Guimarães - 2º Dia - Visita ao Paço dos Duques - Parte VII



Saindo do primeiro quarto visitado, encontramos quer à sua entrada, quer à saída, uma Antecâmara. A Antecâmara é uma sala que antecede o primeiro quarto encontrado. Este compartimento tem as paredes revestidas por duas tapeçarias de Jan Raes II, evocando episódios da vida do Cônsul romano Públio Décio Mus, também segundo cartões desenhados por Paul Rubens. Noutra parede um pano de Veneza, do séc. XVI, bordado a ouro e prata com motivos religiosos. Num dos ângulos, observa-se um oratório de talha dourada, com uma escultura em alabastro do séc. XV, representando Nossa Senhora dos Anjos. Peças de mobiliário português, um tapete persa, dois grandes pratos e um aquário de porcelana da China constituem os restantes elementos expostos na sala. O pormenor mais interessante deste quarto é o seu teto, uma vez que se encontra pintado com motivos vegetalistas, cenas de caça e heráldica.

A Antecâmara dá acesso ao enorme Salão Nobre, onde se entra em seguida. Este salão, o maior de todos os compartimentos do Paço dos Duques, era destinado às festas e receções e apresenta-se recheado com mobiliário português e flamengo do séc. XVII. Na parede voltada ao claustro podemos ver a quarta réplica das Tapeçarias de Pastrana, “A Entrada das forças portuguesas em Tânger” (1471), que se entrega sem resistência após a queda de Arzila. Aos lados, dois grandes anjos candelários em madeira entalhada do séc. XVIII. Sobre o arcaz, à entrada do salão, um atril de ferro trabalhado, do séc. XVI. No chão veem-se três grandes tapetes persas.


Ao Salão Nobre segue-se a Sala de S. Miguel. Nesta sala um espelho ricamente entalhado ornamenta o espaço entre as janelas da sala. No centro a chaminé está ornada por um conjunto entalhado com duas figuras de anjos sustentando uma coroa. Decoram também a sala, dois contadores espanhóis do séc. XVI e do XVII e uma cómoda do séc. XVIII.
Algumas outras peças de mobiliário, uma terrina chinesa, dois jarrões, uma poncheira de porcelana oriental e uma imagem de S. Miguel, em calcário, do séc. XVI decoram a sala. Por fim, nas paredes, as últimas tapeçarias, encontrando-se uma delas, ladeada por dois anjos candelários.

A Sala de S. Miguel serve de Antecâmara ao Quarto de D. Catarina de Bragança, e é nele que se entra em seguida. Ali se encontra um retrato em tela da Rainha de Inglaterra, D. Catarina de Bragança (1638-1705), filha de El-Rei D. João IV de Portugal, e mulher de Carlos II de Inglaterra, cuja autoria se atribui aos discípulos de Lely. Na mesma parede, observa-se um “Cordeiro Pascal”, em tela, atribuído a Josefa d’Óbidos. Sobre a cómoda um livro-baldaquino forrado a veludo vermelho, com as armas dos Monges de Cister e emblemas eucarísticos em aplicações de prata, do séc. XVIII. Uma cama portuguesa do séc. XVII, dois tapetes persas, uma tapeçaria francesa e alguns outros objetos de adorno completam o arranjo do quarto.

No final da visita descemos até ao rés-do-chão e encaminhámo-nos para o bar, que se encontra situado numa sala sombreada, recolhida e silenciosa. Ali encontramo-nos com uma imperiosa vontade de ficar durante muito tempo, ouvindo o silêncio e olhando o exterior, sentados em banco de pedra como em tempos medievos, encostados a uma janela com traça da mesma época e saboreando um interminável chocolate quente.


Fonte: http://pduques.imc-ip.pt/ http://www.guimaraesturismo.com/ http://www.portugal-live.net/ http://pduques.imc-ip.pt/ Panfleto desdobrável (IMC), Guia de Visita ao Palácio Ducal de Guimarães.

Guimarães - 2º Dia - Visita ao Paço dos Duques - Parte VI


Deixa-se a Sala dos Contadores e vira-se para a direita, já na zona este do Paço e encontramos uma Sala de Jantar Intima. Trata-se da sala privada de refeições, decorada com um tapete persa e mobiliário português do séc. XVII. A parede do fundo é revestida por uma tapeçaria que representa “Os Arúspices” e faz parte do conjunto de cinco tapeçarias flamengas do séc. XVII existentes no Paço, as quais evocam episódios da vida do cônsul romano Públio Décio Mus, segundo cartões de Rubens, assinadas por Jan Raes II. Em cima do mobiliário veem-se um aquário e um prato de porcelana chinesa, gomis e outros elementos decorativos de estanho, cobre e faiança.
Passa-se em seguida a uma varanda virada ao Pátio Interior do Palácio e é ali que encontramos a porta de entrada para a Capela, situada a um nível superior, à qual se acede através de ingreme escadaria.

O pórtico da Capela do Paço dos Duques encontra-se encimado pelo brasão do 1º Duque da Casa de Bragança. De estilo gótico, apresenta uma nota curiosa dada pelos oito fustes de mármore, que se destacam de toda a construção granítica do Paço Ducal. Estes, elementos da estrutura do palácio de Çala-ben-Çala, Senhor de Ceuta, foram, segundo a tradição, trazidos por D. Afonso aquando da conquista daquela Praça em 1415.
Já no seu interior, na parede de fundo da Capela, veem-se quatro retábulos de madeira do séc. XVII. No chão, sob os painéis, um banco e uma arca em talha gótica, do séc. XVI. Os vitrais figurativos são uma obra recente do pintor vimaranense António Lino (1914-1996). Nas paredes laterais da Capela, veem-se reproduções de telas italianas: uma de Rafael, ”A Transfiguração” e outra de Domenichino, “A Última Comunhão de S. Jerónimo”.

Sai-se da Capela e caminha-se para a ala sul do Palácio, sendo a sala seguinte a Sala do Cipião. Nesta sala destacam-se de imediato as quatro tapeçarias flamengas do séc. XVII, assinadas por Andreas Van Den Dries, que decoram as paredes. Estas belas tapeçarias representam cenas alusivas às segundas Guerras Púnicas: “Encontro de Cipião e Aníbal”, “Desembarque das Hostes de Cipião em Utica”, “Entrada Triunfal de Cipião em Cartago” e “Cipião Libertando uma Princesa Cartaginesa”. Decoram também a sala, móveis portugueses dos séculos XVII e XVIII, dois grandes jarrões, um prato e uma poncheira de porcelana chinesa e diversos objetos de adorno em faiança, vidro e latão. O tapete é um exemplar persa do princípio do séc. XVII.
Já na ala sul do Palácio encontramos o primeiro quarto de dormir. Aqui pode ver-se uma cama portuguesa do séc. XVII com aplicações de latão, coberta por uma colcha indiana de séc. XVIII, ricamente bordada a ouro e matiz. Do restante mobiliário destaca-se um armário entalhado e por cima deste, uma tapeçaria de Aubusson representando um “Casamento Principesco”, do séc. XVII. No chão, um tapete persa e sobre a arca, uma “Piedade” em barro policromado. Neste compartimento destaca-se o teto, pois encontra-se pintado com motivos vegetalistas.

Fonte: http://pduques.imc-ip.pt/ Panfleto desdobrável (IMC), Guia de Visita ao Palácio Ducal de Guimarães.

Guimarães - 2º Dia - Visita ao Paço Ducal - Parte V



Sobe-se ao 1º piso e inicia-se a visita ao Palácio. A primeira sala visitada é um grande salão denominado Salão dos Passos Perdidos. Trata-se de uma enorme sala de espera, cujo nome é alusivo ao longo tempo de espera daqueles que pretendiam ser recebidos pelo Duque.

O Salão dos Passos Perdidos está decorado com mobiliário português e indo-português dos séculos XVII e XVIII, tendo em lugar de destaque dois jarrões de porcelana da Companhia das Índias, com o brasão dos Melo e Sampaio, três potes e duas floreiras de porcelana chinesa.
 
No chão veem-se três tapetes persas e duas grandes tapeçarias revestem a parede do lado do claustro, que são reproduções das tapeçarias encontradas em Pastrana (Espanha), feitas sobre motivos provavelmente pintados por Nuno Gonçalves, pintor português do séc. XV, alusivos às campanhas de El-Rei D. Afonso V em África. A primeira representa “O Desembarque” das tropas portuguesas em Arzila e a segunda “O Cerco” que levou à conquista daquela praça em 1471. Num dos ângulos, um atril de ferro do séc. XVII, com um livro de cantochão do séc. XVIII e uma escultura representando Santa Bárbara, em calcário policromado, do séc. XVI. Estas cópias de tapeçarias são peças (únicas) e foram adquiridas pelo Estado Português em 1957, sendo executadas em Espanha pela Real Fábrica de Tapices de Madrid.

No final da Sala dos Passos Perdidos passa-se uma porta e dirigimo-nos para a esquerda, onde encontramos a Sala de Armas. Nesta sala encontram-se expostas algumas das armas que foram reunidas pelo segundo Visconde de Pindela (1852-1922), e mais tarde adquiridas pelo Estado. Trata-se de uma coleção dos séculos XV a XIX e compreende vários exemplares de armas brancas e de fogo, elementos de armaduras dos séculos XV a XIX e dois telizes, sendo um brasonado com as armas do colecionador. Completam o recheio da sala, peças de mobiliário português, com outros elementos de adorno e ainda o Estandarte do Regimento de Milícias de Guimarães nº 15, que ali esteve aquartelado naquele Paço no início séc. XIX.

À Sala de Armas passa-se a uma pequena Sala de Passagem. Esta sala está decorada com mobiliário português do séc. XVII, um tapete persa, uma base de talha renascença sobre a qual se apoia um grande pote de cobre. No nicho central do armário da parede do fundo, uma escultura em calcário policromado representando a “Virgem com o Menino” do séc. XVI. Nos lados da escultura, nos balaústres, observam-se várias peças de faiança portuguesa. Ali ainda podem ver-se castiçais de latão, um prato de Nuremberg e um vaso de Talavera de la Reina que completam a decoração. Nas paredes, uma tapeçaria de Aubusson do séc. XVIII e dois Tapetes de Oração do séc. XVII.
A Sala de Passagem antecede o Salão de Banquetes, no centro do qual se observa um conjunto de mesas de cavalete que são reproduções de mesas do séc. XV e sobre estas, louças em estanho. Este salão está decorado com armários, mesas e arcas do séc. XVII. Sobre estes móveis há faianças, porcelanas e grés de fabrico português e oriental, dos séculos XVII a XVIII. Numa das paredes, vê-se a terceira reprodução das Tapeçarias de Pastrana, “O Assalto a Arzila”, que ocorreu em 1471.
 
 
Ao Salão dos Banquetes segue-se a Sala dos Contadores. Nesta sala as paredes desta estão decoradas com duas tapeçarias de Bruxelas do séc. XVII que representam cenas de caça. O mobiliário é constituído por elementos dos séculos XVII e XVIII, dos quais se destacam cinco contadores, encontrando-se sobre estes, faianças da mesma época. Dois aquários de porcelana chinesa e uma poncheira em porcelana chinesa alusiva à Ordem da Jarreteira completam a decoração da sala.

Em homenagem às proezas marítimas dos portugueses, o teto da Sala de Banquetes reproduz o casco virado de uma caravela.


Fonte: http://pduques.imc-ip.pt/ http://www.guimaraesturismo.com/ http://www.portugal-live.net/ http://pduques.imc-ip.pt/ Panfleto desdobrável (IMC), Guia de Visita ao Palácio Ducal de Guimarães.

Guimarães - 2º Dia - Visita ao Paço Ducal - Parte IV


Deixa-se o Castelo de Guimarães, desce-se toda a Colina Sagrada e chega-se à entrada do Paço dos Duques. Naquele dia não havia visitas guiadas, pelo que após a compra dos ingressos a visita foi iniciada com base no desdobrável comprado por um euro na loja do museu.
O Paço dos Duques de Bragança de Guimarães é uma majestosa casa senhorial fortificada do séc. XV, que exibe invulgares influências arquitetónicas do Norte da Europa. Foi mandada construir por D. Afonso I de Bragança (filho ilegítimo do rei D. João I e de D. Inês Pires Esteves, uma aristocrata galega), 1º Duque da Casa de Bragança (nomeação feita pelo seu meio-irmão D. Pedro, à altura regente, sendo este o momento da fundação da Casa de Bragança) e 8º Conde de Barcelos (por herança de seu sogro, D. Nuno Álvares Pereira, pai de sua primeira esposa e filha única do condestável, herdeira da casa mais opulenta do reino), por altura do seu segundo casamento com D. Constança de Noronha (filha de D. Afonso, Conde de Gijón e Noronha e D. Isabel, Senhora de Viseu).  


Foi um Paço essencialmente habitado durante o séc. XV, mas nas centúrias seguintes conheceu um progressivo abandono e uma quase consequente ruína, motivada por fatores políticos e económicos, que se foram agravando até ao séc. XX.
O edifício que hoje se visita, corresponde a uma reconstrução quase integral levada a cabo durante o Estado Novo para uso dos governantes de então, e mandado rechear com o espólio de outros museus e palácios nacionais, como as famosas tapeçarias de Pastrana, inspiradas na tomada de Ceuta (Monumento Nacional).
 


Hoje está entregue Instituto dos Museus e da Conservação (IMC), sendo um Museu de visita imperdível. No entanto no 2º piso, a fachada principal ainda possui uma ala destinada à Presidência da República, e uma vasta área vocacionada para diversas iniciativas culturais (no rés do chão).
O Palácio tem vastas dimensões e possui características arquitetónicas de casa fortificada, com coberturas de fortes vertentes e inúmeras chaminés cilíndricas que denotam a influência da arquitetura senhorial da Europa Setentrional e trata-se de um exemplar único na Península Ibérica.


É um edifício de excecionais dimensões com quatro corpos que cercam um pátio interior de planta retangular. É neste pátio que se inicia a visita, caminhando-se em direção a uma das salas térreas do Paço dos Duques de Bragança, onde se observa-se uma exposição permanente de José de Guimarães. Ali é possível admirar um conjunto de obras que o pintor e escultor vimaranense doou à sua cidade natal.

A visita ao Palácio  é iniciada de seguida, numa atmosfera e conceção decorativa que tenta reconstituir “como teria sido a vida no interior do Paço no fim da Idade Média”. Cada sala possui denominação diferente, e sempre que possível foram mantidas as primitivas funcionalidades dos espaços.
 
Fonte: http://pduques.imc-ip.pt/ http://www.guimaraesturismo.com/ http://www.portugal-live.net/

Filhos, melhor não tê-los…

 
No imaginário popular, costuma-se associar a nobreza, a alguma linhagem de ‘sangue azul’. No livro de Sérgio Alberto Feldman,Amantes e Bastardos: As relações conjugais ou extraconjugais na alta nobreza portuguesa no final do século XIV e início do século XV”, fica-se a preceber o quão híbrido pode ser o sangue da nobreza portuguesa, no período tardio da Idade Média.


O casamento era uma aliança política, forjada de acordo com interesses estratégicos do reino, fosse para selar acordos de paz ou agregar terras. Enquanto isso, as relações extraconjugais eram o refúgio para o prazer.


“O verdadeiro amor ocorria fora do casamento e os filhos naturais eram às vezes mais amados pelos seus pais, pois eram o fruto de relações espontâneas e de fundo afetivo e não de meros casamentos cuja motivação era dinástica”, escreve Feldman.


No entanto em todas as sociedades houve sempre filhos legítimos e ilegítimos. Como todos sabemos os filhos legítimos são todos aqueles que nascem dentro do casamento de seus pais. Filiação ilegítima (sendo um termo em alguns países mais evoluídos hoje em desuso) porém designa a prole nascida fora dos laços do matrimónio.


Outros termos utilizados para definir tal relação entre pais e filhos, é bastardia, filiação adulterina ou filiação natural, sendo este último termo do ponto de vista humano, o mais aceitável de todos.


No Brasil, por exemplo, o termo foi posto deliberadamente em desuso na formulação do código civil, em vigor desde 11 de janeiro de 2003, pois é considerado discriminatório. Além disso, a legislação não prevê diferença nos direitos de filhos concebidos dentro ou fora do casamento. Em Portugal esta discriminação foi também abolida pelo artigo 36º, n.º 4 da Constituição da República Portuguesa de 1976, que proíbe a discriminação em relação aos filhos nascidos fora do casamento. Esta proibição originou uma alteração nas leis e consequentemente à consagração do tratamento igual para os filhos, deixando aos olhos da lei de existir filhos “ilegítimos”.


Os direitos e o estatuto legal dos bastardos foi variando em diversas culturas e em diversas épocas e em especial em diversas classes sociais ao longo dos tempos, parecendo ser nas classes mais baixas (por ignorância ou desumanidade), que o estatuto de filho ilegítimo teve sempre maior conotação negativa.


Nas classes mais altas, estes geralmente não tinham direito à herança dos pais ou das mães, mas frequentemente recebiam doações ou honras dos pais ou irmãos legítimos, ou os testamentos dos pais podiam determinar uma herança específica.


Em Portugal porém, desde o início da nossa nacionalidade, a classe dominante nasceu da “ilegitimidade”, uma vez que D. Teresa de Leão era filha ilegítima de D. Afonso VI de Leão e Castela com Ximena Moniz, uma nobre castelhana. Assim o Condado Portucalense foi herdado por uma filha ilegítima e o nosso primeiro rei D. Afonso Henriques, era neto ilegítimo do mesmo soberano castelhano-leonês.


Segundo Isabel de Lencastre, in Bastardos Reais, Os filhos ilegítimos dos Reis de Portugal, dos 32 reis portugueses, seis não tiveram filhos e, dos restantes 26, apenas D. Manuel I, o Venturoso, que se casou três vezes, e D. José, "muitas vezes enganado pela sua mulher", não tiveram filhos fora da alcova nupcial.


Daí que desde sempre as acusações de bastardia serviam sobretudo para retirar rivais do caminho das sucessões ou heranças dos pais. Entre outros casos, Isabel de Castela usou esta arma para afastar Joana de Castela do trono castelhano e Filipe I de Portugal (Filipe II de Espanha), argumentou a ilegitimidade de D. António, Prior do Crato, filho do casamento secreto do Infante D. Luís com a linda e rica cristã-nova, Violante Gomes e neto do rei D. Manuel I, para subir ao trono de Portugal.


Todavia, apesar de não terem regalias oficiais, os bastardos reais tinham deferência e proeminência face a titulares administrativos, militares ou eclesiásticos e desempenharam "posições de relevo na corte e no país", e alguns ascenderam mesmo ao trono, como D. João I (filho bastardo de D. Pedro I e de D. Teresa Lourenço, uma aristrocrata galega), décimo rei de Portugal que fundou a Dinastia de Avis.


A Casa de Bragança, a que pertence a última dinastia reinante em Portugal, tem ascendência na Casa de Avis, e, portanto também, na Casa fundadora da nação portuguesa - a Casa de Borgonha. D. João I é por isso mesmo um antepassado de D. Duarte Pio de Bragança, atual pretendente ao trono de Portugal e detentor atual do título de duque de Bragança, reivindicando direitos dinásticos sobre os títulos de Príncipe Real de Portugal e Rei de Portugal. Sendo, portanto, o chefe da Casa de Bragança e, por inerência, o chefe da Casa Real Portuguesa.


Porém os filhos bastardos do povo eram (e são ainda hoje) muitas vezes renegados, sedo-lhes negada por vezes a ascensão cultural, como foi no caso do maior génio da história da humanidade, Leonardo da Vinci, filho ilegítimo de um notário, Piero da Vinci, e de uma camponesa, Caterina, em Vinci, a quem foi negada uma educação formal e o estudo do latim.


Ironia do destino é que um grande número de “nomes sonantes” portugueses (ler o livro de Isabel de Lencastre, Bastardos Reais) que têm a pretensão de estar ligados à Casa Real Portuguesa, dizendo dela descender por laços de bastardia, descendam por sua vez de famílias, também elas com filhos naturais, a quem foi negada a todo o custo a sua legitimação.
 
Fonte: http://familia.sapo.pt/ http://cienciahoje.uol.com.br/ http://www.vidaslusofonas.pt/ http://www.infopedia.pt/ http://pt.wikipedia.org/ Isabel de Lencastre, Bastardos Reis, Os filhos ilegítimos dos Reis de Portugal, 1ª Edição, Oficina do Livro, 2012; Sérgio Alberto Feldman, Amantes e Bastardos, As relações conjugais ou extraconjugais na alta nobreza portuguesa no final do século XIV e início do século XV, 2ª Edição, Editora Edufes, 2008.

"Vivo como penso sem pensar como vivo."



“Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora da minha própria vida.”

Clarice Lispector, in 'Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres'

 
“A verdade é aquilo que todo o homem precisa para viver e que ele não pode obter nem adquirir de ninguém. Todo o homem deve extraí-la sempre nova do seu próprio íntimo, caso contrário ele arruína-se. Viver sem verdade é impossível. A verdade é talvez a própria vida.”

Franz Kafka, in 'Conversas com Kafka'

 
“Quando se escreve é não somente para ser compreendido, mas também para não o ser. Um livro não fica diminuído pelo facto de um indivíduo qualquer o achar obscuro: esta obscuridade entrava talvez nas intenções do autor, não queria ser compreendido por qualquer bicho careta. Qualquer espírito um pouco distinto, qualquer gosto um pouco elevado escolhe os seus auditores; ao escolhê-los fecha a porta aos outros. As regras delicadas de um estilo nascem todas daí; são feitas para afastar, para manter a distância, para condenar o «acesso» de uma obra; para impedir alguns de compreender, e para abrir o ouvido aos outros, os tímpanos que nos são parentes.”

Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência”

Fonte: O título desta postagem, "Vivo como penso sem pensar como vivo." é de José Adelino Fonte Maltez, in Diário de Notícias / 20080419

Guimarães - 2º Dia - Visita ao interior do Castelo de Guimarães - Parte III


Chegados ao Castelo, visita-se primeiro as suas imediações, e é ali que se encontra embutido numa enorme pedra encostada às muralhas do Castelo, um alto relevo com o busto, realizado em metal, do Conquistador (D. Afonso Henriques).

Caminha-se depois para a entrada. Encostada à torre norte encontra-se a espessa entrada para o interior das muralhas, que segundo reza a história foi aberta pelo conde D. Henrique e que constituía uma das entradas de Guimarães, que protegia a cidade no seu tempo.

 
A torre virada a poente, à direita da porta de entrada, é conhecida pela Torre da Forca, pois ali se faziam as execuções, existindo ainda dois pilares de suporte do mecanismo de execução.

No interior surge a nona torre, a enorme Torre de Menagem, de 27 metros de altura, independente, de três pisos de habitação sobre um que servia de celeiro. Os vários pisos comunicam por uma escadaria de madeira encostada à parede norte. No seu interior não tem qualquer janela, somente seteiras (frestas estreitas abertas nas paredes, para dar claridade ao interior), e comunica com o adarve por uma ponte de madeira fixa, mas levadiça nos tempos áureos.

 
No piso térreo da Torre de Menagem, encontramos a bilheteira e loja, com as várias publicações relativas ao Castelo, e no segundo piso, observa-se uma exposição com os protagonistas históricos, que em tempos da sua origem o habitaram. Já no último piso, uma estreita e ingreme escadaria, leva-nos ao terraço com ameias, de onde se têm vistas magníficas, vislumbrando-se toda a cidade moderna e seus arredores.

Também no espaço interior do Castelo observam-se as ruínas de 2 torres, outrora levantadas a noroeste e a nordeste, que conservam ainda hoje vestígios de uma antiga residência de dois pisos, considerada por diversos autores como a alcáçova de D. Henrique e de D. Teresa, pais de D. Afonso Henriques. Os andares eram baixos e de reduzidas dimensões, com as paredes fixas na muralha. Desta antiga habitação, restam as várias janelas retangulares abertas no muro norte, uma grande chaminé de pedra e vestígios de uma outra, bem como os alicerces das paredes que fechavam o edifício na parte confinante com o recinto castelar.

 
Agradável é também o passeio que se dá à volta das suas muralhas, de onde se observa bem de perto o enquadramento paisagístico da Colina Sagrada, numa posição privilegiada, que acompanha todo o espaço em volta do Castelo.

À saída encaminhamo-nos para o Palácio Ducal, e no caminho de descida da Colina Sagrada, sobre a qual está implantado o Castelo, encontra-se a Capela de São Miguel do Castelo, uma pequena construção do séc. XII em estilo românico, onde segundo a lenda, terá sido batizado D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal. O interior desta capela é ladeado com sepulturas que se atribuem a guerreiros também ligados à fundação da nacionalidade.

 
Fonte: http://www.monumentos.pt/ http://www.oquevisitarem.com/ http://lazer.publico.pt/monumentos/

Guimarães - 2º Dia - Castelo de Guimarães - Parte II

Pela rua Dona Mafalda depressa se chega ao Castelo de Guimarães. Desde sempre presente nos livros de história de todos os portugueses, é obviamente de reconhecimento natural e familiar, mas perante a sua presença física, sente-se que ele exerce sobre nós uma enorme força que nos impele à reverência e ao deslumbramento.


 
Fortemente marcado pelos episódios históricos que deram origem a Portugal, o Castelo de Guimarães terá assistido também ao nascimento do primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques.
Segundo reza a história, a primeira estrutura militar construída em “Vimaranes”, (Guimarães) data provavelmente do séc. X, mandada edificar por, Mumadona Dias (viúva do conde de Tui, Ermegildo Gonçalves), que herdara do seu marido o governo das terras de Portucale. Esta estrutura defensiva tinha como finalidade a recolha da população em caso de ataque e a defesa do Mosteiro que, Mumadona, ali mandou edificar.

Este mosteiro viria a ser alvo de muitas doações de Mumadona Dias, nomeadamente terras, gado, rendas, objetos de culto e livros religiosos e também o próprio castelo, que na época não devia ser mais do que uma estrutura simples.
Estas terras foram doadas, por volta do ano de 1100, pelo rei Afonso VI de Leão e Castela, a D. Henrique da Borgonha, pelos serviços prestados na luta contra os árabes, dando-lhe também a sua filha natural e mais nova em casamento (D. Teresa de Leão, sua filha ilegítima com D. Ximena Moniz, uma nobre castelhana), formando assim o Condado Portucalense.
 
O Conde D. Henrique e sua esposa instalam-se então em “Vimaranes”, supondo-se que terão erguido um novo castelo, com uma Torre de Menagem e melhorado as estruturas defensivas à sua volta. A exígua moradia, cujos restos ainda se localizam no lado norte, terá sido, dada a sua reduzida dimensão, o lar condal dos pais do Conquistador.
Segundo consta foi ali que terá nascido D. Afonso Henriques, que mais tarde nele resistiu, já na sua luta pela independência, ao ataque das forças do rei Afonso VII, de Leão, em 1127, e no campo de S. Mamede, nas imediações da fortaleza, derrotou, no ano seguinte, as forças de D. Teresa, sua mãe.


É claro que a sua história não parou por aqui, mas o seu forte simbolismo reside e remonta sem sombra de dúvida, ao seu fundamental papel no início da nossa nacionalidade.
 
Assim, o Castelo de Guimarães, como muitos outros, conheceu no decurso dos séculos XVI a XIX, o influxo dos tempos e o desrespeito dos homens, até que o restauro levado a cabo há já algum tempo, logrou restituir às suas muralhas e torres, onde ainda se repercute o eco de épicas lutas, toda a sua grandiosidade e digno simbolismo, restituindo-lhe toda a sua severa e majestosa beleza.
 

Em volta deste belíssimo Castelo existe toda uma áurea de prestígio e honra, emoção e orgulho. A tudo isto há a acrescentar a beleza da paisagem à sua volta e a que se vislumbra do cimo da sua Torre de Menagem, não esquecendo a própria obra de arte feita de pedra, que é o próprio Castelo.


Fonte: Wikipédia.org / http://www.guiadacidade.pt/ http://castelosdeportugal.no.sapo.pt/ http://lazer.publico.pt/

 
 

Guimarães - 1º e 2º Dia - Campo da Feira e Igreja de S. Dâmaso - Parte I



A partida para Guimarães, a nossa histórica “Cidade Berço” foi realizada a meio da tarde. À chegada ao cair da noite e depois de uma volta de reconhecimento pela cidade, fomos logo a caminho do parque de estacionamento, muito usado por autocaravanas, designado por Campo da Feira e que nos serviu durante a nossa estadia na cidade, para a pernoita.

O parque de estacionamento, muito bem situado, embora em terra batida, é muito sossegado e fresco e proporcionou-nos uma belíssima estadia, a olhar durante a noite o iluminado Castelo de Guimarães, que se observa no topo oeste do parque. No topo este, encontra-se a peculiar Igreja de S. Dâmaso, e é rodeado pelas ruas de Dona Teresa (mãe de D. Afonso Henriques) e Dona Mafalda (esposa do nosso primeiro rei e por isso mesmo, primeira rainha de Portugal). Na rua de Dona Teresa observa-se um belo edifício brasonado e na rua Dona Mafalda, situada num nível superior ao parque, observam-se várias casas típicas de traça medieval, de dois pisos com planta retangular, varandas balaustradas e mísulas entalhadas, que são de enorme beleza, além de algumas casas solarengas, encontradas pouco antes de se chegar ao Castelo.

 
No dia seguinte fomos visitar Guimarães. Evocar ou visitar Guimarães é regressar às origens de Portugal, àquela que foi a capital do Condado Portucalense. É uma cidade que nunca renegou o seu passado, bem pelo contrário, fez questão de preservar o seu património de modo exemplar e por isso mesmo é sempre com orgulho que qualquer português a deve visitar.
 

À saída da autocaravana fomos logo visitar a Igreja de S. Dâmaso, não fosse fechar antes do nosso regresso. Por fora é de arquitetura lisa e modesta, com uma só torre sineira. Mas por dentro é belíssima e surpreendente. Possui altares laterais, na capela-mor um notável retábulo em talha dourada, obra do entalhador vimaranense Pedro Coelho e o teto é de caixotões. A nave é igualmente decorada com retábulos em estilo português de finais do séc. XVII e princípios do séc. XVIII.

 
Mas o que surpreende admiravelmente é a excelente combinação da talha dourada com os azulejos historiados que decoram o seu interior. Executados durante a primeira metade do séc. XVIII, contam-nos episódios da vida do Papa S. Dâmaso. A construção da Igreja de S. Dâmaso, principiou na primeira metade do séc. XVII e terminou apenas no século seguinte.

 
Da igreja seguimos em direção à Colina Sagrada onde esta situado o Castelo, caminhando pela estreita rua de Dona Mafalda, com um só passeio e piso em paralelepípedos. Nesta rua vêem-se nichos com altares sagrados, onde não faltam velas nem flores. À sexta-feira é invadida pelas bancas da feira semanal, mas para quem lá passa noutro dia qualquer, fica fascinado com a tranquilidade que o lugar oferece dada a proximidade com os monumentos emblemáticos da nossa nacionalidade.

 
Fonte: http://viajante-abreu.com/ http://www.guimaraesturismo.com/

Dá-me música para ver se eu gosto!...


"Critica o tolo, e ele te odiará, critica o sábio, e ele te amará."
 
Bíblia Sagrada

A Amizade e o Amor Segundo uma Lógica de Bazar

Desconfia-se do que é dado e pesa-se o que se recebe. A amizade e o amor parecem gerir-se, por vezes, segundo uma lógica de bazar. Já nem é considerado má-educação perguntar quanto é que uma prenda custou. Se esse preço é excessivo chega-se a dizer que não se pode aceitar. Recusar uma dádiva é como chamar interesseiro ao dador. É desconfiar que existe uma segunda intenção. De qualquer forma, só quem tem medo (ou corre o risco) de se vender pode pensar que alguém está a tentar comprá-lo. Quem dá de bom coração merece ser aceite de bom coração. A essência sentimental da dádiva é ultrajada pela frieza da avaliação.

A mania da equitatividade contamina os espíritos justos. É o caso das pessoas que, não desconfiando de uma dádiva, recusam-se a aceitar uma prenda que, pelo seu valor, não sejam capazes de retribuir. Esta atitude, apesar de ser nobre, acaba por ser igualmente destrutiva, pois supõe que existe, ou poderá vir a existir, uma expectativa de retribuição da parte de quem dá. Mas quem dá não dá para ser pago. Dá para ser recebido. Não dá como quem faz um depósito ou investimento. O valor de uma prenda não está na prenda - está na maneira como é prendada.
Hoje em dia, com a filosofia energumenóide e pseudojusta que impera, condensada no ditado ‹‹There is no such thing as a free lunch» é praticamente impossível oferecer um almoço a alguém. Todos os gestos de amor e de amizade são reduzidos ao valor de troca, a uma mera transação em que é tudo avaliado, registado, saldado, pago a meias e de um modo geral discutido e destruído até estar esvaziado de significado.

 Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'