A Bela Cidade de Fez


Fez. a mais antiga das cidades imperiais, é um dos mais importantes centros religiosos e de irradiação da cultura islâmica. É uma cidade do centro-norte de Marrocos, com cerca de 950 mil habitantes (sen. 2004) e foi fundada em 808 d.C, tendo sido a capital de Marrocos durante vários períodos da sua história.

É o centro intelectual e espiritual do país, e a mais antiga cidade do reino de Marrocos. Mantendo a fisionomia do Islão Medieval, é uma cidade, que sofreu poucas alterações através dos tempos, conservando dentro das suas muralhas, os tesouros artísticos da milenária monarquia. Durante a sua história, a cidade teve longos períodos de grandes dificuldades, mas sobreviveu a todos eles, tendo hoje a sua própria cultura e o seu orgulho.

A cidade de Fez, foi fundada pelos merínidas, (berberes que se destacaram como grandes construtores), em 789 d.C, num lugar entre as montanhas, junto ao rio. Os merínidas foram uma dinastia berbere que reinou em Marrocos, após a queda dos almóadas entre os séculos XIII e XV. A dinastia teve as suas origens nos berberes zenatas, aliados tradicionais dos omíadas de Córdova. Em 1248 o chefe da tribo, Abu Yahya, conquistou a cidade de Fez e nos dez anos que se seguiram conquistou todo o Marrocos, com excepção de Marrakech, tomada em 1269 pelo seu irmão e sucessor, Abu Yusuf.

A visita a Fez é uma aventura que se renova a cada esquina e que atinge o seu ponto mais alto, com a visita à Medina, que possui no emaranhado de ruelas com o seu comércio, toda a fisionomia de uma cidade medieval.
Na verdade a Medina de Fez el-Bali é ainda uma cidade medieval, das maiores do mundo, com as características mais evidentes daquelas cidades, as muralhas que a circundam e os enormes portões para acesso ao seu interior. As portas e muros que cercam a cidade, suas mais de 9.000 de ruelas e seu souk fazem desta cidade, uma das melhores atracções de todo o Marrocos, onde se encontra a Medersa Bou Inania, uma universidade de Teologia construída em 1350, a mais antiga do mundo árabe-islâmico.
O passeio pelas suas estreitas ruas, ao encontro das Mesquitas Mulay Idriss e Karaouyine, as escolas do Corão, a Fonte Nejjarin e os Souks, com inúmeras oficinas da artesanato e as tannereis - indústrias de curtumes, são alguns dos atractivos desta cidade fascinante.
Para visitar um curtume, os visitantes andam por ruelas estreitas, sinuosas, labirínticas do Souk e vão sendo transportados a um mundo medieval que pouco mudou desde então. No Souk de Fez todos os sentidos são exigidos, sem exagero... Até o olfacto, além da audição, visão, paladar e tacto, são exigidos, ora discreta, ora exasperadamente. É o que acontece quando se entra num curtume de tingimento de couro.

Os visitantes passam por uma estreitíssima passagem, através de uma construção, como se fosse um túnel, e repentinamente vêmo-nos num espaço amplo e aberto, ao ar livre. Um cheiro fortíssimo, misto de esterco de galinha curtido, ácido sulfúrico, amónia e couro de animais recém sacrificados, invade o ambiente e queima as narinas.

Subindo por escadinhas estreitas o visitante alcança uma laje, um dos terraços das construções vizinhas que circundam o curtume e que permitem uma visão aérea impressionante e completa, do processo de curtume e tingimento. Alguns não suportam o cheiro e providencialmente, os guias distribuem ramos de arruda ou menta que as pessoas esfregam na ponta dos dedos, macerando as folhas e liberando o odor natural, que levam ao nariz tentando adocicar o forte odor de amónia-esterco-couro-ácido.

Sobre lombos de burros, pilhas de peles de carneiro recém abatidos, ainda com suas cabeças e cornos, são retirados para o início do processo. É uma visão exótica, marcante, estranha e impressionante... Homens sentados nas bordas dos tanques trabalham no processo lavar, amaciar, desengordurar, tirar os pelos e tingir os couros. Cada tanque tem quase dois metros de diâmetro e cheios até a metade de diferentes misturas, sejam líquidos escuros ou massas brancas pastosas.

Finalmente, os couros ficam num banho de tinta por vários dias antes de serem postos a secar ao sol. E o resultado disso?... Além de belo artesanato em couro que se pode comprar ali mesmo, adiante no souk, é sem dúvida uma lembrança absolutamente inesquecível!
A Dança do Véu, do Ventre ou ainda Dança Oriental, é muito praticada em Fez, e quase todos os hoteis oferecem aos seus hospedes espectáculos desta dança. É uma das formas mais antigas de expressão artística dos povos árabes, nasceu dos rituais religiosos primitivos e espalhou-se pelo mundo com a ajuda de viajantes, mercadores e nómadas. Sofreu variadíssimas influências e acumulou em cada região, diferentes interpretações e significados. Hoje a Dança do Véu apresenta-se como um caminho para despertar o corpo, a mente e a alma, numa expressão pessoal de sensibilidade, beleza e harmonia que se reflecte em cada corpo que dança, e é uma forma de demonstrar o seu folclore na cidade de Fez. A não perder.
As temperaturas em Fez rodavam os 45º a 50ºC, e durante a nossa estadia na cidade, quase não consegui ingerir qualquer alimento, uma vez que a desidratação provocada pelo calor excessivo, só me fazia beber água. As águas minerais marroquinas, não são insípidas, tendo um sabor acentuado a terra, o que dificultou a situação, fazendo deste episódio o único que recordo com alguma insatisfação.

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