Os sentimentos fixos e
de forma constante qualificados de paixões constituem, também, possantes fatores
de opiniões, de crenças e, por conseguinte, de conduta. Certas paixões
contagiosas tornam-se, por esse motivo, facilmente coletivas. A sua ação é,
então, irresistível. Elas precipitaram muitos povos uns contra os outros nas
diversas fases da história. As paixões podem excitar a nossa atividade, porém,
alteram, as mais das vezes, a justeza das opiniões, impedindo de ver as coisas
como realmente são e de compreender a sua génese. Se nos livros de história são
abundantes os erros, é porque, na maior parte dos casos, as paixões ditam a sua
narrativa. Não se citaria, penso eu, um historiador que haja relatado
imparcialmente a Revolução.
O papel das paixões é, como vemos, muito considerável nas nossas opiniões e, por conseguinte, na génese dos acontecimentos. Não são, infelizmente, as mais recomendáveis que têm exercido maior ação. Kant reconheceu a grande força social das piores paixões. A maldade é, no seu juízo, um poderoso elemento do progresso humano. Parece, infelizmente, muito certo que, se os homens tivessem seguido o preceito do Evangelho “Amai-vos uns aos outros”, ao invés de obedecerem ao da Natureza, que os incita a se destruírem mutuamente, a humanidade vegetaria ainda no fundo das primitivas cavernas.
Gustave Le Bon, in 'As Opiniões e as Crenças'
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