Foi por volta das 18h00 que iniciámos o caminho de volta a casa, com partida das Minas de São Domingos.
No caminho para lá da vila de Mértola, procurou-se o cruzamento de estradas com a indicação do Pulo do Lobo, que nos levaria até a terras do Parque Natural do Vale do Guadiana.
Este Parque Natural tem muito para oferecer. Entre a variada fauna e a diversificada flora, é um lugar com vistas fantásticas, que se enquadram num cenário de sonho, onde a natureza inspira qualquer viandante.
Nas zonas declivosas da serra, onde a mão humana pouco se faz sentir, o parque está coberto com um matagal mediterrâneo, que mais se aproxima da vegetação original da região.
Procurávamos nós naquele dia, num vale em U de origem glaciar, em cujas formas geológicas bem talhadas das margens do rio Guadiana (a margem direita de Portugal e a esquerda de Espanha), conduzem as águas num longo e estreito desfiladeiro rochoso, percorrido pela forte corrente do rio, antecipado pelo ribombar de uma belíssima queda de água do lugar do Pulo do Lobo.
A chegada ao lugar de acesso ao Pulo do Lobo, fica situado na serra em lugar alto, que nos faz deixar a autocaravana e seguir a pé descendo uma um caminho em terra batida.
Percorrer estas veredas é ter acesso a paisagens únicas de verde, com as pedregosas margens a servir de trilho, é sentir a força viva das penedias, é viver um sem fim de emoções que nos levam a querer ir mais longe.
Aos poucos, vamos avançando ficando mais próximos da margem direita do rio, onde o barulho da água a embater contra a rocha aumenta consideravelmente.
Lá em baixo, as águas que caem bruta e ferozmente somem-se por uma garganta rochosa, que “nasce” num espaço largo do rio, que, por contraste, parece adormecido entre as suas margens altas e pedregosas.
O rio Guadiana que chega a medir 150 metros de largura e que percorreu até este local 710 quilómetros desde a sua nascente em Espanha, vê-se ali estrangulado e obrigado a passar por uma passagem estreita com pouco mais de 2 metros, ganhando as águas velocidade e uma força brutal, onde no meio vai resistindo uma dura rocha que nem o tempo gastou.
O Pulo do Lobo fica situado a cerca de oitenta quilómetros para norte a partir da foz do rio Guadiana e é perturbado por uma espetacular queda de água, com 13 a 14 metros de desnível, onde a água, feita espuma, corre veloz em plena força e energia. Água mole em pedra dura... as águas do rio Guadiana, devido à força da corrente, foram escavando ao longo do tempo um fundo desfiladeiro, num solo metamórfico duro.
Este é o estado atual de uma vaga de erosão desencadeada no último período glaciário, há uns vinte mil anos, durante o qual o nível geral do mar baixou mais de cem metros, o que aumentou a energia dos rios, obrigando-os a escavarem os respetivos leitos. Assim o Guadiana sofreu este efeito, tendo vindo a fazer recuar tal desnível, numa luta que só terá fim nas suas cabeceiras, daqui a muitos, muitos anos.
Conta-se que este é um local de mistérios, no qual os lobos saltavam entre margens de tão apertadas que ficam em plena época de estio. O Rio Guadiana marca o percurso como o grande rio do sul, onde, ao longo de milénios, várias civilizações passaram e deixaram as suas histórias. Tudo isto ao alcance de um pulo. De um pulo de lobo.
O Pulo do Lobo deve o seu nome a uma antiga lenda, que conta a história de um lobo que ao ser perseguido por caçadores, deu um grande pulo sobre o rio, tendo chegado à outra margem, são e salvo.
O lugar do Pulo do Lobo é um poema, um monumento construído através dos tempos pela mãe Natureza. As quedas de água podem ser observadas de ambas as margens do rio; mas a paisagem mais bonita é quando lá se chega partindo da estrada que liga Mértola a Beja.
No final da visita a esta maravilha da natureza, seguiu-se a viagem a caminho de casa. Pelo caminho só uma paragem, no Canal Caveira, para um jantar de Cozido à Portuguesa.
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