No
último dia deste fim de semana, acordámos tarde e depois de uma ligeira
refeição partimos do Parque de Campismo
de Entre Ambos-os-Rios a caminho de casa.
Durante
o curto caminho que separa Entre
Ambos-os-Rios de Ponte da Barca,
pode observar-se bem a beleza desta região. A região de Ponte
da Barca é um daqueles
lugares onde se pode admirar e sentir um Portugal diferente, mais eloquente e
original na sua personalidade geográfica.
Está parcialmente inserida no maravilhoso Parque Nacional da Peneda-Gerês, com
uma paisagem idílica, de verdes montes banhados por diversos cursos de água,
afluentes do Lima, que aqui e ali
proporcionam recantos únicos, onde abundam praias fluviais e onde todas as
razões se unem, para uma maior aproximação à natureza.
Naquele
dia como ainda era cedo, queríamos parar na vila de Ponte da Barca, para a visitarmos. Quando lá chegámos, a vila
parecia adormecida. Era hora de almoço e feriado.
Quando lá chegámos parámos primeiro no centro moderno da
vila, onde se vê o Largo do Hospital e o Largo da Câmara Municipal, bem como o
Jardim central com uma bela esplanada. Depois seguimos para a zona da Ribeira Lima, onde pode ser encontrado
um ótimo parque de estacionamento no Largo
do Côrro.
É ali que se encontram dois belos jardins. O jardim
situado em frente do Largo do Côrro
onde se encontra um belo Cruzeiro,
na margem direita do rio Lima, é o Choupal do Côrro, e depois da Ponte, encontramos o Jardim dos Poetas, a partir das arcadas
do Velho Mercado, acompanhando a
beira rio, para norte. E foi por ali que deambulámos naquele início de tarde.
Ponte
da Barca, magnificamente situada na margem direita do rio Lima tem no Jardim dos Poetas um sítio onde alguns monumentos principais da
vila se harmonizam perfeitamente com o rio, tornando-o num bom lugar para
descanso.
Este
jardim é sem dúvida nenhuma um
convite sorrateiro a um piquenique, à leitura e porque não, ao deixar que a
“pena” se aventure pela arte da poesia, tal como o fizeram dois dos filhos da
terra. já que parece que mais ninguém como eles o fez até hoje.
Debruçando-se sobre as tranquilas águas do rio Lima, entre o Pelourinho e algumas das mais belas moradias do centro histórico de
Ponte da Barca, o Jardim dos Poetas, foi assim chamado em
homenagem aos seus acarinhados irmãos poetas, dois vultos da poesia lírica
portuguesa de quinhentos, Diogo
Bernardes e Frei Agostinho da Cruz (poetas da paisagem, das fontes
e da saudade), que tão bem conseguiram deixar–nos como memória, a sua forma de olhar o Lima, com tanta delicadeza, simplicidade
e melancolia.
Vendo
Narciso em huma fonte clara,
A
sombra só da própria fermosura,
De
si vencido (Amor quis por ventura
Vingar
as Nimfas qu’elle desprezara.)
Todo
enlevado na beleza rara,
Que
seu peito abrasou em chama pura,
Chorando
disse, à sua vã figura,
Por
quem perdeo em fim a vida chara:
Ó
Ninfa destas agoas moradora´
Surda
em ouvirme, muda em responderme,
Não
ves a quem não ouves, nem respondes?
Não
ves que sou Narciso? Ay que por verme,
Mil
Nimfas d’ outras fontes saem fora,
E
tu por não me ver, nesta t’ escondes.
Diogo Bernardes, Soneto CXXVII
O Jardim dos
Poetas é sobretudo um lugar de paz e encanto bucólico, onde coabitam a
candura da água e o verde característico da região, com os seus muitos bancos
de pedra e as convidativas sombras das árvores.
O
mundo é sonho vão, que enleia a vida,
Quem nele está melhor, tem pior alma
E quem o desprezou, tem alma e vida.
Quem nele está melhor, tem pior alma
E quem o desprezou, tem alma e vida.
Frei Agostinho da Cruz
Ler mais sobre o Soneto CXXVII, de Diogo Bernardes sobre o Mito de Narciso em: http://www.uc.pt/fluc/eclassicos/publicacoes/ficheiros/humanitas51/08_Barbara.pdf
Ler mais sobre as obras de
Diogo Bernardes e de Frei
Agostinho da Cruz em: