Ponte de Lima - 2º Dia - Parte I




A manhã do dia 8 de junho acordou chuvosa e fria. Logo ao alvorecer, a neblina invadia as margens do Lima e por entre relva e juncos observam-se as volumosas e plácidas águas que corriam para a foz, mostrando-nos uma beleza quase etérea.

Durante toda a manhã, as canoas e desportivos barcos a remos invadiram o rio, subindo e descendo a corrente.


Do outro lado da margem, o casario do bairro de Além-da-Ponte em primeiro plano, e em segundo plano recorta-se na nevoa o Monte de Santo Ovídeo, que guarda no seu cimo a capela e o miradouro com o mesmo nome.

À direita, logo ali ao lado, destaca-se a comprida ponte que forma com a Igreja de Santo António da Torre Velha, um todo tão harmonioso e belo, que faz com que qualquer olhar, nele se detenha por longo tempo.

Sabe-se hoje que o rio Lima tomou ao longo dos tempos quatro nomes: Lethes, Oblívio, Belion e Limea (ou Limaia).

Limea ou Limaia parece ser a designação mais antiga do rio Lima, que pode ter tido origem no termo indo-europeu Lim” que posteriormente terá dado Lime, que significa terreno alagadiço ou lodo. Há referências ao seu uso pelo autor hispânico Pompónio Mela (Pomponius Mela século I d.C., que escreveu um compêndio geográfico que se compõe de três volumes de título "De Chorographia"), para referir o Lima como um rio de margens pantanosas ou lamacentas. O termo Latino Limici” também tem sido interpretado como referência aos povos que habitavam, outrora, a região pantanosa da nascente do rio Lima.

O termo Belion terá sido usado pelo autor grego Estrabão, um geógrafo que descreveu com certo pormenor a Península Ibérica e que viveu entre 63 a.C. e 19 d.C., estando a sua origem talvez ligada à antiga designação "belitanos", que referia os originais Lusitanos (povos ibéricos pré-romanos de origem indo-europeia, que habitaram a porção oeste da Península Ibérica desde a Idade do Ferro).

Os termos, Lethes e Oblivio significam ambos “esquecimento” (Lethes é o termo latino e Oblivio é o equivalente termo grego). Segundo a mitologia grega, Lethes era o rio que corria no Inferno, e cujas águas tinham a particularidade de provocar o esquecimento, pelo que os condenados bebiam delas, a fim de esquecer o passado e o sofrimento em que viviam.

Também segundo Estrabão, foram os celtas de Anas ou os túrdulos que, durante uma expedição guerreira aquelas terras, depois de atravessarem as águas deste rio, perderam o seu chefe, esquecendo-se completamente das suas origens, pelo que batizaram de Lethes (esquecimento) este rio.

Sai-se da autocaravana e segue-se o deambular pela margem direita do rio Lima. Neste deambular, logo chama a nossa atenção a presença, no areal junto ao rio, uma “formação” de soldados romanos. É uma espécie de monumento alusivo a uma antiga lenda ancestral, que tem a ver com o mito latino do rio Lethes, o lendário e infernal rio que, segundo os romanos, apagava todas as recordações de quem o atravessasse. Do outro lado do rio, a cavalo e virado para a legião, num outro “monumento” alusivo à mesma lenda, está Décimus Junus Brutus.

Conta esta lenda, que quando as tropas romanas comandadas por Décimus Junus Brutus ali chegaram, depois de numa sangrenta campanha terem submetido sucessivamente os povos nativos da Lusitânia, os soldados, extremamente supersticiosos, julgaram ser este o mítico rio do esquecimento.

Como nenhum soldado se atrevia a cruzá-lo, o general furioso pegou no estandarte da legião e cruzou sozinho o rio a cavalo. Chegado à outra margem, cavalgou por ela até avistar a sua legião, começando a chamar os seus soldados um por um. Os soldados, espantados pelo facto do seu general manter a memória, atravessaram então o rio, sem medo, claudicando o mito do Lethes.

Porém, alguns autores latinos referem a origem do "oblivionis fluvius", como estando ligada a uma ardilosa forma dos habitantes desta região intimidarem os soldados romanos comandados por Décimus Junus Brutus, impedindo-os, pela superstição, de atravessar o Lethes, sob pena de nunca mais regressarem, já que se esqueceriam de tudo.
 
Fontes: http://diogopuga.no.sapo.pt/Rio.htm;http://dokatano.blogspot.com/2009/12/passeio-nocturno-por-ponte-de-lima.html#ixzz2Y4pHi7Fz; https://maps.google.pt/maps; https://pt.wikipedia.org/;http://dokatano.blogspot.pt/

Chegada a Ponte de Lima - 1º Dia




A partida para esta pequena viajem, foi realizada ao final da tarde, sendo o caminho feito todo em autoestrada, com poucas paragens pelo caminho, sendo uma delas para o jantar cozinhado em casa.

A chegada a Ponte de Lima pelas 21h30, levou-me de imediato para o lugar de pernoita, num enorme parque de estacionamento livre, junto do rio Lima, e onde já tudo se preparava para a representação do Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, que naquela noite animaria a vila e que ia servir de abertura ao evento Ruarte/Mercado das Artes 2013.

Depois de estacionada a autocaravana, fomos em direção ao teatro para assistirmos à representação do "Auto da Barca do Inferno", levada à cena pelo grupo de teatro "Unhas do Diabo", de Ponte de Lima.

A peça que ocorria perto da ponte romana, num teatro ao ar livre, montado de modo a que se aproveita-se a proximidade do rio Lima, usando os seus típicos barcos movidos à vara (as barcas do Céu e do Inferno), para uma bela e engenhosa encenação.

Os atores na representação davam liberdade às suas vozes, que ecoavam pelas margens do Lima, e como a música desempenhou sempre um papel importante nos autos de Gil Vicente, não faltou na representação, a participação especial do grupo de música medieval Al Medievo, que animou desde o princípio ao fim o Auto.

Além disso, este belo espetáculo primou por muita cor e vida, numa linguagem teatral muito apelativa e emotiva para quem quer o estivesse a ver. Finda a representação, foi a vez de uma pausada passeata pela vila.

Ponte de Lima fica situada em pleno coração do Vale do Lima e possui uma beleza castiça e peculiar, sendo considerada a vila mais antiga de Portugal, escondendo na sua nobre aparência do interior do povoado, raízes profundas e lendas ancestrais.

No passeio pela vila deixamo-nos levar pelo acaso. No centro histórico observam-se belos edifícios que somam à beleza natural da vila, magníficas fachadas góticas, maneiristas, barrocas, neoclássicas e oitocentistas, que aumentam significativamente o seu valor histórico, cultural e arquitetónico.

É ali em plena centro histórico, quer na marginal, quer no interior da vila, que encontramos também variada e magnífica estatuária, que aqui e ali homenageia as gentes minhotas ou figuras ilustres, sendo a principal, a de D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, que concedeu o primeiro foral à vila em 1125, na Avenida em frente do Paço do Marquês; mas também outras como a do Conde d’ Aurora (um aristocrata e ilustre diplomata, escritor, fotógrafo), que encontramos no Largo da Feira, ou do Cardeal Saraiva, na rua com o seu nome, ambos filhos da terra. Perto também se vê uma evocação à corrida da Vaca das Cordas, uma tradição de Ponte de Lima que se perde nos tempos.

Na rua do Cardeal Saraiva, encontramos a Igreja Matriz e a seguir a Igreja da Misericórdia. No Largo da Igreja Matriz, a Casa das Rolas e já no Largo da Câmara Municipal, uma bela fonte, encimada por um painel de azulejos com o belo poema “Amor e o Tempo” de António Feijó.

Mas a beleza desta vila ainda é maior junto das margens do Lima. Passamos então pela Capela da Guia, pela Igreja de Santo António dos Capuchos, pela Torre da Cadeia e pela Torre de São Paulo, tendo a uni-las um antigo pano da antiga muralha. Estas últimas edificações são o  que resta das antigas muralhas medievais, que apresentavam várias torres com planta quadrangular e ameias prismáticas. Das duas torres restantes, Torre de São Paulo é a mais bela, sendo coroada por merlões e possuindo gárgulas de canhão em cada uma das faces. Na face virada ao rio apresenta ainda, um belíssimo painel de azulejos alusivo à Reconquista com datas de 1140 - 1940.

Sentados numa esplanada na margem esquerda, observamos em primeiro lugar, a magnífica Ponte de origem romana, toda iluminada, que faz a ligação entre a parte central do burgo e o bairro de Além-da-Ponte, onde se destaca também iluminada a Igreja de Santo António da Torre Velha.

Do lado oposto da ponte, abre-se à nossa frente o Largo de Camões, o antigo fórum e que hoje é a sala de visitas da vila, onde se pode apreciar um formoso chafariz maneirista, que data de princípios do séc. XVII, com as armas de Ponte de Lima.

Pela meia-noite e meia, recolhemos à autocaravana, para dormir à beira rio, embalados pelo correr das suas frescas águas, que depois de passarem apressadas por terras mais altas por entre ravinas e penedos, ali surgem mais mansas, regando hortas, pomares e veigas de vinho verde.



Fontes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ponte_de_Lima; http://ruarte-martes.pontedelima.com/auto-da-barca-do-inferno/; http://www.igogo.pt/torre-de-sao-paulo/ https://www.youtube.com/watch?v=2nf_zk7Uorg; http://www.lifecooler.com/edicoes/lifecooler/desenvRegArtigo.asp?reg=363211

Por Terras de Ribeira Lima



No fim de semana alargado do início do mês de Junho, que coincidia com o dia 10 deste mês, Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas, fomos até ao norte do país.

Neste final de semana e início de outra, queríamos olhar de vários pontos de suas margens o antigo "Lethes" (rio Lima), que a mitologia Greco-Romana designou como o rio do esquecimento. 

Queríamos visitar Ponte de Lima, onde já não íamos há alguns anos. Mas nesta cidade queríamos ainda assistir na sexta-feira à noite e sábado, às atividades de rua de mais uma edição da Ruarte 2013 - Mercado das Artes.

Em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, queríamos visitar Ponte da Barca, de onde são oriundos, a mãe de Santo António de Lisboa e o navegador Fernão de Magalhães. Ali iríamos ficar, para depois explorarmos a bela e encantada Serra do Soajo, onde se encontra a povoação milenar que lhe deu o nome.

Queríamos finalmente seguir o curso do rio Lima, quase até à fronteira com Espanha, onde iríamos visitar duas das suas maiores barragens, a Barragem do Lindoso e a de Touvedo.

O percurso desta viagem para ir e voltar foi:

1º Dia – Casa; Ponte de Lima;

2º Dia – Ponte de Lima; Ponte da Barca;

3º Dia – Ponta da Barca; Soajo; Barragem do Lindoso; Barragem de Touvedo; Ponte da Barca;

4º Dia – Ponte da Barca; Ponte de Lima; Casa.

Fontes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Lima:http://alfarrabio.di.uminho.pt/lindoso/barragem.htm;http://pt.wikipedia.org/wiki/Serra_do_Soajo;http://pt.wikipedia.org/wiki/Ponte_da_Barca

“Há tantas auroras que não brilharam ainda”

 
 
 
Não direi que me encantas mais do que o silêncio
porque é assim que despertas as aves e os caminhos.
Meus olhos também nascem pelo parto da esperança
porque vivo na imortalidade
renascendo em cada dia.

 
Deixa-me rever em prece tua face ressurgida
porque tua luz é sempre uma catarse.
Teu olhar estende as linhas do horizonte
e toda a paisagem é  então uma ventura
e já não és mais nada
porque desfaleces no seio da beleza.

 
Repara como sou pequeno diante do teu rosto amanhecido
mas como é grande o que em mim te contempla.
Para renascer basta-me apenas teu momento
tua humilde majestade
tuas pétalas de fogo
e essa corola ardente
porque não  peço nada mais que a tua luz
inaugurando o mundo em cada alvorecer
e que nunca me encontres cego ou vencido.

 
 Manoel de Andrade, Aurora, inCANTARES”

 
Nietzsche, ainda há tantas auroras

Nesta palestra, o professor Oswaldo Giacoia Jr., curador do módulo “Filosofia e Sabedoria”, apresenta um recorte sobre o pensamento de Nietzsche a partir do livro “Aurora - Pensamentos sobre os preconceitos morais”.

Aurora de Nietzsche marca o despertar de uma nova moralidade. É a emancipação da razão diante da moral. O poder liberador da razão que tem em si a capacidade de desmistificar significados socias instituídos pela tradição; o individuo na sua atividade racional descobre-se como criador de novos valores, sendo capaz portanto de romper o elo histórico que une tradição e moralidade, opondo-lhe o binómio razão e afirmação de si.

Assim como a aurora anuncia um novo dia, Aurora para Nietzsche é também um novo despertar para uma verdadeira vida – do homem e da humanidade inteira.

Usando a epígrafe dessa obra como referência inicial, Oswaldo Giacoia Jr expõe nesta excelente palestra, o esforço de Nietzsche para mostrar aos seus contemporâneos a importância de refletir sobre o conceito de auto-supressão moral.

Oswaldo Giacoia Jr é doutor em filosofia pela Universidade Livre de Berlim e professor de ética e história da filosofia contemporânea do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas.


Fontes: http://palavrastodaspalavras.wordpress.com/2008/04/21/aurora-poema-de-manoel-de-andrade/; https://www.youtube.com/watch?v=vcTt2bOYitw ; http://p33rz.p3.funpic.org/biblioteca/Nietzsche,%20Friedrich/Nietzsche-Aurora.pdf

 

Ler “Aurora - Pensamentos sobre os preconceitos morais” de Nietzsche,  em: http://p33rz.p3.funpic.org/biblioteca/Nietzsche,%20Friedrich/Nietzsche-Aurora.pdf
 

Ensinar passos a quem vai correr diferente de nós


 
 
Quando eu fui professor do ensino básico costumava propor aos meus alunos um jogo que intitulei “Não é normal”. A ideia era simples: sentávamo-nos num círculo no chão e todos repetiam “Não é normal…” e, de seguida, cada um, à vez, completava a frase dizendo o que, na sua opinião, não era normal.

O interessante do jogo – além do seu carater divertido – era a oportunidade de discutir o que é a “normalidade”. Por exemplo alguém dizia: (Não é normal) “um homem usar vestido”. E daí – depois de se identificarem culturas em que os homens vestem algo semelhante a um vestido – discutíamos a diversidade biológica e cultural da humanidade e muitos outros assuntos que lhe estavam associados.

Jogar o “Não é normal” é um desafio interessante para repensar – voltar a pensar – o papel da escola na nossa sociedade. Talvez exista um grande descompasso entre as competências que os jovens devem ter adquirido à saída da escola e aquilo que se pensa que a escola deve fazer para lhes permitir adquirir estas competências. Por exemplo: dizemos que os jovens devem ser empreendedores, dinâmicos, criativos, autónomos, com capacidade para resolver problemas... Mas, de forma contraditória, defende-se que, para que o jovem adquira estas competências, deve frequentar uma escola que seja transmissiva, diretiva, estrita e uniformizadora… É aqui que o jogo “Não é normal” nos pode ajudar a perceber que certas estratégias, objetivos e funcionamento da escola não são adequados para que os jovens sejam formados para aquilo que a sociedade tanto preza e valoriza. E vamos dar quatro exemplos:

1. A escola deve preocupar-se com o desenvolvimento integral da criança. Na verdade, se não for a escola a assegurar este desenvolvimento, quem o fará? Sabemos que as famílias não se encontram disponíveis nem capacitadas para desempenhar todo este papel. Muito do desenvolvimento global da criança se passa sob a responsabilidade da escola. As famílias confiam nas escolas para que elas desempenhem e bem esta função que está longe de ser exclusivamente académica. Hoje a escola é um ambiente de desenvolvimento de numerosas capacidades, atitudes e conhecimentos que são essenciais para a vida adulta. Se assim é, “Não é normal” que a escola afunile as competências para a Língua Materna e para a Matemática. Precisamos sim de um currículo que cubra as áreas do desenvolvimento integral do aluno: o estudo e a intervenção no meio, a música, as artes, a motricidade, a socialização, a solidariedade, a análise crítica, a cidadania, a ecologia, etc.


2. A criatividade é um pilar do desenvolvimento e – cada vez mais – do sucesso da pessoa. Sabemos hoje que a criatividade pode ser mais ou menos exuberante em cada ser humano mas sabemos igualmente, que se podem criar ambientes que incentivam, acarinham e apoiam a criatividade e permitem às pessoas a ir mais além nesta sua capacidade. Precisamos por isso de criar nas escolas ambientes que acolham e ajudem a florescer a criatividade. Se assim é, “Não é normal” que entupamos a vida escolar das crianças com aulas, mais aulas e mais aulas, na esperança insensata que a criatividade se desenvolva tal como uma erva teimosa que desabrocha na frincha de dois monólitos de granito.

3. Sabemos que o sucesso na escola é preditivo do sucesso na vida. Disse “preditivo” e não determinante. A escola deve ter um papel decisivo na organização da vida prática e dos valores dos alunos. O insucesso na escola é também o insucesso na organização da vida e uma formação de valores reativa face à escola e ao conhecimento. Por isso é fundamental que a escola cuide do sucesso de todos os alunos (não é gralha, é mesmo “todos”). Sucessos diferentes, sem dúvida, porque as escolas não podem colocar entre as suas opções educativas a possibilidade de insucesso. Se assim é, “Não é normal” que as escolas não tratem cuidadosamente do apoio aos seus alunos que evidenciam dificuldades: o apoio aos professores que os ensinam, o apoio às famílias que por vezes não entendem o que se passa, o apoio aos alunos que não vêm saída para ultrapassar o seu afastamento da escola, enfim o apoio à turma para trabalhar em entreajuda.

4. Os desafios para educar uma criança no século XXI são muito diferentes do que seriam há 20 ou 30 anos. Sabemos que a escola tem de procurar novas formas de ensinar, tem de procurar novos significados para a sua missão, diferentes estratégias, mesmo diferentes conteúdos. A escola não é uma instituição intemporal e necessita de se modificar tal como a sociedade e os alunos que lhe chegam se modificam. Se assim é, “Não é normal” que se defenda a que a escola deve regressar aos modelos transmissivos, à organização estrita e rígida do passado. As soluções do passado nem resolveram os problemas do passado, nem – muito menos – resolvem os problemas do presente.

Não é fácil encontrar uma solução para o sucesso da Educação. Diria mesmo que é impossível encontrar “uma” solução. Existem muitas possibilidades, todas no caminho mais ou menos longo do sucesso. Precisamos de desenvolver nas pessoas e nas instituições uma atitude de “heurística”, de caminho, de procura permanente das soluções possíveis, mais justas e mais adequadas.

Precisamos, pois, de apoiar as escolas e os professores para se adaptarem a uma tarefa de uma grande complexidade e incerteza: a de ensinar os primeiros passos a pessoas que – de certeza – irão correr de forma diferente da deles. Muitos professores sabem fazer isto e muitos outros estão disponíveis e ativos para aprender como se dinamizam processos de aprendizagem cuja finalidade é holística, criativa, apoiada e diversa. E isso é que “normal”(?).

David Rodrigues, in Jornal público de 26/06/2013

 

David Rodrigues é professor universitário e presidente da Pró-Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial.

História de um Homem com Pensamento Vivo


«Agostinho da Silva - Um pensamento Vivo» foi filmado entre fevereiro de 2001 e setembro de 2003, em Portugal e no Brasil.
 
Marcado pelo gosto do paradoxo, pela independência e inconformismo das ideias e por invulgares dons de comunicação oral e escrita, a figura ímpar de Agostinho da Silva desenha-se num singular misto de sábio, visionário e homem comum, no qual o pensamento e a vida se confundem.
 
Este filme percorre o trajeto biográfico, a vida e a obra deste grande pensador e humanista luso-brasileiro. A narrativa - adaptada de textos autobiográficos - inicia–se em Portugal, desde a sua infância e formação intelectual até as suas primeiras obras escritas, passando pelo seu autoexílio brasileiro de 25 anos, a partir de onde desenvolveu projetos completamente únicos e inovadores em diversos continentes, vindo a culminar no seu regresso a Portugal, pouco antes do 25 de Abril, onde viveu o resto da sua vida, vindo a conhecer em inícios dos anos 90 uma popularidade e admiração invulgares.




http://cinema.sapo.pt/filme/agostinho-da-silva-um-pensamento-vivo/detalhes#sinopse ; https://www.youtube.com/watch?v=tTqM3eNFCbY&list=PL9D330881CF2ABA1E

O Antigo Egipto


A escolha de uma série documental para apresentar aqui às sextas-feiras recaiu desta feita sobre a já consagrada “Construindo um Império” do The History Channel, que nos fala sobre as várias civilizações antigas, mais fascinantes e enigmáticas.

As duas primeiras realizações desta série foram “Os Egípcios” e “Roma”, ambas indicadas para os prémios Emmy de 2007, sendo a segunda uma das galardoadas.

A grandeza arquitetónica dos Impérios de várias civilizações passadas, tem deslumbrado e cativado o mundo inteiro desde sempre.

Ainda que estas edificações tenham sido erguidas sem a ajuda de computadores ou as ferramentas que hoje nos oferece a tecnologia, ainda se mantêm resplandecentes pela sua grandiosidade, tamanho e singular beleza.

Há 5000 anos, quando a Grécia e Roma não passavam de sonhos distantes, uma civilização concebeu o impossível e construiu o inimaginável.

"Os egípcios trabalharam em escala mais monumental que qualquer outro povo em milénios".

Enriquecidos pelas suas conquistas e fortalecidos por seus deuses, os faraós ergueram o primeiro monólito de pedra do mundo antigo, o edifício mais alto, a mais antiga barragem, a fortaleza mais inexpugnável, a maior cidade e o monumento supremo ao ego de um governante.

"A mensagem era clara: Não se metam com o Egipto".

Os engenheiros egípcios redefiniram os limites da possibilidade arquitetónica, mas o seu caminho rumo à glória eterna foi permeado de sangue, traição e catástrofe.



Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=DC2f-kXHaYw; http://www.documentarios.org/video/detalhar/1152/egito_construindo_um_imperio___parte_01_e_02/

Pulo do Lobo - 3º Dia - Parte II




Foi por volta das 18h00 que iniciámos o caminho de volta a casa, com partida das Minas de São Domingos.

No caminho para lá da vila de Mértola, procurou-se o cruzamento de estradas com a indicação do Pulo do Lobo, que nos levaria até a terras do Parque Natural do Vale do Guadiana.

Este Parque Natural tem muito para oferecer. Entre a variada fauna e a diversificada flora, é um lugar com vistas fantásticas, que se enquadram num cenário de sonho, onde a natureza inspira qualquer viandante.

Nas zonas declivosas da serra, onde a mão humana pouco se faz sentir, o parque está coberto com um matagal mediterrâneo, que mais se aproxima da vegetação original da região.

Procurávamos nós naquele dia, num vale em U de origem glaciar, em cujas formas geológicas bem talhadas das margens do rio Guadiana (a margem direita de Portugal e a esquerda de Espanha), conduzem as águas num longo e estreito desfiladeiro rochoso, percorrido pela forte corrente do rio, antecipado pelo ribombar de uma belíssima queda de água do lugar do Pulo do Lobo.

A chegada ao lugar de acesso ao Pulo do Lobo, fica situado na serra em lugar alto, que nos faz deixar a autocaravana e seguir a pé descendo uma um caminho em terra batida.

Percorrer estas veredas é ter acesso a paisagens únicas de verde, com as pedregosas margens a servir de trilho, é sentir a força viva das penedias, é viver um sem fim de emoções que nos levam a querer ir mais longe.

Aos poucos, vamos avançando ficando mais próximos da margem direita do rio, onde o barulho da água a embater contra a rocha aumenta consideravelmente.

Lá em baixo, as águas que caem bruta e ferozmente somem-se por uma garganta rochosa, que “nasce” num espaço largo do rio, que, por contraste, parece adormecido entre as suas margens altas e pedregosas.

O rio Guadiana que chega a medir 150 metros de largura e que percorreu até este local 710 quilómetros desde a sua nascente em Espanha, vê-se ali estrangulado e obrigado a passar por uma passagem estreita com pouco mais de 2 metros, ganhando as águas velocidade e uma força brutal, onde no meio vai resistindo uma dura rocha que nem o tempo gastou.

O Pulo do Lobo fica situado a cerca de oitenta quilómetros para norte a partir da foz do rio Guadiana e é perturbado por uma espetacular queda de água, com 13 a 14 metros de desnível, onde a água, feita espuma, corre veloz em plena força e energia. Água mole em pedra dura... as águas do rio Guadiana, devido à força da corrente, foram escavando ao longo do tempo um fundo desfiladeiro, num solo metamórfico duro.  

Este é o estado atual de uma vaga de erosão desencadeada no último período glaciário, há uns vinte mil anos, durante o qual o nível geral do mar baixou mais de cem metros, o que aumentou a energia dos rios, obrigando-os a escavarem os respetivos leitos. Assim o Guadiana sofreu este efeito, tendo vindo a fazer recuar tal desnível, numa luta que só terá fim nas suas cabeceiras, daqui a muitos, muitos anos.

Conta-se que este é um local de mistérios, no qual os lobos saltavam entre margens de tão apertadas que ficam em plena época de estio. O Rio Guadiana marca o percurso como o grande rio do sul, onde, ao longo de milénios, várias civilizações passaram e deixaram as suas histórias. Tudo isto ao alcance de um pulo. De um pulo de lobo.

O Pulo do Lobo deve o seu nome a uma antiga lenda, que conta a história de um lobo que ao ser perseguido por caçadores, deu um grande pulo sobre o rio, tendo chegado à outra margem, são e salvo.

O lugar do Pulo do Lobo é um poema, um monumento construído através dos tempos pela mãe Natureza. As quedas de água podem ser observadas de ambas as margens do rio; mas a paisagem mais bonita é quando lá se chega partindo da estrada que liga Mértola a Beja.

No final da visita a esta maravilha da natureza, seguiu-se a viagem a caminho de casa. Pelo caminho só uma paragem, no Canal Caveira, para um jantar de Cozido à Portuguesa.
 


 Fontes: http://www.aaaio.pt/public/ioand259.htm  ;http://www.luardameianoite.pt/serpa/serpa14.html; http://www.sal.pt/m1_agenda_passeios/pp_pulo_do_lobo.shtml; http://www.terraspulodolobo.com/

Minas de São Domingos - 3º Dia - Parte I



A chegada à povoação da Mina de São Domingos já bem tarde, por volta da meia-noite, levou-nos de imediato até ao parque de autocaravanas que se encontra na praia fluvial, a mais importante das redondezas.

A praia fluvial da Mina de São Domingos fica situada na maior de duas albufeiras de água doce criadas pela empresa Mason & Barry durante o século XIX, para fornecer água para o processamento de minerais de baixo teor por via húmida.

Hoje parte desta albufeira foi transformada numa praia, com estacionamento e parque de autocaravanas, bar/restaurante, instalações sanitárias e vigilância durante a época balnear. É um local de eleição para fugir às elevadas temperaturas da região, em especial durante a época de verão.

No dia seguinte acordámos tarde e fomos almoçar ao bar/restaurante. Surpreendida fiquei com o grande número de famílias portuguesas, que almoçavam animadamente ocupando algumas mesas do parque de merendas e que há pouco tempo atrás era raro ver-se. Sinais positivos da crise?  

Ao início da tarde uma caminhada levou-nos à antiga Mina de São Domingos, à qual se seguiu outra em redor da albufeira, para fruir do pleno contacto com a natureza, aproveitando para observar as espécies botânicas do lugar. 

A Mina de São Domingos é um local singular. Outrora uma importante exploração de cobre, que até há bem poucos anos foi o maior peso económico daquela região, hoje encontra-se abandonada.  Os carris da velha linha que permitia transportar o minério até ao Pomarão, foram arrancados e o que resta são fragmentos de edifícios e alguns lagos de água contaminada.  

A envolvente paisagem rochosa, desprovida de vegetação, faz lembrar um ambiente lunar. As zonas circundantes encontram-se cobertas por eucaliptais, pouco ricos em aves mas onde não é raro ouvir cantar algumas delas. 

Em redor das ruinas encontramos as lagoas ácidas que foram criadas há décadas atrás para fazer decantação, ou seja, para fazer a separação de misturas heterogéneas, das escorrências da antiga mina.  

A aldeia das Minas de São Domingos foi construída para os trabalhadores e suas famílias e ainda hoje são povoadas pelos moradores, hoje seus proprietários, tendo as pequeninas casas em banda caídas de branco, sofrido algumas alterações na sua arquitetura interior. 

Na aldeia propriamente dita podem ver-se muitas andorinhas-dos-beirais e logo a sul da mesma, na direção da mina, alguns ninhos de cegonha-branca. 

Da aldeia à praia fluvial da Tapada Grande é um saltinho. Depois caminha-se seguindo pela margem da albufeira, para saborear as vistas e sons da natureza envolvente. 

Adivinham-se na região terrenos pobres do ponto de vista agrícola, uma vez que no caminho sobressai a todo o momento o xisto multicolorido, com predominância do xisto azul. A rocha partida devido aos mecanismos da erosão divide-se em múltiplos pedacinhos coloridos e esfolheados que brilham ao sol e a sua beleza obriga a algumas colheitas para a coleção.  

As plantas silvestres conseguem no entanto resistir à pobreza do xisto e embora não sendo abundantes podem ser encontradas para além das espécies arbóreas e arbustivas, muitas plantas rasteiras. Além de eucaliptos e pinheiros (Pinus pinaster e Pinus pinea), que fazem o enquadramento paisagístico dominante, ali também encontramos junto à lagoa muitos Juncus effusus, que crescem de raízes mergulhadas na água e no caminho alguns tufos isolados de Juncus trifidus. Mas ali crescendo sobre o xisto e areia, também se podem ver várias plantas espontâneas, como a erva viperina (Echium vulgare), viborera, erva-vaqueira, alguns bonitos cardos (Carduus tenuiflorus), cenoura-brava (Daucus carota), margaça e outros malmequeres bravios, flores de rosmaninho, roselha (Cistus crispus), alguns tufos de bicos-de-cegonha… 

Na zona a jusante da barragem, a um nível mais baixo, encontra-se outra lagoa, que se formou a partir das águas de infiltração da albufeira e das chuvas.  

Cá em cima acompanha-se novamente a margem da lagoa da albufeira, agora de regresso à autocaravana. No caminho em comunhão com a natureza, encontram-se solitários pescadores e eis que súbito se avista um cavaleiro andante, em busca do palácio encantado da aventura… 

Junto da praia fluvial sobe-se uma pequena encosta que separa a lagoa da área de serviço, contorna-se a densa sebe de madressilva e chega-se junto da autocaravana.  

É hora de partir a caminho de casa. No caminho, logo a seguir a Mértola, procura-se o cruzamento que indica o Pulo do Lobo, o último lugar a visitar naquele fim de semana.

Fonte: http://prezi.com/p2h9iafmqyx_/sao-domingos-a-heranca-da-mina/ ; http://fugas.publico.pt/Noticias/309307_esta-praia-fluvial-alentejana-e-uma-mina; Mayer, Joachim e Kulmann, Folko, Plantas vivazes.