A teoria da evolução de Darwin aplica-se a todos os organismos
vivos, logo ao Homo sapiens. Ao longo da história da vida na Terra, a
evolução das espécies deu-se por meio de um processo de adaptação ao meio
ambiente movido pela selecção das mutações genéticas com mais vantagens de
sobrevivência e reprodução. Consequentemente, os principais traços distintivos
de cada espécie têm uma “explicação” no processo de selecção natural, que pode
ser decifrada com maior ou menor dificuldade.
No caso do Homo sapiens, há várias características notáveis cuja emergência podemos tentar explicar. Entre as principais destaca-se o bipedismo, a linguagem, a nudez (ou ausência de pelo, única entre os primatas), o grande volume da massa encefálica, que permite a consciência, formas superiores de inteligência e abstracção, o desenvolvimento cultural e a "eussociabilidade", ou seja, uma forma avançada de sociabilidade que incluiu a sobreposição de gerações, a cooperação, o altruísmo e a divisão de tarefas no mesmo grupo.
Todas estão relacionadas entre si e têm explicações fascinantes. Porém, a mais notável, e a que provavelmente contém o segredo da nossa natureza e do nosso sucesso como espécie biológica, é a fortíssima encefalização que ocorreu na evolução desde o Australopitecus afarensis, de há mais de três milhões de anos, até ao Homo sapiens. Num período de tempo de cerca de três milhões de anos o volume do cérebro mais do que triplicou, enquanto o peso aumentou apenas de um terço.
Pertencer, ser fiel e proteger o grupo, lutar pela ascensão no seu seio e combater os grupos adversários é um traço essencial da nossa natureza.
Quais as “razões” de selecção natural que motivaram esta extraordinária evolução? Foram razões muito fortes, porque o crescimento da massa encefálica exigiu uma alimentação mais rica para assegurar o grande consumo de energia de um cérebro de maiores dimensões. Com apenas 2% do peso do corpo, o cérebro consome cerca de 20% da energia necessária à vida humana.
Pertencer, ser fiel e proteger o grupo, lutar pela ascensão no seu seio e combater os grupos adversários é um traço essencial da nossa natureza.
Quais foram então as pressões de selecção natural que promoveram o crescimento do volume do cérebro na linhagem evolutiva do Homo sapiens? Provavelmente foram as vantagens para a sobrevivência e reprodução de uma vida social progressivamente mais interactiva e complexa, baseada na construção de alianças e responsabilidades colectivas no grupo para actividades como a caça, a partilha de comida, a protecção e as lutas com os grupos rivais pela conquista de território e de recursos escassos.
Todos os primatas são animais sociáveis, mas os hominídeos desenvolveram de forma extraordinária a sociabilidade nos grupos em que viviam, tipicamente com 20 a 100 elementos. O extraordinário desenvolvimento do cérebro criou vantagens reprodutivas ao permitir encontrar soluções para os crescentes desafios sociais intragrupos e intergrupos.
A forte identificação com o grupo era acompanhada por uma profunda desconfiança e antagonismo em relação àqueles que pertenciam a outros grupos. Um exemplo extremo desta agressividade encontra-se ainda em algumas tribos primitivas da etnia asmat da Papuásia-Nova Guiné, onde membros das outras tribos são identificados como “aqueles que se comem”.
Pertencer, ser fiel e proteger o grupo, lutar pela ascensão no seu seio e combater os grupos adversários é um traço essencial da nossa natureza, que provavelmente esteve na origem da emergência do Homo sapiens e permanece na actualidade. A rede de grupos religiosos, políticos, sociais e económicos das sociedades modernas desempenham o mesmo papel psicológico do tribalismo. Nesta rede, a estrutura dominante são os Estados-nações soberanos cujos Governos têm jurisdição a nível local e nacional, mas que competem entre si activamente e por vezes violentamente a nível global. Neste paradigma, o valor supremo são os interesses nacionais dos Estados-nações.
Criámos uma problemática global e caminhamos para uma sociedade global através da globalização, mas será que pertencemos efectivamente a uma tribo global?
Entretanto, as culturas e as civilizações desenvolveram-se e há um problema novo. Surgiram problemáticas de natureza global, tais como as alterações globais sistémicas (mudança climática antropogénica, redução do ozono estratosférico) e cumulativas (crescente escassez de água e de outros recursos naturais, poluição da água, dos oceanos e dos solos, desertificação e perda de biodiversidade). As sociedades humanas, através das suas múltiplas e complexas actividades, interferem actualmente com o sistema Terra de formas tão profundas, continuadas e extensas, que ameaçam os seus vários subsistemas e os processos bióticos e abióticos de que depende a sustentabilidade daquelas sociedades.
Criámos uma problemática global e caminhamos para uma sociedade global através da globalização, mas será que pertencemos efectivamente a uma tribo global? Por outras palavras, em que medida praticamos nessa tribo a protecção e defesa que caracteriza o nosso comportamento nos Estados-nações e nos outros grupos a que pertencemos? Todas as tribos têm tribos adversárias, mas a global não tem. Será que sabemos proteger e defender um grupo humano que não tem adversários?
Não há, teoricamente, adversários, porque todos nós pertencemos a esse mesmo grupo, o que, do ponto de vista da história evolutiva do Homo sapiens, é uma situação nova e inesperada. Porém, a qualidade do nosso futuro comum depende de nos adaptarmos à nova realidade. Não temos a ameaça de ataque de uma civilização extraterrestre, a ameaça vem do nosso próprio comportamento individual e colectivo.
O sistema das Nações Unidas é um fórum para as questões internacionais da paz, da segurança, dos direitos humanos, do desenvolvimento social e económico e do ambiente, mas, exceptuando o Conselho de Segurança, as decisões têm de ser consensuais, o que permite preservar os interesses nacionais dos Estados-membros.
Não é possível atingir a sustentabilidade do desenvolvimento à escala global sem sobrepor os interesses da humanidade aos interesses nacionais, quando necessário. Para construir a sustentabilidade é indispensável instituir novas formas de governação global que criem um sistema financeiro e económico capaz de promover a equidade, a gestão sustentável dos recursos naturais e de travar a degradação ambiental e a perda de biodiversidade.
É urgente substituir a directriz de Patrick Geddes “pensar globalmente e actuar localmente” por “pensar e actuar localmente e globalmente”.
Filipe Duarte Santos, in PÚBLICO, de 27/02/2013 (Foi mantida a ortografia original)
Mas hoje não devo ficar só por aqui. Também vos trago outra opinião, a de Beatriz Talegón, uma jovem com preocupações realmente GLOBAIS.
Filipe
Duarte Santos é Professor Catedrático da Faculdade de
Ciências de Lisboa, Unidade de Investigação: SIM
Mas hoje não devo ficar só por aqui. Também vos trago outra opinião, a de Beatriz Talegón, uma jovem com preocupações realmente GLOBAIS.
Beatriz
Talegón, líder da Juventude Internacional Socialista,
envergonhou os líderes socialistas mundiais com um discurso que incendiou as
redes sociais. Na sua intervenção, proferiu uma dura crítica à Internacional
Socialista que acusa de não trabalhar para os jovens e de andar reunida em
hotéis de cinco estrelas a tentar encontrar soluções para a crise.
"Como se pode liderar
uma revolução a partir de um hotel de cinco estrelas em Cascais, chegando em
carros de luxo? Podemos dizer aos jovens que os compreendemos, que sentimos a
sua dor aqui dentro, no meio deste luxo?". Estas perguntas de Beatriz Talegón colocaram o mundo
socialista e as redes sociais em polvorosa. O vídeo da sua intervenção durante
a reunião da Internacional Socialista (IS) em Cascais, na semana passada,
tornou-se viral em Espanha, está a ser muito partilhado em Portugal e chegou à
América Latina através das redes sociais, tendo já sido visto por mais de cem
mil pessoas na Internet.
Esta é também uma excelente opinião a não perder...
Fonte / Ler mais em:
http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=3050569&seccao=Europa&page=-1
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