Depois
de passarmos parte da noite em Chinchón, uma linda povoação situada bem próxima
de Madrid, rumámos a Ulés, onde queríamos ir dormir. Desta vez, o caminho rumo
a Uclés, puxa a cortina da história para nos levar a um tempo e a um lugar
onde, ainda hoje, é fácil lembrar dos senhores feudais e de batalhas medievais...
É ali que se encontra o Mosteiro de Uclés que é considerado
como o Escorial
de La Mancha, situado na província de Cuenca.
Quando
lá chegámos já passava da meia-noite e a pequena povoação já se encontrava
absolutamente adormecida e silenciosa, sob a proteção do seu mosteiro
iluminado. Este encontra-se empoleirado numa alta colina de onde outrora a
Ordem de Santiago dominava.
Subimos
por estrada sinuosa e estreita, até ao topo da colina onde se encontra aninhado
o mosteiro. A pernoita no recinto do mosteiro, foi realizada junto do miradouro
a ver a povoação e os vinhedos e campinas que se estendem pelo vale. O silêncio
e a proteção do mosteiro acompanharam-nos num sono tranquilo e repousante, a
que se seguiu um acordar cheio de sol, sob o cantar da passarada.
Depois
do acordar fomos até à vila para a conhecermos, tomarmos café e petiscarmos qualquer
coisa. Depois de passarmos a bela porta que separa o recinto do Mosteiro do acesso ao
exterior, caminhámos por ingreme ruela encantada de alvas casas, até à Plaza Mayor.
É ali que se encontram os principais edifícios da vila, como a igreja e a Câmara Municipal, bem como os cafés e o principal restaurante da vila.
A pequena povoação de Uclés está organizada num conjunto urbano em torno da sua Plaza Mayor e apesar da evolução negativa dos últimos dois séculos, ainda tem vários bons exemplos de boa arquitetura, incluindo a Câmara Municipal com fachada com arcadas.
No
centro da Plaza Mayor chama a nossa atenção um busto simples de Pelayo Quintero
Atauri, natural de Uclés. O busto representa um homem magro, de atitude aristocrática
e nobre. Como sempre, despertou em mim a curiosidade de saber quem era Pelayo
Quintero Atauri, o que me levou a ler sobre a sua vida e obra.
Pelayo Quintero Atauri, mais conhecido por "o
Sábio de Uclés", estudou Direito em Madrid, ao mesmo tempo que fazia os
estudos de Desenho nas Escolas de Belas Artes e Ofícios. Fez também uma carreira
de arquivista e bibliotecário e fez parte de uma comissão
para realizar um arquivo de literatura colombiana pelo terceiro aniversário da
descoberta da América. Foi
professor universitário de desenho na Escola de Artes e Ofícios de Granada,
Cádiz e Sevilha. Finalmente estabeleceu-se em
Cádiz em 1904, onde atuou como arqueólogo, sendo delegado do Conselho Superior
de escavações e diretor de Antiguidades , diretor do Museu de Belas
Artes, da Academia de Belas Artes, membro da Comissão dos Monumentos e Cônsul
da Colômbia. Foi ainda fundador e diretor do
Real Academia Espanhola e da Academia Americana de Artes e Ciências. Foi o
principal organizador das comemorações do Centenário do Parlamento e artigos
publicados sobre arte e história em inúmeras publicações. Em 1939 (com 72 anos de idade!) Mudou-se para a cidade
de Tetouan, em Marrocos, para assumir o controlo das escavações e da direção do
seu Museu Arqueológico de Tetuan, que abriu em 1940. Morreu em Tetuan, longe da sua
terra natal, em 1946.
Uclés,
habitada desde os tempos pré-romanos, foi um local muito importante para os árabes,
como parte da província de Santaver (outrora situada entre Toledo e Valencia), de que era uma das suas principais cidades. Teve
outrora um castelo, mesquita e banhos, mas a sua real importância foi adquirida durante a Reconquista, para se tornar
a sede da Ordem de Santiago.
O
Mosteiro de Uclés é o símbolo supremo da povoação e a casa paroquial da Ordem
de Santiago. Foi o rei Afonso VIII de Castela, que em 1174, cedeu este sítio à
Ordem de Santiago, tornando-se o lugar nessa altura a sua principal sede. Neste
lugar e durante os primeiros tempos a ordem monástica era conhecida como Ordem
de Uclés.
No
lugar onde está situado hoje o soberbo mosteiro, existiu outrora um castelo
poderoso e famoso, do qual ainda hoje existem vestígios. Da estrutura original deste
forte restam três torres com um muro que as une e a muralha em ziguezague ou
cremalheira, além de uma porta de entrada para o recinto fortificado, o Arco de
la Fuente.
O antigo castelo foi construído no final do século IX por al-Fath ben ben Musa Zennun e foi uma importante e inexpugnável fortaleza moura.
O mosteiro está situado no interior da fortaleza de Uclés (séc. XII), que tinha antes da sua construção um quilómetro quadrado, rodeado por muralhas, bastiões, escoramentos e torreões. As antigas muralhas e o mosteiro passaram por várias restaurações, a última das quais realizada em 2001.
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