Novamente
no caminho de xisto que nos levou à Fraga da Pena e que nos trás de volta
à autocaravana, percorremos novamente o vale sombrio de vegetação luxuriante,
onde corre a ribeira da Mata da Margaraça.
Esta mata além de ser
uma autêntica relíquia botânica, também propicia a existência de uma fauna que
a desertificação da serra, ou a sua "eucaliptação" fez desaparecer. Assim e ao que
parece, regressou a esta mata o javali; perdurou a gineta e conservaram-se as
aves de rapina, como o açor que deu o nome à serra. Também ali se podem
encontrar o gavião e a coruja do mato, bem como o cuco, que naquele final de
tarde e de vez em quando, ia dando um ar da sua graça.
Já na autocaravana, deixamos o vale formoso da Fraga da Pena e voltamos para trás, para Benfeita. Lá em cima, do lado direito observamos despedindo-se de nós, a bonita aldeia de Pardieiros.
A partir de Benfeita, viajamos em direção de Monte Frio, que
observamos estirada na lomba de um cabeço, ainda a aproveitar o sol de fim de
tarde, e seguimos em direção de Relva Velha.
Do alto da serrania observa-se lá em baixo a mancha escura da Margaraça. Já na estrada de Coja, espreitamos lá do alto. A paisagem é de uma beleza indescritível e ao longe observam-se as pequenas povoações de Moura da Serra e Mourisca, estendidas nas encostas da belíssima Serra do Açor, debruçadas sobre os socalcos que laboriosamente os seus habitantes foram edificando ao longo de gerações.
Lá
em baixo observam-se aldeias construídas nas encostas de profundos vales, com
típicas casas de pedra onde o tempo parece ter parado, e sobretudo toda a
fabulosa beleza paisagística, albergando no horizonte toda esta realidade
serrana, com a Serra da Estrela e a Serra da Gardunha como pano e fundo.
Continuamos a subir a Serra do Açor e já lá bem alto, avistam-se as pequenas povoações de Soito da Ruiva, e lá mais ao fundo Sobral Magro, que nos acompanham enquanto se rola na crista da serra. A estrada renovada está uma beleza, em comparação com a velha estrada que foi outrora caminho de almocreves e ponto de passagem entre o litoral e a Beira mais interior.
A estrada leva-nos até ao marco geodésico que comemora a nossa chegada aos 1341 m
de altitude. Dali podem ser avistadas outras serranias em seu redor, como a
Serra da Estrela ou a massa serrana enfileirada a nordeste. Para norte
avistam-se as terras mais chãs e para sul, a Serra da Cebola, mais alta que
este pico da Serra do Açor, que no entanto a comanda. Desta o seu ponto mais alto, é o
Picoto do Piódão, que atinge os 1.400 metros de altitude.
O percurso está ali quase a findar, quando ainda no alto da Serra do Açor, nos preparamos para começar a descer. Estamos no Alto de S. Pedro e é ali que se observam os Penedos Altos, xistos erguidos em cutelo.
Observada lá
de cima a estrada que é o único vestígio da humanização naquele lugar, mete
respeito, pela altitude, inclinação e pelas angulosas sinuosidades do seu traçado.
Começamos a descer bem devagarinho, não vá o diabo tece-las. As sinuosidades rigorosas e ingremes acompanham-nos por 3 a 4 Km, sempre a descer até ao Piodão, aldeia encastrada na encosta à sombra das altitudes da Serra do Açor e aninhada no fundo de uma lomba, onde já chegámos ao anoitecer.
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