«Eu não sou
pessimista nem optimista, entre mim e a vida não há nenhum mal entendido»
Almada
Negreiros
Viver é uma peripécia. Um dever, um afazer, um prazer, um
susto, uma cambalhota. Entre o ânimo e o desânimo, um entusiasmo ora doce, ora dinâmico
e agressivo.
Viver não é cumprir nenhum destino,
não é ser empurrado ou rasteirado pela sorte. Ou pelo azar. Ou por Deus, que
também tem a sua vida. Viver é ter fome. Fome de tudo. De aventura e de amor,
de sucesso e de comemoração de cada um dos dias que se podem partilhar com os
outros. Viver é não estar quieto, nem conformado, nem ficar ansiosamente à
espera.
Viver é romper, rasgar, repetir com
criatividade. A vida não é fácil, nem justa, e não dá para a comparar a nossa
com a de ninguém. De um dia para o outro ela muda, muda-nos, faz-nos ver e
sentir o que não víamos nem sentíamos antes e, possivelmente, o que não veremos
nem sentiremos mais tarde.
Viver é observar, fixar, transformar.
Experimentar mudanças. E ensinar, acompanhar, aprendendo sempre. A vida é uma
sala de aula onde todos somos professores, onde todos somos alunos. Viver é
sempre uma ocasião especial. Uma dádiva de nós para nós mesmos. Os milagres que
nos acontecem têm sempre uma impressão digital. A vida é um espaço e um tempo maravilhosos
mas não se contenta com a contemplação.
Ela exige reflexão. E exige soluções.
A vida é exigente porque é generosa. É dura porque é
terna. É amarga porque é doce. É ela que nos coloca as perguntas, cabendo-nos a
nós encontrar as respostas. Mas nada disso é um jogo. A vida é a mais séria das
coisas divertidas.
Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'
Fonte: http://pensamentos.com.sapo.pt/
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