Após o almoço, foi
iniciado o passeio pela aldeia e redondezas. Encaminhamo-nos para a igreja
vestida de branco reluzente e lá dentro uma senhora da terra que bem nos
recebe, não nos deixa fazer qualquer registo fotográfico.
A Igreja Matriz do Piódão, que mais parece ter sido construída
a olhar para uma pintura naïf, preside a praça principal e é o elemento que
mais se destaca no cinzento da aldeia, pintada de azul e branco. Datada do
século XVII, a sua fachada atual foi reconstruída no século XIX.
Segundo reza a história, um dia os habitantes do Piódão juntaram todo o ouro que tinham e pediram a um velho pastor,
para pedir ao Bispo de Coimbra autorização para construir uma igreja. Perante tão
dispendiosa solicitação, preparava-se o Bispo para recusar o pedido, quando o
velho pastor, abrindo o seu barrete serrano, lhe mostrou as luzidias moedas de
ouro necessárias a tal empreitada, aceitando o Bispo de imediato o pedido.
Dentro
da igreja encontra-se a escultura antiga em calcário pintada de cores vivas de Nossa Senhora da Conceição, da segunda
metade desse século e anterior a 1676, que data da criação da freguesia e que poderá
também ser contemporânea da edificação da Igreja.
No
final do século XIX, a fachada da Igreja Matriz ameaçava ruir e foi
reconstruída ao sabor do gosto neobarroco, eclético e romântico da época, por
iniciativa do cónego Manuel Fernandes
Nogueira. As quatro finas torres cilíndricas rematadas em cone, parecem
conferir movimento à frontaria, enquanto a torre sineira de planta quadrada se
encosta a meio da fachada sul da Igreja. Os três
retábulos que alberga, datam do século XVIII, e eram originariamente em talha dourada.
Por
trás da Igreja podem ainda descobrir-se, algumas ruínas de um antigo Mosteiro
dos monges de Cister, ordem
religiosa reformada por São Bernardo de
Clairvaux. Os monges brancos de São Bernardo, como são conhecidos,
construíam sempre os seus mosteiros em estreitos vales - Benedictus
montes, Bernardus valles - tal como fizeram no Piódão, e a enorme influência que exerceram em todas as vertentes
da cultura portuguesa, remonta já aos tempos da Reconquista.
Também situado na praça principal, em nível inferior, o Museu do Piódão é uma extensão do Museu Etnográfico de Arganil que recorda a vida da aldeia. Com muitas peças doadas pelos habitantes, funciona como uma mostra da memória coletiva da freguesia de Piódão. A coleção inclui o aerodínamo, que trouxe pela primeira vez luz elétrica à aldeia.
Em
seguida começámos por percorrer as ruas inclinadas e estreitas da aldeia,
dominadas pelo xisto. Sobe-se por caminhos de xisto reluzente, sendo alguns
deles substituídos por escadarias estreitas, que lentamente nos levam encosta a
cima. No caminho passamos pela Fonte dos Algares, com o seu arco ogival de xisto.
Lá
no cimo do emaranhado de casas, encontramos a
pequenina Capela de São Pedro, que misturada com o casario passa muitas vezes despercebida. Tal
como a igreja, também esta está vestida de branco. Lá dentro, a D. Zulmira,
que toma conta da capela e que ao contrário da senhora da Igreja Matriz, deixa-nos
fazer o registo fotográfico à vontade, mostrando-nos em seguida orgulhosa a sua
linda casa, embelezada à entrada com uma viçosa e verdejante parreira.
Pouco
tempo depois começamos a descer, por trilhos com escadinhas e caminhos
declivosos, pela encosta que acompanha a ribeira do Piódão. Os caminhos que descem ao lado das casas de xisto são muito
bonitos, tanto pela vegetação que nos acompanha, como pela grandiosa paisagem
da serra e do vale, onde corre a ribeira.
A
meia encosta para-se num pequeno largo, para descansar e tirar fotos e o Sr.
Sebastião que adora conversar, põe-se à conversa connosco, contando-nos
histórias antigas do Piódão e de
quando trabalhava em Lisboa,
retornando à terra quando se reformou.
Depois
de muito se chapinhar, cão e seus donos fizeram o regresso por caminhos bastante
perto da linha de água e depois vencendo uma subida longa mas pouco acentuada,
chega-se ao miradouro, situado na encosta oposta à outra onde se empoleira o Piódão.
Pelo caminho e à nossa
volta os carvalhos-alvarinhos e os castanheiros estão um pouco por todo o lado,
destacando-se nesta região pela dimensão de alguns dos seus exemplares e pelos
bosquetes que parecem remanescer de outros tempos.
Há volta da aldeia podemos
visitar lagares de azeite, conhecer a tradicional apicultura, observar a flora
ribeirinha, conhecer a agricultura tradicional e todo o seu mundo rural ou
simplesmente estar em contacto com a natureza.
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