Marrakech


Com mesquitas e minaretes protegidas por antigas muralhas de cor ocre, instaladas num imenso oásis verdejante, com os picos nevados da Cordilheira do Atlas, ao fundo, Marrakech é a cidade das mil e uma noites, um lugar mítico e místico, um ponto de encontro de exploradores e de sensações insólitas e deslumbrantes.

Marrakech fica situada a 453 m de altitude. Cidade imperial e capital do Sul, é rodeada por um vasto palmar (oásis de palmeiras), o mais setentrional de Marrocos, e fica num importante entroncamento no sopé do Alto Atlas, num pano de fundo semelhante aos Himalaias, 220 km a sul de Casablanca. É conhecida como a "cidade vermelha", a "pérola do sul" ou ainda a "porta do sul".
Marrakech é a segunda maior cidade do Marrocos, após Casablanca, e era conhecida pelos antigos viajantes como "Cidade de Marrocos". A cidade é o ponto de encontro das culturas berbere, africana e árabe, numa fascinante mescla de cores, sons e actividades, aqui se confunde o medieval com o que há de mais moderno; é um enorme centro de artesanato, e o destino preferido por todos os visitantes. Os souks que se espalham pela Medina possuem vendedores que vêem de todos os cantos do sul do país.

Cidade de uma beleza indescritível, a que Winston Churchill chamou "Paris do Deserto", prende os visitantes pelo esplendor dos seus palácios e jardins, misturados com a atmosfera do Marrocos tradicional, o que lhe dá uma cor e um fascínio surpreendentes. "Primeiro estranha-se, depois entranha-se" - referiu Fernando Pessoa no seu caderno de viagens, com a impressão que teve de Marrakech. Uma vez entranhada, pode-se respirar o seu ar de surpresas, repleto de sabores intensos, cores frenéticas e sons vibrantes. Marrakech é realmente camaleónica, ao estilo das grandes metrópoles cosmopolitas, como Nova Iorque ou Paris.

A história de Marrakech começou em finais do século X. Na época, a medina era o único bairro da cidade. Durante séculos, Marrakech converteu-se numa residência luxuosa, e com o passar do tempo, numa cidade majestosa e brilhante. O primeiro nome da cidade foi Marroukech ("vai-te depressa")... embora hoje em dia muitos visitantes ficassem aqui para sempre, entre os souks e as ruelas sombrias, bebendo chá de erva doce.
Nos tempos da dinastia almohade, Marrakech foi a cidade mais importante do ocidente muçulmano, a capital do Império do Magreb. Prosperava sobretudo graças ao lucrativo comércio trans-sahariano, que conseguiu permanecer como tal, graças à sua localização estratégica no centro interior do país, numa depressão entre a costa atlântica, as montanhas do Alto Atlas e duas cidades principais de negócios (Casablanca e Rabat).
Antes da chegada dos almorávidas, no século XI, a região era governada a partir da cidade de Aghmat. Quando decidiu erguer uma nova capital, o chefe almorávida, Abu Becre ibn Omar, escolheu construí-la na planície, em local neutro entre o território de duas tribos que competiam pela honra de receber a nova cidade. Os trabalhos começaram em Maio de 1070, mas Abu Becre foi chamado a acabar com uma revolta no Sahara, em Janeiro de 1071, de maneira que Marrakech foi terminada pelo seu substituto e futuro sucessor, Iuçufe ibn Tachfin. O apogeu da cidade deu-se sob a direcção de Abu Yusuf Ya'qub al-Mansur, terceiro sultão almohade, que iniciou a construção da mesquita de Kutubia e de um novo kasbah.

Hoje possui um vastíssimo Kasbah, e a exótica Praça de Djemaa el Fna, fervilha de animação: músicos, vendedores de bebidas, encantadores de serpentes, saltimbancos, cartomantes, acrobatas, contadores de histórias... Nos bazares, artífices fabricam artesanato. Existem vendedores de laranjas e do seu sumo, de especiarias, de frutos, de nozes e outros frutos secos, de ervas raras, de amuletos, aguadeiros (vendedores de água)…; ao entardecer a confusão ainda aumenta mais, para se comer à noite, bolo de batata, couscous e espetadas.

As muralhas da cidade, do séc. XII, com as suas nove portas, com 19 km de perímetro e 202 torreões, de fortes tons rosados, e com o minarete da Mesquita Koutoubia, de 70 m de altura, séc.XII, a porta Bab Aguenaou, contemporânea da Koutoubia, vizinha da porta Bab er Rob, sendo a primeira, um belo exemplo da porta monumental almóada.

Nas fábricas de curtumes do souk, vemos os gestos ancestrais dos curtidores de peles, onde há séculos nada muda... Por entre as peles estendidas ao sol, sobre palha, perto das vasilhas, os artesãos utilizam em permanência, o açafrão para obter o amarelo, a papoila para o vermelho, o indigo para o azul e o antimónio para o preto... Tendo aqui um olhar indispensável sobre o passado.

A viagem de caleche pelo palmeiral, embalados pelo trote vigoroso do cavalo; sentindo a brisa que corre ligeira; admirando as palmeiras que se desenham, abraçando o céu; dando a volta ao palmeiral, ao pôr-do-sol, é momento a não perder.

O Mausoléu do Soberano e a universidade religiosa de Ben Youssef, que é a maior do Maghreb, (séc.XVI); a mesquita El-Mansour, séc. XII, com seu grande minarete. À direita da mesquita, uma rua estreita conduz à entrada dos túmulos Sádidas, pequeno cemitério com esplêndidos mausoléus, onde repousam os membros desta dinastia, que foram construídos no séc.XVI.

A El Badia foi edificada no final do séc. XVI, encontrando-se hoje em ruínas. No interior deste palácio existe um laranjal. O Parque Ménara (a cerca de 2 km para oeste de Bab Jdid), enorme reservatório de água do séc. XII (que servia para regar um extenso laranjal, e que está aberto todos os dias até ao pôr-do-sol), onde o rei se passeava num barco que lá afundou; a mansão de Yves Saint Laurent com o seu soberbo jardim, (onde recentemente, depois da sua morte, foram lançadas as suas cinzas), e ainda muito, muito mais para ver da cidade mais pitoresca e procurada de Marrocos…

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