Serra do Açor - A caminho de Coimbra - Parte I

De volta ao Piódão, foi tempo para mais um pouco de descanso antes da partida a caminho de Coimbra, para o regresso a casa.
Na mesma esplanada do Snack-Bar-Restaurante "Solar dos Pachecos", onde estivemos pela manhã, degustámos um lanche de iguarias fabricadas na aldeia, como queijo de ovelha, bucho e presunto, apreciando a ida e vinda permanente dos visitantes da aldeia. Em volta, as bancas com produtos artesanais da região, como licores, mel, pão regional, bolos e artesanato… convidam às compras, que antecedem a partida.
Já a bardo da autocaravana, seguimos o caminho de casa. A partir do Piódão, percorrem-se estradas sinuosas e estreitas, que serpenteiam as encostas xistosas da Serra do Açor.
À volta, por onde quer que se olhe, avistam-se nas encostas as inúmeras quelhadas, que ao longo dos tempos, foram criando condições para a subsistência das populações daquela região esquecida, conquistando com muito suor à serra, cada pequena leira cultivada.
Na estrada e ainda próximas do Piódão, que ao longe ainda nos observa lá atrás, aparecem-nos as típicas aldeias da Foz e de Chãs de Égua, que pertencem ainda à freguesia do Piódão. e com ela partilham a sua beleza mística da Serra do Açor.
Estas aldeias tal como o Piódão, são caracterizadas pelo seu aspecto rural serrano, com as suas típicas casas de xisto e lousa, circundadas por uma natureza quase em estado puro, rica em espécies de fauna e flora que aqui encontram o seu habitat natural. Durante muitos anos e tal como o Piódão, estavem isoladas do resto do mundo.
Lá em cima, longe do vale onde corre a ribeira do Piódão, passava a “Estrada Real”, que ligava Coimbra à Covilhã.
São aldeias com origens remotas e que sobreviveram às intempéries em comunidade. As suas origens são bem longínquas, como o confirmam as cinco dezenas de pinturas rupestres do Neolítico e da Idade do Bronze que foram descobertas na zona da aldeia de Chãs d’Égua, que são consideradas pelos especialistas apenas como a “ponta do véu” de um santuário mais vasto e rico.
De facto, pensa-se que o próprio topónimo de Chãs d’Égua virá do tempo da ocupação romana, por aqui serem criadas as éguas destinadas a serem atreladas nos carros de desporto e combate da época.
Em Foz d´Égua situa-se também uma praia fluvial de grande beleza, onde se faz o ponto de encontro da ribeira de Piódão com a ribeira de Chãs, correndo ambas em direcção ao rio Alvoco.
Nesta época do ano, a primavera, as serranias estão cobertas por um manto de flores, onde sobressai a coloração amarela das giestas, tojos e carquejas, e ainda o lilás das urzes. As rochas estão salpicadas por líquenes e musgos de cor verde oliva. Ao longe da estrada vemos manchas de pinheiros, carvalhos e castanheiros.
Pela serra são frequentes as ruínas do que outrora foram casas de xisto de agricultores. Abandonadas e desgastadas pelo tempo, fazem hoje apenas parte da paisagem. Olhando para estas ruinas, facilmente podemos imaginar, o impacto da migração e emigração nestes lugares, quando muitos jovens partiram para fora do país ou para as grandes cidades em busca de uma vida melhor, abandonando a pastorícia e as atividades artesanais, ligadas sobretudo à floresta.
Antes delas, os habitantes destas regiões serranas, viveram durante séculos do mel, azeite, queijo, centeio e milho a que, já mais recentemente agregaram a exploração do carvão e das minas de volfrâmio.
Curavam as maleitas com responsos e mezinhas e quebravam o isolamento com grandes caminhadas. São deliciosas as histórias, por exemplo, das “galinheiras”, mulheres que calcorreavam caminhitos em terra batida, até à Covilhã, de cesta à cabeça, em dias de neve ou calor abrasador, recolhendo ovos pelos montes que depois vendiam na cidade maior.
Durante o caminho no meio das exuberantes escarpas e vales profundos, situam-se pequenos povoados que se fundem na paisagem.
Ao final da tarde, rasgando os céus, observa-se o açor, a ave de rapina que deu nome a esta maravilhosa e colorida serra.
Fonte: http://www.regiaocentro.net/canais/passeios/2002/Piodao/default.asp http://www.flickr.com/photos/cidagarcia/4824130310/

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