“As estrelas são sois, mas muito distantes. O
sol é uma estrela, mas muito próxima.”
O 7º Episódio da série Cosmos, é sobre o nascimento do
pensamento científico na nossa civilização e em nós mesmos.
Carl
Sagan inicia-o dizendo-nos que se não nos autodestruirmos
iremos um dia viajar até às estrelas distantes. As estrelas que no passado eram
um mistério, passaram a ser entendidas, tal como nós passamos da ignorância ao
conhecimento.
De modo nostálgico,
leva-nos até Brooklyn onde viveu na sua infância e relembra as suas primeiras
indagações sobre as estrelas e a sua primeira ida à biblioteca, na rua 86, onde
pediu um livro sobre estrelas, que pela primeira vez lhe abriu horizontes sobre
o assunto.
Leva-nos também à sala de
aula onde estudou, numa escola de Brooklyn, incentivando os atuais alunos em
relação às então novas descobertas da Astronomia.
O que são as Estrelas?
Tempos houve em que os humanos curiosos imaginaram que as estrelas eram
fogueiras no céu, mantidas acesas por magia. Mostra como a Via Láctea foi
interpretada de diferentes modos ao longo da história, inclusive como a "Coluna Vertebral da Noite",
expressão cunhada pelos ǃKung (povo do deserto do
Kalahari), do Botsuana, que dá título ao episódio. Acreditavam que a Via Láctea
segurava os céus, que se não fosse ela os corpos celestes cairiam em cima de
nós.
Eram tempos difíceis, em
que os homens não entendendo os fenómenos naturais, acreditavam que eram os
deuses que se zangavam por pouco. A Natureza era um mistério, era muito difícil
perceber o mundo. Indefesos perante a Natureza, eles inventaram rituais e
mitos, alguns desesperados e cruéis, outros imaginativos e benignos.
Da África, Carl Sagan segue para a Grécia,
tida como berço
do pensamento racional no ocidente, onde nos apresenta Tales de Mileto e Polícrates. Após comentar sobre vários
pré-socráticos, critica os pensadores do período clássico, na medida da visão
dualista, principalmente de Platão, que teria legitimado aquilo que Marx chamou
modo de produção escravista.
Diz-nos então que há 25
séculos, na ilha grega de Samos, e nas outras colónias gregas que tinham
crescido no apinhado Mar Egeu, houve um glorioso despertar científico. Estes
homens foram os arquitetos que fizeram a ligação do seu mundo, com o nosso.
Havia gente que acreditava que eramos feitos por átomos, que as doenças não
eram causadas por deus enfurecidos, e que a Terra era apenas um planeta que
girava em torno do Sol.
Esta revolução tirou o
Cosmos do caos. Descobriram que a Natureza não era totalmente imprevisível e
que havia regras que até ela tinha que obedecer. Foi o primeiro conflito entre
ciência e misticismo, entre a Natureza e os Deuses.
Mas porque é que isto
aconteceu nestas ilhas remotas do Mediterrâneo oriental? Ali, havia colónias
recém-formadas e o isolamento promovia a diversidade. Embora tivessem contacto
direto com mercadores e marinheiros da África, Ásia e Europa, havia uma
interação vigorosa e impetuosa de tradições, preconceitos e crenças, havendo um
contacto com culturas diversas, trocavam mercadorias, histórias, saberes,
línguas e ideias.
A pesquiza livre tornou-se
possível e como estavam além das fronteiras dos impérios, eram povos que
estavam prontos para experimentar. Quando estamos abertos para questionar
rituais e práticas tradicionais, descobrimos que uma pergunta leva a outra. Se
havia vários deuses para a mesma coisa, porque não adotar os dois? Foi aí que
surgiu a grande ideia, a compreensão de que havia uma forma de compreender o
mundo, sem a hipótese do deus.
Esta foi a grande
revolução que aconteceu entre 600 e 400 a.C., e foi nestas ilhas que nasceu a
ciência. Foi conseguida pelo mesmo povo prático e produtivo que fez a sociedade
funcionar. Os pioneiros da ciência foram os mercadores e os artesãos, sendo o
primeiro deles, Tales de Mileto, um
homem viajado que conhecia a Babilónia e o Egipto.
É aqui que se inicia a
segunda parte deste vídeo e Carl Sagan
fala-nos dos pré-socráticos, como Heráclito,
Tales de Mileto, Anaximandro, Demócrito… Biólogos, geógrafos,
matemáticos, astrónomos, políticos e filósofos. Diz-nos que o legado duradouro dos jónios são as ferramentas e técnicas que eles desenvolveram e que continuam a ser a base da tecnologia moderna. Os práticos e os teóricos eram um só. Deste misto de pensamento abstrato e da experiência do dia-a-dia, nasceu a Ciência. Quando estes homens práticos viraram a atenção para o mundo natural, começaram a descobrir maravilhas ocultas e possibilidades espantosas.
Fala-nos então da abordagem de Tales de Mileto, que era baseada em que o
mundo não era feito pelos deuses, mas sim o resultado de forças materiais
interagindo na Natureza. Tales trousse
dos lugares por onde andara as sementes de novas ciências, a Astronomia e a
Geometria, que iriam germinar no solo fértil da Jónia.
Carl Sagan fala-nos então da geração
de Teodoro, um engenheiro mestre da
época a quem é creditada a invenção da chave, da régua, do quando de
carpinteiro, do nível, do torno e da fundição do bronze.
De Anaximandro, discípulo de Tales de Mileto, que estudou a perfusão de criaturas e viu as suas
inter-relações, concluindo que a vida teve origem na água e na lama,
colonizando em seguida a terra seca. Anaximandro dizia que o ser humano devia
ter evoluído a partir de formas mais simples, e esta magnífica perceção teve
que esperar vinte e quatro séculos para que esta verdade pudesse ser
demonstrada por Charles Darwin.
De Aristarcos, que sugeriu que era o Sol e não a Terra que estava no
centro do sistema solar.
De Demócrito de Abdera, que acreditava que nada
acontecia aleatoriamente, e que tudo tinha uma causa material. É dele uma sábia
frase: “Eu prefiro entender uma causa, do que ser o rei da Pérsia”.
Acreditava que a pobreza numa democracia era melhor que a riqueza numa tirania.
Acreditava que as religiões da sua época eram más e que não existiam almas nem
tão pouco deuses imortais. Felizmente não constam perseguições feitas a Demócrito, talvez por ele ser da
pequena ilha de Abdera, numa altura que se iniciava uma aceitação de ideias diversas
das convencionais.
Nada foi esquecido por
estes ávidos cientistas e até o ar foi objeto de pesquisas detalhadas, mostrando-nos
vários exemplos de objetos e falando-nos de várias conclusões sábias que resultavam
de mentes com os mais altos poderes lógicos e intuitivos.
Na caverna de Pitágoras, em Samos, Carl Sagan descobre também um lado
diverso do pensamento grego, o mundo místico guardado por uma irmandade erudita
que trabalhava para ocultar do povo o conhecimento que possuía.
Fala-nos em seguida de Platão e de Pitágoras (que pela primeira vez usou a palavra “Cosmo” e que
inventou a palavra filosofia – amizade ao saber), dizendo-nos que eram
matemáticos e místicos totais, que testavam ideias contra observação.
Diz-nos que embora estes
homens tenham avançado muito na Ciência, eram ao mesmo tempo muito seletivos,
guardando apenas os saberes para uma pequena elite, o que atrasou de modo
significativo o libertar do esforço humano.
Mas o que é que a Ciência
perdeu? Que apelo é que os saberes de Pitágoras e Platão tinham para os seus
contemporâneos? - Eles proviam justificativas intelectualmente respeitáveis
para uma ordem social corrupta. A democracia Grega era aplicada apenas a alguns
privilegiados, como é próprio de uma sociedade escravocrata. Assim os livros
que guardavam os saberes dos cientistas jónios, foram totalmente perdidos e
suas visões foram suprimidas, ridicularizadas e esquecidas, quer pelos
platónicos, quer pelos cristãos, que adotaram muito da mesma filosofia.
Mas depois de um longo
sono místico em que as ferramentas da pesquisa foram estragadas, a abordagem
científica jónica foi redescoberta. A experimentação e a pesquisa aberta
tornaram-se novamente possíveis e o mundo ocidental despertou novamente, dando
à ciência jónica o valor merecido.
Leonardo D’Vinci,
Copérnico e Colombo, foram também inspirados pela tradição jónica. Foi o
culminar duma tradição, agora amplamente esquecida, segundo a qual leis
naturais e não deuses caprichosos regiam o universo.
É importante procurarmos o
nosso lugar no Cosmos. Onde estamos? Quem somos? – Nós descobrimos que vivemos
num planeta insignificante, perdido no Cosmos, que orbita em torno de uma
estrela trivial, num canto de uma galáxia perdida num Universo onde existem
muito mais galáxias do que seres vivos. Nós tornámos o nosso mundo
significativo pela coragem das nossas perguntas e pela profundidade das nossas
respostas. Nós iniciamos a nossa jornada para as estrelas, com uma pergunta que
foi feita pela primeira vez, na infância da nossa espécie e feita de novo em
cada geração, com assombro renovado: O que são as Estrelas?
No final Carl Sagan leva-nos novamente até Brooklyn,
onde ele próprio se começou a envolver no estudo do Universo, onde podemos
assistir a uma aula por ele dada a alunos atuais da sua antiga escola, sobre
Astronomia.
A exploração está na nossa natureza. Chegou o momento em que estamos prontos para nos aventurarmos no caminho para as Estrelas!...