“Liberdade é para o homem o que o céu é para o
condor”
Castro Alves
Eu passei a adolescência e
a juventude sob o regime da ditadura e isso significou, entre outras coisas, a
censura. Não havia liberdade de expressão naquela época. Jornais e revistas
tinham trechos cortados, diversos filmes não puderam ser exibidos por um longo
período e alguns livros não podiam ser vendidos livremente. Tudo em nome da
segurança nacional. Para quem estava no poder durante a ditadura, pensar de
modo diferente colocava em risco o modelo de sociedade que eles idealizavam.
Aliás, a liberdade de expressão foi um dos componentes da liberdade que foi suprimida. A liberdade estava comprometida como um todo. E por falar nisso, o que é liberdade.
Esse é um conceito difícil de definir já que, como foi e é muito influenciado por ideologias e interesses dos mais diversos, está bastante distorcido. Em uma pesquisa feita com jovens, o conceito de liberdade para eles é bem simples: fazer o que quer, quando e como quer. Dá para perceber como essa noção, para eles, está influenciada pela ideologia do individualismo.
Para Hannah Arendt, esse conceito restrito de liberdade (de ir e vir e de agir conforme a própria vontade, por exemplo) surge quando o sujeito perde a liberdade no espaço público, ou seja, perde o contato com seus pares e o livre debate de ideias com base no pensamento plural e em um ambiente público organizado. Para essa pensadora, o conceito de liberdade tem, portanto, um caráter essencialmente político.
Eu me lembro de que um amigo da juventude teve de sair do país porque aqui era perseguido por suas ideias. De vez em quando ele retornava por curtos períodos e tínhamos a oportunidade de conversar. Minha maior curiosidade era a de saber da experiência dele de viver em um país em que os livros – sem restrição - estavam todos disponíveis. Nunca me esqueço da resposta que ele me deu. Ele disse que no país em que vivia na época, a situação era muito pior porque as pessoas não queriam ler muitos dos livros aqui proibidos, porque estavam convencidas de que não valia a pena, ou seja, o pensamento estava massificado.
Algumas vezes penso que o mundo contemporâneo, que nos contempla com tanta diversidade em todos os campos – estilos de vida, correntes de pensamento, comportamento, ciências etc. - retirou de muitos de nós o pensamento crítico e, portanto, a liberdade de pensar e de agir.
Vejamos alguns exemplos. Atualmente temos todo tipo de calçados e roupas e em todos os tamanhos, mas a maioria se veste de modo muito semelhante e, pelo menos as mulheres, querem usar apenas os manequins 38 ou 40. Temos uma diversidade enorme de maneira de ser, mas todos querem ser iguais: no comportamento, na aparência do corpo, nas preferências, no ritmo do pensar, entre outras coisas. Temos lugar para todo tipo de gente, mas acreditamos que precisamos ser extrovertidos, alegres, jovens e ter uma imensa rede social de “amigos”. E por aí vai... O que buscamos? Ausência de conflitos, anular as diferenças, aceitação social...
Liberdade de expressão combina sempre com conflitos de ideias. E nada mais salutar para o crescimento do que travar contato com pensamentos diversos. Hoje não temos quase (quase!) censura institucional talvez porque a tenhamos internalizado. Estamos submetidos a pensamentos quase (quase!) totalitários.
Já observaram como é comum a postura de, ao travar contato com livros, textos, análises etc., concluir que concordamos ou não concordamos? Essa talvez seja a melhor garantia de nada mudar. Quando concordamos é sinal de que já pensávamos assim; quando discordamos, recusamos o diálogo e o conflito que poderia – quem sabe? – inaugurar outros pensamentos diferentes dos dois anteriores.
Este blog teve, em sua origem, uma intenção: a de estimular o livre debate, o diálogo e o embate de ideias a respeito da educação informal e formal neste mundo tão complexo. Mas isso ficou bem difícil, não é verdade?
Aliás, a liberdade de expressão foi um dos componentes da liberdade que foi suprimida. A liberdade estava comprometida como um todo. E por falar nisso, o que é liberdade.
Esse é um conceito difícil de definir já que, como foi e é muito influenciado por ideologias e interesses dos mais diversos, está bastante distorcido. Em uma pesquisa feita com jovens, o conceito de liberdade para eles é bem simples: fazer o que quer, quando e como quer. Dá para perceber como essa noção, para eles, está influenciada pela ideologia do individualismo.
Para Hannah Arendt, esse conceito restrito de liberdade (de ir e vir e de agir conforme a própria vontade, por exemplo) surge quando o sujeito perde a liberdade no espaço público, ou seja, perde o contato com seus pares e o livre debate de ideias com base no pensamento plural e em um ambiente público organizado. Para essa pensadora, o conceito de liberdade tem, portanto, um caráter essencialmente político.
Eu me lembro de que um amigo da juventude teve de sair do país porque aqui era perseguido por suas ideias. De vez em quando ele retornava por curtos períodos e tínhamos a oportunidade de conversar. Minha maior curiosidade era a de saber da experiência dele de viver em um país em que os livros – sem restrição - estavam todos disponíveis. Nunca me esqueço da resposta que ele me deu. Ele disse que no país em que vivia na época, a situação era muito pior porque as pessoas não queriam ler muitos dos livros aqui proibidos, porque estavam convencidas de que não valia a pena, ou seja, o pensamento estava massificado.
Algumas vezes penso que o mundo contemporâneo, que nos contempla com tanta diversidade em todos os campos – estilos de vida, correntes de pensamento, comportamento, ciências etc. - retirou de muitos de nós o pensamento crítico e, portanto, a liberdade de pensar e de agir.
Vejamos alguns exemplos. Atualmente temos todo tipo de calçados e roupas e em todos os tamanhos, mas a maioria se veste de modo muito semelhante e, pelo menos as mulheres, querem usar apenas os manequins 38 ou 40. Temos uma diversidade enorme de maneira de ser, mas todos querem ser iguais: no comportamento, na aparência do corpo, nas preferências, no ritmo do pensar, entre outras coisas. Temos lugar para todo tipo de gente, mas acreditamos que precisamos ser extrovertidos, alegres, jovens e ter uma imensa rede social de “amigos”. E por aí vai... O que buscamos? Ausência de conflitos, anular as diferenças, aceitação social...
Liberdade de expressão combina sempre com conflitos de ideias. E nada mais salutar para o crescimento do que travar contato com pensamentos diversos. Hoje não temos quase (quase!) censura institucional talvez porque a tenhamos internalizado. Estamos submetidos a pensamentos quase (quase!) totalitários.
Já observaram como é comum a postura de, ao travar contato com livros, textos, análises etc., concluir que concordamos ou não concordamos? Essa talvez seja a melhor garantia de nada mudar. Quando concordamos é sinal de que já pensávamos assim; quando discordamos, recusamos o diálogo e o conflito que poderia – quem sabe? – inaugurar outros pensamentos diferentes dos dois anteriores.
Este blog teve, em sua origem, uma intenção: a de estimular o livre debate, o diálogo e o embate de ideias a respeito da educação informal e formal neste mundo tão complexo. Mas isso ficou bem difícil, não é verdade?
Rosely Sayão é psicóloga formada pela PUC de Campinas e atua há
mais de 30 anos. É consultora em educação e ministra palestras em escolas e
empresas sobre educação de crianças e adolescentes. Colunista da Folha de São
Paulo – do Caderno Equilíbrio, da Band News FM. Livros publicados: “Família:
modos de usar” (2006, Editora Papirus), “Em defesa da escola” (2004, Editora
Papirus), “Como educar meu filho?” (2003, Publifolha).
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=vkj2cQzIg8A ; http://www.cpflcultura.com.br/palestrante/rosely-sayao/
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