O caminho até Tetouan



Saímos depois do almoço de Meknès, com o intuito de fazermos o maior número de quilómetros possíveis. Após 45Km de estrada percorrida em planalto (até Sidi Kacem), com temperaturas um pouco mais baixas que nos dias anteriores, talvez por já estarmos mais perto do litoral, avistámos a cidade Sidi Kacem.

Sidi Kacem é uma cidade de média dimensão do Noroeste de Marrocos. Os seus habitantes, os "Kacemis" são cerca de 74.062 (segundo o censo 2004). Situada entre as cidades de Meknes (45 km), Tanger (210 km), Fez (85 km) e Rabat (120 km), perto do rio Rdom, a partir do qual se estende a grande e fértil planície do Gharb ("Gharb" em árabe significa o Ocidente).

Fazendo parte da "província de Sidi Kacem" (região do Gharb-Chrarda-Beni Hssen) mais conhecida por "Chrardas", a cidade é um centro de recolha de grão, produzido nas montanhas a leste e a norte. A cidade também é um mercado activo, do Sudeste de Marrocos, devido aos produtos da rica planície do Gharb, como os citrinos, o azeite, o algodão, a beterraba e o arroz. Estes produtos são escoados para o resto do país, através da estação e linha de caminho de ferro que serve a cidade e os seus arredores.

A cidade tem dois grandes Souks (mercados), o de quinta-feira, na cidade e os novos Souks (desde 1978) no domingo, na estrada para Fez a norte da cidade. Tem também um festival anual de gado, com várias espécies e ainda cavalos árabes. A cidade foi fundada em duas fases, que deram origem a duas zonas distintas e separadas, a Zaouia que é o centro da cidade e o seu souk al-Khmis.

A história da cidade teve início a partir de 1699, quando se formou o primeiro núcleo habitacional, reforçado pela chegada de Mouay Ismail, que procedeu à construção do Kasbah para aqui instalar soldados numa espécie de quartel militar (Aabid el boukhari), na porta Bab tissra, para a passagem do sultão Moulay Ismail que pretendia visitar as regiões setentrionais do país. O quartel aqui ficou a partir dai e a cidade de Sidi Kacem passou a desempenhar uma tripla função: Económica, Religiosa e Militar.
A paragem seguinte, já ao cair da tarde, foi Souk El Arba du Raharb, que apesar de ser pouco mais do que o seu nome indica (quarta-feira, Mercado da planície), pois não passa de uma estrada onde se estende um mercado de barracas, com grill-cafés e alguns hotéis. A cidade não é um lugar muito atraente para se parar mas foi aqui que o apetite se fez notar, uma vez que cheirava a frangos assados, com qualquer especiaria que aguçava a fome.
Em Souk El Arba Du Rharb há a oportunidade de visitar Bassorá, o retiro de verão de Idriss II, o sultão que criou a cidade de Fez. Para se lá chegar, ruma-se a Ksar El Kebir, virando à direita e depois a cerca de 9 km vira-se no sentido de Ouezzane, depois de 12 km, chega-se a uma aldeia com as ruínas de Bassorá permanentes sobre colinas. As paredes desta cidade foram demolidas no século XVI, mas ainda podem ser observadas algumas, juntamente com os portões da cidade. Agora é um agradável miradouro e um óptimo lugar para um piquenique.
Novamente a caminho, passámos por Ksar El Kebir, local onde terá ocorrido a batalha de Alcácer Quibir, (onde desapareceu o jovem rei português D. Sebastião), como ficou conhecida no mundo ocidental, ou a batalha dos Três Reis, nome recebido entre os que professam a fé islâmica, (para os muçulmanos foi uma batalha vitoriosa, embora também tenha significado a perda igualmente misteriosa dos dois soberanos islâmicos envolvidos), sendo objecto de inúmeras histórias e narrativas tão espectaculares quanto trágicas e misteriosas.
Antes de chegarmos ao destino desse dia, Tetouan, passámos pela cidade de Larache, junto ao litoral (costa atlântica), onde se parou para beber um chá de menta, (bebida nacional marroquina).
Sobre ela pode ler-se numa crónica da época da batalha de Alcácer Quibir, ..."A cidade é sobre o oceano, em lugar alto e montanhoso, a quatro léguas de distância de Arzila. O rio Lucus depois de cingir os muros de Alcácer Quibir, vem desembocar perto dela, formando uma enseada com suficiente capacidade para fundo das maiores galés. Proporcionando aos corsários turcos e mouros, um refúgio onde os navios podiam dormir seguros ao abrigo dos ventos e das marés, ali se acolhiam apesar da boca da barra ser estreita, e com todo o tempo invernavam zombando das tormentas"..."Diante de Larache dilata-se a extensa campina chamada Adarga, cortada a norte pelo rio Mucassin, o qual se confunde com o Lucus uma légua acima da cidade, dando o nome a ambos"..."Deste porto mais favorecido pela natureza, do que protegido pelas fortificações costumavam os infiéis assaltar as terras marítimas da Andaluzia e do Algarve, semeando o terror por todos os lugares...".

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