Rocamadour - 23º Dia - Parte I





O terceiro dia em La Roque Gageac era para ser passado a fazer canoagem, descendo o rio. No entanto a falta de provisões e em especial de café na autocaravana, fez com que a partida se antecipasse.

Partimos então a caminho de Rocamadour, o próximo lugar de paragem. Primeiro Saint-Michele, depois Rocamadour, e depois ainda Lourdes, no dia seguinte, numa viagem só, ficavam vistos os três maiores santuários de França.

No caminho parou-se num minimercado, onde comprámos tudo o que precisávamos. Quando foi a pagar, uma jovem que estava na caixa, ouvindo-nos falar português, algo roborizada, olhou para nós, sorriu, e disse-nos que era portuguesa, e ali ficámos um pouco a trocar impressões. O comércio era de seus pais e ela embora nascida em Portugal, fora criada em França.

França sempre foi um lugar de emigração portuguesa. A grande emigração para França deu-se pela primeira vez por volta dos 50 do séc. XX, prolongando-se durante os anos 60, 70 e 80, quando cerca de 1,5 milhão de portugueses emigraram para este país. A maioria destes emigrantes está hoje muito bem integrada na sociedade francesa, tendo uma crescente influência política. No entanto, com a recente crise económica, mais uma vez os portugueses tiveram necessidade de sair do seu país, e este, tal como outros países, mais uma vez se revelou tradicionalmente um país de acolhimento para os portugueses.
 
A distância entre La Roque Gageac e Rocamadouré de apenas 58 quilómetros, mas parece ser muito mais, uma vez que as estradas além de serem secundárias, são sinuosas e estreitas, passando por várias povoações. Numa dessas povoações do caminho, ainda parámos para ver uma corrida de cavalos, num inesperado hipódromo, com uma belíssima pista de corridas.

Já a tarde ia adiantada quando chegámos a Rocamandour. Cá de cima da estrada, num miradouro natural, olha-se para o pequeno santuário situado numa ingreme encosta. A sensação é a de observarmos de longe um lugar divino, onde o horizonte e o céu se inundam de um azul intenso, a terra é sólida e fértil, com florestas de profundo verde. Entre vales e montanhas com vegetação luxuriante à sua volta, encontra-se Rocamandour.

Rocamadour é um dos santuários mais famosos de França, sendo entre os séculos XII e XIV, um dos mais altos lugares de peregrinação no Ocidente cristão. A sua famosa Madona Negra, venerada por seus muitos milagres, encontra-sena Chapelle Notre-Dame (Capela milagrosa de Nossa Senhora), rodeada de um complexo de construções monásticas, e é o tema de uma devoção renovada desde o séc. XIX.

O Santuário de Rocamadour, na encosta escarpada de uma colina calcária é acessível através de duas entradas. De baixo por estrada sinuosa, e de cima, através da Grand Escalier (grande escadaria) que se eleva a partir do centro da pequena cidadela, até ao ponto mais alto da elevação rochosa. Os seus 216 degraus, que os peregrinos muitas vezes ainda hoje sobem de joelhos, são esculpidos na rocha e pressionados contra a encosta escarpada, subindo até a um planalto de calcário, onde se encontra a estrada.

Durante o séc. XII, num espaço estreito e íngreme de um terraço rochoso, a meia encosta, foi iniciada a construção de um mosteiro, sendo ali construídos vários edifícios.

O Santuário de Rocamadour -"roc amatour” = amante das rochas - é hoje um dos pontos turísticos e de peregrinação mais importantes de França, e permite uma bela vista sobre sobre o profundo vale onde corre um subafluente do rio Dordogne, o rio L’ Alzou.

Segundo a tradição, lá viveu o eremita Zaqueu de Jericó, um judeu morto por volta de 70 d.C., com fama de santo e que amava as rochas, tendo ali escavado numa rocha o seu eremitério, para se isolar do mundo.

Reza a história, que Zaqueu de Jericó (aquele que enxugou o rosto de Cristono calvário), foi expulso da atual Palestina e fixou-se nesta região do sudoeste da França, sendo o seu corpo encontrado intacto em 1166. A partir daí o lugar começou a ser um ponto de peregrinação.

A tradição também o refere como responsável por trazer para Rocamadoura a estátua da Virgem Negra, que no entanto é datada do séc. IX. Depois de lhe serem reportados muitos milagres atribuídos em especial ao túmulo de Saint Zaqueu, e ao Santuário da Virgem, muitos peregrinos famosos estiveram em Rocamadour, entre eles, alguns homens santos, bem como muitos reis e rainhas, o que incentivou ainda mais as peregrinações a este lugar.

Na parte de trás do Mosteiro, há um caminho sinuoso com sete paragens, representando as chagas de Cristo e os momentos até à crucificação.

Este Santuário sempre cheio de gente, é também uma das paragens obrigatórias para os peregrinos a caminho de Santiago de Compostela.
 
 
Fonte: http://imigrantes.no.sapo.pt/ http://espacoerrante.blogspot.pt/ http://pt.wikipedia.org/wiki/Rocamadour http://www.rocamadour.com/fr/ http://navegador-urbano.blogspot.pt/

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