As Férias

Para que possamos entender um pouco o foco distorcido que muitos dão a este tema, é preciso fazer uma viagem no tempo, quando tínhamos uma vida bem mais rotineira que nos dias de hoje.

O pai em geral, salvo algumas excepções, era o único que trabalhava, era o provedor do sustento da família. A mãe cuidava do lar e da educação dos filhos em casa, e estes tinham aulas de Outubro até fim de Junho.

O ritmo era bem diferente do de hoje, e poucas empresas faziam pontes nos feriados ou entre o Natal e Ano Novo. O mês consagrado era o Agosto, quando a família completa escolhia um local único para ir e ficar praticamente o período integral de férias, isto é um mês inteiro de férias.

A motivação maior não era o descanso do trabalho, mas o momento de passar um longo tempo desfrutando o prazer de ter a família unida. A maioria das pessoas trabalhava naquilo que gostava, e os picos de stress no trabalho não sofriam um agravamento com questões externas críticas, como trânsito e a segurança.

A flexibilidade era extraordinária, pois se não dava para se sair de férias em Agosto, saía-se em Julho ou em Setembro.

As opções eram bastante limitadas, e ia-se geralmente para a praia mais perto de casa. Ir para o estrangeiro era pouco comum. Havia poucas auto-estradas e as viagens eram por isso muito penosas. A tecnologia engatinhava. O resultado das fotografias via-se, apenas, umas duas semanas após o regresso das férias.

Mas, este retrato mudou radicalmente nos dias de hoje. Os filhos já não querem acompanhar os pais e estes para os desculparem, dizem que se tornaram bem sedo independentes ou autónomos, quando a verdade é só uma, na realidade não há o gosto por estar em família, pois os pais esqueceram-se de o fomentar. As famílias já não escolhem os locais de férias de comum acordo com os seus filhos, e por isso eles não os acompanham.

Hoje todos se preocupam em fazer férias em lugares entusiasticamente vendidos pelas agencias de viagens ou pelos média, para acrescentarem no seu currículo um lugar da moda, onde estão por vezes uma só semana, até porque o dinheiro de um mês de férias de antigamente, só lhes dá hoje para oito dias.

Claro que todos gostariam de passar como antigamente um mês fora de casa, mas a falta de humildade não os deixa dizer isso e dizem simplesmente que não aguentam estar fora de casa mais de 15 dias (que é na realidade, o máximo que todos podem gozar fora de suas casas, pois mais do que isso é insuportável para a sua economia).

Por outro lado há quem prefira férias em locais que lhes proporcionam alguns dias de sossego, uma fuga ao trânsito caótico das cidades onde vivem, uma oportunidade de meditação e isolamento, entre tantos outros motivos bastante centrados no EU.

"A função das férias é quebrar a rotina do trabalho, fazendo com que o funcionário se descontraia e se revigore". Esta é a moderna definição de férias para todos.

Cabe no entanto aqui uma profunda reflexão. Não será melhor quebrar a rotina do trabalho e das nossas actividades de uma maneira geral, no nosso dia-a-dia, para nos descontrairmos e nos revigorarmos permanentemente?

Devíamos por isso tentar ser felizes com o que fazemos, descontraindo-nos, revigorando-nos, quebrando a rotina, sempre que podermos. Buscando novos caminhos, e principalmente aprendendo a dizer NÃO.

Não aos excessos, sejam eles quais forem, inclusive aqueles que levam a um excesso de informação e comunicação exacerbada. Não ver televisão, não ligar o telemóvel, sempre que se possa. Fazer uma distribuição adequada do nosso tempo em actividades alinhadas com as nossas motivações internas, certamente minimizará o nosso stress, seja ele qual for.

É necessário ter tempo e vontade para fazer um pouco de tudo que gostamos, além de trabalhar. Dormir bem, comer bem, conhecer novos lugares e pessoas, dançar, tirar fotos, fazer jardinagem, cortar relva, consertar coisas, pescar, namorar, visitar velhos e bons amigos que não se vêem há muito tempo e até procurar parentes, se forem pessoas com quem nos damos bem. Enfim divertirmo-nos! O que pode ser feito sem a necessidade de férias programadas.

Fonte: adaptação para a nossa realidade , de um texto de Dieter Kelber, editado no portal rhportal.com.br

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