“Diz NÃO
à liberdade que te oferecem, se ela é só a liberdade dos que ta querem
oferecer. Porque a liberdade que é tua não passa pelo decreto arbitrário dos
outros.”
Vergílio Ferreira, in Contra-Corrente III - intervenção cívica
Óleo sobre Tela de Victor Lages - 2008
Há alguns dias atrás,
recebi um comentário anónimo e bastante grosseiro a uma postagem aqui publicada
há já algum tempo. Embora não seja a primeira vez que isto acontece, o facto é
que me deixou mais uma vez perplexa. Mesmo vivendo numa época conturbada e de
enorme crise de valores, não consigo deixar de me admirar com este tipo de atitudes.
Devo dizer que as críticas
que aqui são colocadas, mesmo que negativas, geralmente não me afetam, e até
tenho por princípio gostar que mas façam, pois por exaustão nos esculpimos.
Mas em meu entender as
críticas, devem sempre ser feitas no sentido de ajudar a melhorar qualquer
coisa, porque senão elas passam a ser um mero exercício de intuito destruidor e
sádico.
Num tempo em que se vive também
uma crise “estratégica” para o bem-fazer, mais e melhor, a fim de crescermos
como nação, coloco aqui duas citações que talvez, se pensarmos nelas
individualmente, nos ajudem a melhorar como povo: “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para
mudar o que somos”. (Eduardo Galeano), ou
"Só é digno da liberdade, como da vida, aquele que se empenha em
conquistá-la." (Goethe)
É precisamente sobre isso
que este texto de Vergílio Ferreira nos
fala e que ilustra bem a nossa mentalidade cultural.
“O comum das gentes (de Portugal) que eu não chamo povo porque o nome foi
estragado, o seu fundo comum é bom. Mas é exactamente porque é bom, que abusam
dele. Os próprios vícios vêm da sua ingenuidade, que é onde a bondade também
mergulha. Só que precisa sempre de lhe dizerem onde aplicá-la. Nós somos por
instinto, com intermitências de consciência, com uma generosidade e delicadeza
incontroláveis até ao ridículo, astutos, comunicáveis até ao dislate, corajosos
até à temeridade, orgulhosos até à petulância, humildes até à subserviência e
ao complexo de inferioridade. As nossas virtudes têm assim o seu lado negativo,
ou seja, o seu vício. É o que normalmente se explora para o pitoresco, o
ruralismo edificante, o sorriso superior. Toda a nossa literatura popular é
disso que vive.
Mas, no fim de contas, que é que significa cultivarmos a nossa
singularidade no limiar de uma «civilização planetária»? Que significa o
regionalismo em face da rádio e da TV? O rasoiro que nivela a província é o que
igualiza as nações. A anulação do indivíduo de facto é o nosso imediato
horizonte. Estruturalismo, linguística, freudismo, comunismo, tecnocracia são
faces da mesma realidade. Como no Egipto, na Grécia, na Idade Média, o
indivíduo submerge-se no colectivo. A diferença é que esse colectivo é hoje o
puro vazio.”
Vergílio Ferreira, in 'Contra-Corrente
II'
Fontes:
http://www.citador.pt/http://cronicas-portuguesas.blogspot.pt/http://arcoartis.com/
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