nacionalidade (por volta de 950), aquando da partilha dos bens entre Mumadona Dias de Guimarães e os seus filhos.

Consta que terá sido fundada no séc. I, mas só no séc. XVI lhe foi atribuída carta de foral e desde a fundação da nacionalidade portuguesa que o seu povo goza de privilégios.

Naqueles tempos, enquanto que outras localidades de Portugal invocavam a liderança espanhola, o Soajo reconhecia o rei de Portugal como legítimo e isso valeu-lhe vários direitos e privilégios.

Os antigos habitantes da região eram designados por monteiros, em virtude da sua principal atividade ser a caça. Ursos, javalis, cabras-bravas, lobos e raposas eram as espécies capturadas. Chegou mesmo a ser instituída a Montaria do Soajo, havendo ali representantes locais pela Montaria Real.

Consta que no reinado de D. Dinis os monteiros se terão queixado dos abusos de fidalgos, pelo que o monarca terá dado ordem para que estes não se demorassem ali mais do que "o tempo de esfriar um pão na ponta de uma lança". Há quem defenda que terá vindo daí a curiosa forma do pelourinho que se situa no largo principal da aldeia. A coluna simboliza uma lança e a pedra na sua ponta, um pão.

Entre os vários privilégios concedidos ao Soajo, por vários monarcas (D. Afonso III, D. Dinis, D. Pedro I, D. João I, D. João II, D. Manuel I, D. João III, Filipe III, D. João IV e D. José), destacam-se: A não permanência de fidalgos naquelas terras para além do tempo suficiente de “um pão resfriar na ponta de uma lança”; a isenção de prestação do serviço militar aos habitantes do Soajo, pois cabia-lhes a defesa da fronteira; a de não darem alijamento às tropas e soldados em tempo de guerra; nem a caçadores, que só lá podiam ir, quando na companhia do Rei em pessoa e sendo este cabeça de Montaria, pois só os soajeiros a podiam organizar.

O Soajo foi desde sempre uma terra de vida comunitária, com grande apego pelo seu enorme património, que foi concelho desde o início da nacionalidade, tendo sido extinto em 1852. Até há cerca de um século atrás, o Soajo tinha um juiz eleito pelo povo.

Mas além da sua história, no Soajo, os testemunhos do passado estão também materializados nos forais da vila, no Pelourinho (monumento nacional e o mais típico do país), na Eira Comunitária do Penedo, nas brandas, nas calçadas medievais, nos moinhos de água, nas poldras, e na própria arquitetura das casas da vila… Mas também nos usos, costumes e tradições, que são os pilares da sua real riqueza.

A vila do Soajo nunca perdeu a sua singularidade e ainda hoje as suas ruas são pavimentadas com lajes de granito e as casas construídas com blocos de pedra. A arquitetura soajeira, nomeadamente, as suas casas tradicionais caracterizam-se pelos materiais utilizados (granito e madeira) e pelo desenho de janelas e portas pequenas, com o piso inferior destinado aos animais, e onde obrigatoriamente no piso superior, fazia parte uma varanda aberta para o exterior.

Fontes:http://www.mariorebola.com/soajo/soajo.html; http://www.casadovideira.com/pt/a-vila-de-soajo/sobre-o-soajo ; http://www.infopedia.pt/$soajo;http://www.aldeiasdeportugal.pt/PT/aldeias.php?aldeiaid=10002

Serra do Soajo - 3º Dia - Parte II



Depois de se passar a ponte sobre o rio Lima, deixamos para trás a velha e solitária central elétrica da desativada Barragem do Lindoso e seguimos a caminho da Serra do Soajo.

Do lado esquerdo depois de uma curva da estrada, surge o cruzamento que nos leva ao Mosteiro de Santa Maria de Ermelo.

Este antigo mosteiro está implantado na margem direita do rio Lima, na base da encosta da íngreme montanha granítica do Outeiro Maior, coberta por denso arvoredo e que desce abruptamente até à Ribeira Lima.

O Mosteiro de Santa Maria de Ermelo é um antigo mosteiro beneditino, que foi fundado pela rainha D. Teresa, mãe do nosso primeiro rei, no início do séc. XII, e que adotou mais tarde (séc. XIII) a reforma cisterciense, passando a depender do Mosteiro de Santa Maria de Fiães.

Apesar da sua integração na Ordem de Cister, a vida deste Mosteiro foi atribulada e curta. Na visita que realizou em 1553, o abade de Claraval encontrou-o em total estado de abandono e pobreza, pelo que foi secularizado em 1560, convertendo-se em igreja paroquial.

O que hoje vemos em Ermelo é uma bela igreja românica adaptada à vida de uma pequena paróquia, primeiro no séc. XVI e novamente no séc. XVIII. Da nave que se erguia a sul resta o belo arco triunfal que se encontra a céu aberto, no exterior. As dependências do Mosteiro desenvolviam-se para sul. Aqui, podemos encontrar ainda uma arcada de arcos plenos, vestígio do claustro arruinado.


Na igreja deste antigo Convento de Ermelo é realizada todos os anos a Romaria de São Bento de Ermelo ou de São Bentinho (São Bento de Núrsia, o mesmo orago do Santuário de São Bento da Porta Aberta, também ele no Gerês). Esta romaria atrai peregrinos de todo o concelho e região circundante e realiza-se na localidade, na noite de 10 para 11 de julho, dia da festa litúrgica de São Bento, santo de grande devoção um pouco por todo o Minho e padroeiro do concelho de Arcos de Valdevez.


Deixamos para trás o rio Lima e entramos na Serra do Soajo. Entre montes e vales seguimos por uma estrada estreita que vai subindo lentamente as serranias, ladeada de afloramentos graníticos e muito verde.

Aqui e ali as terras de cultivo, geralmente situadas junto de algum casario disperso, onde não faltam as pérgulas características do vinho verde.

Olhando para o que ali nos envolve, não podemos esquecer-nos que estamos no Gerês. O Gerês é um outro mundo. Imenso e poderoso. Bonito de morrer. Próximo, suave e acessível, muitas vezes. Distante, abrupto e misterioso, outras tantas. Luminoso e colorido algumas vezes e noutras, penumbroso e cinzento.

Conhecer as serras do Parque Nacional da Peneda-Gerês é uma experiência única, impossível de concluir num dia ou numa semana. Tem que se ir conhecendo, podendo ser o entrecortado destino de uma vida.

Junto das pequenas povoações, são característicos os muros em pedra granítica que ladeiam a estrada, protegendo as pequenas áreas de terreno agrícola que circundam as casas de vida e lavoura das gentes serranas.

Nas zonas altas da estrada, vamos espraiando as vistas vale abaixo, rumo aos fundilhos do Soajo.

Chegamos então ao Soajo!... A antiga vila do Soajo, é em especial conhecida devido às suas formas particulares de vivência comunitária de organização social e económica, sendo provavelmente um dos destinos concelhios mais divulgados e conhecidos, integrando uma área geográfica que foi concelho até à reforma liberal do séc. XIX.

Mas a vila do Soajo é também famosa pelo vasto conjunto de espigueiros erigidos sobre uma enorme laje granítica, usada pelo povo como eira comunitária, em que o espigueiro mais antigo data de 1782. E é para lá que nos dirigimos…

Perto dos famosos espigueiros do Soajo, espera-nos um bom parque de estacionamento e dele é um saltinho até à Eira do Penedo.


O conjunto dos Espigueiros de Soajo é surpreendente. Os espigueiros agrupam-se num alto, sendo a eira comunitária constituída por 24 espigueiros, todos em pedra granítica, assentes num grande e alto afloramento granítico, que mais parece uma varanda a ver o povoado, a que os habitantes designam por Eira do Penedo.
 
Estes monumentos de granito foram construídos na altura em que se incrementou o cultivo do milho e serviam para proteger as espigas das intempéries e dos animais roedores. As suas paredes são fendidas para que o ar circule através das espigas empilhadas. No topo são geralmente rematados por uma cruz, que significa a invocação divina para a proteção dos cereais. Parte destes espigueiros são ainda hoje utilizados pelas gentes da terra.
 
À volta da Eira do Penedo, em terrenos mais baixos e ondulantes, desenvolve-se o casario da vila milenar do Soajo, de atmosfera calma, ar puro e perfumado que se completa na beleza de encanto e mistério, de coloridas paisagens, abundantes arvoredos onde correm veios de águas frescas e cristalinas.

Fontes:http://www.mariorebola.com/soajo/soajo.html http://www.vinhoverde.pt/rotas_tematicas/ponto.php?rota=6&ponto=28&lingua=1;http://pt.wikipedia.org/wiki/Espigueiros_de_Soajo;http://www.aldeiasdeportugal.pt/PT/aldeias.php?aldeiaid=10002;http://www.mariorebola.com/soajo/soajo.HTML

Ler mais sobre a Romaria de São Bentinho, em: http://ccav.maisforum.com/t40-romaria-de-sao-bento-ermelo

Modernidade Liquida

 

 
Muitos de nós acham que o que importa é ter segurança, e para isso será necessário mais do que tudo ter e conservar um emprego.

Mas na vida, “trabalho”, vai muito para além de ter um emprego. Trabalhar é mais do que tudo exercer uma ação no mundo, uma ação que modifique, e mesmo que sendo pequena, deve ter valor e transformar.

Pensar no que queremos e como podemos dar a nossa contribuição para modificar o mundo é fundamental. O trabalho é tão importante, porque nesse processo de transformar o mundo, nós mesmos também somos modificados e assim se dá a grande relação: (re) construímos o mundo ao mesmo tempo que somos (re) construídos por ele.

Para melhor entendermos este processo, trago aqui um depoimento exclusivo em vídeo com o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, gravado em sua casa na cidade de Leeds, Inglaterra, no dia 23 de julho de 2011.

Para Bauman (1999 e 2004), na sua visão de pós-modernidade, o que mudou foi a "modernidade sólida", que cessa de existir, e, em seu lugar, surge a "modernidade líquida". A primeira seria justamente a que tem início com as transformações clássicas e o advento de um conjunto estável de valores e modos de vida cultural e político. Na modernidade líquida, tudo é volátil, as relações humanas não são mais tangíveis e a vida em conjunto, familiar, de casais, de grupos de amigos, de afinidades políticas e assim por diante, perdem consistência e estabilidade.

Nesta entrevista Bauman motiva-nos a encarar um grande desafio contemporâneo: entender as mudanças que o advento da modernidade líquida produz na condição humana. E esse desafio orienta a forma de repensamos os velhos conceitos que costumavam cercar as narrativas de nossas vidas.

Bauman fala-nos com rigor conceitual, reconhecendo a fluidez entre os laços, entre os conceitos e os saberes - temas que ainda não haviam conquistado um estatuto académico claro, como o amor, o medo e a felicidade.

Mas Zygmunt Bauman aborda também as expectativas para o século XXI, relativas à internet, e da necessidade de construção de políticas globais, na construção de uma nova definição de democracia, entre outros temas.

Atualmente Zygmunt Bauman é considerado mundialmente uma sumidade, sendo professor emérito de sociologia das universidades de Leeds e Varsóvia.



Fontes: http://www.sermelhor.com/trabalho/projeto-de-vida.html; https://www.youtube.com/watch?v=1miAVUQhdwM;http://pt.wikipedia.org/wiki/Modernidade

É isto o mundo adulto?


A tentativa de se fazer um cozinhado tripartido de "salvação nacional" chegou ao fim. Caldo entornado, trabalho dobrado. E agora senhor Presidente? Manter o leme virado para a mesma direção ou dar um novo rumo?

"Sem acordo”, disse Cavaco Silva a 10 de Julho, “encontrar-se-ão outras soluções no quadro do nosso sistema jurídico-constitucional” — “existirão sempre soluções para a atual crise política”.

Ainda bem senhor Presidente!...


A radionovela continua…


Dia 21-07-2013: O Presidente falou aos portugueses. Infelizmente vamos manter o leme virado na mesma direção. Pena.

Contrapoder 19-07-2013

Fonte: http://sicnoticias.sapo.pt/programas/contrapoder/2013/07/19/contrapoder-19-07-2013

Segue-se uma boa visão sobre os acontecimentos políticos, que deram origem ao quadrado da crise.

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Comentadores esforçaram-se, sem sucesso, por estabelecer um nexo entre os acontecimentos da crise dos últimos dias. As metáforas da infância invadiram o espaço mediático com os actores, menorizados, a serem tratados de miúdos, fedelhos, garotos.


A sucessão de acontecimentos dos últimos dias e a eclosão de uma crise dentro da crise deixaram a sociedade portuguesa estupefacta e incrédula. Comentadores e analistas esforçaram-se, sem sucesso, por estabelecer um nexo entre acontecimentos, identificar uma racionalidade por detrás das decisões, um fim último que permitisse compreender as tácticas. Parecia impossível uma leitura que obedecesse à lógica e desse sentido ao drama que se desenrolava na esfera política. Perante esta impossibilidade, as metáforas da infância invadiram o espaço mediático com os actores, menorizados, a serem tratados de miúdos, fedelhos, garotos e os seus comportamentos considerados amuos, birras e criancices.

Este discurso, que depressa se generalizou, é revelador da capitulação perante a irracionalidade e a irresponsabilidade do exercício do poder por aqueles que o receberam, por delegação, através do voto.

É certo que os valores do mundo adulto que servem de referência à menorização dos adultos através da metáfora da infância parece estar em vias de extinção, mesmo noutras paragens. Será que o comportamento de instâncias internacionais, como o FMI, que reconhecem erros nos programas de ajustamento, mas continuam diligentemente a aplicar a mesma receita, indiferentes aos seus efeitos sobre os países, é exemplo de responsabilidade e racionalidade? Será que o Conselho Europeu que assiste passivamente ao desmoronamento de países que supostamente deviam ocupar um lugar entre iguais, para não perder a face perante os poderes que o dominam, dá um exemplo de decisões racionais e responsáveis?

E quando todas estas instâncias, nacionais e internacionais, atiram culpas para cima umas das outras dos maus resultados das suas decisões, isso é um comportamento responsável? E o que dizer do sucessivo adiamento da reforma da união bancária, que surge como a melhor forma de proteger os cidadãos e os Estados dos erros do sector, para agradar a um só país, sem dúvida preocupado em evitar que se tornem conhecidos os erros dos seus próprios bancos e a sua responsabilidade numa crise que foi sempre apresentada como culpa dos outros?

Em Portugal, a recente crise foi desencadeada pela demissão de um ministro, de reconhecido mérito entre os seus pares e abençoado pelos credores que afirmou alto e bom som que era incapaz de prosseguir a agenda de que tinha sido incumbido. Ao cabo de dois anos de aplicação de um programa, que mais parecia destinado a castigar o país e expurgar a sociedade dos seus vícios, veio reconhecer que errara nos cálculos, como já muita gente tinha dito antes, falhara os objectivos e não tinha condições para terminar esse mandato.

Não questionou os pressupostos, nem a racionalidade moralista que o inspirou, antes apontou a fraqueza da liderança política e a sua incapacidade de travar o impacto, no interior do governo, da devastação social e económica do país. No meio da agitação e da intriga que se sucedeu a esta demissão passou despercebido o juízo sobre o comportamento de um agente político que, não tendo perdido a fé, nem a sua opinião sobre o país que nunca o elegeu, como fazia questão de sublinhar, voltou calmamente ao seu emprego anterior.

Perante isto, parecia chegado o momento de parar para pensar, num contexto europeu em que surgem mais dúvidas do que certezas e em que já não é possível prosseguir a sangria de recursos materiais e humanos de países exauridos. O momento de ouvir as propostas alternativas que têm surgido no debate público e de aprender com as experiências de outros, assumindo uma posição que devolva alguma dignidade ao país e à sua liderança política, subjugada por forças externas a quem se agarrou para chegar ao poder. Não foi esse o entendimento do Presidente da República. Resta saber se a sua decisão permitirá recolocar a responsabilidade e a racionalidade no centro da decisão política. Porque com o modelo de referência do mundo adulto que nos trouxe até aqui, então as crianças não merecem os adultos que têm.

Por Lígia Amâncio, in Jornal Público de 15/07/2013

Lígia Amâncio é psicóloga social e professora catedrática do ISCTE