Nova Renascença ou o Fim da Picada?




"Explosão do silicone"
Colagem virtual de Fátima de Carvalho
 

 
No nosso presente e cada vez mais, as nossas relações são mediadas por ferramentas digitais: a política, a educação, as relações sociais e amorosas, os negócios...

O mundo vive cada vez mais online, trocando informação numa rede em tempo real. Somos a geração que testemunha e é cobaia de uma importante transição tecnológica: do analógico para o digital.

É um tempo de aceleração de velocidade e variedade na publicação das informações e do conhecimento compartilhado, onde cada um pode ser o autor de sua obra fictícia ou não.

Como confiar e conviver no caldo cultural gerado por tantas possibilidades e ruídos? Quais os nós dramáticos desta história? Estamos diante de uma nova renascença ou diante do fim da picada?

Neste episódio do Café Filosófico, Módulo: Mundo Virtual: Relações Humanas, Demasiado Humanas, Marcelo Tas, jornalista, ator e roteirista, trata o tema das relações humanas através da Internet.
Entre as suas obras destacam-se os vídeos do repórter ficcional Ernesto Varela; as séries "Rá-Tim-Bum" (TV Cultura) e a sua participação na criação do "Programa Legal" e "Telecurso" (TV Globo). Recentemente, Tas realizou o "Beco das Palavras", um jogo interativo no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.


Fontes: http://www.youtube.com/watch?v=ToA4OyQQtNo&NR=1&feature=endscreen http://fatimadecarvalhoartistaplastica.blogspot.pt

O Problema Essencial da Vida


"Sem a cultura e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro."

Albert Camus

Wifredo Lam (1902-1982), "A Selva"
Museu de Arte Moderna, Nova Iorque

O problema essencial da vida, que é o problema da realidade ou da verdade, não existe, nem pode existir em iguais termos para o homem de inteligência superior e para o homem vulgar. O homem de inteligência superior não tem, é certo, melhores elementos para descobrir a verdade do que o mais fechado dos idiotas. O que tem é melhores elementos para compreender porque é que ela se não pode descobrir. Mas a descrença, a que chegam todos os espíritos elevados, em que a razão predomina sobre o sentimento, sendo para eles tónica, é absolutamente desastrosa para os inferiores. Sem fé, sem crença, o homem vulgar reduz-se a um bicho; com fé, com crença, o homem superior baixa de posto. De aí o terrível paradoxo, que ataca todo o homem ao mesmo tempo superior intelectual e moralmente; que é inferior não sentir a descrença, e inferior pregar a descrença que sente. O inferior não é capaz de descrença, porque a crença é um estado orgânico dos instintivos. Por isso a descrença, caindo nesse solo impropício, ou se torna um fanatismo às avessas, ou um materialismo sem teoria, ou uma simples estupidez.

Assim a especulação filosófica (teórica) parte forçosamente dos dados elementares do conhecimento, que são o sujeito e o objeto, e a consequente relação entre eles, assim a especulação prática parte dos dados elementares da vida, que são o organismo e o meio e as consequentes relações entre eles. A especulação teórica abrange as partes todas da experiência; a especulação prática abrange apenas aqueles fatores da experiência (…)

(Como é que “Verdade”, a Realidade, em um caso, corresponde a Vida, em outro?)

 
A religião é uma metafísica vital, a ciência da utilidade.

 
1.    O homem é um animal irracional, exactamente como os outros. A única diferença é que os outros são animais irracionais simples, o homem é um animal irracional complexo. É esta a conclusão que nos leva a psicologia científica, no seu estado actual de desenvolvimento. O subconsciente, inconsciente, é que dirige e impera, no homem como no animal. A consciência, a razão, o raciocínio são meros espelhos. O homem tem apenas um espelho mais polido que os animais que lhe são inferiores.

 
2.    Sendo assim, toda a vida social procede de irracionalismos vários, sendo absolutamente impossível (excepto no cérebro dos loucos e dos idiotas) a ideia de uma sociedade racionalmente organizada, ou justiceiramente organizada, ou, até, bem organizada.

 
3.    A única coisa superior que o homem pode conseguir é um disfarce do instinto, ou seja o domínio do instinto por meio de instinto reputado superior. Esse instinto é o instinto estético. Toda a verdadeira política e toda a verdadeira vida social superior é uma simples questão de senso estético, ou de bom gosto.

 
4.    A humanidade, ou qualquer nação, divide-se em três classes sociais verdadeiras: os criadores de arte; os apreciadores de arte; e a plebe. As épocas maiores da humanidade são aquelas em que sobressaem os criadores de arte, mas não se sabe como se realizam essas épocas, porque ninguém sabe como se produzem homens de génio.

 
5.    Toda a vida e história da humanidade é uma coisa, no fundo, inteiramente fútil, não se percebe para que há, e só se percebe que tem que haver.

 
6.    A plebe só pode compreender a civilização material. Julgar que ter automóvel é ser feliz é o sinal distintivo do plebeu.

A metafísica, na sua essência, isto é, no que de ao mesmo tempo mais lato e mais simples comporta o seu conceito, assenta em uma distinção, possível só a conscientes desenvolvidos, entre o conhecimento e a vida, ou com precisão mais verbal, entre conhecer e viver. Só uma longa experiência humana, acumulada e transmitida, pôde criar um tipo de homem primeiro inactivo, por quaisquer circunstâncias que atenuassem o estado de guerra inevitavelmente primitivo (primordial) entre os humanos, e depois, por apuramento especializado desses inativos, o tipo já propriamente especulativo.

O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não.

Fernando Pessoa, in Obras em Prosa, Textos Filosóficos, Vol. VI, Círculo de Leitores, 1987. Páginas 107, 108.

Fonte: http://www.citador.pt/

A Liberdade e o Destino


Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!

Miguel Torga, Conquista, in 'Cântico do Homem'


O ideal dos três S: o Sustento, o Saber e a Saúde.

"Na realidade, Liberdade e Destino são duas fantasias nossas, não há nada de real. Sobre as quais podemos constituir belos sistemas filosóficos."

Sobre a Engenharia Genética:

"Não se deve confundir Ciência com aplicação da Ciência"

"Quando o Homem cria uma peça ou máquina tem que decidir logo para que fim a vai usar."

"Se Dostoyevsky tivesse sido curado de sua epilepsia, o que o curaria por exemplo de ter escrito um romance... A pessoa tem que decidir o que é que faz e de que maneira faz. Não creio que a coisa melhor do Homem seja ser normal. Como também não me parece que a melhor fruta do mundo seja normalizada, como aquela que Portugal está aí agora a importar e que a CEE vai continuar a obrigar a importar."

"A pessoa nasce em determinadas circunstâncias, sem se dizer se elas são boas ou más. (...) É um problema esse de dizermos que uma pessoa tem determinados defeitos e qualidades. O que se deve dizer é que as pessoas têm determinadas características e o que nós por vezes verificamos é que são os defeitos que fazem as boas obras e as qualidades aquelas que muitas vezes as abatem.”

"Casos excepcionais é tudo o que há mundo. Cada um de nós é inteiramente excepcional. Não há nenhum Homem igual a nós em todos os biliões que existem, nem fisicamente, nem mentalmente.”

"Se é sua ideia que eu posso ajudar a resolver alguma coisa está inteiramente enganado. Eu posso ajudá-lo em o meu amigo tomar cuidado em não resolver coisa nenhuma. (...) Por dois lados, para não fechar a porta ao Futuro: Toda a pessoa que tomou uma resolução não quer saber de mais nada daquilo que venha depois, pode não se emendar de coisas que seriam mazinhas para a sua vida. Em segundo lugar, porque a pessoa resolveu qualquer coisa, é quase meio passo para estabelecer uma Inquisição qualquer, com a qual quer obrigar todos os outros a serem como ele e a chegarem à mesma verdade."

"Esse muro do Atlântico que travou o Império Romano, quem o foi derrubar? Foi um pequeno povo, quase esquecido, no Ocidente da Península que conseguiu que o muro se derrubasse e que o Império Romano, ou aquilo e que ele se transformara assim o passasse."

Agostinho da Silva, Frases da entrevista


Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=q63Ycb8ZRec http://www.citador.pt/poemas/conquista-miguel-torga

A Persistência da Memória


 
O cérebro humano é ponto de embarque de todas as nossas viagens cósmicas. É um repositório de informação, como são os genes que evoluíram muito mais cedo e os livros que despontaram muito mais tarde.

No início deste 11º episódio da série Cosmos, Carl Sagan caminha por um campo, para nos dizer que a superfície da Terra é muito mais bonita e complexa do que qualquer mundo sem vida. É precisamente a grande complexidade de vida na Terra, que se desenvolveu ao longo de 4 biliões de anos de seleção natural, que nos mostra a nossa verdadeira riqueza.

Compara depois uma rocha a um ser vivo, para nos dizer que é preciso muito mais informação para caracterizar uma coisa viva. Fala-nos então do Bit, a menor unidade de informação que pode ser armazenada ou transmitida, dizendo-nos que com 20 perguntas habilmente escolhidas poderemos obter as informações desejadas e até reduzir o Cosmos a um simples dente de leão.

Em seguida, abordo da sua nave espacial intergaláctica, diz-nos que deveremos fazer as perguntas certas para conhecermos o Cosmos. Mas para desvendarmos a sua ordem básica, não serão apenas necessárias 20 perguntas, mas sim bilhões de perguntas, feitas com um propósito sério, a que se chama Ciência.

Sagan parte da noção de bit e passa para a análise da inteligência na vida marinha, em especial o caso dos cetáceos.

Leva-nos a visitar um possível mundo exótico habitado, com uma extensa superfície composta por um líquido e nele podemos procurar a inteligência dominante existente por baixo da sua superfície liquida. É ai que vemos uma enorme variedade de organismos vivos, que parecem violar a fronteira entre o reino animal e vegetal. Este é o mundo subaquático do planeta Terra, desconhecido por tantos de nós.

Depois, Carl Sagan abordo de um navio de pesquisa oceânica, leva-nos a examinar uma das outras espécies inteligentes que connosco partilham o planeta... as grandes baleias, para constatarmos que com elas temos muito em comum.

Diz-nos que as baleias durante dezenas de bilhões de anos, não tiveram predadores naturais, até que apareceu uma criatura alienígena e mortal, na plácida superfície do oceano, para as chacinar e quase as ameaçar de extinção. Essa criatura é o Homem.

Fala-nos depois das canções das baleias, para nos dizer que elas não têm órgãos manipulativos, não podendo por isso fazer grandes obras de engenharia, mas são criaturas sociais e tal como nós, passeiam, nadam, brincam, caçam, pescam, acasalam, divertem-se e fogem de predadores, e podem como nós, ter muito o que conversar.

Mas somos nós que assassinamos as baleias!... Usamos muitas vezes a palavra monstro para definir animais diferentes, ou maiores do que nós, e por isso para nós assustadores. Mas o que na realidade é um monstro? As baleias, ou os humanos que as dizimaram, levando-as quase à extinção? Andamos interessados em comunicar com inteligência extraterrestre, mas não seria melhor preocupar-nos em comunicar verdadeiramente com os seres terrestres que nos rodeiam?

Carl Sagan fala-nos depois no DNA, a molécula cuja função é armazenar e copiar informação. Na realidade o DNA é linguagem mais antiga que existe, é o idioma da vida.

Leva-nos depois por uma caminhada pelo cérebro humano para que testemunhemos a arquitetura do pensamento. Sagan penetra então na "Biblioteca Cerebral", onde estão armazenados bilhões de bits de informação.

O cérebro humano é ponto de embarque de todas as nossas viagens cósmicas, o córtex cerebral, onde a matéria é transformada em consciência. Aqui, ocupando mais de 2/3 de massa cerebral, é o reino da intuição e da análise critica. É também aqui que temos ideias e inspirações, é aqui que lemos e escrevemos, é aqui que fazemos matemática e música. O córtex regula a nossa vida consciente, ele é a distinção da nossa espécie, o local da nossa humanidade. A arte e a ciência vivem no córtex cerebral e a civilização é um seu produto.

Os lóbulos frontais são os locais onde podemos antecipar factos, onde imaginamos o futuro. Mas se podemos apercebermo-nos de um futuro desagradável, podemos também tomar medidas para o evitarmos. Nos lóbulos frontais poderão estar os meios para assegurarmos a sobrevivência humana, se tivermos sabedoria para prestar atenção.

A informação armazenada no nosso cérebro, reside nos neurónios, onde se faz o repositório de informação. O que sabemos está codificado nos neurónios, conectados entre si, formando uma grande tecelagem encantada. Cada um de nós tem no seu cérebro o mesmo número de neurónios, do que estrelas na nossa galáxia Via Láctea.

O mundo do pensamento é dividido em dois hemisférios. O hemisfério direito do córtex cerebral é o principal responsável pelos padrões de reconhecimento, intuição, sensibilidade, perceções criativas, e o hemisfério esquerdo está destinado ao pensamento racional, analítico e critico. São estes os opostos essenciais que caracterizam o pensamento humano, e à nossa volta, estão os meios para avaliar ideias, como para testar a sua validade.

A criatividade e a análise são os dois elementos essenciais, para conseguirmos entender o mundo, e a paixão pela aprendizagem é a chave para a nossa sobrevivência.

O córtex cerebral é uma liberação, que nos liberta dos padrões de comportamento das outras espécies, relativos ao território, agressão e hierarquias de dominação. Somos largamente responsáveis pelo que é colocado no nosso cérebro, e temos a liberdade de nos mudarmos a nós mesmos.

Carl Sagan faz uma analogia do cérebro com uma grande cidade, uma biblioteca e um computador.

Compara depois o cérebro humano com a cidade de Nova York, explicando-nos o seu crescimento, para nos dizer que o cérebro é muito mais conservador do que a cidade. No entanto, há medida que o conhecimento foi avançando, tivemos que começar a armazenar o conhecimento fora do nosso corpo. Nasceram assim as bibliotecas, e com elas a memória pública.

Diz-nos que escrever talvez seja a maior das invenções humanas, unindo pessoas estranhas que jamais se conheceram, quer em épocas, quer em distâncias. Os livros rompem os grilhões do tempo e são também a prova de que os humanos são capazes de fazer mágica.

Carl Sagan leva-nos a uma sala de biblioteca cheia de livros antigos e mágicos, para nos contar a história da escrita, desde a escrita coniforme até ao tempo atual, unindo genes, cérebros e livros.

A própria informação evolui, alimentada pela informação aberta e pela pesquisa livre. As unidades de informação biológica são os genes, e as unidades de evolução cultural são as ideias, que são transportadas por todo o planeta, e reproduzem-se através da comunicação.

A informação nos últimos anos tem crescido drasticamente devido aos computadores e à Internet. Os computadores podem armazenar e processar uma quantidade imensa de informação de modo extremamente rápido, dando origem a uma grande revolução da informação. É o potencial para poder unir todos os cérebros da Terra, para uma consciência planetária.
 
Diz-nos também que um pouco da informação existente nos nossos genes, nos nossos cérebros e nas nossas bibliotecas, foi enviado a bordo da nave espacial interestelar Voyager, no precioso disco dourado, apresentado como um símbolo do conhecimento acumulado pela humanidade ao longo da sua evolução, e que é dirigido a seres de épocas futuras e até de outros mundos…É uma mensagem na garrafa, vagando no oceano Cósmico...
 
A não perder! 
 
Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=1keRNllp94g

Mais informações:

Ségur le Château - 21º Dia - Parte II



Deixamos Magnac-sur-Touvre após um almoço realizado na autocaravana. Os caminhos daquele dia haviam de levar-nos por um périplo por algumas das mais famosas Villages de France.
São caminhos estreitos, caminhos rurais, em terras de Limousin, bordejados de verde tão intenso que o diafragma das máquinas fotográficas, por mais que se feche, recusa a captar em nome da simultânea e intensa luminosidade que nos invade. As paisagens são tão belas que parecem irreais.
No caminho atravessa-se o Parc Naturel Regional du Périgord Limousin que nos oferece paisagens ricas e variadas, convidando-nos a descobrir a sua atmosfera especial.
Só de olhar as variadas paisagens que se nos deparam pelo caminho, quer no coração de uma floresta de castanheiros, quer numa pastagem com restolho seco, ou noutro prado de luzerna pontilhada com orquídeas ou malmequeres selvagens, apetecendo parar e caminhar por trilhos campesinos, que fazem fronteira com as águas cristalinas dos rios.
Já a meio da tarde daquele dia, parou-se na primeira aldeia histórica. Era ela, Ségur le Château, uma pequena povoação atravessada de leste a oeste pelo rio Auvézère e dominada por um castelo em ruínas.
A pequena vila histórica de Ségur, aninhada no verde vale do rio Auvézère, foi originalmente galo-romana e realizou um papel de destaque na história da província, mas também no da França.
Na Época Medieval e durante 600 anos, a cidade de Ségur e o seu feudo pertenceram aos Viscondes de Limoges, que viveram lá regularmente como foi evidenciado pelas muitas mudanças do castelo ao longo deste tempo.
A presença dos viscondes na cidade fez com que nela também se instalassem algumas famílias de cavaleiros retentores e um número significativo de oficiais, encarregados da administração e da justiça.
A cidade foi a sede de um senhorio que se estendia num raio de 15 km, com cerca de uma dúzia de paróquias.
Durante a Guerra dos Cem Anos, a fortaleza de Ségur, após a ocupação pelos britânicos entre 1361 e 1374, foi confiscada pelo rei de França, tornando-se um reduto real, sendo no entanto administrada por capitães, sobre os quais o visconde não tinha autoridade.
Além do velho Château de Ségur, situado no alto de um penedo sobranceiro à cidade e coberto de heras, a cidade oferece ainda um número significativo de casas nobres com torres ou arquitetura em enxaimel, que testemunham o período de opulência vivida na cidade medieval.
Nela é também muito convidativo, o seu parque de merendas, situado junto do rio, possuindo um pequeno café que serve petiscos.
Para descrever a atmosfera desta pequena aldeia, poder-se-á fazê-lo com cinco pequenas palavras/frases: ar fresco, águas cantantes, campo, natureza e história.

Fonte : http://www.parc-naturel-perigord-limousin.fr/ ; http://fr.wikipedia.org/ ; http://www.les-plus-beaux-villages-de-france.org/en/segur-le-chateau

Magnac-sur-Touvre - 21º Dia - Parte I



Saímos do Futuroscope por volta da meia-noite e rumámos para sul, para a região de Perigord, onde queríamos ir conhecer uma série de belíssimas aldeias históricas, situadas numa região encantada, entre arvoredo e montes de calcário escarpados, que acolheram durante centenas de anos, comunidades de povos trogloditas, que escavavam as suas habitações nos macios rochedos.
Foi por volta das duas horas da madrugada que chegámos a Magnac-sur-Touvre, sendo o GPS que nos conduziu à AS, que nos acolheu num gostoso silêncio.

Magnac é um pequeno povoado situado num esplendido vale, junto às margens do rio Touvre (afluente do rio Charente) e a nordeste da cidade de Angoulême.
A pacata cidadezinha de Magnac tem a sorte de ficar numa linda região, muito arborizada e montanhosa, situada no extremo noroeste do Périgord Vert.

O Périgord é uma região natural, situada no maciço central francês, e uma das suas mais antigas províncias do país, que está dividida em quatro regiões, o Périgord Noir (Preto), o Périgord Blanc (branco), o Périgord Vert (verde) e o Périgord Pourpre (roxo).
A geografia e os recursos naturais do Périgord fazem, com que esta seja uma bela e intocada região, rica em história e vida selvagem, onde existe também o recém-criado Parc Naturel Régional Périgord-Limousin.

Esta é uma região muito conhecida quer pela sua culinária, quer ainda e mais particularmente pelos seus produtos relacionados com os coitados patos e gansos, que são obrigados a uma superalimentação, com o fim de serem aproveitados os seus dilatados fígados, para a confeção de foie gras. É também a mais famosa zona de produção de trufas de França, além de possuir excelentes vinhos.
O rio Touvre que a banha Magnac-sur-Touvre é um rio surpreendente que nasce da imersão da água cárstica de dois outros rios, o Tardoire e o Bandiat.

O parque recomendado para autocaravanas ficava mesmo junto do rio Touvre, que nos abria horizontes imediatos de grande beleza cénica, e onde se experimentava o prazer de estar num local refrescante e de grande tranquilidade.  
O acordar foi por isso mesmo muito prazeroso, e da pequena janela do quarto, podíamos apreciar alguns habitantes idosos a jogar a famosa “petanca”, um jogo tradicional francês. Nas margens do rio, patos e gansos passeavam e debicavam, e quando saí da autocaravana, alguns mais afoitos e habituados aos mimos dos visitantes, aproximaram-se amigavelmente como que sugerindo a possibilidade de um bom repasto de pão, que de todo não lhes foi negado.

Antes de seguirmos viagem, demos uma bela passeata matinal tardia, pelas margens do Touvre. No centro da aldeia observa-se a bela Église de Saint-Cybard, uma igreja românica que nos mostra o seu plano de cruz grega e sua torre quadrada. Esta pequena igreja é consagrada a Saint-Cybard, um eremita que permaneceu recluso no séc. VI, numa caverna escavada na parede norte da cidade vizinha de Angoulême.
Surpreendente é o site da Marie (Câmara Municipal) de Magnac-sur-Touvre, que expõe publicamente o orçamento, as contas e a situação financeira da edilidade, que por certo seria uma boa prática a copiar pelos municípios do nosso país.

Fonte: http://www.minube.pt/mapa/  ; http://en.wikipedia.org/ ; http://www.conseil-general.com/ ; http://villagesdefrance.fr/ ; https://commons.wikimedia.org/ http://fr.wikipedia.org/wiki/Abbaye_de_Saint-Cybard

Futuroscope - 20º Dia



Chagámos já tarde ao parque do Futuroscope. Eram já duas da madrugada quando estacionámos ao lado de muitos outros autocaravanistas, numa imensa área de serviço que lhes é dedicada. Depois de nós ainda houve muitos que chegaram...
No dia seguinte, pelas 11:00 da manhã dirigimo-nos para o Futuroscope, a fim de ser iniciada a visita, que duraria até à meia-noite daquele dia, quando acontece a debandada final das gentes que o visitam, depois de se assistir ao seu belíssimo espetáculo de encerramento.
O Futuroscope encontra-se situado a 10 quilómetros de Poitiers, e há vinte e cinco anos, que é o segundo maior parque de diversões da França e um parque temático de destaque, tendo sido o pioneiro em termos de atrações multimédia e 3D.
As atrações do Futuroscope giram em torno de técnicas relacionadas com a cinematografia, multimédia e audiovisuais, além da robótica prevista para o futuro.
O Futuroscope desde a sua inauguração em 1987 tem uma história de sucesso e ao longo do tempo, nunca mais parou de inventar e de se reinventar. O seu arquiteto de origem, Denis Laming, tem ao longo do tempo criado todos os pavilhões do Futuroscope e do Pólo tecnológico adjacente, tornando realidade a admirável “Cidade do Futuro” sonhada desde o seu início.
Entre os pavilhões mais conhecidos, é preciso citar o Pavilhão do Futuroscope, uma grande esfera de arrojada arquitetura que repousa sobre um prisma, ou o Kinémax, um grande edifício em forma de cristal em bruto, que é o mais recente símbolo do Futuroscope, desde 2003.
Possui vários pavilhões de cinema para projeções 3D, em salas de cinema gigantescas, tendo no seu todo, a maior concentração de telas de grande tamanho da Europa.
Estes pavilhões destinados a uma opção pela revelação cénica do "Passado, Presente e Futuro", em magníficas projeções cinematográficas, vão desde a banda desenhada interativa, passando por constatações documentais históricas ou ainda de vida natura, agarrando de forma envolvente e integradora os espectadores, em revelações de abrangência tridimensional.
É absolutamente esmagadora a qualidade das animações 3D, só possível em anfiteatros de geometria cúmplice com a sua projeção. Na realidade e salvo poucas exceções, o Futuroscope é uma miríade de anfiteatros especificamente concebidos para projeções cénicas tridimensionais absolutamente envolventes e de grande realismo.
Das várias projeções em 3D, podem ser destacadas: um passeio sob uma abóboda interativa de 900 m2, que permite redescobrir as obras mais conhecidas do pintor Vincent Van Gogh, uma viagem em 4D pelo universo de Arthur e os Minimoys (baseada no filme de Luc Besson), numa exploração das profundezas do mar da Pré-história. No entanto podem ver-se muitos outros filmes excecionais, como: “A epopéia aeropostal” em 3D de Jean Jacques Annaud, que conta a história do início do correio aéreo; o filme Imax de Jacques Perrin, “Os viajantes do céu e do mar”, ou “Os animais do Futuro”, que leva os visitantes numa viagem de trem em direção a um safari surpreendente, onde nos deparamos com as espécies que poderão povoar a Terra daqui a 5, 100 ou 200 milhões de anos.

No final do dia os visitantes ainda têm a possibilidade de assistir a um mega espetáculo cénico de luz, som e imagem, sobre um espelho de água cheio de belos repuxos... Surpreendente!

No final do espetáculo mal chegámos à autocaravana seguimos viagem até Magnac-sur-Touvre, a cerca de 114 Km para sul, onde iríamos pernoitar.





Fonte: http://www.france.fr/ ; http://www.france.fr/pt/noticias/o-futuroscope-muito-alem-das-atracoes-3d ; http://espacoerrante.blogspot.pt/

O Ser Humano como Animal em Ruínas


Inútil definir este animal aflito.
Nem palavras,
nem cinzéis,
nem acordes,
nem pincéis
são gargantas deste grito.
Universo em expansão.
Pincelada de zarcão
desde mais infinito a menos infinito.

António Gedeão, Homem, in 'Movimento Perpétuo'

Todas as ciências falam do medo: o homem ao tornar-se consciente ascende à condição de animal que conhece, como nenhum outro, sua inviabilidade biológica.

Seja no ambiente externo onde se move sob a ameaça da lógica implacável do mundo, seja no espaço interno onde habita a sua ruína (a consciência dessa lógica implacável), não há como não perceber a condenação ao fracasso fisiológico final.

O medo é um sinal de que somos continuamente ameaçados pela falta de sentido da vida, pela perceção da deformação final do corpo, pela violência da ciência, pela indiferença do Universo.

Como nossos ancestrais na savana africana, marchamos em direção a um horizonte que não parece ter em seus planos a nossa felicidade. Então, como enfrentar o terror cósmico?



Esta é mais uma palestra do Café Filosófico, realizada por Luiz Felipe Pondé, filósofo e ensaísta brasileiro, que atualmente, é Vice-Diretor e Coordenador de Curso da Faculdade de Comunicação da FAAP; professor de Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e de Filosofia na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).
 


Fontes: http://www.youtube.com/watch?v=2wxBG1kZIZw; http://www.citador.pt/poemas/homem-antonio-gedeao

http://pt.wikipedia.org/

Mãe


 
 "Amamos as nossas mães quase sem o saber e só nos damos conta da profundidade das raízes desse amor no momento da derradeira separação."
Guy Maupassant
 


Apenas animais…


“Sem hipocrisia não há civilização, e isso é a prova de que somos desgraçados: precisamos da falta de caráter como cimento da vida coletiva.”
  Luiz Felipe Pondé


A Criação de Adão, de Michelangelo Buonarroti

“Coimbra, 16 de Outubro de 1945 – Uma cobra de água numa poça do choupal, a gozar o resto destes calores, e umas meninas histéricas aos gritinhos, cheias de saber que o bicho era tão inofensivo como uma folha.
Por fidelidade a um mandato profundo, o nosso instinto, diante de certos factos, ainda quer reagir. Mas logo a razão acode, e o uivo do plasma acaba num cacarejo convencional. Todos os tratados e todos os preceptores nos explicaram já quantas espécies de ofídios existem e o soro que neutraliza a mordedura de cada um. Herdamos um mundo já quase decifrado, e sabemos de cor as ervas que não devemos comer e as feras que nos não podem devorar. Vivemos numa paz de animais domésticos, vacinados, com os dentes caninos a trincar pastéis de nata, tendo aos pés, submissos, os antigos pesadelos da nossa ignorância. Passamos pela terra como espectros, indo aos jardins zoológicos e botânicos ver, pacata e sàbiamente, em jaulas e canteiros, o que já foi perigo e mistério. E, por mais que nos custe, não conseguimos captar a alma do brinquedo esventrado. O homem selvagem, que teve de escolher tudo, de separar o trigo do joio, de mondar dos seus reflexos o que era manso e o que era bravo, esse é que possuiu verdadeiramente a vida e o mundo. Diante duma natureza inteira e una, também ele tinha necessariamente de ser inteiro e uno. Sem amigos e sem vizinhos, sozinho contra as árvores e contra as sombras, ele era uma fortaleza em si, tendo na própria pele as ameias. Que totalidade a de um ser que não pode confiar senão em si! Socialmente, seremos assim (e somos, certamente) mais fáceis de conduzir, mais úteis, mais progressivos. Mas, individualmente, a que distância estamos de um homem das cavernas! Que tamanho o dele, a caçar bisões, e que pequenez a nossa, a ganhar taças em torneios de tiro aos pombos!
O nosso gritinho de horror diante de qualquer lesma dá bem a perdição a que chegámos. Civilizámo-nos, mas à custa da nossa mais profunda integridade, dispersando-nos nas coisas que fomos desvendando.
Na cobra de hoje ninguém viu sinceramente veneno ou morte. Vimos todos, sim, o manual que aprendemos no liceu. E o estremecimento das meninas histéricas, eco delido do uivo profundo de pavor e de incerteza dos nossos antepassados, foi dum ridículo tal que respingou outros aspectos e outros recantos da existência. Que espécie de sinceridade profunda, de lealdade incontroversa, haverá, por exemplo, em acreditar em Deus com a bomba atómica na mão?
É bem que o homem faça todas as experiências, inclusivamente consigo. Que liberte a energia das pedras e se liberte também a si de todas as clausuras. Mas os instintos? Poderá, na verdade, ele viver desfalcado dessa força que o fechava como um punho e lhe dava uma coesão igual à dos átomos antes de serem bombardeados? Pelo caminho que levamos, um dia virá em que tudo em nós será consciência, compreensão e sabedoria. Mas nessa mesma hora estaremos desempregados no mundo. Todos saberemos resolver a equação da vida na ardósia negra onde dantes eram as trevas da nossa virgindade criadora, mas talvez já não haja vida, então.” …
Miguel Torga, in "Diário (1945)", vol. IV, 1999, Publicações Dom Quixote, pág.250 e 251

Do princípio ao fim, a coragem de ser só…


"Tudo vence uma vontade obstinada, todos os obstáculos abate o homem que integrou na sua vida o fim a atingir e que está disposto a todos os sacrifícios para cumprir a missão que a si próprio se impôs."

Agostinho da Silva, in “Considerações”



“Uma arma de triunfo te dei, sobre todas as outras: a coragem de seres só; deixou de te afetar como argumento ou força esmagadora a alheia opinião, as ligeiras correntes e os redemoinhos do mar; rocha pequena, mas segura, sobre ti se hão-de erguer, para que vençam a noite, as luzes salvadoras; não te prendem os louvores dos que te querem aliado, nem as ameaças dos contrários; traçaste a tua rota e hás-de segui-la até ao fim, sem que te desviem as variadas pressões. Só e constante, mesmo em face do tempo; os anos que rolam, tu os consideras elemento de experiência; para os homens futuros episódios sem valor; se eles te abaterem, só terão abatido o que há de menos valioso; e contribuirão para que melhor se afirme o que puseste como lição da tua vida; a muitos absorve o atual; mas a ti, que tens como tua grande linha de cultura, e porventura tua alma, a posse das largas despectivas, a hora começando te vê firme e firme te abandona. Nenhuma estoica rigidez neste teu porte; antes a compassada lentidão, a facilidade maleável de bom ginasta; não é por amor da Humanidade que hás-de perder as mais fundas qualidades de homem. Em tal espelho me revejo, eu que tomei tua alma incerta e a guiei; e contemplo como doce oferenda, como a mais bela visão que me poderias conceder, a clara manhã que já de ti desponta e lentamente progredindo há-de acabar por embalar o universo nos seus braços de luz.”

Agostinho da Silva, in 'Considerações'







Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=rw5ghtXHgbg ; http://www.youtube.com/watch?v=Rkv-9HTyVvQ ; http://www.youtube.com/watch?v=zIEg0o2m-Wc http://www.citador.pt/