Quase todos os dias podemos ver a
procissão de homens ocos. A sair dos carros blindados com vidros escuros,
caminhando apressados no centro de um grupo de assistentes que carregam as
pastas e caminham um passo atrás, como os súbditos, sorrindo ou franzindo os
olhos para as câmaras, conforme a gravidade da situação. Apertam muito as mãos
uns dos outros. E às vezes fazem pose para a fotografia de grupo, com os olhos
espantados e a imobilidade de espantalhos.
Custa a crer como é que um conjunto de gente
supostamente eleita por ser inteligente consegue ser tão vilmente estúpida.
Custa a crer como é que o Governo alemão resolve impor unilateralmente aos
gregos um "comissário" financeiro, destituindo-os da última parcela
de soberania, como se a Grécia fosse um protetorado, sem que o resto da Europa
se levante num clamor.
T.S. Eliot escreveu "The Hollow Men" em 1925, no rescaldo da I Guerra Mundial e do Tratado de Versalhes, The hollow men, the stuffed men. Os homens ocos, os homens de palha. As nossas vozes secas/ Quando sussurramos juntos/ São silenciosas e sem sentido. O poema acaba com a estrofe catastrófica: This is the way word ends/ This is the way the world ends/ No with a bang, but a whimper. E assim acaba o mundo, não com um estrondo mas com um gemido. O poema entrou no vocabulário anglo-americano e foi citado milhares de vezes em escritos posteriores, em livros, filmes, séries de televisão. Como uma profecia, a leitura actual do poema devolve-nos este tempo histórico comandado por homens ocos.
T.S. Eliot escreveu "The Hollow Men" em 1925, no rescaldo da I Guerra Mundial e do Tratado de Versalhes, The hollow men, the stuffed men. Os homens ocos, os homens de palha. As nossas vozes secas/ Quando sussurramos juntos/ São silenciosas e sem sentido. O poema acaba com a estrofe catastrófica: This is the way word ends/ This is the way the world ends/ No with a bang, but a whimper. E assim acaba o mundo, não com um estrondo mas com um gemido. O poema entrou no vocabulário anglo-americano e foi citado milhares de vezes em escritos posteriores, em livros, filmes, séries de televisão. Como uma profecia, a leitura actual do poema devolve-nos este tempo histórico comandado por homens ocos.
O verdadeiro défice europeu não é financeiro. É
humano. Na história da Europa dos últimos séculos nunca houve um conjunto de
burocratas e de chefes tão afastados da grandeza europeia como esta gente que
se junta em Bruxelas para decidir sobre gente que não conhece. O provincianismo
de Merkel, uma engenheira química que cresceu do outro lado do Muro, mostra-se
nos discursos. A senhora Merkel tem a eloquência prudente e limitada de um
alemão da Alemanha interior, um território mental sem pingo de cosmopolitismo,
conservador nos costumes e nos hábitos, inspirado pela frugalidade luterana ou
a centrifugação ideológica do marxismo-leninismo soviético. Esta Alemanha
desdenha o desconhecido território do hedonismo e do esbanjamento, desdenha os
povos de "índole voluptuária" (citando Latino Coelho) que agora
estendem a mão.
O falhanço de Merkel foi o de não ter explicado as
razões pelas quais os hedonistas ameaçam o sistema capitalista mundial. E
ameaçam a economia, o bem-estar e a estabilidade da Alemanha. Uma Alemanha que
ainda não perdeu a mania do lebensraum, de quer estender uma hegemonia às
soberanias nacionais que não conseguiu controlar ou vigiar antes do desastre.
Nem a Alemanha nem a Europa. A Grécia dava sinais inequívocos de descontrolo
financeiro e fiscal e nem um único chefe europeu ou alemão entendeu colocar a
burocracia europeia não ao serviço de si mas da fiscalização. A punição pela
punição não produz efeitos e só serve para afastar a Grécia (e Portugal) da
Europa do centro e sentenciá-los à morte. Sem investimento nem estímulo, a economia
não cresce e fica nas mãos de meia dúzia de agentes e intermediários, o que
está a acontecer. Portugal torna-se um entreposto. A austeridade tem um preço
alto. Aniquilação da soberania política e económica. Destruição do Estado.
Miséria social. Desemprego. Desigualdade. Emigração. Dependência. A quantas
cimeiras de homens ocos teremos de assistir antes de o nosso mundo acabar com
um gemido?
Clara Ferreira Alves
(in Revista Única, Jornal Expresso de 4 de fevereiro) Um novo abril precisa-se! Pelos vistos por toda a Europa.
A não perder: http://www.tsf.pt/Programas/programa.aspx?content_id=1389430&audio_id=2021877
Ler poema de T.S. Eliot : http://gothicarts.kit.net/obras/poesias/os_homens_ocos.htm
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