O Poder da Intuição - Parte II

A intuição influencia o raciocínio. De que forma a intuição se distingue do pensamento mais racional?

A intuição é rápida, não requer esforço e, muitas vezes, embora nem sempre, é a melhor opção para orientar o comportamento quotidiano. Pelo contrário, o raciocínio, com o nosso sistema racional e analítico, é demasiado lento e desgastante para nos servir sempre no dia-a-dia. Por isso, a intuição pode muitas vezes ser mais útil em decisões onde a experiência é mais importante que a lógica, em situações de emergência onde não há tempo para raciocinar com mais cuidado ou, por exemplo, em situações em que temos de apreciar uma obra de arte. É também mais eficaz em situações que envolvam relações humanas. Em situações que não envolvam pessoas, o sistema racional/analítico tende a ser mais ativado. É por isso que uma espécie tão brilhante como a nossa, capaz de ir à Lua, curar doenças, ver criaturas invisíveis ao microscópio ou vislumbrar galáxias distantes, não consegue viver em harmonia e continua a resolver problemas internacionais com guerras.

A intuição e o raciocínio não se confundem?

Muitas vezes. A intuição influencia quase todos os comportamentos, incluindo o raciocínio. Por outras palavras, a influência do pensamento intuitivo é ubíqua. Conduz a nossa vida quotidiana, mas também influencia a capacidade de uma pessoa raciocinar logicamente. Uma vez que exerce essa influência automaticamente, fora da consciência das pessoas, estas atribuem muitas vezes o seu comportamento a um raciocínio consciente quando, na verdade, foi causado pelo seu pensamento intuitivo, baseado na experiência. A única forma de contornar esta influência é conhecer bem o nosso sistema intuitivo, para poder tê-lo em conta.

Os humanos são, ao mesmo tempo, intuitivos e racionais, mas se tivesse de escolher entre um dos sistemas, qual escolheria?

Não conseguiríamos sobreviver apenas com um sistema racional ou analítico, porque não seríamos capazes de tomar as decisões quotidianas sem ter estas sensações intuitivas que nos ajudam a decidir o que queremos. Não haveria paixão e existiria muito pouca motivação nas nossas vidas e, na rara hipótese de sobrevivermos, seríamos como robôs. Já sobreviver apenas com um sistema intuitivo seria possível, mas não teríamos linguagem e seríamos apenas ligeiramente mais espertos do que um chimpanzé.

Entrevista a Seymour Epstein, in Revista Única de 10 de Abril

(Seymour Epstein é um dos peritos em "Intuição" e Professor Emérito de Psicologia da Universidade de Massachusetts, EUA)

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