Minas de São Domingos - 3º Dia - Parte I



A chegada à povoação da Mina de São Domingos já bem tarde, por volta da meia-noite, levou-nos de imediato até ao parque de autocaravanas que se encontra na praia fluvial, a mais importante das redondezas.

A praia fluvial da Mina de São Domingos fica situada na maior de duas albufeiras de água doce criadas pela empresa Mason & Barry durante o século XIX, para fornecer água para o processamento de minerais de baixo teor por via húmida.

Hoje parte desta albufeira foi transformada numa praia, com estacionamento e parque de autocaravanas, bar/restaurante, instalações sanitárias e vigilância durante a época balnear. É um local de eleição para fugir às elevadas temperaturas da região, em especial durante a época de verão.

No dia seguinte acordámos tarde e fomos almoçar ao bar/restaurante. Surpreendida fiquei com o grande número de famílias portuguesas, que almoçavam animadamente ocupando algumas mesas do parque de merendas e que há pouco tempo atrás era raro ver-se. Sinais positivos da crise?  

Ao início da tarde uma caminhada levou-nos à antiga Mina de São Domingos, à qual se seguiu outra em redor da albufeira, para fruir do pleno contacto com a natureza, aproveitando para observar as espécies botânicas do lugar. 

A Mina de São Domingos é um local singular. Outrora uma importante exploração de cobre, que até há bem poucos anos foi o maior peso económico daquela região, hoje encontra-se abandonada.  Os carris da velha linha que permitia transportar o minério até ao Pomarão, foram arrancados e o que resta são fragmentos de edifícios e alguns lagos de água contaminada.  

A envolvente paisagem rochosa, desprovida de vegetação, faz lembrar um ambiente lunar. As zonas circundantes encontram-se cobertas por eucaliptais, pouco ricos em aves mas onde não é raro ouvir cantar algumas delas. 

Em redor das ruinas encontramos as lagoas ácidas que foram criadas há décadas atrás para fazer decantação, ou seja, para fazer a separação de misturas heterogéneas, das escorrências da antiga mina.  

A aldeia das Minas de São Domingos foi construída para os trabalhadores e suas famílias e ainda hoje são povoadas pelos moradores, hoje seus proprietários, tendo as pequeninas casas em banda caídas de branco, sofrido algumas alterações na sua arquitetura interior. 

Na aldeia propriamente dita podem ver-se muitas andorinhas-dos-beirais e logo a sul da mesma, na direção da mina, alguns ninhos de cegonha-branca. 

Da aldeia à praia fluvial da Tapada Grande é um saltinho. Depois caminha-se seguindo pela margem da albufeira, para saborear as vistas e sons da natureza envolvente. 

Adivinham-se na região terrenos pobres do ponto de vista agrícola, uma vez que no caminho sobressai a todo o momento o xisto multicolorido, com predominância do xisto azul. A rocha partida devido aos mecanismos da erosão divide-se em múltiplos pedacinhos coloridos e esfolheados que brilham ao sol e a sua beleza obriga a algumas colheitas para a coleção.  

As plantas silvestres conseguem no entanto resistir à pobreza do xisto e embora não sendo abundantes podem ser encontradas para além das espécies arbóreas e arbustivas, muitas plantas rasteiras. Além de eucaliptos e pinheiros (Pinus pinaster e Pinus pinea), que fazem o enquadramento paisagístico dominante, ali também encontramos junto à lagoa muitos Juncus effusus, que crescem de raízes mergulhadas na água e no caminho alguns tufos isolados de Juncus trifidus. Mas ali crescendo sobre o xisto e areia, também se podem ver várias plantas espontâneas, como a erva viperina (Echium vulgare), viborera, erva-vaqueira, alguns bonitos cardos (Carduus tenuiflorus), cenoura-brava (Daucus carota), margaça e outros malmequeres bravios, flores de rosmaninho, roselha (Cistus crispus), alguns tufos de bicos-de-cegonha… 

Na zona a jusante da barragem, a um nível mais baixo, encontra-se outra lagoa, que se formou a partir das águas de infiltração da albufeira e das chuvas.  

Cá em cima acompanha-se novamente a margem da lagoa da albufeira, agora de regresso à autocaravana. No caminho em comunhão com a natureza, encontram-se solitários pescadores e eis que súbito se avista um cavaleiro andante, em busca do palácio encantado da aventura… 

Junto da praia fluvial sobe-se uma pequena encosta que separa a lagoa da área de serviço, contorna-se a densa sebe de madressilva e chega-se junto da autocaravana.  

É hora de partir a caminho de casa. No caminho, logo a seguir a Mértola, procura-se o cruzamento que indica o Pulo do Lobo, o último lugar a visitar naquele fim de semana.

Fonte: http://prezi.com/p2h9iafmqyx_/sao-domingos-a-heranca-da-mina/ ; http://fugas.publico.pt/Noticias/309307_esta-praia-fluvial-alentejana-e-uma-mina; Mayer, Joachim e Kulmann, Folko, Plantas vivazes.

Nenhum comentário: